A pesquisa recente sobre bullying tem mostrado que “além das características pessoais das crianças envolvidas, as características de suas famílias, relações de ligação e estilos de parentagem que experienciam” parecem estar implicados no bullying. No meu artigo “O bullying tem uma única causa? foi possível ver a importância de todos os sistemas sociais no desenvolvimento da criança.
Vamos discorrer com mais detalhes sobre o papel da família no desenvolvimento da agressão e do envolvimento em situações de bullying na escola. É farta a pesquisa sobre família e desenvolvimento da agressão e mais escassa em relação ao bullying, que é um comportamento agressivo, mas com características peculiares.
O papel da família no bullying
A teoria social de Bandura (1973) afirma que as crianças aprendem a se comportar através de suas experiências em ambientes sociais. Os bebês e crianças pequenas são altamente egocêntricos, como se o mundo girasse só à sua volta e estivesse pronto para atender todas as suas necessidades. Com o passar do tempo, começam a desenvolver relações de reciprocidade, de dar e receber, de compartilhar, com enorme influência da educação que recebem primeiramente na família.
A violência é um comportamento que tem muito de aprendido e a fonte primária de um aprendizado precoce é o ambiente familiar.
“Quando a família e o ambiente social ensinam à criança formas não agressivas de lidar com conflitos, onde há cooperação e uma resolução efetiva de problemas, ela vai procurar transferir estas práticas para seu convívio social mais amplo. Quando, ao contrário, o ambiente em que vive ensina-lhe a resolver conflitos através da agressão e da coerção, ela aprende que o uso do poder é a melhor forma de resolver seus problemas.” (Newman, Horne e Bartolomucci, 2000).
As práticas familiares na infância mais precoce estão claramente associadas a comportamento antissocial e delinquente posterior.
Patterson pesquisou sobre agressão e práticas de criação de filhos por muito tempo. Segundo ele, as práticas educativas como disciplina inconsistente, pouco envolvimento dos pais e falta de supervisão levam ao desenvolvimento da agressão.
Para Olweus (1991), os bullies “têm muita liberdade e muito pouco amor em casa”. Ele identificou quatro fatores no ambiente familiar positivamente correlacionados com o desenvolvimento de comportamento agressivo:
- Negativismo, particularmente por parte da mãe
- Indiferença, negligência e rejeição pelos cuidadores primários
- Permissividade para atos agressivos
- Métodos de criação severos e punitivos
Pesquisa de Eron (1987) aponta que as seguintes características previam comportamento agressivo aos oito anos de idade: rejeição por um ou ambos os pais; uso maciço de punição física; falta de carinho; e desarmonia entre os pais.
Ao estudar os fatores familiares que contribuem para o bullying, Olweus (1980) notou que os seguintes fatores apareciam consistentemente:
- Vida em família caracterizada por frigidez emocional
- Maior probabilidade de organização caótica do lar
- As famílias dos bullies tendiam a ser socialmente isoladas
- Conflito e desarmonia dos pais
- Práticas de educação dos filhos ineficientes
- Rigidez em manter a ordem da família
Como grupo, os bullies relatam que seus pais são mais autoritários, toleram as brigas e usam punição física (Baldry & Farrington, 200/ Olweus, 1995b), e estas famílias são descritas por outros autores como carentes de calor e estrutura, com baixa coesão familiar e muitos conflitos (Olweus, 1993ª/ Stevens et alii, 2002).
Olweus (1993b) usou entrevistas com pais para pesquisar sobre as vítimas de bullying, concentrando-se nos meninos e explorou o temperamento da criança e o estilo parental. Ele encontrou que temperamento fraco previa superproteção das mães que, por sua vez, previa o status de vítima. O negativismo do pai e a pouca identificação com a figura paterna também prediziam o status de vítima. Estes dois fatores poderiam levar o menino a ter dificuldade de se afirmar com outros meninos de sua idade. Se combinados com fraqueza física, isto tornaria bastante provável a vitimização.
Segundo Olweus, o menino mais provável de se tornar vítima de bullying “é plácido, cauteloso, sensível e tem uma relação estreita e superprotegida com a mãe ou tem um pai crítico e distante e que não oferece um modelo masculino satisfatório”.
Smith e Myron-Wilson (1996) resumem de maneira os perfis parentais e sua relação com os comportamentos dos bullies e das vítimas:
“Em geral, pais cujos filhos se envolvem em bullying (não importa em que papel) são mais prováveis de ter problemas com um fraco funcionamento familiar, uma ligação insegura com seus filhos e de serem percebidos de forma mais negativa pelas crianças.
Especificamente, pais cujos filhos se tornam bullies geralmente usam disciplina severa. Há chances dos pais terem sido bullies… A família como um todo é mais distante ou ‘desengajada’ estruturalmente e é provável que haja relações negativas entre irmãos.
Ao contrário, os pais cujos filhos se tornam vítimas provavelmente são mais superprotetores, especialmente as mães. A família como um todo é mais ‘emaranhada’… Os pais geralmente são mais distantes, negativos e frios, tornando difícil a identificação com eles.
Os pais cujos filhos são bully-vítimas (ou vítimas agressivas) geralmente vivem e expõem seus filhos a violência, conflito conjugal e abuso físico. Os pais geralmente não ficam em casa e a família como um todo geralmente tem mais problemas do que as dos bullies ou vítimas.”
As implicações práticas destas pesquisas são relevantes. É importante reconhecer fatores que influenciam o comportamento das crianças e jovens envolvidos com bullying até como uma forma de não ‘demonizá-los’. Na maior parte dos casos, não será suficiente o trabalho com as crianças na escola, sendo necessário trazer os pais como parte da solução. Dificilmente o comportamento de uma criança vai mudar se for consistentemente reforçado em casa, portanto os pais precisam ser orientados.
Referências bibliográficas
- HOOVER, J.H. & OLIVER, R.L. The Bullying Prevention Handbook – A guide for principals, teachers and counselors. 2ª ed. Solution Tree Press, 2008.
- SMITH, P.K & MYRON-WILSON, R. Parenting and School Bullying. Clinical Child Psychology and Psychiatry 1359-1045. 1998.
- SWEARER, S.M.; ESPELAGE, D.L.; NAPOLITANO, S.A. Bullying Prevention & Intervention – Realistic Strategies for Schools. The Guilford Press, NY. 2009.
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Dicas para melhorar a autoestima do seu filho são essenciais para que ele tenha um desenvolvimento saudável e possa lidar melhor com situações de bullying.
Entender o bullying nas escolas: preconceito ou coação? é fundamental para que a família possa atuar de forma eficaz na prevenção e intervenção.
A importância de ensinar ética aos filhos também se reflete na maneira como eles se relacionam com os outros e lidam com conflitos.
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