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Atualizado em 02/08/2023

Auguste Comte, o pai da sociologia (biografia e datas)

Conheça a história pessoal e intelectual do pai da Sociologia, Auguste Comte, e sua contribuição para o desenvolvimento desse campo de estudo. Descubra como ele influenciou o mundo atual e instigou a reflexão sobre as sociedades e os processos sociais.

 
Isidore Auguste Marie François Xavier Comte,nasceu a 19 de Janeiro de 1798, em Montepellier.
Em 1814, aos 16 anos, interessado pelas ciências naturais, conjugado às questões históricas e sociais, ingressou na Escola Politécnica de Paris. No período de 1817-1824 foi secretário do conde Henri de Saint-Simon, expoente do socialismo utópico. São dessa época algumas fórmulas fundamentais: “Tudo é relativo, eis o único princípio absoluto” (1819) e “Todas as concepções humanas passam por três estádios sucessivos – teológico, metafísico e positivo –, com uma velocidade proporcional à velocidade dos fenômenos correspondentes” (1822) – “Lei dos três estados”.
Em 1824 rompeu com Saint-Simon, ao discordar das ideias deste sobre as relações entre a ciência e a reorganização da sociedade. Comte estava convicto que o mestre periodizava auxílio à elite industrial e científica do período com sacrifício da reforma teórica do conhecimento.
Em 1826 sofreu um colapso nervoso enquanto trabalhava na criação de uma filosofia positiva, supostamente desencadeado por “problemas conjugais”. Recuperado, iniciou a redacção de Curso de Filosofia Positiva (renomeado para Sistema de Filosofia Positiva, em 1848), trabalho que lhe tomou doze anos.
Em 1842 perdeu o emprego de examinador de admissão à Escola Politécnica por criticar a corporação universitária francesa. Começou a ser ajudado por admiradores, como o pensador inglês John Stuart Mill (1806-1873). No mesmo ano separou-se de Caroline Massin, após 17 anos de casamento. Em 1845 apaixonou-se por Clotilde de Vaux, que morreria no ano seguinte por tuberculose.
Entre 1851 e 1854 redigiu o Sistema de Política Positiva, no qual expôs algumas das principais consequências de sua concepção de mundo não-teológico e não-metafisico, propondo uma interpretação pura e plenamente humana para a sociedade e sugerindo soluções para os problemas sociais; no volume final da obra apresentou as instituições principais de sua Religião da Humanidade.
Adoptando os critérios históricos e sistemáticos, outras ciências abstractas antes da Sociologia, segundo Comte, atingiram a positividade: a Matemática, a Astronomia, a Física, a Química e a Biologia. Assim como nessas ciências, em sua nova ciência inicialmente chamada de física social e posteriormente Sociologia, Comte usaria a observação, a experimentação, da comparação e a classificação como métodos – resumidas na filiação histórica – para a compreensão (isto é, para conhecimento) da realidade social. Comte afirmou que os fenómenos sociais podem e devem ser percebidos como os outros fenómenos da natureza, ou seja, como obedecendo a leis gerais; entretanto, sempre insistiu e argumentou que isso não equivale a reduzir os fenómenos sociais a outros fenómenos naturais (isso seria cometer o erro teórico e epistemológico do materialismo): a fundação da Sociologia implica que os fenómenos sociais são um tipo específico de realidade teórica e que devem ser explicados em termos sociais.
Em 1852 Comte instituiu uma sétima ciência, a Moral, cujo âmbito de pesquisa é a constituição psicológica do indivíduo e suas interacções sociais.
Pode-se dizer que o conhecimento positivo busca “ver para prever, a fim de prover” – ou seja: conhecer a realidade para saber o que acontecerá a partir de nossas acções, para que o ser humano possa melhorar sua realidade. Dessa forma, a previsão científica caracteriza o pensamento positivo.
O espírito positivo, segundo Comte, tem a ciência como investigação do real. No social e no político, o espírito positivo passaria o poder espiritual para o controle dos “filósofos positivos”, cujo poder é, nos termos comtianos, exclusivamente baseado nas opiniões e no aconselhamento, constituindo a sociedade civil e afastando-se a acção política prática desse poder espiritual – o que afasta o risco de tecnocracia (chamada, nos termos comtianos, de “pedantocracia”).
O método positivo, em termos gerais, caracteriza-se pela observação. Entretanto, deve-se perceber que cada ciência, ou melhor, cada tipo de fenómeno tem suas particularidades, de modo que o método específico de observação para cada fenómeno será diferente. Além disso, a observação conjuga-se com a imaginação: ambas fazem parte da compreensão da realidade e são igualmente importantes, mas a relação entre ambas muda quando se passa da teologia para a positividade. Assim, para Comte, não é possível fazer ciência (ou arte, ou acções práticas, ou até mesmo amar!) sem a imaginação, isto é, sem uma activa participação da subjectividade individual e por assim dizer colectiva: o importante é que essa subjectividade seja a todo instante confrontada com a realidade, isto é, com a objectividade.
Dessa forma, para Comte há um método geral para a ciência (observação subordinando a imaginação), mas não um método único para todas as ciências; além disso, a compreensão da realidade lida sempre com uma relação contínua entre o abstracto e o concreto, entre o objectivo e o subjectivo. As conclusões epistemológicas a que Comte chega, segundo ele, só são possíveis com o estudo da Humanidade como um todo, o que implica a fundação da Sociologia, que, para ele, é necessariamente histórica.
Além da realidade, outros princípios caracterizam o Positivismo: o relativismo, o espírito de conjunto (hoje em dia também chamado de “holismo”) e a preocupação com o bem público (colectivo e individual). Na verdade, na obra “Apelo aos conservadores”, Comte apresenta sete definições para o termo “positivo”: realútil,certoprecisorelativoorgânico e simpático.
“A génese do Positivismo ocorreu no século XIX, num momento de transformações sociais e económicas, políticas e ideológicas, tecnológicas e científicas profundas decorrentes da consolidação do capitalismo, enquanto modo de produção, através da propagação das actividades industriais na Europa e outras regiões do mundo. Portanto, o “século de Comte” e sua amada França mergulharam de corpo e alma, numa “deusa” chamada razão, colocando sua fé numa “Nova Religião”, caracterizada pela junção entre a ciência e a tecnologia, tidas como a panaceia da humanidade, no contexto da expansão, pelo Globo, do Capitalismo Industrial.” (VALENTIM 2010)
O alicerce fundamental da obra comtiana é, indiscutivelmente, a “Lei dos Três Estados”, tendo como precursores nessa ideia seminal os pensadores Condorcet e, antes dele, Turgot.
Segundo o marquês de Condorcet, a humanidade avança de uma época bárbara e mística para outra civilizada e esclarecida, em melhoramentos contínuos e, em princípio, infindáveis – sendo essa marcha o que explicaria a marcha da história.
A partir da percepção do progresso humano, Comte formulou a Lei dos Três Estados. Observando a evolução das concepções intelectuais da humanidade, Comte percebeu que essa evolução passa por três estados teóricos diferentes: o estado ‘teológico’ ou ‘fictício’, o estado ‘metafísico’ ou ‘abstracto’ e o estado ‘científico’ ou ‘positivo’, em que:
  • No primeiro, os factos observados são explicados pelo sobrenatural, por entidades cuja vontade arbitrária comanda a realidade. Assim, busca-se o absoluto e as causas primeiras e finais (“de onde vim? Para onde vou?”). A fase teológica tem várias sub-fases: o feiticismo, o politeísmo, o monoteísmo.
  • No segundo, já se passa a pesquisar directamente a realidade, mas ainda há a presença do sobrenatural, de modo que a metafísica é uma transição entre a teologia e a positividade. O que a caracteriza são as abstracções personificadas, de carácter ainda absoluto: “a Natureza”, “o éter”, “o Povo”, “o Capital”.
  • No terceiro, ocorre o apogeu do que os dois anteriores prepararam progressivamente. Neste, os fatos são explicados segundo leis gerais abstractas, de ordem inteiramente positiva, em que se deixa de lado o absoluto (que é inacessível) e busca-se o relativo. A par disso, actividade pacífica e industrial torna-se preponderante, com as diversas nações colaborando entre si.
É importante notar que cada um desses estágios representa fases necessárias da evolução humana, em que a forma de compreender a realidade conjuga-se com a estrutura social de cada sociedade e contribuindo para o desenvolvimento do ser humano e de cada sociedade.
Dessa forma, cada uma dessas fases tem suas abstracções, suas observações e sua imaginação; o que muda é a forma como cada um desses elementos conjuga-se com os demais. Da mesma forma, como cada um dos estágios é uma forma totalizante de compreender o ser humano e a realidade, cada uma delas consiste em uma forma de filosofar, isto é, todas elas engendram filosofias.
Como é possível perceber, há uma profunda discussão ao mesmo tempo sociológica, filosófica e epistemológica subjacente à lei dos três estados – discussão que não é possível resumir no curto espaço deste artigo.
Em 1856 publicou o primeiro volume de Síntese Subjectiva, projectada para abarcar quatro volumes, cada um a tratar de questões específicas das sociedades humanas: lógica, indústria, pedagogia, psicologia. Não pôde concluir a obra ao falecer, possivelmente de câncer, em 5 de Setembro de 1857, em Paris. Sua última casa, na rua Monsieur-le-Prince, n. 10, foi posteriormente adquirida por positivistas e transformada no Museu Casa de Augusto Comte.
Obras
  • 1816-1828  Opúsculos de Filosofia Social (Republicados em conjunto, em 1854, como apêndice ao volume IV do Sistema de política positiva)
  • 1830-1842  Curso de filosofia positiva, em 6 volumes (em 1848 foi renomeado para Sistema de filosofia positiva)
  • 1848  Discurso sobre o espírito positivo
  • 1851  Discurso sobre o conjunto do Positivismo (Introdução geral aoSistema de política positiva)
  • 1851-1854  Sistema de política positiva, em 4 volumes
  • 1852  Catecismo positivista
  • 1855  Apelo aos conservadores
  • 1856  Síntese subjectiva
  • 1816-1857  Correspondência (em 8 volumes)

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