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Atualizado em 09/08/2024

O Educador, as Crianças e o Lúdico

Explore a importância do lúdico na educação infantil e como as atividades lúdicas podem transformar o aprendizado das crianças, promovendo desenvolvimento integral e social.

O Educador, as Crianças e o Lúdico

Inegável que a “brincadeira” é a atividade primordial na infância. A situação lúdica que se instaura ganha caráter de “orientação”, ou seja, de facilitação de tarefas objetivadas pelo professor, sem que se questione sobre a forma singular do jogo, sobre qual é realmente o objetivo deste.

A brincadeira é uma forma da criança constituir-se como indivíduo formulando e compartilhando significados.

Na perspectiva sócio-cultural, brincar traduz a forma como as crianças interpretam e assimilam o mundo, os objetos, a cultura, as relações e os afetos das pessoas. É uma maneira de conhecer o mundo adulto sem adentrar neste mundo realmente.

Brincar é uma forma de atividade social infantil, cujo aspecto imaginativo e diverso do significado cotidiano da vida fornece oportunidade educativa para as crianças.

“De acordo com Vygotsky, através do brinquedo, a criança aprende a atuar numa esfera cognitiva que depende de motivação interna… a criança poderá utilizar materiais que servirão para representar uma realidade ausente … (Rego, 1996, p. 819).

Vale ressaltar que os valores podem, através da brincadeira, serem internalizados pela criança na medida em que esta está em contato com estes valores em sua vida diária.

Neste contexto, percebe-se nitidamente a importância das atividades lúdicas no processo de alfabetização.

À medida que a criança utiliza-se da brincadeira, do lúdico, ela interage com o outro, com o objeto e consigo mesma, desenvolvendo a linguagem, função esta que organiza todos os processos mentais da criança, dando forma ao pensamento.

É muito importante desenvolver no processo de alfabetização o fator linguagem, mesmo antes de passar para a escrita que já é uma linguagem estruturada, a criança desenvolve seu potencial de criação imaginária e o lúdico tem, com certeza, um papel primordial nesse processo.

Aprendi brincando

Reconheço que dei sorte, nasci no interior do interior do país.

Vou explicar melhor: nasci em um distrito, de um município interiorano. Ali aprendi brincando, a reconhecer que o inverno chegaria antes, porque as camélias já estavam a desabrochar, que a chuva seria forte, porque os pássaros calavam, que a cor do crepúsculo indicava o tempo para o dia seguinte. Conheci as estrelas pelo nome: a Dalva (pensava ser Dalva mesmo), as Três Marias (que eram irmãs) e o sagrado Cruzeiro do Sul, a sempre indicar o caminho certo, para os caçadores.

Ali cresci, estudando em uma pequena escola primária. Amei o saber e decidi ser professora.

Hoje, adulta, leciono não em grandes escolas. Optei por uma escola de periferia, com crianças que não cursaram o prézinho, nem nunca entraram num jardim de infância. Eu as amo e elas a mim. Aprendemos juntas, brincando.

Não ensino letras, nem palavras, mostro-lhes “símbolos gráficos, desenhos que simbolizam sons, a estes desenhos chamamos letras, unidas formam palavras, frases, textos, vida”.

Trabalho com crianças deficientes em tudo, em bens materiais, em saúde, que dependem da merenda para comer, mas que acreditem, terminam o ano alfabetizadas, leitoras de livros, amantes da matemática, apaixonadas pelo saber, cientes, apesar de pouca idade, que o estudo as levará a outras vidas, com mais roupas, comida, moradia.

Elas sabem que aprender nada mais é do que brincar… brincar com símbolos (letras, números), aprender o jogo do somar, brincar de ser formiga, de que a natureza é muito melhor do que um mágico e transforma o girino em sapo e a lagarta em borboleta.

Ensino-lhes que o saber, como toda brincadeira, tem regras que não podem ser quebradas, senão não dá certo.

Resumindo, o que eu quero dizer, caro educador, pai, amigo leitor, é que o lúdico faz a criança querer aprender e aprender é tudo.

A importância da ludicidade na infância

Sou professora na escola Básica Municipal “Presidente Castelo Branco” no município de Canoinhas (SC).

Trabalho no ensino fundamental como alfabetizadora, minha escola é de periferia, e meus alunos, quase que a maioria, têm problemas de carência, tanto afetiva quanto financeira.

Percebo como educadora que sou há mais de 12 anos, a importância da escola levar em conta o aspecto da alfabetização, como uma forma de linguagem que envolve outras funções superiores, e não considerá-la como apenas um simples ato motor: o de ler e escrever, considerado o que realmente a leitura e a escrita representam no desenvolvimento da criança.

Neste contexto, vejo a importância das atividades lúdicas no aprendizado da leitura e escrita, pelo fato destas, além de serem prazerosas, constituírem uma grande interação, de contato com objetos, desenvolvendo relações sociais, propiciando a internalização de ideias e do pensamento.

De acordo com a Piaget, apud Rosa e Nisio (1998, p.39) “os jogos e as atividades lúdicas tornam-se mais significativas à medida em que a criança se desenvolve; com a livre manipulação de materiais variados, ela passa a reconstituir, reinventar as coisas, o que já exige uma adaptação mais completa. Essa adaptação só é possível a partir do momento em que ela própria evolui internamente, transformando essas atividades que é o concreto da vida dela, em linguagem escrita, que é o abstrato”.

Criança gosta de brincar e também de aprender através da brincadeira, vejo isso todos os dias em minha sala de aula, onde em uma brincadeira como o jogo que é uma representação simbólica, todos incorporam seus personagens e espontaneamente os dirigem.

Contudo, percebo que a criança, através da brincadeira, desenvolve muito mais a sua criatividade e melhora a sua conduta no processo de aprendizagem.

Vejo o lúdico como método auxiliar em meu trabalho e estou cada dia mais fundamentando meus estudos nesta área.

Propostas de Trabalho com o Lúdico

1. BRINQUEDOTECA:

Como uma das formas de retomar o debate sobre a importância do brincar e mesmo de oferecer às crianças as oportunidades que a família e a própria escola lhes vêm negando de exercer esse direito, têm sido estimulada nos últimos anos a implantação das chamadas Brinquedotecas ou Ludotecas.

A Brinquedoteca, na definição da Professora Nylse Helena da Silva Cunha (Presidente da Associação Brasileira de Brinquedotecas) é “um espaço preparado para estimular a criança a brincar, possibilitando o acesso a uma grande variedade de brinquedos… é um lugar onde tudo convida a explorar, a sentir, a experimentar.”

Uma Brinquedoteca pode ter vários objetivos, entre os quais:

  • Estimular o desenvolvimento integral das crianças,
  • Valorizar o brincar e as atividades lúdicas,
  • Possibilitar à criança o acesso a vários tipos de brinquedos e de brincadeiras,
  • Enriquecer as relações familiares, através da participação dos adultos nas atividades infantis,
  • Emprestar brinquedos,
  • Desenvolver hábitos de responsabilidade e cooperação entre as crianças e entre crianças e adultos.

Existem, no Brasil e no mundo inteiro, Brinquedotecas que possuem um ou vários destes objetivos ou ainda com preocupações específicas, dependendo do contexto onde foram criadas.

Assim, encontramos Brinquedotecas:

  • Em hospitais, destinadas a amenizar o sofrimento das crianças internadas,
  • Terapêuticas, que auxiliam no trabalho com crianças portadoras de deficiências,
  • Anexas a Universidades, onde se realizam pesquisas sobre o desenvolvimento infantil e onde são testados novos brinquedos e brincadeiras,
  • Comunitárias, onde as relações de vizinhança são estimuladas,
  • Em clínicas psicológicas, quando colaboram no tratamento de crianças com dificuldades de comportamento etc,
  • Compostas por material de sucata (as “sucatecas”) que utilizam brinquedos confeccionados com material em desuso.

O que não se pode esquecer é que, qualquer que seja o tipo, o acervo, os objetivos específicos da brinquedoteca, nela a criança tem oportunidade de “entender tantas coisas através do brincar, … se entender através de tantas maneiras de brincar” (Fanny Abramovich in Brinquedoteca, o Direito de Brincar)

A Brinquedoteca na Pastoral da Criança

O principal objetivo do projeto “Brinquedos e Brincadeiras” na Pastoral da Criança é o de estimular nas nossas comunidades o “brincar” como um elemento indispensável ao pleno desenvolvimento das crianças.

Entretanto, apesar da importância de conhecermos as brinquedotecas existentes hoje no Brasil, é preciso não perder de vista a realidade da Pastoral, que difere basicamente de todas as experiências conhecidas, uma vez que não dispomos de locais, nem de recursos para a montagem de um acervo de brinquedos.

Assim, na Pastoral da Criança, a Brinquedoteca deve ter como principais características:

  • 1 – O resgate da cultura local, através do estímulo às danças, jogos, músicas e outras atividades típicas de cada comunidade. Para isso, as líderes poderão programar encontros com as crianças e suas famílias, onde o tema, o objetivo, as atividades serão a realização de atividades culturais valorizadas na comunidade. Assim, teremos os cantadores, os violonistas ou mesmo as serestas em que todos recordam as músicas e danças de sua juventude. As festas juninas no nordeste, a panelada no sul, em cada região, em cada município, encontraremos atividades culturais típicas que podem ser motivo de integração das famílias e de desenvolvimento das crianças.
  • 2 – O incentivo ao “brincar junto”, em que as famílias, compreendendo a importância das atividades lúdicas, delas participem. São as tardes (ou manhãs) de lazer, que muitas de nossas líderes já promovem e onde adultos e crianças brincam descontraidamente, utilizando ou não brinquedos ou outros materiais.
  • 3 – O estímulo às atividades realizadas em contato com a natureza – caminhar, subir em árvores, reunir-se à sombra de uma árvore para contar histórias, observar o ambiente, colecionar folhas, sementes, pedras, etc – são atividades que podem reunir as famílias em momentos prazerosos.
  • 4 – A realização de “oficinas de brinquedos”, onde adultos e adolescentes constroem, com material de baixo custo coletado pela própria comunidade, brinquedos que possam ser doados, emprestados ou trocados, especialmente pelas crianças menores.
  • 5 – A troca de brinquedos, quando as crianças e as famílias emprestam seus brinquedos, industrializados ou construídos artesanalmente, para que todos tenham oportunidade de vivenciar brincadeiras diferentes.

Em todos esses momentos e atividades, a líder pode debater com os participantes temas como a importância do brincar, a necessidade de oferecer às crianças brinquedos e brincadeiras que sejam, antes de tudo, estimuladores de seu desenvolvimento integral.

Um dos principais objetivos das líderes será sempre o de sensibilizar a família para a importância das atividades lúdicas, capacitando-a inclusive para que assuma seu papel de educadora das crianças pequenas, ressaltando que, quanto mais a família participar e incentivar as brincadeiras infantis, melhor cumprirá esse papel.

Assim, esperamos que as Brinquedotecas Experimentais organizadas pela Pastoral da Criança venham a servir como elemento catalizador das atividades, reunindo e aportando novos significados, através das atividades lúdicas, à mística, à filosofia de trabalho, à pedagogia libertadora que orientam nosso trabalho.

Acreditamos que, à medida que tais experiências sejam divulgadas, passarão a ser difundidas, enriquecendo as comunidades e as famílias e oferecendo às crianças novas oportunidades de desenvolvimento.

CADA BRINQUEDOTECA DEVE CONTAR COM:

  • Um responsável pelo material e pelos brinquedos – pode ser uma das líderes;
  • Local para acomodação dos materiais – sugerimos as caixas empilháveis;
  • Local para o desenvolvimento das atividades – de acordo com a realidade de cada comunidade, pode ser o salão paroquial, a sala de uma escola, …

São atribuições do responsável pela Brinquedoteca:

  • Zelar pelo material e pelos brinquedos;
  • Cadastrar as crianças e famílias que participarão;
  • Planejar as atividades: semanais, mensais ou diárias;
  • Promover reuniões com as famílias com o objetivo de esclarecer sobre a Brinquedoteca;
  • Promover oficinas para construção de brinquedos envolvendo não só as famílias das crianças como outras da comunidade etc;
  • Buscar recursos financeiros e/ou materiais, na própria comunidade ou em outros locais, para enriquecer as atividades da Brinquedoteca;
  • Participar dos encontros de capacitação em Educação Essencial;

Modalidades de Funcionamento da Brinquedoteca

1 – Para as crianças

A partir do número de crianças da comunidade, do local onde funcionará e do número de adultos disponíveis, pode-se prever várias alternativas para a frequência das crianças à Brinquedoteca:

  • Todos os dias da semana, atendendo um grupo de 15 a 20 crianças a cada dia, perfazendo um total de 75 a 100 crianças por semana em um horário ou de 150 a 200 se a Brinquedoteca funcionar em dois períodos de quatro horas cada;
  • Dupla ou três vezes por semana, também com grupos de 15 a 20 crianças;
  • É possível atender a um número ainda maior de crianças se o horário de cada grupo for reduzido para duas horas;
  • A “hora da história”, em que possa reunir crianças, pais e mesmo os mais velhos, para que uns contem histórias para os outros – podem ser as histórias dos livros infantis ou os “causos” contados pelos mais velhos, principalmente as vovós e vovôs.

Observações:

  • 1- Sempre que houver mais de 10 crianças em um grupo, é necessário contar com pelo menos dois adultos.
  • 2 – O período durante o qual cada criança permanecerá na Brinquedoteca é de sua livre opção – por exemplo, se a Brinquedoteca está aberta das 14:00 às 18:00, uma criança poderá permanecer no local todo o período, enquanto outra permanece apenas das 14:30 às 15:30.
  • 3 – Durante a permanência da criança na Brinquedoteca, o papel dos adultos será o de propor, orientar e controlar a brincadeira, porém cada criança terá a liberdade de decidir se deseja ou não participar das atividades propostas – o principal objetivo deverá ser permitir que a criança brinque e experimente os materiais.
  • 4 – Entretanto, é indispensável que o adulto responsável oriente todos os frequentadores da Brinquedoteca para os cuidados que precisam ter com os brinquedos e materiais, sendo tarefa de cada criança arrumar e manter limpos os que utilizou.
  • 5 – O empréstimo de brinquedos será uma decisão da equipe local, que deverá estabelecer quais os que podem ser emprestados, em que condições etc.

Importante estar atento para alguns aspectos:

  • As crianças maiores (mais ou menos de 04 anos em diante) provavelmente poderão entender que os brinquedos devem permanecer na Brinquedoteca, pois estarão à sua disposição quando ela retornar;
  • Os pequeninos já não entendem este tipo de raciocínio, porém são mais fáceis de convencer e é possível que aceitem levar para casa um brinquedo de sucata, por exemplo;
  • Os brinquedos industrializados e mais frágeis ou de muitas peças, em princípio, não devem ser emprestados, pela dificuldade que representa a sua reposição;
  • Uma das normas para empréstimo é que o brinquedo seja sempre devolvido, mesmo que esteja um pouco danificado.

2 – Para as famílias e a comunidade

É indispensável que a Brinquedoteca, antes de mais nada, seja um espaço que estimule as atividades de lazer entre pais e filhos. Para isso, é necessário prever atividades como:

  • Reuniões para construção de brinquedos a serem utilizados na Brinquedoteca; quando for construído um número grande de brinquedos semelhantes, alguns poderão ser reservados para empréstimo ou doação;
  • “Momentos de lazer”, em que as famílias participem juntas de brincadeiras, atividades de auto-expressão plástica e musical;
  • Nas comunidades onde, ao entardecer, as famílias se reúnem à porta das casas para conversar, promover, em dias pré-determinados, jogos, brincadeiras, brinquedos cantados ou mesmo o contar histórias, podendo ser utilizados nestas atividades os brinquedos e materiais da Brinquedoteca;
  • Nos locais onde for possível, a Brinquedoteca pode também promover momentos de excursão, quando as famílias apreciam a natureza enquanto participam de atividades.

Quando a criança faz o que gosta e sente-se feliz, ela aceita um desafio e resolve o problema com criatividade. O aluno precisa de espaço para expor suas ideias, assim terá iniciativa para explorar a criatividade que muitas vezes passa sufocada dentro de si.

A escola precisa oferecer um espaço de experimentação e criação, estimulando um sentimento de cooperação e solidariedade, além de trazer possibilidades de chegar-se à Zona de Desenvolvimento Proximal na criança, podendo torná-la capaz de desenvolver-se em sua plenitude.

Em meio à descontração, as brincadeiras e os brinquedos, os espaços favoráveis à criança internalizam o conhecimento que lhe é oferecido, relacionando-o com as vivências do seu dia-a-dia e usando-os ou transformando-os para melhorar a sua realidade e a de quem as rodeia.

Muitos são os aspectos existentes em relação ao brincar e aos brinquedos, cada criança apresenta um jeito de ser e de brincar, ela é única. O brinquedo e a brincadeira tornam o ambiente, os espaços da escola, um lugar onde aprende-se com criatividade, curiosidade, significado e trazendo à tona o pensamento e a expressão da criança, tornando-se um grande aliado na educação.

A brincadeira do faz-de-conta tem uma ligação entre os sinônimos brincar/assimilar.

Brincando, a criança se diverte e, assimilando conceitos, ela envolve-se em uma realidade, cujo “faz-de-conta” representa, introduzindo ação e sentimento a objetos, como um pedaço de madeira ou um carrinho, que na brincadeira podem andar, dormir, comer ou sorrir.

Brincando de imitação, a criança tem a capacidade de transportar o mundo real para o mundo imaginário e vice-versa, resolvendo suas angústias e conflitos imediatos, assimilando e compreendendo melhor os conceitos.

Diferentes Espaços da Brinquedoteca

1. Canto do “faz-de-conta”.

É um espaço com móveis infantis:

  • De cozinha – pia de lavar louça, panelinhas, fogão, geladeira, mesas e cadeiras, loucinhas e outros.
  • De hospital – uniforme, consultório, luvas, etc.
  • De supermercado – carrinho de feira, objeto para comprar.
  • De camarim – com espelhos, fantasias, chapéus, adereços, bijuterias e maquiagem, roupas e sapatos, gravatas, xale, etc.

2. Canto da história

Um espaço com tapetes, almofadas, colchonetes, mesas e cadeiras (pequenas e coloridas).

Livros infantis (confeccionados e/ou comprados).

A primeira forma de leitura é a leitura de imagens, figuras, este espaço é para o cultivo ao hábito da leitura.

3. Canto das Invenções/ Sucatoteca/ Oficina

Local onde serão deixados avisos, recados, notícias, fotos, etc.

4. Sala de Jogos

Vários tipos de jogos de interesse para a faixa etária de 04 a 12 anos (memória, vareta, …).

Brinquedoteca e Brincadeira – Espaços de Aprendizagem

Quando a criança faz o que gosta e sente-se feliz, ela aceita um desafio e resolve o problema com criatividade. O aluno precisa de espaço para expor suas ideias, assim terá iniciativa para explorar a criatividade que muitas vezes passa sufocada dentro de si.

A escola precisa oferecer um espaço de experimentação e criação, estimulando um sentimento de cooperação e solidariedade, além de trazer possibilidades de chegar-se à Zona de Desenvolvimento Proximal na criança, podendo torná-la capaz de desenvolver-se em sua plenitude.

Em meio à descontração, as brincadeiras e os brinquedos, os espaços favoráveis à criança internalizam o conhecimento que lhe é oferecido, relacionando-o com as vivências do seu dia-a-dia e usando-os ou transformando-os para melhorar a sua realidade e a de quem as rodeia.

Muitos são os aspectos existentes em relação ao brincar e aos brinquedos, cada criança apresenta um jeito de ser e de brincar, ela é única. O brinquedo e a brincadeira tornam o ambiente, os espaços da escola, um lugar onde aprende-se com criatividade, curiosidade, significado e trazendo à tona o pensamento e a expressão da criança, tornando-se um grande aliado na educação.

A brincadeira do faz-de-conta tem uma ligação entre os sinônimos brincar/assimilar.

Brincando, a criança se diverte e, assimilando conceitos, ela envolve-se em uma realidade, cujo “faz-de-conta” representa, introduzindo ação e sentimento a objetos, como um pedaço de madeira ou um carrinho, que na brincadeira podem andar, dormir, comer ou sorrir.

Brincando de imitação, a criança tem a capacidade de transportar o mundo real para o mundo imaginário e vice-versa, resolvendo suas angústias e conflitos imediatos, assimilando e compreendendo melhor os conceitos.

Diferentes Espaços da Brinquedoteca

1. Canto do “faz-de-conta”.

É um espaço com móveis infantis:

  • De cozinha – pia de lavar louça, panelinhas, fogão, geladeira, mesas e cadeiras, loucinhas e outros.
  • De hospital – uniforme, consultório, luvas, etc.
  • De supermercado – carrinho de feira, objeto para comprar.
  • De camarim – com espelhos, fantasias, chapéus, adereços, bijuterias e maquiagem, roupas e sapatos, gravatas, xale, etc.

2. Canto da história

Um espaço com tapetes, almofadas, colchonetes, mesas e cadeiras (pequenas e coloridas).

Livros infantis (confeccionados e/ou comprados).

A primeira forma de leitura é a leitura de imagens, figuras, este espaço é para o cultivo ao hábito da leitura.

3. Canto das Invenções/ Sucatoteca/ Oficina

Local onde serão deixados avisos, recados, notícias, fotos, etc.

4. Sala de Jogos

Vários tipos de jogos de interesse para a faixa etária de 04 a 12 anos (memória, vareta, …).

Os contos de fadas podem ir além do encantamento

Uma afirmação que necessita de alguma reflexão, pois aparentemente parece meio incoerente, é a de que ouvir histórias ajuda a desenvolver a criatividade. Isto porque ouvir histórias pressupõe uma atitude passiva, sem oportunidade de contribuir com quem a está contando.

A justificativa é que esta atitude passiva é meramente aparente, porque o corpo se prostra perante o êxtase e o turbilhão de sensações que as histórias provocam.

As histórias transportam o ouvinte para o outro mundo, permitem que ele sinta as emoções que as sensações deste mundo despertam.

As narrações não têm barreiras, elas conduzem a qualquer ponto geográfico, a qualquer época e utilizam diversos povos e costumes. E quando se esgotam os milhares de combinações destes elementos, a fantasia nos leva ao mundo dos duendes, fadas e bruxas, ao centro da terra ou às galáxias perdidas, enfim, às infinitas possibilidades criadas pela imaginação.

Este processo provoca absorção de conhecimentos, aqueles oriundos do próprio contexto, do enredo e aqueles oriundos das emoções decorridas do texto. O primeiro grupo comum a todos os ouvintes, o segundo particular e característico para cada ouvinte.

Este cabedal de conhecimentos são referências que, agrupadas com outros adquiridos através de outras histórias, de processos similares, agregam-se à sua cultura e provocam combinações novas. O processo que leva à conclusão de um projeto novo e acabado é um exercício da criatividade.

Mas em que o desenvolvimento da criatividade é desejável para cidadãos comuns sem dons ou aspirações para seguirem uma carreira artística?

Nos dias de hoje, a criatividade, o senso crítico e a expressividade são mais desejáveis do que valores universalmente pelos educadores aceitos como a disciplina e a atenção.

Quando falamos em fornecer referências até em um clima que coloca a formação da criatividade desejável, existe o perigo de estruturar demais este processo e torná-lo enfadonho, muito próximo do real. Portanto, conviver com um processo de desenvolvimento de criatividade em crianças significa aceitar os domínios da fantasia.

A fantasia está na liberdade da imaginação, em deixá-la flutuar por sua livre vontade, sem a colocação de freios, sem direção. É acreditar que o bem e o belo podem se manifestar de diversas formas e que têm significações próprias para cada um.

Quando lemos um conto de fadas, somos atingidos por uma áurea de fantasia que nos transporta para um mundo de imaginação, envolto em uma névoa que, embora indescritível, é suficiente para justificar um ambiente onde tudo é possível, não necessitando de muita explicação.

A verdade é que os contos de fadas são os preferidos, especialmente pelas crianças pequenas, em uma faixa etária de até 6 ou 7 anos.

Porque?

Betelheim, no livro “A Psicanálise dos Contos de fada”, decanta como as situações presentes nos contos de fadas podem ser identificadas com as sensações, os temores que as crianças enfrentam e as situações novas que se apresentam que elas não sabem lidar.

Os predicados humanos que os personagens apresentam são sempre básicos e, portanto, de fácil compreensão. O maniqueísmo aparece como um fator que permite que essa compreensão aconteça. Os personagens são bons ou ruins, egoístas ou generosos, falsos ou leais, sem muita necessidade de explicações. Não existem “meias-palavras”, textos de “entrelinhas” ou situações que irão expor o verdadeiro caráter de uma pessoa. Desde o começo da história, cada um se apresenta da mesma maneira que ele realmente é e da forma como isto irá no desenrolar da trama. De forma compreensiva, mesmo a crianças muito pequenas, de 3 ou 4 anos.

Interessante como Betelheim explica que os contos de fadas atuam muito melhor na formação de modelos simbólicos do que as narrações de fatos reais. Isto pode confundir os adultos porque, na maturidade, muito da vivência adquirida se dá através da observação de fatos e desfechos ocorridos com outras pessoas. Este arcabouço de referenciais pode orientar que atitude tomar em uma situação nova, nunca antes vivida por aquela pessoa.

Mas o que acontece com as crianças é que elas não conseguem compreender uma série de símbolos e suas prováveis significações presentes em uma história real. A imaturidade de pensamento da criança se apresenta por um conjunto de impressões mal ordenadas, que frequentemente não possuem elos de ligações entre si e estas lacunas são preenchidas por fantasias alimentadas pela sua imaginação. Estas impressões são maniqueístas e básicas: são indicadores de satisfações, de dor, de medo.

E aí que encontramos a identidade de elementos entre aqueles personagens formatados de forma elementar e suas ações, igualmente objetivas, e as emoções da criança. A maneira pela qual uma criança pode botar alguma ordem na visão de mundo é classificando tudo de forma maniqueísta.

Assim, se para nós é impossível conceber que, como João e Maria, tenham sido mandados embora de casa pelos pais que não podem sustentá-los. Para a criança é absolutamente compreensível este desligamento da proteção de seus pais e do aconchego de sua casa, é uma ameaça que se concretizará quando ele precisar ir para a escola, por exemplo.

Outra coisa tranquilizadora dos contos de fadas é que acontecem em tempo e lugares indiscriminados, longínquos, onde se pode ir e voltar sem qualquer comprometimento. Assim, as histórias sempre iniciam com um cordial e descomprometedor convite: Era uma vez… No tempo das fadas… Em um reinado bem distante…

Interessante, também, é que os personagens, além de não terem nuances de personalidade e comportamento, raramente têm nomes: são os príncipes, os reais, as bruxas, a bela princesinha, a madrasta etc… Isto auxilia que o símbolo que estes personagens encerram tenha os mesmos significados em diferentes histórias.

As histórias de fadas atuam então no emocional da criança e sua contribuição está em auxiliá-la a tomar decisões para a sua independência, acomodar os seus sentimentos de ambivalência, e lhe dar esperanças que seus esforços poderão lhe conduzir a um final feliz.

Enfim, os Contos de fadas dão esperanças de que “as pessoas podem viver felizes para sempre” e que, como diz Betelhein, se todos os males do mundo são representados pela bruxa má, ótimo, pois podemos simplesmente queimá-la!

Que bom que seja assim, nós contadores ingênuos e românticos poderemos continuar conversando com gnomos, reverenciando princesas e rainhas, viajando na garupa de lindos pegassus alados, e se encantando com fadas e magos, envoltos em estrelinhas amarelas e brilhantes. Certos que, além de encantar, estaremos exercendo um papel importante na vida de cada um dos pequeninos que sempre temos, por força da “profissão”, ao nosso redor!

O projeto brinquedoteca foi criado em 1997, fortalecendo a discussão e a prática acerca da importância do brinquedo e do lúdico para o desenvolvimento integral da criança. A brinquedoteca tem por objetivo “construir através de um processo de co-gestão com as comunidades e escolas, um espaço onde o brinquedo, na sua livre expressão-criativa e comunicativa – auxilie na construção da criança como um ser humano integral, capaz de atuar coletivamente de forma plena e saudável. A criança constrói nesse espaço seu próprio brinquedo, onde ela se descobre, elabora os fatos significativos do seu dia a dia e libera sua criatividade. Sendo um espaço coletivo, entra em ação a função social do brincar, do jogar, do trocar ideias.

Na prática, o trabalho se desenvolve no processo de ação/transformação, onde as crianças constroem, criam e brincam, utilizando uma variedade de materiais, com a orientação constante do professor, que participa ativamente desta construção.

A forma como se dá a construção da brinquedoteca e a relação de parceria que se estabelece com a instituição refletem a realidade/singularidade de cada comunidade envolvida no projeto.

Atuação – Brinquedotecas.

1. Brinquedotecas Fixas.

a) Unidades recreativas – são parques e praças que se encontram sob gerenciamento da Secretaria Municipal de Esportes e desenvolvem atividades esportivas, recreativas e também a construção de baús – brinquedotecas, que poderão promover momentos lúdicos.

b) Projeto graxaim – desenvolve atividades sistemáticas de recreação nas comunidades, com a parceria de lideranças comunitárias, durante mais ou menos 1 ano. Juntamente com a comunidade se constrói um espaço para brincar, que será gerenciado pelos envolvidos no projeto.

2. Brinquedoteca ambulante

A brinquedoteca ambulante é um ônibus transformado para o lazer, num primeiro momento, o ônibus, possibilita uma outra forma de brincar, hoje quase extinta nos grandes centros.

Em nível funcional, tem como principal característica a mobilidade, ou seja, a viabilidade. Nele, muitas possibilidades são criadas.

3. Assessoria

a) Interna – implantação/desenvolvimento de brinquedoteca nos espaços de lazer da SME, bem como implementar a discussão na área da recreação.

b) Externa – atendimento a demandas de outras secretarias e instituições interessadas na qualificação na área de recreação e na construção/implantação de brinquedotecas.

Considerações finais:

Acredito como professora de séries iniciais que o projeto da brinquedoteca, em muito breve, será conquistado por todas as escolas do ensino fundamental de nosso país. É um projeto que com certeza trará grandes contribuições em nossa ação pedagógica.

Precisamos acreditar e também contar com nossas lideranças comunitárias e juntos procurarmos transformar o nosso espaço social, acreditando sempre no benefício que a ludicidade traz ao processo educativo.

Professora Marcia Maria Kaschuk.

Referências bibliográficas:

Santos. Santa Marli P. dos (org). (2000) Brinquedoteca: a criança, o adulto e o lúdico. Petrópolis – RJ, Vozes.

Explore uma variedade de brinquedos que podem enriquecer a experiência lúdica das crianças.

Para saber mais sobre os desafios da educação infantil, acesse este artigo.

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Entenda a importância da estimulação no desenvolvimento infantil.


Este texto foi publicado na categoria Maternidade e Desenvolvimento Infantil.

 About Pedagogia ao Pé da Letra

Sou pedagoga e professora pós-graduada em educação infantil, me interesso muito pela educação brasileira e principalmente pela qualidade de ensino. Primo muito pela educação infantil como a base de tudo.

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