O mutismo seletivo é um transtorno pouco conhecido e divulgado. Por esta razão, a meu pedido, minha grande amiga e especialista no assunto, redigiu o artigo a seguir.
Luciana Campos
O mutismo seletivo é um transtorno que acomete crianças de todas as idades, caracteriza-se por uma incapacidade da criança em falar em alguns locais (escola, festas, rua), em algumas situações e com algumas pessoas, inclusive da própria família. Essas crianças compreendem a linguagem e são capazes de falar com toda normalidade em lugares onde se sentem seguros e confortáveis, como exemplo, em casa e com pessoas de seu círculo mais íntimo, tais como, pais e irmãos. O fato de não falar em determinadas situações não significa que estão querendo chamar atenção ou controlar o ambiente, mas sim em demonstrar o grau de ansiedade e vergonha que sofrem, e essas emoções as inibem de falar e expressar seu comportamento não-verbal. Normalmente, elas apresentam dificuldade em olhar nos olhos, dificuldade em sorrir, de se expressar em público, de ir ao banheiro, em comer na escola. A percepção dessas crianças é que estão sendo observadas constantemente, por isso, seus movimentos ficam paralisados como estátua cada vez que elas se sentem avaliadas. Embora seja considerado um transtorno raro, sendo encontrado em menos de 1% dos indivíduos vistos em contextos de saúde mental, observamos no contexto clínico uma incidência cada vez maior no Brasil.
As causas da doença podem ser encontradas em três pilares: (1) herança genética, a maioria das crianças que sofrem do mutismo apresentam uma predisposição genética a experimentar sintomas de ansiedade que são exacerbados por condições estressantes ou hostis; (2) traços de temperamento, como: vergonha, timidez, preocupações excessivas, evitação social, medo, apego e negativismo; e (3) interações familiares, existe um consenso de que o mutismo é mantido na presença de características familiares, tais como: relação simbiótica, dependente e controladora entre mãe e filho, mães deprimidas e passivas.
As crianças que são acometidas pelo mutismo possuem uma inteligência preservada, normalmente, acima da média para a idade. Geralmente, o transtorno surge antes da idade de cinco anos (fase pré-escolar) e o grau de persistência varia de poucos a muitos anos e, quando não tratados, podem desenvolver na adolescência uma fobia social grave. As pesquisas indicam que a doença pode desaparecer espontaneamente, mas, em geral, quando não tratada, se torna crônica e altamente resistente a qualquer tipo de tratamento. Por falar em tratamento, a terapia mais indicada para o tratamento do mutismo é a cognitivo-comportamental, pois combina técnicas que vão auxiliar a criança a manifestar a fala e desenvolver habilidades sociais importantes nessa fase da vida. O tratamento precisa envolver a família da criança, a escola que ele estuda e o próprio paciente. Para mais informações sobre a inclusão de alunos autistas, você pode acessar a inclusão de alunos autistas em sala de aula.
Abaixo, estão algumas estratégias para os PAIS que possuem um filho com o transtorno:
- A criança não deve ser forçada a falar;
- Os pais devem elaborar inicialmente formas alternativas de comunicação através de símbolos, gestos ou cartões;
Ø Não devem permitir que outras pessoas respondam pelo filho(a);
Ø Solicitar gradualmente a exposição oral da criança;
Ø Reforçar a criança todas as vezes que houver um aumento no comportamento verbal da criança. O tipo de reforço precisa ser de preferência da criança (elogios, abraços, doces preferidos…);
Ø Encorajá-las sempre que possível a fazer pequenas solicitações ou cumprimentos a pessoas estranhas. Ex. ir comprar pão, comprar jornal…;
Ø Evitar que seu filho seja o centro das atenções;
Ø Identificar a compatibilidade com algum amigo para jogar e brincar com a criança algumas vezes dentro e fora de casa;
Ø Utilizar a dessensibilização sistemática. Por exemplo, usar um reforço quando a criança sussurrar uma palavra e gradualmente aumentar a exposição até a criança dizer uma palavra em volume normal para algum estranho;
Ø Planejar passeios em família fora de casa.
Algumas estratégias devem ser usadas pelo PROFESSOR para auxiliar o tratamento, incluem:
- Permitir que a criança se comunique não-verbalmente no início, para depois utilizar a comunicação oral;
- Não permitir que outros amigos respondam pelo aluno;
- Solicitar gradualmente a exposição oral da criança;
- Se possível, colocar as mesas em forma de grupos;
- Reforçar positivamente interações sociais faladas ou não;
- O tipo de reforço precisa ser significativo para a criança (elogios escritos, verbal…)
Ø Reforçar qualquer tentativa de enfrentamento de situações interpessoais e ir ampliando progressivamente as exigências;
Ø Encorajá-las sempre que possível a fazer pequenas solicitações ou cumprimentos a pessoas estranhas. Ex. pegar ou entregar material fora de sala.
Ø Os professores devem sempre que possível tentar iniciar conversas fora da presença de outros alunos, devem tentar também não colocar a criança como sendo o centro das atenções, pois isso aumenta a ansiedade da criança;
Ø Não estabelecer comparações com outros companheiros;
Ø Não permitir que os demais colegas o insultem, intimidem ou riem dele(a);
Ø Estimular e envolver os colegas para que o ajudem e para que participem nas sessões de intervenção.
- O aluno não deve ter métodos de avaliação diferentes da turma.
Fonte: Luciana Campos
Para ajudar no desenvolvimento de habilidades sociais, considere utilizar brinquedos e materiais que estimulem a interação, como brinquedos interativos.
Sempre fui muito tímida, desde de criança e sempre sofri muito. A um ano fui participar de uma palestra onde a neuropsicopedagoga abordou sobre o mutismo seletivo e percebi que TD o que eu sentia se encaixavam nós sintomas. Hoje aos 44 anos faço tratamento medicamentoso.
Infelizmente meu filho de 14 anos tbm vem apresentando alguns sintomas
muito interessante não conhecia o assunto,adorei
Maria Eduarda é o nome da minha filha hoje ela tem 7 anos completa 8 em novembro, o diagnostico do mutismo seletivo veio quando ela tinha 4 anos, com a psicóloga.
Minha filha conversa somente, comigo “mãe”, pai, seu irmão, sua avó, primos, já com restante da família se nega conversar.
A suspeita começou quando ela tinha 3 anos em 2008, quando resolvi sair de uma empresa na qual eu trabalhava a 10 anos, em seguida resolvi fazer faculdade de pedagogia aonde resolvi da aula e consegui um emprego na escola onde minha filha estudava e lá eu descobrir que ela não falava com ninguém, entrei em desespero, mas os médicos dizia ser normal. Mas eu já sabia que não era.
Dai em diante estou aqui na luta como muitas outras mães, esperando que sua filha conversa como outras crianças.
Não é fácil, explicar para as pessoas algo que eles não entende sobre sua filha sobre o “Mutismo seletivo”.
Um episódio que aconteceu dia 20-08-2013 com minha filha, cheguei na escola ela estava chorando de dores de estomago, e a professora desesperada, e diz: mãe ela ta chorando e ela não fala fica difícil só entendi que ela senti dores no estomago….disse a ela ai professora é que ela quer algo e não consegue se expressar, e ela senti dores no estomago de nervoso….no final ela só queria ir apenas no banheiro.
Sai triste, angustiada de ver minha filha precisando de ajuda e eu longe dela.
Tenho como varias historias, mas creio que Deus dará vitória para nós.
Postei exatamente porque me pediu, e pelo pouco conhecimento dos profissionais sobre o assunto. Espero ter ajudado.
Olá Soraia, sou Psicopedagogo Clinico e Institucional, Neurocientista comportamental. Recebi ha pouco em meu consultório uma criança com seis anos de idade, sexo masculino a qual a mãe relatava que seu filho estava fora da escola e que só se comunicava com ela e algumas pessoas da familia. Fiuz o primeiro atendimento de aproximação com a criança e logo percebi qual seria o encaminhamento, já tinha lido alguns artigos sobre o tema, mas esse foi o primeiro caso que recebi, estou em nível de avaliação, tivemos uma boa empatia e logo estaremos trabalhando “TCC” (terapia cognitivo comportamental), estamos muito motivados pelo sucesso que devemos atingir.
No começo do ano conheci um aluno que apresentava sintomas do mutismo. Sem conhecê-lo direito, pedi que fosse na frente da sala para servir de exemplo para o restante da turma, quando pedi para fazer a leitura de sua atividade, quase deu um ataque! Não conseguia nem respirar. Não forcei, voltou para seu lugar até ficar mais calmo. Com o tempo fui elogiando todo os textos, ele escreve muito bem, no dia (13/08), percebi que ele começou a ter mais segurança nas minhas aulas, fez uma pergunta em público. Fique muito feliz, os colegas perceberam a evolução e não fizeram nenhum comentário na frente dele. Aconselho aos professores que identifiquem as qualidades desses alunos e foquem nelas, quando eles sentirem segurança as coisas acontecem naturalmente.
Fica aqui a dica.