Um olhar sobre o autismo e sua especificidade
Entenda como o autismo pode ser abordado de forma específica, como as pessoas autistas se relacionam com o mundo ao seu redor e como elas se adaptam às mudanças. Saiba mais sobre o autismo e a importância de entender o que ele representa.
“A educação não é uma questão institucional. É uma questão humana. Não aprendemos pelo rigor das regras, mas por uma condição biológica. Nascemos para aprender. Restringir esse direito é violar a coerência da natureza; é tentar cercear a inteligência humana”.
Eugênio CunhaO tema Autismo é pouco conhecido por profissionais da área da educação e pelos profissionais que têm o comprometimento de lidar com o transtorno. Entretanto, é um tema que vem sendo debatido com maior frequência atualmente.
A definição do Autismo teve início em 1943 por Leo Kanner, no artigo intitulado: Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo (Autistic disturbances of affective contact), no qual o autor cita algumas das características da pessoa com autismo. Nessa primeira publicação, Kanner (1943) ressalta que o sintoma fundamental, “o isolamento autístico”, estava presente na criança desde o início da vida, indicando que se tratava então de um distúrbio inato. Nela, apresentou os casos de onze crianças que tinham em comum um isolamento extremo desde o início da vida e um anseio obsessivo pela preservação da rotina, denominando-as de “autistas”.
Segundo Cunha (2012, p. 20), “o termo ‘autismo’ deriva do grego ‘autos’, que significa ‘por si mesmo’ e, ‘ismo’, condição, tendência”. Para Cunha (2009, p.20): “O autismo compreende a observação de um conjunto de comportamentos agrupados em uma tríade principal: comprometimentos na comunicação, dificuldades na interação social e atividades restrito-repetitivas”.
Percebe-se na criança com a síndrome alterações na afetividade, ausência de interesse no ato de brincar, dificuldade na fala, pois o comportamento desta criança interfere no seu desenvolvimento, prejudicando sua interação com o meio social no qual está inserida.
A última edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o chamado DSM-V, adota o termo Transtorno do Espectro Autista (TEA), agrupando várias doenças anteriormente separadas: Transtorno Autista, Transtorno de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância, Transtorno de Asperger e Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra especificação.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou Autismo é um transtorno de desenvolvimento caracterizado por três características fundamentais: dificuldades de socialização, problemas de comunicação social por deficiência no domínio da linguagem e comportamentos repetitivos e restritos.
O conhecimento acerca dos critérios do DSM-5 é o ponto de partida para suspeitar do Transtorno de Espectro do Autismo. Segundo o DSM 5 (APA, 2014), os critérios diagnósticos do TEA são:
- Déficits persistentes na comunicação social e nas interações, clinicamente significativos, manifestados por: déficits persistentes na comunicação não-verbal e verbal utilizada para a interação social; falta de reciprocidade social; incapacidade de desenvolver e manter relacionamentos com seus pares apropriados ao nível de desenvolvimento.
- Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades, manifestados por pelo menos dois dos seguintes: estereótipos ou comportamentos verbais estereotipados ou comportamento sensorial incomum, aderência excessiva à rotinas e padrões de comportamento ritualizados, interesses restritos.
- Os sintomas devem estar presentes na primeira infância (mas podem não se manifestar plenamente, até que as demandas sociais ultrapassem as capacidades limitadas).
- Os sintomas causam limitação e prejuízo no funcionamento diário.
O DSM 5 também sugere o registro de especificadores: Com ou sem Deficiência intelectual, com ou sem comprometimento da linguagem concomitante, associado a alguma condição médica ou genética conhecida, ou a fator ambiental, associado a outro transtorno do desenvolvimento, mental ou comportamental, com catatonia.Atualmente, o TEA é dividido em graus e sua gravidade é baseada na tabela abaixo:
NÍVEL DE GRAVIDADE COMUNICAÇÃO SOCIAL COMPORTAMENTOS REPETITIVOS E RESTRITOS Nível 3
“exigindo apoio muito substancial”
Déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal causam prejuízos graves de funcionamento, limitação em iniciar interações sociais e resposta mínima a aberturas sociais que partem de outros. Inflexibilidade de comportamento, extrema dificuldade em lidar com a mudança ou outros comportamentos restritos/repetitivos interferem acentuadamente no funcionamento em todas as esferas. Grande sofrimento/dificuldade para mudar o foco ou as ações. Nível 2
“exigindo apoio substancial”
Déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal, prejuízos sociais aparentes mesmo na presença de apoio, limitação em dar início a interações sociais e resposta reduzida ou anormal a aberturas sociais que partem dos outros. Inflexibilidade do comportamento, dificuldade de lidar com a mudança ou outros comportamentos restritos/repetitivos aparecem com frequência suficiente para serem óbvios ao observador casual e interferem no funcionamento em uma variedade de contextos. Sofrimento/dificuldade para mudar o foco ou as ações. Nível 1
“Exigindo apoio”
Na ausência de apoio, déficits na comunicação social causam prejuízos notáveis. Dificuldade para iniciar interações sociais e exemplos claros de respostas atípicas ou sem sucesso a aberturas sociais dos outros. Pode aparentar pouco interesse por interações sociais. Inflexibilidade de comportamento causa interferência significativa no funcionamento em um ou mais contextos. Dificuldade em trocar de atividade. Problemas para organização e planejamento são obstáculos à independência. O autismo é uma síndrome resultante de causas ainda desconhecidas, porém a genética tem grande importância ao que se diz na manifestação do autismo. Refere-se a um transtorno complexo com sintomas e quadros comportamentais distintos. O tratamento pode ajudar, mas essa síndrome não tem cura. Conforme Cunha (2009):
O Transtorno do Espectro Autista manifesta-se nos primeiros anos de vida, proveniente de causas ainda desconhecidas, mas com grande contribuição de fatores genéticos. Trata-se de uma síndrome tão complexa que pode haver diagnósticos médicos abarcando quadros comportamentais diferentes. Tem em seus sintomas incertezas que dificultam, muitas vezes, um diagnóstico precoce (p.19).
Ainda não existe um padrão de tratamento que possa ser aplicado em todos os portadores do distúrbio. Cada autista demanda um tipo de acompanhamento específico e individualizado que necessita a participação dos pais, dos familiares e de uma equipe profissional. Alguns tipos de tratamentos incluem:
- Controle da emoção
Prática da concentração e uso de mecanismos de enfrentamento para se prevenir contra os fatores desencadeantes e minimizar as explosões emocionais destrutivas.
- Terapia familiar
Aconselhamento psicológico que ajuda as famílias a resolverem conflitos e terem uma comunicação mais eficaz.
- Análise do comportamento aplicada
Um método de ensino que ajuda crianças autistas a aprenderem habilidades sociais importantes, incentivando o comportamento positivo.
- Terapia comportamental
Terapia que tem como foco a modificação de comportamentos prejudiciais associados a um distúrbio psicológico.
- Processamento sensorial
A forma como o sistema nervoso recebe mensagens dos sentidos e as transforma em respostas motoras e comportamentais adequadas.
Há várias terapias para autismo disponíveis, incluindo:
- Terapias de comunicação e comportamento
- Medicamentos
- Terapia ocupacional
- Fisioterapia
- Terapia do discurso/linguagem
O diagnóstico precoce do autismo permite a indicação antecipada de tratamento, podendo reverter muitos ou quase todos os sintomas.
Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM 5. Tradução de Maria Inês Correa Nascimento et al; revisão técnica Aristides Volpato Cordiolo. 5. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2014.
CUNHA, Eugênio. Autismo e Inclusão: psicopedagogia e práticas educativas na escola e na família. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009.
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