O Lúdico na Educação Infantil
História Infantil na Educação Infantil
INTRODUÇÃO
“Quem sabe ouvir não é apenas
popular em toda parte; depois
de um tempo também aprende
muitas coisas.”
Wilson Mizner
A Educação Infantil vem ganhando um destaque muito importante em questão de cuidar e educar. Como educadora, estou aprendendo a lidar com certas situações que antes pensava não ser tão relevantes, como no caso das histórias infantis.
Ao escolher este tema “Histórias Infantis”, seria desafiador o conto e o reconto de Chapeuzinho Vermelho, Os Três Porquinhos, A Bela e a Fera, etc. Estes clássicos possibilitarão às crianças novas oportunidades de conhecer histórias tradicionais que têm um brilho de magia e aventura.
Atualmente, estou trabalhando com a turma de 2 a 3 anos, na quantia de 10 crianças, e percebo que elas me disponibilizarão muitas fontes de saberes na hora do reconto das histórias. Isso eu sei que vai acontecer porque já conheço essa turminha de muitos meses anteriores. Por um lado, também sei que vai ser bem desafiador, quer dizer, difícil de praticar, pois, nesta turma de 10 crianças, tenho 4 que não sabem falar (com isso, torna-se difícil a participação deles dentro do grupo, porque como eles não sabem falar, as outras crianças se sobressaem por participar ativamente na hora do reconto e dramatizações).
Em cumprimento às exigências do Proinfantil – Programa de Formação Inicial para Professores em Exercício na Educação Infantil, o meu projeto de estudo terá, no primeiro momento, 5 dias consecutivos de histórias infantis, onde trabalharei reconto e dramatizações. Separei 5 livros de história clássica que penso que terão melhor resultado com as minhas crianças, que são:
- A Bela e a Fera – História em fantoche (palito de picolé)
- Os Três Porquinhos – Dramatizações
- Chapeuzinho Vermelho – Dramatizações
- João e Maria – História sequenciada
- João e o Pé de Feijão – Livro ilustrado (plantação de feijão)
Estes livros estão bem condizentes à realidade tanto da creche quanto das crianças, pois são histórias clássicas que já se baseiam no repertório delas.
Pier Paolo Pasolini (1990, p.131), no seu livro “Jovens Infelizes”, disse o seguinte: “Eu, quando falo com você, posso até esquecer, ou querer esquecer, o que me foi ensinado com as palavras. Mas não posso jamais esquecer o que me foi ensinado com as coisas”.
É bem por aí: viver intensamente aquilo que estamos vendo, ouvindo, de forma a nos entregarmos à experiência, deixarmos que a emoção, a memória, a atenção e a desatenção, a tensão e a desatenção possam apossar-se de nós e fazermos com que a experiência se aprimore e se expanda o imaginário de cada um, proporcionando o que chamamos de experiência Real/Imaginário.
Ao contar histórias em forma de dramatização, fantoches, conseguimos perceber os olhos brilhantes, a fascinação pelo imaginário que minhas crianças demonstram. Por isso, é tão importante que ofereçamos às crianças oportunidades para expressarem livremente, expondo as produções infantis nos espaços da instituição.
Como diz Piaget (1976, p.31), “todas as crianças têm condições de se expressar através das linguagens visuais, cada um do seu jeito, com seu próprio ritmo, deixando suas próprias marcas e, por isso, devem ter suas produções respeitadas e valorizadas”.
OBJETIVOS
Expressar sentimentos e emoções através de atividades prazerosas (livro infantil, fantoche, teatro…), criando momentos de interação entre crianças e funcionários, trazendo a literatura infantil como cenário de conto e reconto, de forma viva e envolvente para que as crianças possam se habituar à literatura infantil.
CONCLUSÃO
“A literatura infantil assegura o status
de produção artística quando se vincula
ao interesse e à realidade do pequeno
leitor.”
Aguiar et al
Pensar em conto e reconto de história é pensar em arte, porque a literatura é arte, e ela não pode e nem deve ser utilizada “para ensinar a ler”, com objetivos pedagógicos ou moralizantes. A literatura infantil precisa ser vivida como momento de alegria, fruição, fermento da imaginação, da criatividade. Ela envolve os sentimentos, emoções, a expressão e o movimento através de uma aprendizagem prazerosa.
Cunha (1998) diz que “um bom livro é capaz de nos transportar a outros mundos, alimentar nossos sonhos, tocar nossas mais caras emoções”.
Confesso que não foi fácil criar e recriar situações de teatros e dramatizações, isso por causa da falta de recursos humanos (pessoas) para fazerem parte do teatro e das dramatizações, pois quando planejei e conversei com alguns funcionários para participarem comigo na execução do projeto, todos no momento aceitavam, mas na hora de colocar em prática, não dava certo. Então, tinha que ir para o plano 2, onde contava a história para as crianças e depois elas seriam os atores da peça. Esses contratempos foram até significativos, pois foi um momento de experimentar uma nova estratégia.
Como disse no início do projeto, as minhas crianças têm de 2 a 3 anos (10 crianças), então, vejo que elas são muito pequenas para encenar, por isso que eu queria que os funcionários da creche me ajudassem com o teatro. Mas, tudo bem!
As duas histórias que as crianças conseguiram encenar foram do Três Porquinhos e Chapeuzinho Vermelho, por serem histórias que eles estão habituados a ouvir. As outras histórias, como a Bela e a Fera (foi fantoche), João e Maria (história sequenciada) e João e o Pé de Feijão (livro ilustrado e depois plantar feijão no algodão).
No momento de ler, procuro fazer várias entonações na voz, enfatizando os diferentes climas da história. Por exemplo: eu fazia voz rouca e de suspense quando a fala era a do Lobo Mau; fazia uma voz bem fininha e mimada quando a fala era da Chapeuzinho Vermelho, etc.
Posso afirmar com toda segurança que, mesmo com as dificuldades encontradas, eu e as crianças mantivemos uma interação mútua de envolvimento emocional em relação às histórias contadas e criadas.
Hoje já posso garantir que é preciso nos habituar à prática da literatura infantil para que se torne uma prática diária. Além disso, é importante propiciar momentos em que a turma manuseie diferentes livros e explore-os sozinha ou em pequenos grupos.
A literatura infantil é, antes de tudo, literatura, ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real. (Cecília Meireles, 1979).
AUTO-AVALIAÇÃO
Refletir sobre o meu trabalho, a princípio, é muito complicado, mas ao mesmo tempo nada mais é do que uma forma de revelar os resultados obtidos no decorrer dessa semana de projeto.
Vou tornar a repetir: – Não foi fácil praticar este projeto, mas ao final pude ver os resultados obtidos com muita clareza.
Na verdade, o que foi importante para o desenvolvimento das crianças é que elas puderam ter um envolvimento tanto criança/criança quanto professor/criança, no intuito de aprimorar diferentes formas de aprendizagem em relação ao conto e reconto de histórias infantis. Isso fez com que elas enriquecessem o seu repertório de histórias e de novos vocábulos. Até mesmo aquelas crianças com mais dificuldade de pronunciar palavras expandiram o seu aprendizado, porque vivenciaram momentos de pura interação, alegria e descontração. Embora não falassem, eu via em seus olhares que elas estavam entendendo e comunicando gestualmente, com sorrisos, sustos e encenações.
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES
Na semana que foi do dia 16 ao dia 20 de abril, coloquei o meu projeto em prática. Isso aconteceu sempre no período da manhã na Creche Irmã Alberta Buss.
No dia 16 de abril (segunda-feira), organizei na sala de aula um cantinho da leitura com aproximadamente 50 livrinhos de literatura infantil. Para isso, coloquei um tapete de E.V.A com ursos e os livros esparramados pelo tapete. Coloquei no varal 3 histórias sequenciadas (João e Maria; Os Três Porquinhos e A Arca de Noé). E também organizei 4 caixinhas com histórias em fantoches (isso para dar oportunidades delas estarem explorando várias fontes de conto e reconto de histórias).
As crianças, ao chegarem na creche, levamos para a troca de roupa e depois para tomarem o café da manhã. Ao terminarem de tomar o leite e comer o pão, levei-os para escovar os dentes. E antes de entrarem para a salinha, disse-lhes que na sala teria uma surpresa; eles ficaram encantados com a sala e o modo como estava organizada e atrativa.
Como deixei as carteiras organizadas em semi-círculos, as crianças sentaram e iniciei o momento de contemplação das histórias ali contidas. Expliquei o que iria acontecer (comentei sobre o projeto, e que durante 5 dias iríamos ter o momento da leitura de diferentes formas).
A 1ª história foi a dos Três Porquinhos; convidei 4 crianças da outra turma (5 e 6 anos) para fazer a dramatização da história. Ficou bem divertido, mesmo com os imprevistos ocorridos do tipo:
- A criança calar e depois dizer: Esqueci! (aí eu tinha que relembrar).
Após a dramatização da história dos Três Porquinhos, fizemos a roda da conversa para instigar o que eles entenderam. Algumas crianças souberam comentar com muita clareza, porém outras não conseguiram acompanhar (pois não sabem falar). Depois, dei-lhes um tempo de aproximadamente 20 min para folhearem “ler” as histórias de acordo com o seu entendimento.
No dia 17 de abril, às 8:00hs da manhã, levei-os para o pátio, onde organizei a leitura da história João e Maria em forma de sequência, preguei as folhas na parede e fui contando conforme foram os acontecimentos. Confeccionei também uma casinha de bolacha e balinhas, e no final do conto, comemos a casinha de doces. As crianças gostam deste tipo de aula, foi bem divertido.
Dia 18 de abril foi um dia bem confuso (a sorte é que as minhas crianças não entendem de data comemorativa no seu dia certo). Achei que era o dia do Índio e executei a história da Bela e a Fera e o festejo do índio.
A história da Bela e a Fera foi realizada da seguinte forma:
Pedi à tutora Patrícia para xerocar e pintar desenhos dos personagens (Bela, Fera, o pai da Bela e flores), montei fantoches com palitos de picolé. Chamei as crianças para a sala de aula e coloquei-as sentadas no tapete em semi-círculos, expliquei a eles que iria contar a história da Bela e a Fera.
Primeiro apresentei os personagens, depois comecei a contar: Era uma vez…; neste dia tinha apenas 6 crianças, então foi muito bom de se trabalhar. Após a história, iniciei contando sobre o índio, mostrei algumas figuras e deixei-os à vontade para contar “causos”. Às 10hs da manhã, Tatiane e eu vestimos e pintamos as crianças de índio, eles se acharam o máximo. Tiramos fotos e fomos cantar e dançar em comemoração.
Dia 19 de abril, neste dia que era para ter colocado em prática a comemoração do dia do índio, então como inverti as datas, realizei com eles o dia do Livro Infantil (18-04). Às 8hs da manhã, levei-os para a salinha onde estava organizado o cantinho da leitura, expliquei que hoje estaríamos comemorando o dia do Livro e com isso teriam uma surpresa (cada um deles iria ganhar um livrinho infantil – no final da aula).
Recontamos várias histórias que eles mais gostam (Os Três Porquinhos, João e Maria, A Branca de Neve…). Deixei-os à vontade por um certo momento para ler a história que quisessem. Um aluno da outra turma contou a história dos Três Porquinhos e às 9:30hs recebemos a visita da Professora Formadora Lísia, ela chegou bem no momento em que eu estava recontando a história sequenciada do João e Maria, (mesmo com a surpresa de me encontrar lendo para as crianças, fiquei satisfeita, pois foi uma maneira de perceber o nosso crescimento profissional). Este dia foi muito gratificante.
No último dia (20 de abril), realizei com eles a dramatização da história “Chapeuzinho Vermelho” – ensaiei e organizei para que as próprias crianças encenassem. Não saiu do jeito que eu queria, mas foi muito engraçado. Fiz penteados e coloquei perucas de pano. Para o personagem do lobo mau, fiz a máscara. Foi aproximadamente 5 minutos de encenação, todos riram bastante.
Depois organizei a história do João e o Pé de Feijão, utilizando o livro ilustrado. Queria ter feito com eles a plantação de feijão, mas achei-os muito pequenos e é perigoso trabalhar certos grãos com crianças de 2 anos (eles podem colocar no nariz ou no ouvido), então achei melhor ficar apenas com a história e ilustração de desenhos.
Sei que eu poderia ter explorado outras histórias, mas vou dar continuidade uma vez por mês, para que as crianças não percam o hábito de contar, recontar e ler diferentes histórias.
Gostei de trabalhar este projeto, foi uma semana bem produtiva e espero ter contribuído para abranger os conhecimentos referentes a histórias infantis para minhas crianças de 2 a 3 anos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Módulo IV, unidades 5 e 6 de Fundamentos de Educação e Organização do Trabalho Pedagógico. Proinfantil – 2007.
Coleção Clássicos de Ouro. Editora Brasil Leitura. São Paulo.
Alfabetização sem Segredos. Arte na Pré-escola e no Ensino Fundamental vol. 4. Editora Iemar. São Paulo.
Autor: Patrícia Gomes Fleuri
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