Subdivisões de ADD e interações com outros problemas
Explore as subdivisões do Transtorno do Déficit de Atenção e suas interações com outros problemas de comportamento. Informações atualizadas e conselhos de especialistas.
Subdivisões de ADD e interações com outros problemas
O ADD, devido à sua complexidade de sintomas, pode ser muitas vezes difícil de diagnosticar, como já falamos na parte sobre Diagnóstico deste texto. Muitas vezes, o ADD pode aparecer sem alguns dos seus sintomas característicos e, em outros casos, podemos encontrar outras síndromes neurológicas e psiquiátricas que podem ser facilmente confundidas com ADD, ou ainda apenas comportamentos culturais que podem confundir o diagnóstico.
Embora o DSM-IV só cite 3 tipos de ADD: Tipo Predominantemente Desatento (314.00), Tipo Predominantemente Hiperativo-Impulsivo (314.01) e Tipo Combinado (314.01); HALLOWELL et al. sugerem que, na prática clínica, outros tipos se manifestam e que é necessário que o especialista esteja atento a estes novos tipos de combinações entre ADD e outras condições para a realização correta deste diagnóstico. As classificações propostas por estes autores são:
- ADD sem hiperatividade
- ADD com ansiedade
- ADD com depressão
- ADD com outros problemas de aprendizado
- ADD com agitação ou mania
- ADD com drogadicção
- ADD em pessoas criativas
- ADD com comportamento de alto risco
- ADD com estados dissociativos
- ADD com características de personalidade limítrofe (borderline)
- ADD com distúrbios de conduta (em crianças) ou características antissociais (em adultos)
- ADD com Transtorno Obsessivo-Compulsivo
- Pseudo-ADD
ADD sem hiperatividade
Um dos enganos mais frequentes sobre ADD é que, se a criança não apresenta comportamento hiperativo, automaticamente a possibilidade de ADD está descartada. Isto é mais frequente ainda por causa do ADD ser conhecido pelo público leigo apenas como Hiperatividade.
Esta concepção de que ADD é sempre acompanhada de hiperatividade não é verdade, pois existem casos, especialmente no sexo feminino, em que o ADD se manifesta através apenas da falta de atenção. São pessoas que têm uma característica sonhadora, que não são capazes de prestar atenção. Têm dificuldades em terminar tarefas já começadas e frequentemente são taxadas de preguiçosas, desorganizadas ou não motivadas injustamente.
ADD com ansiedade
Devido ao esquecimento frequente e à dificuldade de organização, é natural que pessoas com ADD sintam uma certa ansiedade em saber se não estão se esquecendo de alguma coisa. Mas essa ansiedade natural pode acabar se tornando patológica. A pessoa com ADD pode começar a procurar algo para se preocupar durante o tempo todo. Passam a procurar sempre por alguma coisa que esqueceram, algum problema, etc. Acabam se tornando sempre preocupados com alguma coisa.
ADD com depressão
Como consequência do ADD, as pessoas portadoras deste tipo de problema são frequentemente taxadas das mais diversas coisas e trazem consigo muitas vezes um histórico de muitas frustrações devido a esquecimentos, trabalhos não terminados, etc. Não é difícil de conceber que situações como esta possam levar logo à depressão.
Alguns pesquisadores acreditam que a depressão no ADD pode não ser apenas devido a fatores ambientais, mas sim a fatores fisiológicos combinados com o ADD, já que algumas das drogas usadas para tratar depressão são também eficazes para o tratamento de ADD.
Embora ainda não se saiba exatamente a causa da depressão no ADD, este fenômeno é de extrema importância no tratamento do problema, especialmente do ponto de vista do psicólogo, pois frequentemente este é chamado para tratar a depressão e tentar resolver problemas de ajustamento do paciente.
Atividades de alfabetização podem ser uma forma de ajudar crianças com ADD a se concentrarem e se organizarem melhor.
ADD com outros problemas de aprendizado
Conforme já foi mencionado anteriormente, o ADD pode vir acompanhado de outros problemas de aprendizado:
Dislexia – É uma perturbação constitucional, primária, geneticamente transmitida, dificuldade de adquirir a capacidade de leitura (Lefevre, 1982). A Dislexia se manifesta por dificuldade em trocas de letras com formatos parecidos (d b, p q, b q, etc.) ou sons parecidos (d,t,f,m,n, etc.), deficiências de percepção visual e auditiva. Em alguns casos, os pacientes não conseguem entender o conteúdo do texto, mas tentam “adivinhar” este conteúdo na tentativa de negar o problema.
Disgrafia – Dificuldade de escrita, manifesta como uma dificuldade motora na execução da escrita. A criança não consegue realizar os traços necessários para escrever corretamente, muitas vezes as letras ficam ilegíveis e muitas professoras acusam o aluno de não ser caprichoso, gerando ainda mais problemas.
Discalculia – Problemas em realizar operações aritméticas e até a escrita de números, como foi demonstrado em um exemplo de LEFEVRE abaixo, quando foi pedido para a criança calcular 367 + 51, sua conta foi a seguinte:
30067
+ 51
----------
81067
Todos estes problemas levam à necessidade de cuidados especiais na educação da criança e de um preparo especial dos professores para que estes não acusem a criança de ter algum problema, baixando ainda mais a sua autoestima e causando problemas quanto à concepção que ela vai ter da escola. É necessário que estes professores compreendam antes de acusar.
ADD com agitação ou mania
Em alguns casos, o ADD pode se assemelhar ao distúrbio bipolar e o inverso também pode ocorrer no caso de um episódio de mania. A diferença está na intensidade da crise, já que os episódios de mania tendem a ser muito mais intensos que os de ADD.
No entanto, não é raro que pessoas com ADD, especialmente em casos onde existem comportamentos muito energéticos, sejam diagnosticadas com distúrbio bipolar. A mudança de diagnóstico normalmente vem quando o paciente não mostra resposta à terapêutica utilizada no transtorno bipolar, pois o lítio não só não causa efeito em pessoas com ADD como pode, em certos casos, até piorar o problema e começa a mostrar melhoras quando Ritalina ou outro medicamento para ADD é dado.
ADD com drogadicção
Um dos problemas mais sérios associados ao ADD é o abuso de drogas. Este problema, quando encontrado por um profissional de saúde mental, deve ser estudado para se verificar qual é a real causa dele, já que cerca de 15% dos usuários de cocaína, por exemplo, relatam que o uso da droga não os deixa “altos”, mas sim os ajuda a concentrar e focalizar melhor a sua atenção. São estes 15% que HALLOWELL et al. sugerem que devem possuir ADD e que buscam na cocaína uma saída para o seu problema. O álcool, a maconha e outras drogas também são usadas. Isto acontece por vários motivos, entre os principais estão a busca por uma forma de fugir do problema e suas consequências, especialmente quando parece não haver saída, e a automedicação, já que tanto a cocaína como a Ritalina são estimulantes e frequentemente o uso de cocaína causa um efeito positivo na capacidade de concentração e na diminuição dos problemas associados ao ADD.
Quando uma pessoa é diagnosticada com drogadicção associada e causada por um possível quadro de ADD, é necessário que os dois problemas sejam tratados juntos, pois o tratamento do ADD, quando este é a causa do vício, pode em muitos casos evitar que estes pacientes voltem a procurar a droga depois de obterem alta do tratamento.
ADD em pessoas criativas
Uma das características positivas do ADD é a capacidade criativa que normalmente está presente junto com o problema. Devido à sua capacidade de não conseguir manter as ideias em ordem, pessoas com ADD tendem a ser muito criativas e muitas vezes é em ramos onde a criatividade é importante que estas pessoas acabam encontrando um trabalho que conseguem fazer bem.
Uma das características curiosas do ADD é que, algumas vezes, quando os pacientes encontram o ambiente e a tarefa certos para estimulá-los, eles podem acabar demonstrando uma característica contrária àquela normalmente associada ao ADD, ou seja, ao invés da desatenção, podem demonstrar uma concentração e uma dedicação bastante intensa.
Além da medicação, o uso de pessoas com ADD em áreas criativas, como Publicidade, Artes, Design, Projetos, etc., pode ser uma forma de conseguir integrar estes pacientes ao meio social.
Atividades para fazer no acampamento podem ser uma boa opção para estimular a criatividade de crianças com ADD.
ADD com comportamentos de alto risco
A incapacidade de se manter estável e a necessidade de busca por novas emoções podem levar uma pessoa com ADD, especialmente na adolescência e vida adulta, a demonstrar comportamentos de alto risco. HALLOWELL et al. sugerem uma lista de comportamentos que podem indicar ADD em adultos:
Qualquer comportamento de alto risco em níveis crônicos
Tipo “A” de personalidade, ou seja, pessoas com uma forma de vida intensa, propensas a atividades estressantes e com um modo de vida onde a agitação e a necessidade por novas emoções estão sempre presentes.
- Personalidade com a constante busca de fortes emoções
- Comportamentos ligados a vícios
- Temperamento explosivo
- Vício em exercícios
- Impaciência
- Jogatina
- Comportamentos violentos
- Tendência a sofrer acidentes
- Histórico de vários relacionamentos amorosos extraconjugais e de alto risco
- Comportamento pródigo
- Outros problemas de controle de impulsos, como cleptomania e piromania
Ainda não se sabe como comportamentos de alto risco são tão atrativos para pessoas com ADD, mas estes comportamentos são de importância para o profissional de saúde mental, pois não só prejudicam e põem em risco a vida do indivíduo, como também o tratamento destes problemas com terapia, sem a resolução do problema biológico causador destes comportamentos, acaba se tornando inútil.
ADD com estados dissociativos
Uma das principais características do ADD é a falta de atenção. No entanto, muitas vezes é difícil ter certeza de que o ADD é mesmo a causa deste tipo de comportamento, pois outros problemas também apresentam a distração como sintomas. Só para exemplificar, poderíamos citar a lista abaixo:
- ADD
- Depressão
- Estados ansiosos
- Uso de drogas ou abstinência
- Estresse
- Cafeinismo
- Falta de sono, fadiga
- Transtornos Dissociativos
Os estados dissociativos fazem com que a pessoa corte os vínculos com um episódio traumático que aconteceu com ela para evitar o sofrimento e a dor psicológica relacionadas com a lembrança de tal evento.
Para o diagnóstico diferencial entre o ADD e estados dissociativos, o histórico completo e detalhado do paciente é fundamental. É necessário saber se o paciente não passou por nenhum trauma, já que muitas vezes estados dissociativos ligados a traumas podem se assemelhar à distração do ADD. Outra saída para se tentar decidir por um ou outro diagnóstico é a busca por sintomas de ADD no histórico desta pessoa, desde a infância, pois mesmo que a pessoa não tenha sido diagnosticada com ADD, ao contrário do que ocorre nos estados dissociativos, ela se lembra do que ocorreu com ela, só não sabendo que existe uma causa para os problemas dela.
ADD com personalidade limítrofe (Borderline)
Pessoas com personalidade limítrofe costumam apresentar uma série de sintomas muito parecidos com o ADD e vice-versa. Estes sintomas podem ser a instabilidade de humor, impulsividade, uso de drogas, problemas de relacionamentos, problemas de performance em tarefas que lhe são dadas, etc. Infelizmente, ainda não temos condições de delimitar claramente quais são as diferenças entre estes dois problemas. Por este motivo, é importante que os profissionais estejam atentos quando diagnosticarem uma pessoa com personalidade limítrofe, verificarem se existem características típicas do ADD, de forma a evitar enganos.
ADD com problemas de conduta (crianças) ou personalidade antissocial (adultos)
Os problemas de conduta são comportamentos que ocorrem em algumas crianças, caracterizados por comportamentos agressivos e dificuldade de convivência com regras e sociedade. Embora já haja evidências de uma genética deste problema, é importante lembrar que crianças com este problema normalmente apresentam uma história comum, procedendo de famílias com sérios problemas, como pais ausentes, abusivos, uso de drogas, pobreza, falta de educação, comida, etc.
Estes comportamentos podem ser facilmente confundidos com a hiperatividade presente no ADD, e frequentemente isso acaba acontecendo. É importante que os profissionais estejam atentos a pequenas diferenças existentes entre os dois problemas. Uma criança com ADD, quando tem um problema, pode ficar frustrada, porém uma criança com problemas de conduta procura imediatamente alguém para culpar pelo seu problema. As explosões emocionais de crianças com ADD tendem a ser impulsivas e espontâneas, enquanto as de uma criança com problemas de conduta tendem a ser planejadas, esperando por algum ataque ou insulto externo para acontecer. Além disso, crianças com distúrbio de conduta não apresentam os problemas de atenção e concentração das crianças com ADD.
No caso dos adultos, muitos casos de personalidade antissocial são, na verdade, casos de ADD mal diagnosticado. Assim como já foi enfatizado durante todo este texto, torna-se importante mais uma vez consultar o histórico da doença para verificar se existem sintomas típicos de ADD associados ao histórico do indivíduo, para não se cometer erros e mandar casos perfeitamente tratáveis para prisões ou hospitais psiquiátricos.
Aspectos psiquiátricos de ADD no Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)
O Transtorno Obsessivo Compulsivo, caracterizado pela repetição de rituais, comportamento repetitivo, pensamento repetitivo e outros sintomas, pode estar conjugado com o ADD. Ambos os problemas têm origem biológica e, no caso de ambos estarem presentes na mesma pessoa, o transtorno que se manifestar da forma mais grave tende a encobrir o que se manifesta de forma mais leve, então é importante estar atento para os sintomas de ambos os problemas quando se trata uma pessoa com ADD.
Pseudo ADD
Muitas vezes, comportamentos influenciados pela cultura de um determinado povo ou de um grupo podem ser confundidos com aqueles apresentados por pessoas com ADD. Um ambiente que exerce muita pressão sobre um sujeito pode muitas vezes induzir comportamentos como falta de atenção, hiperatividade, incapacidade de concluir tarefas já começadas, etc.
Cuidados devem ser tomados para não diagnosticar todo executivo atarefado como tendo ADD. É necessário lembrar que o ADD é um problema que aparece desde a primeira infância e que muitas vezes todos nós acabamos apresentando sintomas de ADD de vez em quando, especialmente em situações de estresse ou de agitação por algum evento.
Causas
Embora o conhecimento sobre as causas do ADD ainda seja muito limitado e grande parte dele seja especulativo, algumas descobertas recentes ajudaram os pesquisadores a levantar algumas hipóteses para o surgimento do ADD. As hipóteses mais estudadas são: Genética e Traumatismos e problemas intra-uterinos.
Genética
Devido à grande probabilidade de uma pessoa com ADD ser proveniente de uma família com um histórico de problemas psiquiátricos e neurológicos, como o próprio ADD, alcoolismo, Gilles de la Tourette, dislexia, etc. Somado ao fato de que hoje muitos acreditam que a causa esteja ligada à falta de certos componentes necessários para o uso correto de alguns neurotransmissores, e levando em conta a diferença existente na proporção da incidência relacionada ao sexo. Tudo isso leva os pesquisadores a considerar fatores genéticos como sendo a causa do ADD. Por esta hipótese, o ADD não seria causado por um gene particular, mas sim por uma união entre vários genes. Exatamente quais genes estão envolvidos no processo e como estes genes levam ao ADD ainda não foi descoberto, embora a velocidade das pesquisas em biologia molecular indique que não haverá muita demora para que estas questões sejam respondidas.
Traumatismos neonatais e problemas intra-uterinos
Embora a hipótese genética possa fornecer algumas respostas sobre a causa do ADD, é sabido que a ocorrência de ADD está muitas vezes correlacionada a problemas durante a gravidez e no parto, inclusive com relatos de traumatismos neonatais. Este fato levanta a dúvida se realmente haveria apenas uma causa para o ADD, pois aparentemente não deveria haver uma relação entre a genética do ADD e estes problemas.
Alguns autores propõem que o ADD, na verdade, poderia ser devido a causas multifatoriais, onde a genética e o ambiente colaborariam para a gênese do problema.
Outros fatores
Assim como sempre acontece quando a ciência não consegue dar uma resposta imediata para a causa de um problema, no caso do ADD já surgiram inúmeras hipóteses e teorias de procedência duvidosa e de difícil comprovação. Citaremos algumas como informação ao leitor:
Alimentação
Algumas pesquisas tentaram ligar o ADD com o consumo de alguns alimentos, porém até o presente momento o mecanismo pelo qual estes alimentos prejudicariam ou causariam o ADD não foi demonstrado e, consequentemente, nada foi provado.
Produtos químicos
Especulações sobre a influência de alguns produtos químicos normalmente utilizados no ambiente doméstico foram levantadas. Esta hipótese sugeria que produtos como desinfetantes, ceras, removedores, detergentes, etc. poderiam causar danos aos fetos. O fato apresentado a favor desta teoria é que houve um aumento nos casos de ADD nas últimas décadas, coincidindo com o aumento do uso destes produtos no ambiente doméstico. Além de não haver bases teóricas sobre como estes produtos poderiam causar ADD, a explicação para o aumento de casos tem muito mais possibilidade de ser devido ao avanço da Psicologia e Medicina, que possibilitaram um diagnóstico mais preciso do problema do que de outros fatores.
Explicações místicas e de difícil comprovação
Além das hipóteses levantadas até agora sobre ADD, existem pessoas que acreditam que problemas como o ADD são causados por possessões demoníacas, abduções por extraterrestres, problemas espirituais, etc. Embora nenhuma destas hipóteses tenha o mínimo de fundamento científico, achamos importante que o profissional de saúde mental esteja preparado para lidar com as expectativas do paciente e dos pais destes, quando se tratar de uma criança, para o diagnóstico baseado em causas místicas.
Mecanismos biológicos do ADD
Embora ainda não se saiba exatamente quais são os mecanismos biológicos do ADD, algumas hipóteses estão sendo estudadas e algumas partes anatômicas do cérebro já estão sendo relacionadas com o ADD.
Uma destas áreas é o tálamo. Pelo nosso presente conhecimento de Neurociências, o tálamo parece ser uma espécie de filtro dos estímulos vindos de todo o sistema nervoso periférico. Seria o tálamo que escolheria quais estímulos deveriam prosseguir até o córtex cerebral para serem processados e quais estímulos deveriam ser inibidos por interferirem com a atividade cortical que estaria ocorrendo naquele momento.
Para facilitar o entendimento, vamos dar um exemplo de uma pessoa dirigindo um carro em uma estrada. A principal atividade do cérebro naquele momento é prestar atenção na condução do carro e na estrada. Ao mesmo tempo que está dirigindo, o sistema nervoso periférico do motorista está mandando uma grande quantidade de informações e estímulos para ele (temperatura do ambiente, sons do rádio, sede, fome, visão, etc.). A função do tálamo seria filtrar os estímulos de forma que só os estímulos relevantes para a tarefa de dirigir passassem para o córtex, que neste caso seriam a visão, as sensações táteis das mãos, pés e talvez algum som. Este é o mecanismo que nós chamamos de atenção e que, segundo alguns autores, existe para evitar que o nosso cérebro não fique sobrecarregado pelos estímulos recebidos do nosso corpo.
Outra área que parece estar envolvida com o ADD é o lobo frontal do cérebro. É nesta área que a maioria dos nossos pensamentos ocorre e é o lobo frontal também que origina os impulsos que vão dar origem aos movimentos. É nesta área que também funciona um controle sobre quais movimentos devem ser feitos e quais devem ser evitados, este processo é chamado de atividade inibitória. Por exemplo:
“Ao pegar uma assadeira quente no forno, a reação natural do nosso sistema motor é deixá-la cair para evitar queimar as nossas mãos. Nós podemos evitar este reflexo através do nosso lobo frontal, que pode emitir sinais inibindo o reflexo de largar a assadeira até que possamos colocá-la em um local onde o nosso reflexo de soltá-la não cause um pequeno desastre doméstico.”
Pelo nosso atual conhecimento de ADD e de funcionamento cerebral, o ADD aparentemente é causado por uma deficiência no sistema cerebral, em especial nos sistemas relacionados a um neurotransmissor chamado de dopamina, que, entre outras coisas, está também envolvida no Mal de Parkinson. A deficiência neste sistema aparentemente faz com que o tálamo não consiga desempenhar a sua tarefa de filtragem de estímulos muito bem, levando à falta de atenção e à fácil distração do ADD. Este problema também parece causar problemas no lobo frontal, onde a atividade inibitória dos impulsos motores parece também ser afetada, levando, segundo alguns autores, à hiperatividade.
Acredita-se que estimulantes como o metilfenidato, utilizado em pessoas com ADD, fazem com que o tálamo e a atividade inibitória motora possam compensar os efeitos dos problemas causados pela ADD, voltando a funcionar normalmente.
Tratamento
Tratamento psicofarmacológico
O tratamento psicofarmacológico de ADD é feito com o uso de estimulantes como a Dextroanfetamina (Dexedrina) e do Metilfenidato (Ritalina). Os mecanismos de ação destas substâncias ainda são desconhecidos, mas alguns autores acreditam que elas funcionam porque pessoas com ADD têm uma subestimulação do sistema nervoso central. Outros acham que o efeito destes estimulantes é devido a alterações nos mecanismos dos neurotransmissores, como serotonina, dopamina ou norepinefrina, o que coincide com algumas hipóteses sobre as causas do ADD, conforme já foi relatado neste texto.
“A dose inicial é de 2,5 a 5 mg diárias de dextroanfetamina e de 5 a 10 mg para o metilfenidato. A dose é aumentada até que se consiga o efeito desejado ou até que efeitos colaterais apareçam.” (CHESS et al. 1982)
Estas drogas não devem ser dadas após as 15 ou 16 horas, pois, por serem estimulantes, podem causar problemas de sono (insônia) e devem ser suspensas em finais de semana e feriados para evitar problemas de tolerância às drogas.
Algumas crianças podem responder ao metilfenidato melhor que à dextroanfetamina e vice-versa. A duração do tratamento não pode ser medida e a dose diária varia de 5 a 40 mg de Dexedrina ou 5 a 80 mg de metilfenidato. Os efeitos colaterais podem ser um aumento da atividade, anorexia, cefaleia, dor abdominal, irritabilidade, depressão, choro excessivo e agravamento dos sintomas anteriores. Não há indícios de que nenhuma destas drogas cause dependência (CHESS et al. 1982).
Nos EUA, houve recentemente um movimento que denunciou a suposta pressão de pais de crianças normais sobre profissionais de saúde mental, de forma que estes receitassem metilfenidato (Ritalina) para os seus filhos. A acusação era de que estes pais, com o auxílio de seus psiquiatras, estariam usando o metilfenidato como uma “babá química”, acalmando as crianças enquanto eles se ocupavam de outras tarefas.
O debate ainda continua se o uso de metilfenidato é adequado ou exagerado, mas os seus efeitos em ADD são incontestáveis, com pacientes apresentando melhoras em cerca de 90% dos casos e voltando a apresentar sintomas de ADD assim que a medicação é cortada.
Psicoterapia
Além do tratamento farmacológico, é essencial que o ADD seja tratado também com psicoterapia. Isto deve ser feito porque, ao longo de sua vida, especialmente antes de se ter feito o diagnóstico de ADD, as pessoas com este problema sofrem muito devido aos problemas causados pelo ADD. Não são raros casos de crianças que se sentem isoladas, são excluídas pelos colegas, são taxadas de burras ou incompetentes por pais e professores, são acusadas de serem mal-educadas ou endiabradas por todos à sua volta. Também não são raros casos de adolescentes e adultos que entram em depressão por não conseguirem dar conta do que a sociedade exige deles, por esquecerem de coisas importantes, por serem incapazes de terminar as tarefas já iniciadas e por terem dificuldades em manter relacionamentos com outras pessoas. Todos estes casos acabam levando a uma sensação de desespero, ansiedade e depressão que pode levar a pessoa às drogas ou até ao suicídio em casos mais graves.
Quanto mais tempo o ADD permanecer sem diagnóstico, maior será o sofrimento do paciente e maior será a necessidade de tratamento psicoterápico. Enquanto uma criança diagnosticada ainda na idade pré-escolar pode nem sentir os efeitos psicológicos negativos do ADD, um adulto já nos seus 30 ou 40 anos pode já ter sofrido tanto com os problemas sociais do ADD que a sua recuperação pode ser muito difícil, especialmente se este já chegou a apresentar outros problemas, como o uso de drogas ou comportamentos antissociais.
Tipos de terapias indicadas
Devido ao problema de concentração apresentado por pessoas com ADD, devemos ter alguns cuidados ao escolher a linha de terapia que será utilizada no seu tratamento. Linhas de terapias excessivamente abertas, como a Psicanálise e Rogeriana, podem parecer para o paciente de ADD como um inferno de Dante, já que estes pacientes têm muita dificuldade de conseguir organizar os seus pensamentos e, frequentemente, quando são submetidos a estes tipos de terapias, o resultado é quase sempre uma desistência do paciente ou um ataque de nervos do terapeuta, que não irá conseguir extrair nenhum sentido das emissões desorganizadas e conectadas de forma ininteligível pela mente caótica do paciente.
Eventualmente, até as linhas terapêuticas mais diretivas poderão parecer excessivamente abertas para um paciente com ADD e o terapeuta poderá se sentir obrigado a sair da sua posição normal e começar a direcionar a sessão de formas que seriam consideradas intrusivas em pacientes normais. O terapeuta deverá também ter conhecimento sobre ADD para poder conduzir a terapia de maneira que o paciente se sinta confortável e seguro. O vínculo de confiança também é muito importante, porque em alguns casos o terapeuta acaba se tornando a única esperança que uma pessoa com ADD tem de ser compreendida e a última ponte de ligação com a sociedade.
Principais queixas psicológicas de crianças com ADD
No caso de crianças com ADD, os principais problemas encontrados são o isolamento dos colegas, que muitas vezes discriminam a criança com ADD, a depressão e a baixa autoestima por causa da dificuldade de agradar aos pais e aos professores, aversão à escola e comportamento agressivo.
Uma vez realizado o tratamento do problema biológico com remédios, estes problemas psicológicos devem ser resolvidos em uma ação conjunta entre o terapeuta, os pais, a família, a escola e os colegas da criança. Com o consentimento da criança, todos que se relacionam com ela devem ser avisados do problema, de suas consequências, do tratamento médico e de quais atitudes devem ser tomadas por eles para integrar a criança da melhor maneira possível. Todos sabemos que a informação é o melhor remédio contra o preconceito e é nesta base que devemos tratar o problema de adaptação social. É função dos profissionais envolvidos com a criança informarem, avisarem e divulgarem a maior quantidade de informações possíveis, especialmente para o público em geral sobre o ADD. Isto não só ajudará as pessoas já diagnosticadas com o problema, como também ajudará os eventuais casos não diagnosticados ou diagnosticados incorretamente.
Principais problemas psicológicos em adultos decorrentes de ADD
Adultos com ADD normalmente apresentam muitas das mesmas queixas que crianças, só que com a carga de muito mais tempo de sofrimento, tornando os problemas mais profundos e difíceis de serem resolvidos. Somado a este quadro, existe o fato de que outras dificuldades decorrentes dos problemas do ADD tendem a surgir na vida adulta, como dificuldades nas suas atividades diárias, trabalhos, problemas de relacionamentos, sensação de incapacidade para lidar com as tarefas que lhe são exigidas. Em casos mais graves, podem aparecer também o vício em drogas, comportamentos antissociais e outras doenças psiquiátricas associadas ao problema.
As dificuldades com as tarefas diárias normalmente causam grande sofrimento e estresse em profissionais com ADD. Estas dificuldades se manifestam por causa da dificuldade de concentração, que acaba gerando uma queda na produtividade, por problemas de impulsividade e agressividade, que frequentemente causam brigas com chefes e colegas, pela dificuldade de organização do tempo e de compromissos, que leva a pessoas a perder reuniões importantes, esquecer de encontros já marcados com clientes, etc. Estes problemas levam o paciente a ser demitido com frequência de empregos e a ter dificuldade em manter uma carreira. Em um caso relatado por HALLOWELL et al., descreve um homem que teve 124 empregos comprovados no período de um ano. É importante que o terapeuta compreenda este problema e tente fazer com que o paciente não se sinta um “incompetente sem solução”, como frequentemente estes pacientes se acusam de ser.
Os problemas de relacionamentos em ADD também são bem frequentes. Para pessoas olhando do lado de fora, uma pessoa com ADD pode parecer incapaz de manter uma amizade duradoura ou um relacionamento amoroso estável. A pessoa com ADD frequentemente acaba se tornando solitária, pois quase sempre briga com os amigos que consegue pouco tempo depois de iniciada a amizade e tem sérios problemas com relacionamentos amorosos, que muitas vezes são instáveis e violentos. Isto pode ser facilmente comprovado por algumas estatísticas em que cerca de 75% das pessoas com ADD acabam se divorciando. Estes problemas ocorrem porque, na maioria dos casos, o ADD não é diagnosticado a tempo. As pessoas que se relacionam com o paciente com ADD começam a achar que ele não presta atenção neles, que os problemas como desorganização, esquecimento, etc. são propositais, ao mesmo tempo que o paciente com ADD se sente cobrado em excesso pela sua companheira(o), levando a problemas conjugais. Muitas vezes, estes problemas podem ser evitados se o diagnóstico de ADD é feito, se informações sobre o problema são passadas ao paciente e ao companheiro(a) deste e se, ao mesmo tempo, for feita uma psicoterapia que pode ser individual ou de casal, para que o casal se adapte e encontre soluções para o problema.
Nos casos de problemas mais graves, é recomendável que o tratamento seja feito por uma equipe multidisciplinar, devido à grande extensão de problemas associados e causados pelo ADD.
Suporte social
Embora a psicoterapia e o tratamento farmacológico possam ajudar o paciente com ADD, há limites para a capacidade de intervenção destes tratamentos. Ficaria muito difícil para um terapeuta que passa no máximo algumas horas por semana com o paciente resolver todos os problemas se as outras pessoas que passam o resto do tempo com o paciente não colaborarem no sentido de integrarem o indivíduo. É por este motivo que destacamos o importante papel que o suporte social feito pelas pessoas e instituições em contato com o paciente faz no sentido de fazer com que ele se sinta como parte do meio social onde está inserido, ao invés de isolado como uma espécie de “patinho feio”. Destacamos mais uma vez a necessidade de que todos que estejam em volta do paciente se informem e compreendam o máximo que puderem sobre a condição, os problemas e as dificuldades do ADD, já que, como já foi falado muitas vezes neste texto, a maioria das dificuldades encontradas pelo paciente não é somente causada pela doença, mas também pela falta de informação, falta de compreensão e preconceito em relação ao ADD.
Autor: Fernando Lage Bastos