Ao fazermos uma caminhada histórica pelas sociedades tradicionais e antigas, tomando como ponto de partida a Idade Média, afirmamos que a sociedade não reconhecia a criança como criança. O status da criança era nulo; sempre houve criança, mas nem sempre infância. Esta era vista como má, sua infância então nem contava, era reduzida ao período de amamentação, quando a criança ainda frágil não sabia andar, então era “paparicada” – pois era considerada uma coisinha engraçada, onde seus familiares se divertiam com a criança como um animalzinho, um “macaquinho impudico”. Após a passagem da fase frágil, onde começava a andar, logo já era misturada aos adultos e partilhava de tudo, desde trabalhos a jogos. Ou seja, a criança era um adulto em miniatura. Para se ter uma ideia de como a sociedade não se importava muito com a criança, o fato de que quando uma criança morria, eles não sentiam falta, pois tinham em mente que outra criança viria para substituir aquela. A mortalidade infantil era expressiva, a criança era um anonimato.
As famílias eram estruturadas de forma bastante confusa e subjetiva, compostas por muitas pessoas sobrevivendo sob o mesmo teto. O homem era o comandante, enquanto a mulher tinha sua função reduzida a cuidar da casa. A família no contexto antigo não tinha a função de cuidar, dar carinho e afeto. Havia resquícios de afeto, sim, porém poucos; as trocas afetivas normalmente eram realizadas fora do seio familiar, nas rodas de amigos, através dos amos e criados. Sociabilizavam-se através de festas e visitas.
A descoberta da infância começou por volta do século XIII, a partir daí foi se evoluindo, criando novos olhares à criança. Porém, a partir dos séculos XV e XVI em diante, percebemos uma mudança maior. A concepção de infância era baseada em abandono, pobreza, favor e caridade, e quando oferecidos atendimentos, estes eram precários para as crianças. O sentimento pela infância era inexistente.
Com a transição do feudalismo, modo de produção do sistema na Idade Média, para o capitalismo, diversas mudanças ocorreram, dentre elas o modo de produção que passa de doméstico para fabril, reorganizando todas as áreas da sociedade (econômica, política, familiar).
Com o nascimento da indústria moderna, a estrutura social predominante é modificada, inclusive em relação aos hábitos e costumes das famílias. A partir da revolução industrial, as mulheres são inseridas no mercado, reduzindo o tempo de convívio com a criança. Isso, quando, por que houve um tempo em que as crianças também trabalhavam nas indústrias. Porém, com as leis criadas na época, as crianças não puderam trabalhar, e suas mães, como não podiam cuidar de seus filhos por serem operárias, optavam por deixar seus filhos com as chamadas mães mercenárias, que eram mulheres que não queriam trabalhar nas fábricas e, então, vendiam seus serviços para abrigar e cuidar dos filhos de outras mulheres. O atendimento era precário; estas mulheres que se dispunham a cuidar das crianças não tinham instrução formal, no máximo realizavam atividades de canto e memorização de rezas. Entretanto, não havia uma metodologia de ensino, na verdade, havia pouco interesse em educar a criança.
Criou-se uma nova oferta de emprego para as mulheres, mas aumentaram os riscos de maus-tratos às crianças, reunidas em maior número sob os cuidados de uma única, pobre e despreparada mulher. Tudo isso, aliado à pouca comida e higiene, gerou um quadro caótico de confusão, que terminou no aumento de castigos e muita pancadaria, a fim de tornar as crianças mais sossegadas e passivas. Mais violência e mortalidade infantil. (RIZZO, 2003, p. 31)
Segundo a autora, a preocupação das famílias pobres era apenas em sobreviver, autorizando os maus-tratos e o desprezo pelas crianças como regras de costumes da sociedade.
Neste contexto de mazelas à criança, percebemos que um fenômeno não erradicado até os dias atuais prevalecia na época, que era o abandono de crianças em diversos lugares: nos bosques, lixos, ruas, portas de igrejas, casas de família. Diante deste fenômeno, foi criado um sistema que, ao invés de “sujar” os ambientes sociais, os pais que rejeitavam as crianças levavam para a roda dos expostos, que foi criada durante a Idade Média na Itália, que nada mais era do que um expositor de crianças desvalidas e rejeitadas por suas famílias.
A roda dos expostos era um dispositivo onde se colocavam os bebês que se queriam abandonar. Sua forma cilíndrica, dividida ao meio por uma divisória, era fixada no muro ou na janela da instituição. No tabuleiro inferior e em sua abertura externa, o expositor depositava a criancinha rejeitada. A seguir, ele girava a roda e a criança já estava do outro lado do muro. Quando se puxava a cordinha, esta estava atrelada a uma sineta, que avisava a vigilante ou rodeira que um bebê acabava de ser abandonado, e o expositor furtivamente retirava-se do local, sem ser identificado.
Porém, havia crianças que não eram abandonadas nessas rodas, então estas recebiam a proteção devida pela Câmara ou acabavam sendo acolhidas em famílias que as criavam por dever de caridade ou compaixão, surgindo os filhos de criação.
A partir do século XVII, uma mudança alterou o estado de coisas que acabei de analisar. A partir deste momento, a escola substitui a aprendizagem como meio de educação. As crianças deixavam de ser misturadas aos adultos e de aprender a vida diretamente através do contato com eles. A criança foi separada dos adultos e mantida à distância, numa espécie de quarentena, antes de ser solta no mundo. O colégio se tornara a quarentena, um tipo de enclausuramento das crianças, levando o nome de escolarização.
Na primeira metade do século XIX, começam a surgir as primeiras instituições na Europa e Estados Unidos e no Brasil, a partir da década de 1870. Essas primeiras instituições tinham como principais objetivos cuidar e proteger as crianças enquanto as mães saíam para o trabalho. A sociedade ocidental era organizada em mulher-trabalho-ocidental. A configuração familiar vai mudando, a afetividade aumenta e a necessidade de atribuir-se à educação. A família começou a se organizar em torno da criança e a dar uma importância que a criança saiu de seu antigo anonimato, tornando-se impossível perdê-la ou substituí-la sem uma enorme dor. Agora é necessário um melhor cuidado com elas.
As creches, escolas maternais e jardins de infância tiveram, somente no seu início, o objetivo assistencialista, cujo enfoque era garantir higiene, alimentação e os cuidados físicos das crianças.
A intenção dessas instituições era, principalmente, retirar das ruas as crianças em situação de risco e dos perigos a que estavam expostas, e em seguida proporcionar-lhes o desenvolvimento da inteligência e dos bons costumes.
Referências
ARIÈS, Phillippe. História Social da Criança e da Família. 2ª edição. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1981.
BUJES, Maria Isabel Edelweiss. Escola Infantil: Pra que te Quero? In: CRAIDY, Carmem Maria; KAERCHER, Gládis Elise (Orgs.) Educação Infantil: Pra que te Quero? Porto Alegre: Ed. Artmed, p. 13 a 22, 2001.
Para entender mais sobre a educação infantil e suas bases, é interessante explorar os fundamentos pedagógicos que sustentam essa fase crucial do desenvolvimento.
Além disso, a alfabetização é um aspecto fundamental que deve ser abordado desde cedo, pois estabelece as bases para a aprendizagem futura.
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