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Atualizado em 10/08/2024

O Papel do Brinquedo na Educação

Descubra como brinquedos e jogos podem ajudar a melhorar a educação das crianças. Saiba como brincar é fundamental para o desenvolvimento dos jovens e como isso pode ser aplicado na vida adulta. Aprenda tudo sobre o papel do brinquedo na educação!

Para Vygotsky, o ensino sistemático não é o único fator responsável por alargar os horizontes da zona de desenvolvimento proximal. Ele considera o brinquedo uma importante fonte de promoção do desenvolvimento, afirmando que, apesar do brinquedo não ser o aspecto predominante da infância, ele exerce uma enorme influência no desenvolvimento infantil. Num sentido amplo, refere-se principalmente à atividade do ato de brincar, ressaltando que, embora analise o desenvolvimento do brinquedo mencionando outras modalidades (como, por exemplo, os jogos esportivos), dedica-se mais especialmente ao jogo de papéis ou à brincadeira de faz-de-conta (como, por exemplo, brincar de polícia e ladrão, de médico, de vendinha, etc.).

Este tipo de brincadeira é característica nas crianças que aprendem a falar e que, portanto, já são capazes de representar simbolicamente e de se envolver numa situação imaginária.

De acordo com o autor, através do brinquedo, a criança aprende a atuar numa esfera cognitiva que depende da motivação interna. Nessa fase (idade pré-escolar), ocorre uma diferenciação entre os campos de significado e de visão. O pensamento que antes era determinado pelos objetos do exterior passa a ser regido pelas ideias. A criança poderá utilizar materiais que servirão para representar uma realidade ausente, por exemplo.

Uma vareta de madeira como uma espada, um boneco como filho no jogo de casinha, papéis cortados como dinheiro para ser usado na brincadeira de lojinha, etc. Nesses casos, ela será capaz de imaginar, abstrair as características dos objetos reais (o boneco, a vareta e os pedaços de papel) e se deter no significado definido pela brincadeira.

A criança passa a criar uma situação imaginária como forma de satisfazer seus desejos não realizáveis. Esta é, aliás, a característica que define o brinquedo de um modo geral. A criança brinca pela necessidade de agir em relação ao mundo mais amplo dos adultos e não apenas ao universo dos objetos a que ela tem acesso.

Dessa maneira, a criança deve explorar livremente o brinquedo, mesmo que não seja da maneira que não esperávamos. Não podemos interromper o pensamento da criança ou atrapalhar a simbolização que está realizando.

Devemos nos limitar a seguir, a estimular, a explicar, sem impor nossa forma de agir, para que a criança aprenda descobrindo e compreendendo e não por simples imitação. A participação do adulto deve ser em ouvir, motivá-la a falar, pensar, inventar. O brinquedo, entendido como objeto, suporte de brincadeira, supõe relação íntima com a criança, seu nível de desenvolvimento, indeterminação quanto ao uso, ou seja, a ausência de um sistema de regras que organize sua utilização. (Kishimoto, 1997).

A criança e o lúdico

Através do jogo simbólico, as crianças constroem uma ponte entre a fantasia e a realidade, sendo capazes de lidar com complexas dificuldades psicológicas. Através do brincar, isto é, procura integrar experiências de dor, medo e perda, relacionando conceitos de bom e mal, com as brincadeiras de “super-herói”. Tal brincadeira é considerada uma forma especializada de jogo de papéis, buscando a criança colocar-se num papel de poder.

A criança de um a dois anos, a atividade não é separada do objeto assimilado, constituindo a principal diferença do esquema manipulativo sensório-motor, no qual a assimilação do objeto aparece claramente na repetição de movimentos com os mais diversos brinquedos.

Passando esta primeira etapa, a criança começa a reproduzir ações em suas brincadeiras. A separação ação/objeto só ocorre quando a criança reproduz a situação na qual os objetos estão ausentes. Simultaneamente, alguns objetos começam a ser usados como substitutos de outros, como exemplo, citamos um pedaço de pau e um bloco que funcionam como sabão e termômetro para a boneca. A criança só consegue nomeá-los sozinha, sem a interferência do adulto, mais ou menos aos três anos de idade.

A partir desse momento, a criança não só substitui um objeto por outros ou reproduz aspectos de sua vida diária, mas passa a representar papéis da vida dos adultos, como brincar de mãe, de médico, etc.

Dessa forma, são criadas as pré-condições para o jogo de papéis, cujo desenvolvimento ocorre na pré-escola. A interpretação do papel do adulto pela criança é uma forma original de simbolização, ou seja, a criança passa do brinquedo, cujo conteúdo básico é a reprodução das atividades do adulto com objetos, para o brinquedo cujo conteúdo básico torna-se a reprodução das relações de adultos entre si.

Esse aspecto refere-se ao brinquedo entendido como objeto, suporte da brincadeira, que supõe relação íntima com a criança, seu nível de desenvolvimento e determinação quanto ao uso, ou seja, a ausência de um sistema de regras que organize sua utilização. Uma boneca permite à criança desde a manipulação até brincadeiras como mamãe e filhinha. Como percebemos na citação a seguir:

“O brinquedo estimula a representação, a expressão de imagens que evocam aspectos da realidade. Ao contrário, jogos como xadrez e construção, de modo implícito ou explícito, o desempenho de habilidades definidas pela estrutura do próprio objeto e suas regras.” (Kishimoto: 2000, p.32).

Dessa forma, esse objeto se transcreve de “falso jogo” e traz à superfície a oposição entre o jogo e o trabalho. De acordo com Kishimoto (2000), o brinquedo propõe um mundo imaginário à criança e representa a visão que o adulto tem da criança. No caso da criança, o imaginário varia conforme a idade: para o pré-escolar de 4 a 5 anos, integra predominantemente elementos da realidade, introduzindo nos brinquedos a cultura de cada um.

Dessa forma, brinquedo e brincadeira relacionam-se diretamente com a criança, tornando fundamental que se compreenda que o conteúdo do brinquedo não determina a brincadeira da criança. O ato de brincar é que revela o conteúdo do brinquedo, isto é, o brincar permite o estabelecimento de relações entre os objetos, tornando-se uma atividade livre e espontânea, responsável pelo desenvolvimento físico, moral e cognitivo. Os brinquedos, como objetos que subsidiam as atividades infantis, dessa forma, a criança necessita de orientação para seu desenvolvimento, permitindo a inclusão de atividades orientadas e livres por meio do uso de brinquedos e brincadeiras. Ou seja, o brinquedo faz parte da vida da criança, simbolizando as relações de pensamento-ação e, sob este ponto, constitui provavelmente a matriz de toda a atividade linguística, ao tornar possível o uso da fala, do pensamento e da imaginação.

O lúdico como processo educativo

Definir a palavra jogo é definir um conceito de forma a entender que jogo pode ter diferentes interpretações, pois cada um tem diferentes maneiras de ser entendido, diferenciando significado pelos objetos que o caracterizam.

No processo educativo, o jogo para a criança tem sentido de adquirir a motivação, o desenvolvimento e a confiança das habilidades como coordenação, destreza, rapidez, força e concentração. Segundo Vygotsky (1989), o lúdico influencia muito no desenvolvimento da criança.

É através do jogo que ela aprende a agir, que a sua curiosidade é estimulada e também onde ela adquire iniciativa e autoconfiança. Nessa interação através do jogo, ela aprende sobre a natureza, os eventos sociais, a estrutura e a dinâmica interna de seu grupo. É através dele também que ela explora as características dos objetos físicos que a rodeiam e chega a compreender seu funcionamento. Os jogos se configuram também nas inúmeras brincadeiras infantis que fazem parte da infância nas várias culturas.

O aprendizado é resultante do despertar dos processos internos do indivíduo relacionado ao desenvolvimento do ser e sua interação com o seu ambiente sócio-cultural, conectando o desenvolvimento desse contato com outros sujeitos de forma ontogenética. O autor ressalta que “[…] o aprendizado e o desenvolvimento estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida da criança […]” (Vygotsky, 1991, p.95). A aprendizagem, nessa concepção, depende do desenvolvimento prévio da criança, relacionado ao seu nível de desenvolvimento proximal.

Essa consideração permitiu ao autor traduzir esse pensamento como um conceito específico e essencial para a compreensão das ideias infantis. O conceito da ZDP (Zona de Desenvolvimento Proximal) define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação. São funções que amadurecerão, mas que estão atualmente em estado embrionário.

A ZDP pode ser definida como a distância entre o nível de resolução de um problema que uma pessoa pode alcançar atuando independentemente, do nível que pode alcançar com o auxílio de uma pessoa mais experiente nessa tarefa, constituindo o espaço em que, com a interação de outros, a criança possa realizar determinada tarefa que não seria capaz de realizar sozinha; ou melhor, aquilo que a criança poderá fazer sozinha amanhã, constituindo o conjunto de atividades que a criança será capaz de realizar.

Se entendermos o conhecimento como uma representação mental, devemos saber que ensinar é um convite à exploração, à descoberta, e não uma pobre transmissão de informações e técnicas desprovidas de significado. Aprender a pensar sobre diferentes assuntos é muito mais importante do que memorizar fatos e dados a respeito dos assuntos. A própria criança nos aponta o caminho no momento em que não utiliza nem precisa utilizar as energias vãs despendidas pela escola, sacrificadas e coroadas pelo descrédito, porque desprepara seus alunos.

O homem é um ser em constante mudança; logo, não é uma realidade acabada. Por esse motivo, a educação não pode distanciar-se do direito de reproduzir modelos e, muito menos, de colocar freios às possibilidades criativas do ser humano original por natureza.

Desse modo, podemos compreender que a pedagogia, ao invés de manter-se como sinônimo de teoria de como ensinar e de como aprender, deveria transformar a educação em desafio, em que a missão do mestre é propor situações que estimulem a atividade reequilibradora do aluno, construtor do seu próprio conhecimento.

A escola deve compreender que, por um determinado tempo da história pedagógica, foi um dos instrumentos da imobilização da vida, e que esse tempo já terminou. A evolução do próprio conceito de aprendizagem sugere que educar passe a ser facilitar a criatividade, no sentido de repor o ser humano em sua evolução histórica e abandonando de vez a ideia de que aprender significa a mesma coisa que acumular conhecimentos sobre fatos, dados e informações isoladas numa autêntica sobrecarga da memória. De acordo com o Referencial Curricular da Educação Infantil (RECNEI) (1998, p.23),

“[…] educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural.”

Sobre esse aspecto, entende-se que educar ludicamente não é jogar lições empacotadas para o educando consumir passivamente. Educar é um ato consciente e planejado, é tornar o indivíduo consciente, engajado e feliz no mundo. É seduzir os seres humanos para o prazer de conhecer. É resgatar o verdadeiro sentido da palavra “escola”, local de alegria, prazer intelectual, satisfação e desenvolvimento.

Para atingir esse fim, é preciso que os educadores repensem o conteúdo e a sua prática pedagógica, substituindo a rigidez e a passividade pela vida, pela alegria, pelo entusiasmo de aprender, pela maneira de ver, pensar, compreender e reconstruir o conhecimento. Como vemos na citação a seguir:

A educação lúdica contribui e influencia na formação da criança, possibilitando um crescimento sadio, um enriquecimento permanente, integrando-se ao mais alto espírito democrático enquanto investe em uma produção séria do conhecimento. A sua prática exige a participação franca, criativa, livre, crítica, promovendo a interação social e tendo em vista o forte compromisso de transformação e modificação do meio (Almeida 1995, p.41).

Com esta compreensão, podemos entender que a escola necessita repensar quem ela está educando, considerando a vivência, o repertório e a individualidade do mesmo, pois se não considerar, dificilmente estará contribuindo para a mudança e produtividade de seus alunos.

A negação do lúdico pode ser entendida como uma perspectiva geral e, desse ponto de vista, está diretamente relacionada com a negação que a escola faz da criança, com o seu desrespeito, ou ainda, o desrespeito à sua cultura. Dessa forma, entende-se que esse direito ao respeito não significa a aceitação de que a criança habite um mundo autônomo do adulto, tampouco que deva ser deixada entregue aos seus iguais, recusando-se, assim, a interferência do adulto no processo de educação.

Mas a intervenção do adulto não precisa ser necessariamente desrespeitada. É preciso que, ao intervir, o adulto respeite os direitos da criança. A proposta do autor nos remete a pensar numa ação educativa que considere as relações entre a escola, o lazer e o processo educativo como um dos caminhos a serem trilhados em busca de um futuro diferente. Por isso, vê-se como positiva a presença do jogo, do brinquedo, das atividades lúdicas nas escolas, nos horários de aulas, como técnicas educativas e como processo pedagógico na apresentação dos conteúdos.

O jogo e a brincadeira são experiências vivenciais prazerosas. Assim também, a experiência da aprendizagem tende a se constituir em um processo vivenciado prazerosamente. A escola, ao valorizar as atividades lúdicas, ajuda a criança a formar um bom conceito de mundo, em que a afetividade é acolhida, a sociabilidade vivenciada, a criatividade estimulada e os direitos da criança respeitados. Enquanto a aprendizagem é vista como apropriação e internalização de signos e instrumentos num contexto sociointeracionista, o brincar é a apropriação ativa da realidade por meio da representação. Desta forma, brincar é análogo a aprender.

Distante dos avanços em todos os campos e das mudanças tão rápidas em todos os setores, é preciso buscar novos caminhos para enfrentar os desafios do novo milênio e, neste cenário que se antevê, será inevitável o resgate do prazer no trabalho, na educação, na vida, visto pela ótica da competência, da criatividade e do comprometimento.

Assim, o trabalho a partir da ludicidade abre caminhos para envolver todos numa proposta interacionista, oportunizando o resgate de cada potencial. A partir daí, cada um pode desencadear estratégias lúdicas para dinamizar seu trabalho que, certamente, será mais produtivo, prazeroso e significativo. É por intermédio da atividade lúdica que a criança se prepara para a vida, assimilando a cultura do meio em que vive, a ela se integrando, adaptando-se às condições que o mundo lhe oferece e aprendendo a competir, cooperar com seus semelhantes e conviver como um ser social.

Além de proporcionar prazer e diversão, o jogo, o brinquedo e a brincadeira podem representar um desafio e provocar o pensamento reflexivo da criança. Assim, uma atitude lúdica efetivamente oferece aos alunos experiências concretas, necessárias e indispensáveis às abstrações e operações cognitivas.

Pode-se dizer que as atividades lúdicas, os jogos, permitem liberdade de ação, pulsão interior, naturalidade e, consequentemente, prazer que raramente são encontrados em outras atividades escolares. Por isso, necessitam ser estudados por educadores para poderem utilizá-los pedagogicamente como uma alternativa a mais a serviço do desenvolvimento integral da criança.

Somente ao sucesso pedagógico, mas também à formação do cidadão, porque a consequência imediata dessa ação educativa é a aprendizagem em todas as dimensões: social, cognitiva, relacional e pessoal. Destacamos a seguir em Piaget e Vygotsky a fundamentação teórica para compreendermos como a criança constrói conhecimento através dos brinquedos, das brincadeiras e dos jogos.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, Brasília: MEC/SEF. 1998.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogos infantis: O jogo, a criança e a Educação. 5 ed. Petrópolis, RJ: VOZES, 1993.

PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.

MELLO, Sueli Amaral. A escola de Vygotsky. In: MONTOYA, Adrián Oscar Dongo; CARRARA, Kester (org). Introdução à Psicologia da Educação seis abordagens. São Paulo: AVERCAMP, 2004.

VYGOTSKY, Lev. Semenovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. Tradução de José Cipolla Neto. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

Autora: Ana Carla Vale Lago – Possui graduação em Pedagogia e Educação Artística pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Tendo Especialização em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Além disso, para enriquecer a experiência lúdica das crianças, considere explorar brinquedos educativos que podem ser utilizados em atividades pedagógicas.


Este texto foi publicado na categoria Maternidade e Desenvolvimento Infantil.

 About Pedagogia ao Pé da Letra

Sou pedagoga e professora pós-graduada em educação infantil, me interesso muito pela educação brasileira e principalmente pela qualidade de ensino. Primo muito pela educação infantil como a base de tudo.

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