HOMOFOBIA : O PRECONCEITO NOS DIVERSOS PLANOS SOCIAIS
1. Introdução
Etimologicamente, a palavra homossexual é formada pelos vocábulos homo e sexu. Homo, do grego hómos, que significa semelhante, e sexual, do latim sexu, que é relativo ao pertencente ao sexo. Referindo-se assim à preferência de praticar sexo com a pessoa do mesmo gênero.
Pesquisas recentes constatam que entre 4% e 14% da população humana apresenta uma orientação homossexual. Porém, tais dados provavelmente não condizem com a realidade, já que muitos homossexuais continuam a esconder sua orientação, além de ser difícil classificar e quantificar de forma científica o grau de homossexualidade e heterossexualidade de alguém.
2. Conteúdo histórico
As atitudes de aceitação ou rejeição social da homossexualidade variaram ao longo da história. Na Grécia e na Roma antigas, era um comportamento socialmente aceitável e comum, não se achava necessário distinguir o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo do relacionamento entre pessoas do sexo oposto, visto que isto não causava problema social. O mais comum era o que envolvia um homem mais velho e um adolescente, sendo uma mistura de aprendizado político e relação amorosa.
A religião judaico-cristã, porém, ergueu pesadas interdições, encontrando-se, assim, na base de toda a reação contra as práticas homossexuais, a postura intolerante da igreja. Multa, prisão, confisco de bens, banimento, trabalhos forçados, marca com ferro em brasa, açoite público, castração, amputação de orelhas, morte na forca, na fogueira e afogamento: os homossexuais eram assim severamente punidos por aqueles que agiam em nome de Deus e de Cristo.
Essa punição da homossexualidade como crime ainda vigoraria no século XX, especialmente em contextos autoritários como na União Soviética e na Alemanha nazista, em que os homossexuais eram perseguidos e levados para os campos de concentração, onde recebiam um triângulo rosa para diferenciá-los. A ideologia nazista sustentava que a homossexualidade era incompatível com o regime, já que não permitia a reprodução, sendo esta necessária para perpetuar a raça superior. E mesmo após a libertação dos presos dos campos de concentração pelos aliados, os homossexuais lá internados não foram libertados, mas obrigados a cumprir uma pena, devido à legislação alemã da época, que os considerava como criminosos.
A tendência, porém, foi o comportamento ser tirado do âmbito judicial para ser lançado no terreno médico, ou seja, a homossexualidade passou a ser vista como doença. Muitos homossexuais foram levados, especialmente por suas famílias, para clínicas psiquiátricas para serem curados dessa “doença”.
Foi só a partir da década de 80 que essa situação começou a mudar, quando muitos países e instituições passaram a descriminalizar o homossexualismo e deixar de considerá-lo uma doença. A OMC (Organização Mundial do Comércio), por exemplo, só deixou de considerar o homossexualismo como doença em 1992.
A partir de 2001, vários Estados passaram a legalizar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Dentre eles: Portugal, Países Baixos, Bélgica, Nova Zelândia, Espanha, Canadá e o Reino Unido.
Porém, no Oriente ainda há uma situação de retrocesso; o homossexualismo ainda é visto por muitos países como crime. E para outros, além disso, deve ser punido com pena de morte, são eles: Irã, Arábia Saudita, Afeganistão, Mauritânia, Sudão, Nigéria, Iémen, Paquistão e Emirados Árabes Unidos. Há também países como Egito e Cuba que não criminalizam a homossexualidade, mas mantêm certas leis contra o desrespeito pela religião ou contra “atentados” à moral e ordem pública que são usadas para perseguir homossexuais.
3. Formação da identidade homossexual – abordagem dos aspectos da sociologia e psicologia
A polêmica e a indefinição que rodeiam o assunto “homossexualidade” atualmente encontram suas raízes na dificuldade da análise objetiva do campo ao qual é vinculado – a sexualidade. A vida sexual é vista pela sociedade em que vivemos como componente de extrema intimidade, omitida das conversas e discussões públicas.
Devido a tabus, a natureza desses atos sexuais deturpou-se em perversão, tornando-se cerceada, prejudicada e, muitas vezes, tolhida.
Procuramos, entretanto, por meio deste projeto, analisar tal tema com a imparcialidade necessária às ciências e teorias baseadas em fatos possivelmente estudados.
Atualmente, uma visão patológica e de perversão vem sendo combatida nos órgãos oficiais representativos. A Assembleia Geral da Organização de Saúde aconselhou, em 1990, que os psicólogos não colaborassem com eventos e serviços que proponham tratamento e cura para a homossexualidade, retirando-a da lista de doenças mentais.
Ser homossexual significa apenas possuir uma vida sexual inofensiva, entretanto, pouco aceita pela sociedade atual.
É válido ressaltar a diferença entre sexo e gênero. O termo “sexo” é usado em referência às diferenças anatômicas e fisiológicas que o definem como masculino ou feminino. Já o gênero refere-se às diferenças psicológicas, sociais e culturais entre homens e mulheres; despertando-lhes a feminilidade ou a masculinidade.
Há uma certa relatividade nos gêneros, que nos animais, pode ser exemplificada pelos leões (machos) que cuidam dos filhotes enquanto a fêmea sai do grupo para caçar.
A homossexualidade, assim, não é associada ao gênero. As funções sociais podem ser completamente mantidas em um indivíduo homossexual. Isto é, a “heteronormatividade” pode ser cumprida em termos, não só de modo de estar, personalidade, interesses, como na sua forma de desenvolver relações.
Toda pessoa é capaz de exercer todos os papéis sociais. Se não fosse possível, como poderíamos explicar a vida de uma pessoa solteira vivendo sozinha, em serviço militar ou estudante fora de casa? Os indivíduos veem-se na necessidade de adaptar a atribuição de tarefas no dia a dia. Da mesma maneira são os homossexuais.
Na natureza, são observados comportamentos homossexuais em muitas espécies animais. A prática homossexual é persistente durante toda a vida. Apesar disso, ainda não estão completamente claras as causas condicionantes.
Hoje, questões como “por que algumas pessoas têm preferências ou tendências homossexuais” ainda não foram respondidas. Há controvérsias se o homossexualismo é determinado geneticamente, se é resultado da educação ou do meio social em que a pessoa é criada. Isto é, existe quem acredite que os homossexuais já nascem assim e quem, ao contrário, diz que a conjunção do ambiente social com a figura dominadora do genitor do sexo oposto são fatores decisivos na expressão da homossexualidade masculina ou feminina. Sendo assim, os estudiosos parecem estar de acordo em somente um ponto: não há uma única causa quanto ao que determina o homossexualismo.
Atualmente, existem vários estudos sobre a formação da identidade homossexual, sendo alguns baseados em fatores biológicos e outros baseados no ambiente social.
No aspecto biológico, destacam-se duas explicações. A primeira deve-se à genética: os defensores dessa explicação argumentam que se encontra uma maior quantidade de homossexuais em determinadas famílias onde já existem casos homossexuais; e também que a quantidade de gêmeos monozigóticos homossexuais é muito superior à quantidade de gêmeos dizigóticos. A segunda deve-se ao papel dos hormônios no desenvolvimento pré-natal: pesquisas foram feitas em animais para observar a influência dos hormônios sexuais sobre o cérebro e os seguintes comportamentos sexuais. De maneira que se constatou que as fêmeas expostas a andrógenos no útero são mais ativas que as demais e tentam montar em outros animais, simulando o macho em uma relação sexual; e os machos desprovidos de andrógenos apresentaram comportamentos de acasalamento femininos.
Nos estudos baseados no ambiente social, existem diversas teorias, dentre elas destacam-se: a que remete a uma opção sexual, afirmando que foram motivos sentimentais ou um desejo por uma pessoa específica do mesmo sexo que desencadearam o homossexualismo em determinadas pessoas. Porém, essa teoria não é aceita pela maioria dos homossexuais, que, pressionados pela própria consciência e pela sociedade impregnada de preconceito, preferem encarar que nasceram assim a admitirem o contrário.
Outra teoria encontra fundamentos especialmente na influência da família para a formação de uma criança; de maneira que afirma que na falta de referências (pai e mãe) podem surgir sérias consequências. Como, por exemplo, na falta de um pai, o filho pode ser “superprotegido” pela mãe e, desse modo, admirá-la, querendo ser como tal.
Há também a teoria da Auto-Rotulação: segundo ela, crianças que possuem aparência ou maneiras que se assemelham ao sexo oposto tornam-se confusas sobre a sua orientação sexual e essa confusão aumenta suas chances de se sentirem atraídas por membros do seu próprio sexo.
Além das teorias citadas, outra muito significativa é a exposta por Sigmund Freud. Para ele, três fatores são determinantes para o homossexualismo: a forte ligação com a mãe, que impediria o relacionamento desta pessoa com outra mulher; o narcisismo, que faz com que a pessoa tenha menos esforço ao se relacionar com pessoas do mesmo sexo, em vez de relacionar-se com o sexo oposto; e o terceiro fator aponta para problemas relativos à travessia da castração, isto é, sofrimentos relativos às perdas e à ideia de morte que deixariam a pessoa acomodada ou acovardada na sua psicossexualidade. (Vale ressaltar que esta teoria é exclusiva para o homossexualismo dos homens.)
4. Diversidade de conceitos
Existe uma diversidade enorme de conceitos a respeito dos homossexuais, dentre eles, o termo gay, que é uma palavra de origem inglesa que significa literalmente alegre, de início sendo usada para designar apenas os homossexuais do sexo masculino; e que hoje designa todos os homossexuais. O termo lésbica remete às mulheres homossexuais. O travesti remete à prática de vestir-se igual ao modo em que se comumente veste o sexo oposto; sendo o mais comum os homens se vestirem e se comportarem como mulheres, podendo colocar próteses de silicone. Já os transexuais são aqueles que mudaram de sexo por meios cirúrgicos (amputação ou implante de pênis). E os bissexuais são indivíduos livres de rotulação sexual, que praticam relações sexuais com ambos os sexos.
5. Relatório referente ao trabalho de campo
A visita à associação de homossexuais foi de grande valia não só para o nosso trabalho, como também para as nossas vidas, afinal, em uma conversa descontraída pudemos apreender tanto a questão em um panorama geral como a realidade vivenciada pelos natalenses, a qual muitos de nós desconhecíamos, incluindo questões pessoais, com as quais não estamos habituados a conviver.
A associação nasceu em 92, como um grito de que os homossexuais mereciam respeito, em meio aos resquícios da Ditadura militar. Oferece apoio psicológico e assessoria jurídica e tem como lema “prevenir para remediar”, focando sua atenção no preconceito, na violência e na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
É através de eventos como a parada gay, utilizada como instrumento de mobilização social da comunidade GLBT em torno de reivindicações de legislação e políticas públicas para gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, que pretende-se denunciar a existência das violações aos Direitos Humanos para a cidadania plena de GLBT, e incentivar uma série de ações pela aprovação da legislação contra a homofobia no cenário nacional. Portanto, o objetivo primordial da Parada Gay é dar visibilidade às categorias sócio-sexuais e fomentar a criação de políticas públicas para a comunidade GLBT. Para alcançar isso, sua principal estratégia é ocupar os espaços públicos para proporcionar uma troca efetiva entre todas as categorias sociais, elevar a autoestima dos homossexuais e sensibilizar a sociedade para o convívio com as diferenças.
A cada ano, percebe-se que o trabalho de conscientização e educação para o respeito à diversidade tem gerado frutos positivos na erradicação do preconceito. Contando com a participação de cerca de 40 mil pessoas, sendo a 2ª maior do nordeste, a parada gay aqui realizada revela uma maior aceitação dos natalenses em relação aos homossexuais, uma vez que cada vez mais conta com a presença de heterossexuais simpatizantes, o que, de fato, satisfaz o governo, que financia o evento como forma de incentivo à redução do preconceito. É, então, nesse momento que os homossexuais, unidos, ajudam a construir e garantir a plenitude de seus direitos.
Vale salientar, no entanto, que apesar de o preconceito ainda estar presente em nossa cidade, podemos considerá-la tolerante com respeito à homossexualidade, já que os números de casos de assassinato e casos de preconceito são pequenos em relação às demais cidades do país, que, por sua vez, é o campeão em extermínio de homossexuais.
Em relação às causas, ainda indeterminadas pelos estudiosos do assunto, partindo-se da observação de experiências pessoais, chegamos à conclusão de que a homossexualidade não é originada pela criação, e sim é inata, uma questão de foro íntimo, não sendo, no entanto, patológica, como muitos costumam determinar. Isso porque passamos a encarar tal fato como uma coisa natural, afinal, vivenciamos a homossexualidade na natureza e o homem é apenas parte integrante dela, com a diferença de que pode optar por amortizar seus desejos; fato este de alta frequência, uma vez que o homossexual não se assume por medo de “decepcionar” a família e a sociedade; ressaltando-se o que acontece com pessoas provenientes da área jurídica, principalmente por ser esta uma área ainda muito conservadora.
Quanto às questões pessoais, soubemos de casos em que a pessoa vítima do preconceito chegou a processar a própria família, já que era tratada de forma diferente e extremamente excluída do ambiente familiar; casos esses os quais, assim concluímos, acabam por reprimir ainda mais aqueles que desejam revelar sua real sexualidade.
Tivemos, portanto, a chance de observar de perto as dificuldades enfrentadas pelos gays na luta contra o preconceito e, assim, saímos de lá com a consciência de que precisamos fazer a nossa parte, não apenas aceitando suas orientações sexuais, mas denunciando a violência contra eles cometida e, principalmente, apoiando a inclusão social dos mesmos. Como o futuro da Justiça a nós pertence, sejamos justos e preguemos o respeito às diferenças!
5.1- Homossexualidade x Religião
As religiões também são grandes influenciadoras na questão da sexualidade. Algumas não se pronunciam quanto ao assunto, outras, condenam terminantemente. Quando ocorre um confronto entre a homossexualidade e um sacerdote, este apresenta como solução a sublimação da sexualidade, a repressão dos sentimentos e o pior: para que aquele indivíduo seja aceito naquela comunidade religiosa, ele terá que manter um estereótipo padronizado de heterossexualidade. Ou seja, não tendo onde jogar o “lixo”, escondê-lo debaixo do tapete é a solução.
Não se trata de ocultar o problema, mas em reconhecer que, pelo menos no que se refere ao amor entre dois seres do mesmo sexo, somos impotentes. Não sabemos e acreditamos que nenhuma religião saiba os “porquês” dos deuses. É, então, hipocrisia das religiões pregar o amor absoluto entre os homens e se posicionar contra uma relação homossexual.
Hipocrisia também é que, sacerdotes que têm orientação homossexual, se posicionem contra a homossexualidade, já que, assim como ocorre na política, são essas pessoas que têm maiores condições de lutar para iniciar uma mudança para a sociedade e para si mesmos.
Se os Deuses, sejam eles quais forem, nos fizeram dessa forma, e por forma entende-se todo o conjunto biológico e comportamental, porque negar algo que está cada vez mais provando ser um comportamento normal dos seres humanos.
Os próprios deuses, se bem analisados, mostram que existe entre eles uma pequena distinção quanto à sexualidade. Por exemplo, Krishna, o Deus dos hindus, é um homem com aparência feminina. Logo, se entre os deuses há ambiguidade sexual, não podemos exigir padronização heterossexual na sociedade.
5.2 – A homossexualidade e a Política
A questão política é também muito importante dentro do tema. A busca pela aceitação social passa por um processo que deverá culminar na criação de leis que possibilitarão o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O que existe atualmente é a união civil, um contrato que garante alguns direitos aos casais homossexuais, tais como a questão da divisão de bens adquiridos no período em que o casal ficou junto. No entanto, tal lei não foi elaborada visando exclusivamente a eles e garante apenas parte dos direitos que o casamento garante, havendo ainda a ausência de trinta e sete direitos que os casados têm e os unidos civilmente não, como a mudança de estado civil e de nomes. Apesar disso, soubemos que já houve celebrações de “casamentos” realizados na própria associação. Quanto à questão de verbas liberadas visando especificamente o movimento, o atual governo foi o primeiro, destinando dez milhões de reais para serem investidos em projetos na comunidade GLS.
Muitos movimentos sociais procuram ter uma representação política forte; no entanto, em nossa visita à associação nos foi passado que o movimento, como é uma ONG, não apoia ninguém oficialmente. Mas também obtivemos uma informação interessante: nos últimos anos, experiências eleitorais vêm mostrando que a opção sexual dos candidatos não tem mais uma influência tão decisiva quanto antigamente, a exemplo do caso que tivemos conhecimento em que, em um mesmo estado, o governador e a prefeita da capital são homossexuais e, portanto, obtiveram a confirmação da imparcialidade da população com relação à sua sexualidade quando foram eleitos.
Outra informação interessante foi a de que, dentro do estado do Rio Grande do Norte, o maior apoio à causa homossexual vem de um político heterossexual, e que os políticos homossexuais chegam a se afastar da causa, muito provavelmente com medo de uma possível rejeição popular.
Isso nos mostra que a grande maioria dos indivíduos que têm o poder de legislar para que um dia os homossexuais tenham os mesmos direitos de um casal heterossexual, mostram receio em o fazê-lo, até mesmo aqueles que possam ter interesses pessoais nessas leis se mostram acovardados, receosos de serem taxados pela sociedade. Para serem aceitas, as pessoas precisam, sobretudo, aceitar-se como são; se um homossexual legislador se acovarda, ele nega às pessoas a chance de se unirem aos seus parceiros e de ter direitos iguais aos outros casais. Dessa forma, a hipocrisia da sociedade se manifesta fortemente em seus políticos, que preferem esconder sua real sexualidade a estarem sujeitos a possíveis preconceitos.
5.3. Sociedade em mudança/ família
Quanto à aceitação pela sociedade, tem-se observado, nas últimas décadas, aceleradas mudanças culturais; o que é perceptível através da mídia: cresce o número de produções que abordam o universo gay, sem causar rejeição. Além disso, pesquisas recentes têm revelado mudanças importantes na maneira como os jovens vivenciam a própria sexualidade. Essas mudanças, exemplificadas desde o aumento da tolerância até mesmo uma maior abertura para as experimentações homossexuais, como o beijo entre amigas, são indícios de uma maior liberdade; para o psicólogo Ritch Savin-Wiliams, professor da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, isso seria o fim da era da identidade sexual.
Vale ressaltar, porém, que as atitudes negativas em relação à homossexualidade ainda terão eco por bastante tempo. O discurso moralista que pretende reprimi-lo já não sugere fogueiras em praças públicas, mas segue negando aos homossexuais seus direitos mais elementares. Até que ponto poderemos chamar a elaboração da lei anti-homofobia e a concessão de direitos previdenciários, em Belo Horizonte, de vitória, se continuamos a discriminar os gays? O preconceito ainda é uma realidade no nosso país e a violência contra gays chega a ser um fato alarmante: muitas pessoas são violentadas, espancadas e até mesmo assassinadas pelo fato de serem homossexuais.
É necessário, portanto, criar as condições propícias para a emergência de novos paradigmas, onde o fazer social reflita uma alteridade fundamentada no resgate de uma ética comprometida com o processo de inclusão social das minorias. Como vivemos em sociedade, e em uma sociedade encontramos todos e quaisquer níveis, seja sociais, raças, credos e por certas opções individuais, a obrigação em si de cada pessoa inclusa na sociedade é de procurar conviver com a pessoa alheia da forma mais pacífica possível e aceitar seus defeitos, suas qualidades, seus desejos, sua personalidade e qualquer opção diferente do que estamos acostumados e de que essa pessoa possa ter e exibir.
Cabe aos pais, diante disso, educar seus filhos para uma sexualidade sadia, sem preconceitos ou sofrimentos desnecessários; afinal, o critério para a valoração de uma relação sexual só pode ser feito a partir de valores morais, os quais independem da orientação sexual, podendo estar presentes ou ausentes tanto em relações hétero quanto em homossexuais.
No entanto, não é bem isso o que se encontra na prática. Na visita à associação, há relatos de diversos casos em que não houve essa aceitação por parte da família diante da sexualidade de um dos seus membros; inclusive, houve um caso em que o filho chegou ao extremo de processar a mãe devido à sua atitude de excluí-lo da família. Além disso, o próprio membro da associação nos cedeu a entrevista relatando que o seu caso foi parecido: sua mãe nunca havia demonstrado preconceito algum contra os homossexuais, pelo contrário, parecia gostar, pois tinha vários amigos da comunidade GLBT; porém, ao descobrir que o seu filho era um deles, a sua atitude mudou completamente, passando a mostrar-se uma pessoa extremamente preconceituosa.
Diante de tais casos, podemos perceber que é muito mais difícil aceitar a homossexualidade quando ela está mais perto de nós, e isso ocorre devido, principalmente, ao caráter patológico que ainda hoje é atribuído aos homossexuais.
6. Violência
Os homossexuais são retratados como uma ameaça desviante ao bem-estar moral da “sociedade normal”. Daí a violência contra eles cometida: a fim de preservar a masculinidade heterossexual como a “norma”, tornou-se necessário marginalizar e denegrir o que se considera ameaçante.
No caso do Brasil, segundo um levantamento dirigido por Luiz Mott, professor do departamento de antropologia da Universidade Federal da Bahia e presidente do Grupo Gay da Bahia, são os números que dão ao país o título de campeão mundial de assassinatos contra homossexuais, um a cada 48 horas; estando documentados, nos últimos 20 anos, 1830 assassinatos, número este que representa talvez apenas metade dos casos, já que o levantamento não cobriu todos os estados, muitos casos são omitidos pela mídia e muitas vezes a opção sexual das vítimas não é revelada, por orientação da família ou por desconhecimento da polícia.
Vale salientar, porém, que a homofobia não se expressa apenas na ocorrência de homicídios. Os homossexuais são constantemente violentados, tanto fisicamente, quando são espancados pela polícia, sempre suspeitos de atos ilícitos; quanto através de discriminação em locais públicos, como a proibição aos travestis de frequentar shoppings e aos gays em geral de não poderem servir ao exército ou entrarem em igrejas; além de serem agredidos verbalmente, ao serem chamados de forma pejorativa e caricata.
Analisando tal questão em âmbito estadual, tivemos acesso ao relatório do serviço de disque-defesa homossexual, um serviço com natureza de disque-denúncia que foi instalado com o objetivo de auxiliar na prevenção e combate à violência contra as pessoas homossexuais, vinculado à Coordenadoria da Defesa dos Direitos da Mulher e das minorias, da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social do Governo do Estado.
O DDH atende a toda a população do RN com o objetivo de facilitar e incentivar as denúncias de violência física, psicológica, sexual e social cometidas contra os homossexuais, analisando os casos e os encaminhando a órgãos para que sejam tomadas as providências que os casos requerem. Tratando-se de crime, serão encaminhados às Delegacias de Polícia Civil ou, se for o caso, ao Departamento de Polícia Federal. Tratando-se de violência social, os casos também poderão ser encaminhados ao Ministério Público.
A demanda do DDH, porém, ainda é extremamente tímida, o que se deve à ausência de divulgação, embora esse investimento se mostre urgente, como auxílio ao segmento homossexual na consolidação e busca de seus Direitos Humanos.
De Maio a Dezembro de 2004, foram registradas apenas 10 denúncias de violência contra homossexuais; e em 2005, 16 denúncias; nas quais, em sua maioria, constatou-se que a própria vítima é o denunciante e que a maioria dos supostos agressores é do sexo masculino, com idade variando entre 18 e 39 anos e são desconhecidos das vítimas. Estas, por sua vez, são predominantemente da cor parda, de baixa escolaridade e geralmente de faixa etária também compreendida entre 18 e 39 anos. Quanto ao tipo de violência, é predominantemente física e psicológica; utilizando-se como instrumentos as mãos e a palavra.
Concluímos, então, que os homossexuais são os mais discriminados entre as minorias, sendo a homossexualidade ainda vista como um crime grave – resquício da lei contra a sodomia, que já compôs o Código Penal Brasileiro e da postura intolerante da Igreja, a qual difundia a ideia de que a homossexualidade era causa de castigos divinos, citando, dentre eles, a AIDS – o que gera uma homofobia internalizada, o ódio contra os homossexuais que tiveram coragem de se assumir.
E, assim, percebemos a necessidade de serem tomadas medidas para acabar com essa violência, tais como: severidade por parte da polícia e da justiça em averiguar, julgar e punir exemplarmente esses crimes; educação sexual obrigatória em todos os níveis escolares, ensinando os jovens a respeitar a livre orientação sexual dos indivíduos e a ver os homossexuais como cidadãos; e conscientizar a própria comunidade homossexual para que denuncie todas as violações aos seus direitos, através, por exemplo, dessa iniciativa adotada pelo nosso Estado. Como diria Mott, o grito é a arma dos oprimidos!
7. Conclusão
A sociedade tem que, além de perceber, aceitar realmente que, independente da opção sexual, as capacidades não se alteram; homo ou heterossexual, o indivíduo X terá as mesmas capacidades.
Sabemos que o caminho para essa aceitação normal da homossexualidade ainda é muito longo, mas como toda forma de preconceito envolve muitas lutas, esta também não é diferente. É preciso, então, que as próprias pessoas, que são homossexuais, primeiro se aceitem, para assim se fazerem aceitas.
Como um ser humano constitui a soma de todas as escolhas que ele faz, vale frisar também que é essencial que ele assuma o comando destas escolhas. Não se pode permitir que uma escolha sexual diferente da considerada normal pela sociedade possa inviabilizar a vida produtiva dos seres humanos que são homossexuais, em função de preconceito.
É no contato com a diferença, na escuta do outro, no reconhecimento de suas necessidades que superamos nossos próprios preconceitos. E é apenas isso que os homossexuais desejam: ter direito ao amor, pedindo aos demais não a conversão, mas o respeito.
- Autor: Rodrigo Cunha Chueiri
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