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Atualizado em 10/08/2024

Os efeitos do uso de crack em crianças e adolescentes

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Os Filhos do Crack!

Como ajudar os filhos de dependentes
Pequenos, de saúde frágil, desconfiados e carentes. Assim são os filhos do crack, nascidos de uma geração assolada por uma droga que corrói o usuário.
Até quem lida com o problema no dia a dia sabe que o número é impressionante. São crianças que dificilmente ficam com a mãe ou com familiares. Na maior parte dos casos, são levados pelo Conselho Tutelar ou pela Justiça para abrigos. Isso quando não são abandonadas ao nascer. A partir daí, viram órfãos do crack.
Nesse abandono, tão dolorosas como as sequelas físicas são as consequências emocionais. Talvez seja impossível para o adulto imaginar a dor de uma criança que, de um dia para o outro, se vê sozinha, num lugar estranho, com pessoas desconhecidas. Sem a mãe ou qualquer referência. Essa situação muitas vezes se reflete no comportamento da criança ou em sintomas como a depressão infantil.
Nas creches também aumentam consideravelmente o número de alunos criados pelos avós, tios ou outras pessoas, pois os pais dependentes não têm condições de criá-los. E as crianças que estão na companhia dos genitores sofrem significativamente com a negligência a que são submetidas.
A preocupação com filhos de dependentes químicos vem notoriamente ocupando maior atenção nas áreas de saúde e educação. Investir nessa população significa trabalhar com a prevenção seletiva, por ser dirigida a um determinado grupo de risco. Os grupos de alto risco são identificados pela presença de fatores de risco ambientais, biológicos, sociais e psicológicos que tornam os indivíduos daquele grupo mais suscetíveis ao uso nocivo de substâncias psicoativas. Os subgrupos alvos devem ser definidos pela idade, gênero, etnia, história familiar, lugar de residência (onde o uso de drogas é alto ou a renda per capita é baixa), vitimização física e abuso sexual. A prevenção procura reduzir a demanda ampliando os fatores de proteção e reduzindo os de risco associados ao uso nocivo de substâncias químicas (Herrel e Herrel, 1985).
Um grande número de estudos já demonstrou o impacto negativo que pais usuários de drogas causam em seus filhos. Este impacto pode ser sentido em diversas áreas do desenvolvimento das crianças e algumas das explicações para isso são:
  • Efeitos do uso de substâncias no feto em formação
  • Efeito do uso de substância no comportamento dos pais e, consequentemente, nas atitudes dos filhos
  • Efeitos do uso de substâncias na situação socioeconômica familiar
  • Efeito do uso de drogas por parte dos pais e envolvimento criminal como modelo comportamental principal
O fato de os pais estarem sob a influência de drogas pode afetar a sensibilidade e responsividade dos adultos às demandas emocionais de seus filhos. Quando há um uso “pesado” de drogas por parte das mães, verificou-se que estas ficam bem menos dispostas a brincar ou estimular seus filhos em decorrência de uma constante instabilidade emocional.
Crescer em uma família que possui um dependente químico é sempre um desafio, principalmente quando falamos do contato direto de crianças e adolescentes com essa realidade. Esse desafio pode atuar desenvolvendo competências para lidar com situações estressantes e soluções de problemas, bem como desestruturar o desenvolvimento saudável de uma criança ou adolescente.
Filhos de dependentes químicos apresentam risco aumentado para transtornos psiquiátricos, desenvolvimento de problemas físico-emocionais e dificuldades escolares. Dentre os transtornos psiquiátricos, apresentam um risco aumentado para o consumo de substâncias psicoativas, quando comparados com filhos de não-dependentes químicos, sendo que filhos de alcoolistas têm um risco aumentado em quatro vezes para o desenvolvimento do alcoolismo (West, 1987; Merikangas et al., 1985; Cotton, 1979). No entanto, também é um grupo com maior chance para o desenvolvimento de depressão, ansiedade, transtorno de conduta e fobia social (Christensen e Bilenberg, 2000; Hill et al.,1999; Kuperman et al., 1999; Furtado, 2002).
Fatores como falta de disciplina, falta de intimidade no relacionamento dos pais e filhos e baixa expectativa dos pais em relação à educação e aspirações dos filhos também contribuem para o desenvolvimento de problemas emocionais, bem como o consumo de substâncias psicoativas.
Estudos sobre violência familiar retratam altas taxas de consumo de álcool e drogas, sendo que filhos geralmente são as testemunhas da violência entre o casal e família, e por vezes alvo de abusos físicos e sexuais. Esta população também está mais frequentemente envolvida com a polícia e com problemas legais quando comparados com filhos com ausência de pais dependentes químicos.
No que tange às dificuldades escolares, filhos de dependentes de álcool apresentam menores escores em testes que medem a cognição e habilidades verbais, uma vez que a sua capacidade de expressão geralmente é prejudicada, o que pode dificultar a performance escolar, em testes de inteligência, empobrecimento nos relacionamentos e desenvolvimento de problemas comportamentais. Este empobrecimento cognitivo em geral se dá pela falta de estimulação no lar, gerando dificuldades em conceitos abstratos, exigindo que estas crianças tenham explicações concretas e instruções específicas para acompanhar o andamento da sala de aula.
Um grupo de pesquisa no Reino Unido desenvolveu sugestões para proteger estas crianças dos aspectos negativos do abuso de seus pais dessas substâncias.
O estudo, publicado na revista Advances in Psychiatric Treatment, destaca entre essas sugestões fatores e processos que tornam as crianças mais resistentes aos impactos negativos do uso de drogas pelos pais ou abuso do álcool. Estes incluem a melhoria das técnicas, ajudando a criança a desenvolver-se e aprender a partir de situações negativas e apesar delas, ensiná-las a apoiar-se na escola, família e outras redes, desenvolvendo o que chamamos de resiliência.
Resiliência é a capacidade humana para enfrentar, vencer e ser fortalecido pelas adversidades da vida. Todo mundo enfrenta as adversidades, ninguém está isento delas.
Resiliência é um processo ao invés de uma característica estática, e é possível, sobretudo para os jovens, desenvolver uma maior resistência a situações negativas”, afirmou Lorna Templeton, pesquisador sênior no Centro de Saúde Mental Unidade de I & D da Universidade de Bath. “Na prática, isso significa trabalhar com os membros da família que podem ajudar a cuidar das crianças, ensinar a criança como evitar problemas, ajudando-os a superar as situações negativas, assim como abraçar os aspectos positivos de sua vida, assim como procurar outras influências de estabilização dessas condições positivas. “Dar às crianças a sensação de que têm escolhas, podem controlar suas vidas e optar por um caminho diferente.”
O que dizer às crianças quando um ou ambos os pais são viciados ou alcoolistas?
  • As crianças precisam saber que seus pais não são pessoas “más”. São pessoas doentes. Quando estão bêbados ou drogados, por vezes, os pais podem fazer coisas que são más ou coisas que não fazem sentido.
  • As crianças devem entender que não são a razão para um pai beber ou usar drogas. Eles não causam a dependência de seus pais e não conseguem detê-los.
  • Precisam perceber que sua situação não é única e que não estão sozinhos. Milhões de pais de crianças são viciados em drogas ou são alcoólatras. Eles precisam saber que, mesmo em sua própria escola, existem outras crianças na mesma situação.
  • As crianças precisam saber que não há problema em falar sobre o assunto, ficarem constrangidos ou sentirem medo. Eles não têm mais que mentir, ocultar e manter segredos.
  • Devem ser encorajadas a encontrar alguém em quem confiam – um professor, conselheiro, pai adotivo, ou membros de um grupo de apoio.
  • Ensine as crianças um vocabulário resiliente: EU TENHO, EU POSSO, EU CONSIGO.
  • Mostre o que possuem de bom e ensine, de acordo com a idade, coisas que podem fazer sozinhos para que se tornem mais independentes.
  • Apresentem situações de adversidade, perguntem o que poderiam fazer e forneçam alternativas para superá-las.
Você pode ajudar!
As pesquisas mostram que muitas crianças com pais usuários de drogas ou álcool-dependentes podem se beneficiar enormemente com os esforços de um adulto para ajudar e encorajá-los.
Na verdade, as crianças que lidaram mais eficazmente com o trauma de ter crescido em famílias afetadas pelo alcoolismo ou dependência de drogas, muitas delas, atribuem o sentimento de seu bem-estar ao apoio de um dos pais não-alcoólicos, padrasto ou madrasta, avô, professor ou outra pessoa significativa adulta em suas vidas.
Profissionais de saúde, professores, assistentes sociais, treinadores esportivos e comunidades religiosas ou de espiritualidade são alguns dos adultos que regularmente entram em contato com crianças. Como confiáveis e respeitadas figuras em suas vidas, eles estão em uma posição única para apoiar crianças que vivem em famílias de usuários de drogas e álcool-dependentes.
Sobre o Autor: Psicóloga, formada pela Universidade Estadual Paulista de Bauru e Especialista em Psicologia do Desenvolvimento e Processos de Ensino-Aprendizagem pela mesma instituição. Professora de Ensino Infantil e de Ensino Especial na Prefeitura Municipal de Bauru.

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Este texto foi publicado na categoria Saúde Mental e Psicológica.

 About Pedagogia ao Pé da Letra

Sou pedagoga e professora pós-graduada em educação infantil, me interesso muito pela educação brasileira e principalmente pela qualidade de ensino. Primo muito pela educação infantil como a base de tudo.

Uma resposta para “Os efeitos do uso de crack em crianças e adolescentes”

  1. Excelente texto, abordando o assunto em uma perspectiva muito interessante e importante quando sugere os benefícios de uma abordagem clara com o infante da realidade e da sua superação. Resiliência. Muito interessante a abordagem.

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