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Atualizado em 02/08/2023

Bullying na família: Como lidar com essa questão grave

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A pesquisa recente sobre bullying tem mostrado que “além das características pessoais das crianças envolvidas, as características de suas famílias, relações de ligação e estilos de parentagem que experienciam” parecem estar implicados no bullying.  No meu artigo “O bullying tem uma única causa?” foi possível ver a importância de todos os sistemas sociais no desenvolvimento da criança.

Vamos discorrer com mais detalhes sobre o papel da família no desenvolvimento da agressão e do envolvimento em situações de bullying na escola.  É farta a pesquisa sobre família e desenvolvimento da agressão e mais escassa em relação ao bullying, que é um comportamento agressivo, mas com características peculiares.

A teoria social de Bandura (1973) afirma que as crianças aprendem a se comportar através de suas experiências em ambientes sociais.  Os bebês e crianças pequenas são altamente egocêntricos, como se o mundo girasse só à sua volta e estivesse pronto para atender todas as suas necessidades.  Com o passar do tempo, começam a desenvolver relações de reciprocidade, de dar e receber, de compartilhar, com enorme influência da educação que recebem primeiramente na família.

A violência é um comportamento que tem muito de aprendido e a fonte primária de um aprendizado precoce é o ambiente familiar.

“Quando a família e o ambiente social ensinam à criança formas não agressivas de lidar com conflitos, onde há cooperação e uma resolução efetiva de problemas, ela vai procurar transferir estas práticas para seu convívio social mais amplo. Quando, ao contrário, o ambiente em que vive ensina-lhe a resolver conflitos através da agressão e da coerção, ela aprende que o uso do poder é a melhor forma de resolver seus problemas.” (Newman, Horne e Bartolomucci, 2000).

As práticas familiares na infância mais precoce estão claramente associadas a comportamento antissocial e delinquente posterior.

Patterson pesquisou sobre agressão e práticas de criação de filhos por muito tempo.  Segundo ele, as práticas educativas como disciplina inconsistentepouco envolvimento dos pais e falta de supervisão levam ao desenvolvimento da agressão.

Para Olweus (1991) os bullies “têm muita liberdade e muito pouco amor em casa”.  Ele identificou quatro fatores no ambiente familiar positivamente correlacionados com o desenvolvimento de comportamento agressivo:

  1. Negativismo, particularmente por parte da mãe
  2. Indiferença, negligência e rejeição pelos cuidadores primários
  3. Permissividade para atos agressivos
  4. Métodos de criação severos e punitivos

Pesquisa de Eron (1987) aponta que as seguintes características previam comportamento agressivo aos oito anos de idade: rejeição por um ou ambos os pais; uso maciço de punição física; falta de carinho; e desarmonia entre os pais.

Ao estudar os fatores familiares que contribuem para o bullying, Olweus (1980) notou que os seguintes fatores apareciam consistentemente:

  1. Vida em família caracterizada por frigidez emocional
  2. Maior probabilidade de organização caótica do lar
  3. As famílias dos bullies tendiam a ser socialmente isoladas
  4. Conflito e desarmonia dos pais
  5. Práticas de educação dos filhos ineficientes
  6. Rigidez em manter a ordem da família

Como grupo, os bullies relatam que seus pais são mais autoritários, toleram as brigas e usam punição física (Baldry & Farrington, 200/ Olweus, 1995b), e estas famílias são descritas por outros autores como carentes de calor e estrutura, com baixa coesão familiar e muitos conflitos (Olweus, 1993ª/ Stevens et alii, 2002).

Olweus (1993b) usou entrevistas com pais para pesquisar sobre as vítimas de bullying, concentrando-se nos meninos e explorou o temperamento da criança e o estilo parental.  Ele encontrou que temperamento fraco previa superproteção das mães que, por sua vez, previa o status de vítima.  O negativismo do pai, a pouca identificação com a figura paterna também predizia o status de vítima.  Estes dois fatores poderiam levar o menino a ter dificuldade de se afirmar com outros meninos de sua idade.  Se combinados com fraqueza física, isto tornaria bastante provável a vitimização.

Segundo Olweus o menino mais provável de se tornar vítima de bullying “é plácido, cauteloso, sensível e tem uma relação estreita e superprotegida com a mãe ou tem um pai crítico e distante e que não oferece um modelo masculino satisfatório”.

Smith e Myron-Wilson (1996) resumem de maneira os perfis parentais e sua relação com os comportamentos dos bullies e das vítimas,

“Em geral, pais cujos filhos se envolvem em bullying (não importa em que papel) são mais prováveis de ter problemas com um fraco funcionamento familiar, uma ligação insegura com seus filhos e de serem percebidos de forma mais negativa pelas crianças.

Especificamente, pais cujos filhos se tornam bullies geralmente usam disciplina severa.  Há chances dos pais terem sido bullies… A família como um todo é mais distante ou ‘desengajada’ estruturalmente e é provável que haja relações negativas entre irmãos.

Ao contrário, os pais cujos filhos se tornam vítimas provavelmente são mais superprotetores, especialmente as mães.  A família como um todo é mais ‘emaranhada’…  Os pais geralmente são mais distantes, negativos e frios, tornando difícil a identificação com eles.

Os pais cujos filhos são bully-vítimas (ou vítimas agressivas) geralmente vivem e expõem seus filhos a violência, conflito conjugal e abuso físico.  Os pais geralmente não ficam em casa e a família como um todo geralmente tem mais problemas do que as dos bullies ou vítimas.”

As implicações práticas destas pesquisas são relevantes.  É importante reconhecer fatores que influenciam o comportamento das crianças e jovens envolvidos com bullying até como uma forma de não ‘demonizá-los’.  Na maior parte dos casos não será suficiente o trabalho com as crianças na escola, sendo necessário trazer os pais como parte da solução.  Dificilmente o comportamento de uma criança vai mudar se for consistentemente reforçado em casa, portanto os pais precisam ser orientados.

Referências bibliográficas

  1. HOOVER, J.H. & OLIVER, R.L. The Bullying Prevention Handbook – A guide for principals, teachers and counselors.  2ª ed.  Solution Tree Press, 2008.
  2. SMITH, P.K & MYRON-WILSON, R. Parenting and School Bullying.  Clinical Child Psychology and Psychiatry 1359-1045. 1998.
  3. SWEARER, S.M.; ESPELAGE, D.L.; NAPOLITANO, S.A. Bullying Prevention & Intervention – Realistic Strategies for Schools.  The Guilford Press, NY.  2009.

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