
Cascudo nasceu em 30 de Dezembro do ano de 1898, em Natal, capital do Rio Grande do Norte, e morreu nessa mesma cidade no ano de 1986. Nunca deixou a cidade, tendo incorporado essa circunstância biográfica como um ícone de sua identidade existencial e intelectual.
Seus biógrafos têm sublinhado o fato de que Cascudo sempre se definiu a si mesmo como um “provinciano”. Desde o início dos anos 1990, a obra de Cascudo vem se tornando o foco de um renovado interesse por parte dos intelectuais e dos meios de comunicação.
Seus escritos etnográficos, em sua maioria elaborada ainda na primeira metade do século XX, de certa maneira anteciparam os estudos antropológicos que floresceram no Brasil nos anos 70 e cujo foco era a vida cotidiana. Ao tempo em que escrevia seus estudos etnográficos sobre comidas, bebidas, gestos, palavrões, jangadas, redes de dormir e outros aspectos da vida cotidiana brasileira, tais temas não eram considerados objetos relevantes para cientistas sociais sérios e responsáveis. Esses profissionais estavam mais preocupados com temas tais como desenvolvimento econômico, modernização, políticas de Estado, partidos políticos, e não com aspectos vulgares da vida cotidiana
Não por acaso, Cascudo jamais veio a ser reconhecido como um “cientista social” em sentido estrito. Ainda que fosse um folclorista reconhecido nacional e internacionalmente, sempre ocupou uma posição marginal no sistema acadêmico brasileiro. Até certo ponto, sua posição pessoal expressa a marginalidade a que foram submetidos os “estudos de folclore” na vida intelectual brasileira.
Mas os seus escritos revelam alguns traços que os distinguem daqueles produzidos por outros folcloristas brasileiros. Muitas vezes, Cascudo inicia suas frases afirmando: “Nós, o povo, acreditamos que…”. Ele assume explicitamente, como autor, um ponto de vista sob o qual escreve não “sobre a”, mas “a partir da” própria cultura popular. Assume, deste modo, as categorias dessa cultura, particularmente da cultura popular do Nordeste. Por sua vez, essa cultura é identificada em seus escritos como uma espécie de “sobrevivência” (ainda que bastante viva na atualidade) herdada do Brasil “tradicional”, cuja existência histórica se desenrola do século XVI ao século XIX.
Filho do Coronel Francisco Cascudo, diretor de A Imprensa, e de D. Anna Maria da Câmara Cascudo nasceu ele quase no penúltimo ano do século XIX, em Natal, na Rua das Virgens, hoje portando seu nome, e onde há uma placa comemorativa em que se lê: “historiador da cidade de Natal, mestre do folclore e glória definitiva da cultura brasileira.” Filho único, o pai era comerciante e coronel da Guarda Nacional e a mãe dos afazeres doméstico. Morreu aos 88 anos do coração na tarde de do dia 30 de Julho do ano de 1986.
Na água do primeiro banho a mãe despejou um cálice de Vinho do Porto para o filho ter saúde e o pai a temperou com um Patacão do Império para merecer fortuna. O padre João Maria, um santo da cidade, batizou-lhe no bom Jesus das Dores, e a poetisa Auta de Souza, amiga de sua mãe, embalou seu choro forte de menino-homem.
Sonhou ser jornalista e foi. Seu pai nessa época ainda era um homem rico e instalou o jornal A Imprensa para seu filho. Nas suas páginas, o estudante que lia até a madrugada passou a exercitar o gosto de escrever, mantendo uma coluna que chamou de Bric-a-Brac (…) observando a paisagem humana e cultural da cidade e sua gente. Seu primeiro livro, Alma Patrícia, sai em 1921. É a reunião de pequenos estudos sobre poetas e prosadores na Natal de seu tempo.
Fez seus estudos de Humanidades no Ateneu Norte-Rio-Grandense e posteriormente ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia (1918) e depois na do Rio de Janeiro (1919-1922), que largou no 4º ano por dificuldades financeiras. Forma-se enfim em Direito na Faculdade do Recife (1924-1928). Iniciou suas atividades intelectuais pelo jornalismo e a crítica literária (Alma Patrícia, seu primeiro livro é de 1921).
Anos depois, com a tese Da Intencionalidade do Descobrimento do Brasil, conquista a cátedra de História do Brasil do Ateneu em que estudara; ensina ainda Etnografia Geral na Faculdade de Filosofia e conquista o posto de professor de Direito Internacional Público da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, de onde se aposenta em 1966. Excetuada a extensa colaboração esparsa em periódicos, é em especial autor de imensa obra com quase duas centenas de publicações entre livros, traduções, opúsculos, etc.
Tendo apoiado a vanguarda modernista e militado abertamente no movimento integralista brasileiro, ele vai aos poucos concentrando o seu labor na ampla tarefa de investigação tanto como historiador, em que deixa mais de meia dúzia de obras fundamentais, quanto, sobretudo, nas questões de etnografia brasileira, especialmente em suas manifestações de cultura do povo, nas quais se torna por certo uma das fontes mais seguras. Assim, há muitas décadas, os estudiosos vêm sorvendo os contributos de suas lições, particularmente neste último território
Todavia, a exaltação louvaminheira de Câmara Cascudo como folclorista, posto possa ser justa e merecida, não deixa de conter um viés empobrecedor dessa figura extraordinária, verdadeira enciclopédia de múltiplos saberes, e que foi, antes de tudo, um pensador crítico das coisas de nossa gente e de nossa cultura, e mais ainda bom historiador, armado pioneiramente de uma perspectiva antropológica que enriquecia sobremaneira tudo quanto examinava. Sem jamais ter abandonado sua vocação original de jornalista-repórter. Eis por que, um dia, reagiu de forma incisiva a essa sua identificação automática como “folclorista”.
Se deixarmos de lado produções menores anteriores, sua primeira obra fundamental é, sem dúvida, Vaqueiros e Cantadores, publicada em 1939 pela Livraria do Globo, na coleção “Biblioteca de Investigação e Cultura” dirigida por Josué de Castro, onde examina os romances tradicionais em verso, as formas mnemônicas de poesia popular, a cantoria, os ciclos do gado e do cangaço. Em seguida, dedica-se aos contos, lendas, mitos, às novelas populares, e ao conjunto de nossa literatura oral, em livros seminais como Contos Tradicionais do Brasil (1946), Geografia dos Mitos Brasileiros (1946, com que ganha prêmio da Academia Brasileira de Letras), Literatura Oral (1952, vol. VI da História da Literatura Brasileira dirigida por Álvaro Lins), Cinco Livros do Povo (1953); e em 1954 reedita com notas e comentários os 3 volumes da edição original (Lisboa, 1885) de Contos e Cantos Populares do Brasil, de Sylvio Romero. Mas o coroamento do conjunto de sua obra nessa área é o monumental Dicionário do Folclore Brasileiro (1954), de que a 2ª (1962) e a 3ª edição (1972) acrescentam mais de duas centenas de novos verbetes, ampliando a colaboração assinada de vários estudiosos do norte ao sul do país.
Também, antes e após, foi revelando o catimbó, a jangada, a rede, e inumeráveis ensaios sobre usos e costumes, superstições e crendices, ritos, jogos e festas, gestos, tradições e maneiras de ser do povo, a erudita história de nossa alimentação, etc. Deixa ainda, em 2 tomos, uma obra de síntese conceptual da etnografia geral, cujo manuscrito desapareceu e ressurgiu após vários anos, bastante mutilado, sendo fruto de cuidadosa reelaboração: Civilização e Cultural (1973). Cascudo morreu em 1986. Mesmo num autor que tinha o hábito de atribuir subtítulos modestos a seus livros com a expressão “Pesquisas e Notas”, é quase leviano pretender resumir aqui sua fértil erudição, seu primoroso estilo e a produção original e inovadora de quase 70 anos de investigação. É óbvio que teve precursores reconhecidos, como o maranhense Celso de Magalhães (A Poesia Popular Brasileira, 1873), o pesquisador pernambucano Pereira da Costa (Folk-lore Pernambucano, 1907), Sylvio Romero, Mello Moraes Filho, etc.
Obras de Câmara Cascudo
A partir de seu acervo, Carlos Lyra dividiu a obra de Cascudo em livros e plaquetes(livretos).
Utilizamos o livro de Zila Mamede, Luís da Câmara Cascudo: cinqüenta anos de vida intelectual; 1918-1968; bibliografia anotada, de 1970, para complementar a bibliografia abaixo.
Aos poucos serão acrescentados pequenos comentários e trechos dos livros abaixo relacionados.
Atualmente já estão disponíveis 20 edições das Actas Diurnas e 6 lendas, com desenhos a carvão de Martha Pawlowna Schidrowitz para uma edição especial, numerada e personalizada do livro Lendas brasileiras, editado em 1945 pela Cattleya Alba – Confraria dos Bibliófilos Brasileiros.
Bibliografia
Livros
001 – Alma Patrícia, critica literária – Atelier Typ. M. Vitorino, 1921
002 – Histórias que o tempo leva – Ed. Monteiro Lobato, S. Paulo, (out. 1923), 1924.
003 – Joio – crítica e literatura – Of. Graph. d’A Imprensa, Natal (jun), 1924
004 – Lopez do Paraguay – Typ. d’A República, 1927
005 – Conde d’Eu – Ed. Nacional, 1933
006 – O homem americano e seus temas – Imprensa Oficial, Natal, 1933
007 – Viajando o sertão – Imprensa Oficial, Natal, 1934
008 – Em memória de Stradelli – Livraria Clássica, Manaus, 1936
009 – O Doutor Barata – Imprensa Oficial, Bahia, 1938
010 – O Marquês de Olinda e seu Tempo – Ed. Nacional, S. Paulo, 1938
011 – Governo do Rio Grande do Norte – Liv. Cosmopolita, Natal, 1939.
012 – Vaqueiros e Cantadores – (Globo, 1939) – Ed. Itatiaia, S. Paulo, 1984.
013 – Antologia do Folclore Brasileiro – Martins Editora, S. Paulo, 1944
014 – Os melhores contos populares de Portugal – Dois Mundos, 1944
015 – Lendas brasileiras – 1945
016 – Contos tradicionais do Brasil – (Col. Joaquim Nabuco), 1946 – Ediouro
017 – Geografia dos mitos brasileiros – Ed. José Olímpio, 1947. 2ª edição, Rio, 1976.
018 – História da Cidade do Natal – Prefeitura Mun. do Natal, 1947
019 – Os holandeses no Rio Grande do Norte – Depto. Educação, Natal, 1949
020 – Anubis e outros ensaios – (Ed. O Cruzeiro, 1951), 2ª edição, Funarte/UFRN, 1983
021 – Meleagro – Ed. Agir, 1951 – 2ª edição, Rio, 1978
022 – Literatura oral no Brasil – Ed. José Olímpio, 1952 – 2ª edição, Rio, 1978
023 – Cinco livros do povo – Ed. José Olímpio, 1953 – 2ª edição, ed. Univ. UFPb, 1979.
024 – Em Sergipe del Rey – Movimento Cultural de Sergipe, 1953
025 – Dicionário do Folclore Brasileiro – INL, Rio, 1954 – 3ª edição, 1972
026 – História de um homem – (João Câmara) – Depto. de Imprensa, Natal, 1954
027 – Antologia de Pedro Velho – Depto. de Imprensa, Natal, 1954
028 – História do Rio Grande do Norte – MEC, 1955
029 – Notas e documentos para a história de Mossoró – Coleção Mossoroense, 1955
030 – Trinta “estórias” brasileiras – ed. Portucalense, 1955
031 – Geografia do Brasil Holandês – Ed. José Olímpio, 1956
032 – Tradições populares da pecuária nordestina –MA-IAA n.9, Rio, 1956
033 – Jangada – MEC, 1957
034 – Jangadeiros – Serviço de Informação Agrícola, 1957
035 – Superstições e Costumes – Ed. Antunes & Cia., Rio, 1958
036 – Canto de Muro – Ed. José Olímpio, (dez. 1957), 1959
037 – Rede de dormir – MEC (1957), 1959 – 2ª edição, Funarte/UFRN, 1983
038 – Ateneu Norte-Rio-Grandense – Imp. Oficial, Natal, 1961
039 – Vida breve de Auta de Souza – Imp. Oficial, Recife, 1961
040 – Dante Alighieri e a tradição popular no Brasil – PUC, Porto Alegre, 1963 – 2ª edição Fundação José Augusto (FJA), Natal, 1979
041 – Dois ensaios de História – (Imp Oficial Natal, 1933 e 1934) Ed. Universitária, 1965
042 – História da República do Rio Grande do Norte – Edições do Val, Rio, 1965
043 – Made in África – Ed. Civilização Brasileira, 1965
044 – Nosso amigo Castriciano – Imp. Universitária, Recife, 1965
045 – Flor dos romances trágicos – Ed. Cátedra, Rio, 1966 – 2ª ed. Cátedra/FJA, 1982
046 – Voz de Nessus – Depto. Cultural, UFPb, 1966
047 – Folclore no Brasil – Fundo de Cultura, Rio, 1967 – 2ª edição, FJA, Natal;, 1980
048 – História da alimentação no Brasil – Ed. Nacional (2 vols.) fev. 1963), 1967, (col. Brasiliana 322 e 323) – 2ª ed. Itatiaia, 1983
049 – Jerônimo Rosado (1861-1930) – ed. Pongetti, Rio, 1967
050 – Seleta, Luís da Câmara Cascudo – Ed. José Olímpio, Rio, 1967 – org. por Américo de Oliveira Costa. – 2ª Ed. 1972.
051 – Coisas que o povo diz – Bloch, 1968
052 – Nomes da Terra – Fundação José Augusto, Natal, 1968
053 – O tempo e eu – Imp. Universitária – UFRN, 1968
054 – Prelúdio da cachaça – IAA, (maio, 1967), 1968
055 – Pequeno manual do doente aprendiz – Ed. Universitária – UFRN, 1969
056 – Gente viva – Ed. Universitária UFPe, 1970
057 – Locuções tradicionais no Brasil – UFPE, 1970 – 2ª edição, MEC, Rio, 1977
058 – Ensaios de etnografia brasileira – INL, 1971
059 – Na ronda do tempo – Ed. Universitária, UFRN, 1971 (livro biográfico)
060 – Sociologia do Açúcar – MIC – IAA, 1971. Coleção Canavieira n. 5
061 – Tradição, ciência do povo – Perspectiva, S. Paulo, 1971
062 – Ontem – (maginações) – Ed. Universitária UFRN, 1972
063 – Uma História da Assembléia Legislativa do RN – FJA, 1972
064 – Civilização e cultura (2 vol.) – MEC/Ed. José Olímpio, 1973
065 – Movimento da independência no RN – FJA, 1973
066 – O Livro das velhas figuras – (6 vol.) – 1, 1974; 2, 1976; 3, 1977; 4, 1978; 5, 1981; 6, 1989 – Inst. Histórico e Geográfico do RN
067 – Prelúdio e fuga do real – FJA, 1974
068 – Religião no povo – Imprensa Universitária, UFPb, 1974
069 – História dos nossos gestos – Ed. Melhoramentos, 1976
070 – O Príncipe Maximiliano no Brasil – Kosmos editora, 1977
071 – Antologia da alimentação no Brasil – Livros Técnicos e Científicos ed., 1977
072 – Três ensaios franceses, FJA, 1977 (do “Motivos da Literatura Oral da França no Brasil”, Recife, 1964 – Roland, Mereio e Heptameron)
073 – Mouros e Judeus – Depto. de Cultura, Recife, 1978
074 – Superstição no Brasil – Itatiaia, S. Paulo, 1985
Plaquetes
075 – Da poesia popular narrativa no Brasil – Universidade Nacional do México, 1971
076 – Ás de Vila Diogo – Museu de Etnografia e História – Junta Distrital do Porto
077 – Assunto gago – Museu de Etnografia e História – Junta Distrital do Porto
078 – Ceca e Meca – Museu de Etnografia e História – Junta Distrital do Porto
079 – O morto no Brasil – Museu de Etnografia e História – Junta Distrital do Porto
080 – Água do Lima no Capibaribe – Museu de Etnografia e História – Junta Distrital do Porto
081 – Visão do Folclore Nordestino – Museu de Etnografia e História – Junta Distrital do Porto
082 – Uma nota sobre o cachimbo inglês – Museu de Etnografia e História – Junta Distrital do Porto
083 – Folclore nos Autos Camoneanos – Museu de Etnografia e História – Junta Distrital do Porto
084 – Divórcio no talher – Museu de Etnografia e História – Junta Distrital do Porto
085 – A cozinha africana no Brasil – Publicações do Museu de Angola, Luanda, 1964
086 – Ancha es Castilla! – Academia de Ciências de Lisboa, 1967
087 – Três notas brasileiras – Junta Distrital de Lisboa, 1970
088 – Conferência (Tricentenário dos Guararapes) – Arquivo Público, Recife, 1949
089 – A função dos arquivos – Arquivo Público Estadual, Recife, 1956
090 – Desplantes – Revista do Arquivo Municipal – S.Paulo
091 – Paróquias do Rio Grande do Norte – Depto. Imprensa, Natal, 1955
092 – A família do Padre Miguelinho – Coleção Mossoroense, 1960
093 – Ateneu Norte-Riograndense – Coleção “Juvenal Lamartine”, Natal, 1961
094 – Breve História do Palácio da Esperança – Depto. Imprensa, Natal, 1961
095 – A vaquejada nordestina e sua origem – FJA, 1976
096 – Mitos brasileiros – Cadernos de Folclore n. 6, MEC, 1976
097 – Paliçadas e gases asfixiantes entre os indígenas da América do Sul – Ed. Biblioteca do Exército, 1961
098 – Versos (Lourival Açucena) – Typ. A República, Natal, 1927
099– A Carnaúba – in Revista Brasileira de Goegrafia, p. 159 – IBGE, 1964
100 – Alexander Von Humboldt – 1969
101 – Natal – (Revista Potyguar), 1939 – Coleção Mossoroense, 199l
102 – Caraúbas, Assu e Santa Cruz – (Revista Potiguar, 1938), Coleção Mossoroense, 1991
103 – Paróquias do Rio Grande do Norte – Depto. Imprensa, 1955 – Coleção Mossoroense, 1992
104 – Três poemas de Walt Whitman – Imprensa Oficial, Recife, 1957 – Coleção Mossoroense, 1992
105 – Mossoró e Moçoró – Coleção Mossoroense, 1991 – Consultando São João – Depto. Imprensa, Natal,
1949.
Mais plaquetes e outras publicações
106 – O mais antigo marco colonial do Brasil. 1934
107 – Intencionalidade no descobrimento do Brasil. Natal, 1935
108 – O homem americano e seus temas. Natal, 1935
109 – Uma interpretação da couvade. São Paulo, 1936
110 – Conversas sobre a hipoteca. São Paulo, 1936
111 – Os índios conheciam a propriedade privada. São Paulo, 1936
112 – O brasão holandês no Rio Grande do Norte. 1936
113 – Notas para a história do Ateneu. Natal, 1937
114 – O marquês de Olinda e o seu tempo. São Paulo, 1938
115 – Peixes no idioma tupi. Rio de Janeiro, 1938
116 – Governo do Rio Grande do Norte. Natal, 1939
117 – Informação de história e etnografia. Recife, 1940
118 – O nome potiguar. Natal, 1940
119 – O povo do Rio Grande do Norte. Natal, 1940
120 – As lendas de Estremoz. Natal, 1940
121 – Fanáticos da serra de João do Vale. Natal, 1941
122 – O presidente parrudo. Natal, 1941
123 – Seis mitos gaúchos. Porto Alegre, 1942
124 – Sociedade Brasileira de Folclore. 1942
125 – Lições etnográficas das Cartas Chilenas. São Paulo, 1943
126 – Antologia do folclore brasileiro. São Paulo, 1944
127 – Os melhores contos populares de Portugal. Rio de Janeiro, 1944
128 – Simultaneidade de ciclos temáticos afro-brasileiros. Porto, 1948
129 – Tricentenário de Guararapes. Recife, 1949
130 – Gorgoncion; estudo sobre amuletos. Madri, 1949
131 – Consultando São João. Natal, 1949
132 – Ermet Mell’Acaia e la consulta degli oracoli. Nápoles, 1949
133 – O folclore nos autos camponeanos. Natal, 1950
134 – Custódias com campainhas. Porto, 1951
135 – Conversa sobre direito internacional público. Natal, 1951
136 – Os velhos estremezes circenses. Porto, 1951
137 – Atirei um limão verde. Porto, 1951
138 – Com Dom Quixote no folclore brasileiro. Rio de Janeiro, 1952
139 – A mais antiga igreja do Seridó. Natal, 1952
140 – O fogo de 40. Natal, 1952
141 – O poldrinho sertanejo e os filhos do vizir do Egito. Natal, 1952
142 – Tradición de un cuento brasileño. Caracas, 1952
143 – História da imperatriz Porcina. Lisboa, 1952
144 – A origem da vaquejada do nordeste brasileiro. Porto, 1953
145 – Alguns jogos infantis no Brasil. Porto, 1953
146 – Casa dos surdos. Madri, 1953
147 – Contos de encantamento. 1954
148 – Contos exemplares. 1954
149 – No tempo em que os bichos falavam. 1954
150 – Comendo formigas. Rio de Janeiro, 1954
151 – Os velhos caminhos do Nordeste. Natal, 1954
152 – Cinco temas do Heptameron na literatura oral. Porto, 1954
153 – Pereira da Costa, folclorista. Recife, 1954.
154 – Lembrando Segundo Wanderley. Natal, 1955
155 – Notas sobre a paróquia de Nova Cruz. Natal, 1955
156 – Leges et consuetudines nos costumes nordestinos. Havana, 1955
157 – História do município de Santana do Matos. Natal, 1955
158 – Vida de Pedro Velho. Natal, 1956
159 – Comadre e compadre. Porto, 1956
160 – Tradições populares da pecuária nordestina. Rio de Janeiro, 1956
161 – Universidade e civilização. Natal, 1959
162 – A noiva de arraiolos. Madri, 1960
163 – Temas do Mireio no folclore de Portugal e Brasil. Lisboa, 1960
164 – Conceito sociológico do vizinho. Porto, 1960
165 – Etnografia e direito. Natal, 1961
166 – Grande fabulário de Portugal e Brasil. Lisboa, 1961
167 – Motivos da literatura oral da França no Brasil. Recife, 1964
168 – Prelúdio e fuga. Natal, [1966] 107.Voz de Nessus (inicial de um Dicionário brasileiro de superstições). Paraíba, 1966
169 – Mouros, franceses e judeus; três presenças no Brasil. Rio de Janeiro, 1967
Outras traduções e anotações
170 – Açucena, Lourival. Versos reunidos. 1920
171 – Montaigne e o índio brasileiro. São Paulo, 1940. Tradução e notas do capítulo ‘Des caniballes’, dos Essais
172 – Koster, Henri. Viagens ao Brasil. São Paulo, 1942. Tradução e notas
173 – Viagens ao Nordeste do Brasil – Henry Koster (tradução comentada) Estado de Pernambuco, 1942 e 2ª ed. 1978
174 – Hart, Charles Frederick. Os mitos amazônicos da tartaruga. 1952
175 – Romero, Sílvio. Contos populares do Brasil. Rio de Janeiro, 1954. Introdução e notas.
176 – Romero, Sílvio. Cantos populares do Brasil. 2
177 – Barbosa, Domingos Caldas. Poesia. 1958
178 – Nobre, Antônio. Poesia. 1959
179 – Melo Moraes Filho. Festas e tradições populares do Brasil. Belo Horizonte, 1979. Revisão e notas
180 – Melo Moraes Filho. Os ciganos e cancioneiro dos ciganos. Belo Horizonte, 1981. Revisão e notas.
Inéditos
181 – História da literatura norte-riograndense
182 – História do município do Ceará-Mirim
183 – História do Rio Grande do Norte para as escolas
184 – História da carnaúba
185 – Nomes de ruas e praças da cidade do Natal
186 – O livro dos patronos
187 – Brazilian Folk-lore
188 – J. Poranduba Amazonense, de Barbosa Rodrigues
189 – Mitologia indígena do Amazonas, de Charles Frederick Hartt
Livros sobre Câmara Cascudo
01 – Viagem ao Universo de Câmara Cascudo. Américo de Oliveira Costa, 1969.
02 – Luís da Câmara Cascudo: cinqüenta anos de vida intelectual; 1918-1968; bibliografia anotada. Zila Mamede, 1970.
03 – Uma Câmara vê Cascudo. Carlos Lyra.
04 – Luís da Câmara Cacudo – Sua vida e Sua obra. Homenagem do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, 1969. Editora Pongetti.
05 – Saturnino, Cascudo e o Clube dos Inocentes. José Melquíades de Macedo, 1992
06 – Lembranças do meu avô. Newton Cascudo Roberti Leite. Coleção Mossoroense – Série C – Volume 795
– 1992
07 – Câmara Cascudo- um brasileiro feliz. Diógenes da Cunha Lima, 1978 (1 a edição), 1993 (2 edição), 1998 (3 edição).
08 – Luís da Câmara Cascudo- Bibliografia comentada; 1968-1995. Vânia Gicco, 1996.
09 – A presença de Câmara Cascudo em Goiás. Seleção e organização de Getúlio Araújo, 1998.
10 – Câmara Cascudo- Um Homem Chamado Brasil. Gildson Oliveira, 1998 – Editora Brasília Jurídico.
Memorial de Câmara Cascudo
O Memorial Câmara Cascudo representa uma homenagem do Governo do Estado ao mais eminente homem de letras, inteligência e cultura do Rio Grande do Norte com projeção internacional. A administração do Memorial é vinculada à Fundação José Augusto, órgão cultural do governo estadual. O prédio que desde 10 de fevereiro abriga o Memorial Câmara Cascudo foi construído em 1875 para abrigar a Tesouraria da Fazenda, no mesmo lugar onde existira o edifício do Real Erário, construído no século XVIII.
O Memorial tem como objetivo preservar e divulgar a vida e a obra de Luís da Câmara Cascudo, abordando diversos aspectos. O principal destaque é a biblioteca particular de Câmara Cascudo, com cerca de 10 mil volumes de diversos assuntos como folclore, religião, História, biografias e romances. A biblioteca é considerada “rara” por possuir obras do início do século passado e livros em diversos idiomas. Grande parte dos livros tem anotações de próprio punho de Cascudo e dedicatórias dos autores.
Além dos livros que compõem a biblioteca, encontram-se ainda as correspondências de Cascudo com diversos intelectuais como Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Carlos Drummond e Gilberto Freyre.
O Memorial abriga ainda a exposição permanente O Mestre Câmara Cascudo em um total de cinco salas que abordam aspectos estudados pelo mestre em sua vasta obra literária.
As duas primeiras salas são compostas por quadros com fotos que retratam passagens marcantes na vida de Câmara Cascudo.
As outras três salas abrigam o Estudo da cédula, com quadros indicando o estudo feito pelo Banco Central para o lançamento da cédula de cinqüenta mil cruzeiros (Cr$ 50.000) homenageando Câmara Cascudo; Arte popular, com mamulengos e peças feitas pelos artesãos Chico Santeiro, Neném e Chiquinha; e a Sala da magia, abordando temas como catimbó, Judas, sincretismo religioso, superstições e outros estudados por Cascudo.
No decorrer dos anos, Cascudo tem sido homenageado de várias maneiras. A mais tradicional tem sido dar seu nome à instituições ligadas à cultura. Aqui você vai conhecer um pouco do Memorial Câmara Cascudo, da biblioteca e do museu que levam seu nome e ainda terá uma oportunidade única: fazer uma visita à casa da “Junqueira Aires”, onde Cascudo viveu a maior parte de sua vida.
Muitas outras homenagens têm sido feitas a Câmara Cascudo: pelo governo federal, pela Caixa Econômica, pelos Correios, pela prefeitura de Natal, por empresas e particulares. Conheça mais algumas delas.
CÉDULA
Cascudo ilustrou a nota de Cr$ 50.000 na Era Collor.
Loteria
A Caixa Econômica também homenageou Câmara Cascudo.
Postal
Outra homenagem da Caixa Econômica.
Selo Homenagem dos correios no ano do Centenário.
Conta de Energia No mês do centenário, uma homenagem nas contas de energia
Conto de Câmara Cascudo
A Gulosa disfarçada
Um homem casara com excelente mulher, dona -de -casa arranjadeira e honrada, mas muito gulosa. Par disfarçar seu apetite fingia-se sem vontade de alimenta-se sempre que o marido a convidava nas refeições. Apesar desse regime, engordava cada vez mais e o esposo admirava alguém poder viver com tão pouca comida. Uma manhã resolveu certificar-se se a mulher comia em sua ausência. Disse que ia para o trabalho e escondeu-se num ligar onde podia acompanhar os passos da esposa.
No almoço, viu-a fazer umas tapiocas de goma, bem grossas, molhadas no leite de coco, e comê-las todas, deliciada. Na merenda, mastigou um sem número de alfenins finos, branquinhos e gostosos. Na hora do jantar, matou um capão, ensopado em molho espesso, saboreando-o. À ceia, devorou um prato de macaxeiras, enxutinhas, acompanhando-as com manteiga.
Ao anoitecer, o marido apareceu, fingindo-se fatigado. Chovera o dia inteiro e o homem estava como se tivesse passado, como realmente passara, o dia à sombra. A mulher perguntou:
– Homem, como é que trabalhando na chuva você não se molhou?
O marido respondeu:
– Se a chuva fosse grossa como as tapiocas que você almoçou, eu teria vindo ensopado como o capão que você jantou. Mas como era fina como os alfenins que você merendou e eu fiquei enxuto como as macaxeiras que você ceou.
A mulher compreendeu que fora descoberta em seu disfarce e não mais escondeu o seu apetite ao marido.
Observamos que no título- A gulosa disfarçada – a seleção lexical para caracterizar a personagem como aquele que age pelo excesso e pelo dissimulado, já que gulosa e disfarçada. Sabe-se que a gula é considerada um dos grandes pecados do homem, pois o alimento além de ser considerado sagrado, sua ingestão deve ser apenas o suficiente para saciar a fome regular; por outro lado, deve, também, ser divido, tal como o repartir o pão, do preceito bíblico. Ser disfarçada rompe com regras sociais de todos os tempos, pois significa que há algo que não possa ser mostrado ao outros; isto é, um segredo, uma crença, uma mentira, um distúrbio de caráter. Do mesmo modo, qualquer que seja a falta disfarçada mostra que a personagem rompe com as normas daquela sociedade, cuja representação se dá na figura do marido, de quem deve esconder seu distúrbio, seu pecado e de quem espera a reprovação e o castigo.
Procurando atenuar tais características na mulher, observamos que ela é apresentada como sendo excelente mulher, dona-de-casa arranjadeira e honrada. Ou seja, as qualidades apresentadas são aquelas que indiciam o ideal de conduta feminina para aquela sociedade, sendo ela excelente como mulher, com os cuidados da casa, dando-lhe ordem e mantendo a honra. São três os adjetivos para reforçar tal ideal, significando compreender que essas são qualidades pelas quais as moças devem primar. Em contraposição, um único adjetivo – guloso – precedido de um intensificador– muito – e antecedido por um marcador argumentativo –mas– provoca a tensão na narrativa e transfere a atenção do ouvinte para o pólo negativo das condutas desta personagem. Este pólo será o ponto de referência para que, no conto, sejam construídos os argumentos que evidenciam o comportamento repreensivo da mulher, fato que traz ameaça ao papel do homem naquela estrutura social.
Na seqüência da narrativa, apresenta-se a desconfiança do marido sobre a conduta da esposa, razão que o leva a mentir-lhe sobre ir ao trabalho, esconder-se e vigiá-la como objetivo de surpreendê-la em sua falta. Esse procedimento do marido faz-nos perceber o papel do homem que se vê no direito, senão na obrigação, de vigiar a mulher a fim de que possa corrigir-lhe a falta. Essa passagem atesta-nos que, realmente, por tais crenças, o homem tem o dever vigiar os atos da esposa e, mais ainda, o poder de praticar ações de controle sobre ela. Note-se que nada de negativo é enunciados sobre a conduta do marido que mentiu, faltou ao trabalho, vigiou os passos da esposa, e quando retorna a casa ao final do dia fingiu-se fatigado. Todos esses procedimentos remetem-se a marcos de cognições sociais que corroboram as atitudes do marido, que são acatadas pela sociedade, expressos por um discurso, em cujo enunciado, nada há que aponte para o seu inverso.
No decorrer da narrativa, as qualidades primeiras, pelas quais a mulher fora apresentada, não mais é mencionada; pelo contrário, a seqüência narrativa traz todos os atos da mulher que reforçam o ser gulosa. Em todas as refeições, ela se farta com as mais preciosas iguarias, sempre em quantidades tão exageradas que não seria normal a qualquer ser humano, muito menos a uma mulher: viu-a fazer umas tapiocas de goma, bem grossas, molhadas no leite de coco, e comê-las todas, deliciada. Na merenda, mastigou um sem número de alfenins finos, branquinhos e gostosos. Na hora do jantar, matou um capão, ensopado em molho espesso, saboreando-o. À ceia, devorou um prato de macaxeiras, enxutinhas, acompanhando-as com manteiga.
Ao final da narrativa, após o marido revelar a descoberta do segredo da esposa e seus disfarces, a mulher é apresentada como aquela que compreende ter sido descoberta em seu disfarce e não mais escondeu seu apetite ao marido. O modo como esse enunciado finaliza a narrativa permite compreender que o papel do marido está moldado pela autoridade que lhe é atribuída pelas coerções coletivas, que o institucionalizam como aquele que tem o poder de, em nome das regras e dos valores dessa sociedade, sancionar, controlar o comportamento da esposa.
Autor: Rodrigo Dias Alves
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