Como falar de morte com seus filhos?
Especialista afirma que a criança não deve ser poupada quando o assunto é a morte.
Bater as botas, partir, falecer, ir para o andar de cima. Eufemismos não faltam para substituir a palavra “morte”. Tão comum em nosso dia a dia, é um dos assuntos mais evitados entre as conversas. Falar de morte, muitas vezes, pode ser uma questão delicada. Mas como falar desse assunto com as crianças? Como dizer a elas que um parente próximo morreu?
Preparar uma criança para a perda de alguém deve fazer parte da vida de todos e ajudará a criança a aceitá-la melhor como um processo natural. Flores que secam e morrem, um animal de estimação que adoece e morre podem providenciar uma oportunidade para falar à criança desta inevitabilidade.
Transparência. Essa é a palavra-chave para que as crianças tomem contato com a morte, afirma a psicóloga Sandra Cristina Vieira. “Antes de falarmos em como comunicar a morte de uma pessoa para uma criança, devemos pensar em como nós encaramos a morte. Na sociedade ocidental, a morte é vista como uma coisa misteriosa, dolorosa e angustiante, da qual não devemos falar. Por isso muitas vezes não usamos a palavra “morte”, e sim, outras expressões para nos referirmos a ela, afirma.
Ainda segundo a psicóloga, nos hospitais, por exemplo, os médicos, enfermeiros e funcionários, mesmo acostumados a lidar com a morte, utilizam expressões do tipo “o leito fechou” para se referirem a um paciente que morreu. “Isso é uma característica ocidental. Na Índia, por exemplo, a morte é considerada um fato bom, pois acredita-se que o morto passa para um lugar melhor”.
Os equívocos
Uma das atitudes mais comuns nos casos de anúncio de morte é quando os pais falam que a pessoa partiu ou virou uma estrelinha. Segundo Sandra, as crianças começam a fantasiar e acabam gerando uma angústia. “Por que eu não vou mais ver aquela pessoa?”, “Se ela virou uma estrelinha e foi para o céu, por que eu não posso ir também?” ou “Se o céu é um lugar bonito, porque as pessoas choram quando as outras vão para lá?”.
Vários questionamentos surgem na cabeça das crianças, mas as respostas não vêm. Junto com a angústia, aumenta a ansiedade, que pode se transformar em depressão. “Se todo o processo não for bem explicado para as crianças, elas podem gerar fobias que podem acompanhá-las por toda a vida”, assegura a psicóloga.
Possíveis sintomas nas crianças devido à morte não falada:
- Angústia;
- Ansiedade;
- Fobias;
- Excesso ou falta de sono – excesso pois a criança quer evitar aquela situação, e falta de sono para ficar em vigília para saber o que pode acontecer dali em diante;
- Desinteresse pela escola – com os sintomas acima, a escola vira uma coisa secundária;
- Insegurança – os pais mentiram em relação ao que aconteceu; falaram uma coisa, mas aconteceu outra.
Como agir?
Estar preparado para receber a notícia de morte pode ser o caminho para que esse momento seja menos traumático para a criança. A psicóloga explica que até clássicos da história infantil podem ser usados para desmistificar o tema da morte para as crianças. Na história da Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, a vovó morre após ser comida pelo lobo. Algumas versões mais atuais acabam iludindo as crianças, quando afirmam que o caçador retira a vovó de dentro do corpo do lobo. Mas por que não fazer com que as crianças tenham esse contato com a morte nas histórias infantis?
Sandra ainda diz que, apesar de acompanhar um enterro ser uma situação forte para uma criança, é uma situação que todas as pessoas presenciam alguma vez. “Se o primeiro contato com a morte de um ente próximo for de forma transparente, o enfrentamento dessa situação com outras pessoas será menos doloroso. A morte faz parte da vida. Embora a gente não goste, é inevitável”, conclui.
Fonte: www.acessa.com
Para ajudar as crianças a lidarem com a morte, é importante também ensinar sobre a importância da autoestima e como isso pode influenciar na forma como elas encaram a vida e a morte.
Além disso, é fundamental que os pais estejam preparados para responder a perguntas difíceis e que possam surgir ao longo do tempo. A comunicação aberta é essencial para que as crianças se sintam seguras e amparadas. Para mais dicas sobre como melhorar a comunicação entre pais e filhos, confira as formas de comunicação entre pais e filhos.
Por fim, é importante lembrar que a morte é uma parte natural da vida e que, ao falarmos sobre isso com nossos filhos, estamos ajudando-os a entender e aceitar essa realidade. Para mais informações sobre como lidar com questões emocionais, veja como lidar com a depressão na infância.
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