As Estruturas de Personalidade
Descubra como as estruturas de personalidade podem ajudar você a se conhecer melhor e a criar relacionamentos mais significativos. Descubra as formas de reconhecer o padrão de personalidade de alguém e aproveite essa informação para se conectar com seus entes queridos. Venha conhecer as estruturas de personalidade!
Neste artigo, mostra-se um pouco da teoria de Freud em relação à personalidade, suas características, evolução e estruturas.
Pode-se ver que nem sempre a personalidade é normal, tendo assim, às vezes, algumas anomalias, precisando de tratamentos específicos.
Tem-se uma ideia melhor do que seria a personalidade de cada ser humano, como ela se desenvolve e em que período isso ocorre.
Notando que não somente Freud fez estudos da personalidade, mas também Carl Rogers e Lacan, os quais tinham diferentes teorias e ideias do que seria a personalidade. Para entender melhor as contribuições de Freud, você pode conferir a teoria de Piaget e como ela se relaciona com a psicologia do desenvolvimento.
Sigmund Freud
Nascido em 06 de maio de 1856, em Freiberg, na Morávia. Estudou em Viena. Aluno de Brücke, o fisiologista. Formou-se em medicina em 1881. Aluno de Charcot em Paris, 1885-1886. Habilitação e nomeação como Privatdozent, 1885. Trabalhou como médico e Dozent na Universidade de Viena a partir de 1886. Indicado como Professor Extraordinarius, 1897. Antes disso, Freud produziu textos sobre histologia e anatomia cerebral e, subsequentemente, trabalhos clínicos sobre neuropatologia; traduziu obras de Charcot e Bernheim. Em 1884, “Über Coca” (Sobre a Coca), artigo que apresentou a cocaína à medicina. Em 1891, “Über Auffassung der Aphasien” (Sobre a Interpretação das Afasias). Em 1891 e 1893, monografias sobre as paralisias cerebrais infantis, que culminaram em 1897 no volume sobre esse assunto no Handbuch de Nothnagel. Em 1895, “Studien über Hysterie” (Estudos sobre a Histeria, com o Dr. J. Breuer). Desde então, Freud voltou-se para o estudo das psiconeuroses, especialmente da histeria, e numa série de trabalhos mais curtos enfatizou a importância etiológica da vida sexual para as neuroses. Desenvolveu também uma nova psicoterapia da histeria, sobre a qual muito pouco foi publicado. Um livro, “Die Traumdeutung” (A Interpretação dos Sonhos), está no prelo.
Personalidade
O que é personalidade?
Termo utilizado para designar a organização dinâmica do conjunto de sistemas psicofísicos que determinam os ajustamentos do indivíduo ao meio em que vive. Possui várias características:
- É única, própria a um só indivíduo, ainda que este tenha traços comuns a outros indivíduos.
- É uma integração das diversas funções, e mesmo que esta integração não esteja concretizada, existe uma tendência à integração que confere à personalidade o caráter de centro organizador.
- É temporal, pois é sempre a de um indivíduo que vive historicamente.
Não é estímulo nem resposta, mas uma variável intermediária que se afirma, portanto, como um estilo pela conduta.
Estrutura da personalidade
As observações de Freud revelaram uma série interminável de conflitos e acordos psíquicos. A um instinto opunha-se outro. Eram proibições sociais que bloqueavam pulsões biológicas e os modos de enfrentar situações frequentemente chocavam-se uns com os outros.
Ele tentou ordenar este caos aparente propondo três componentes básicos estruturais da psique: o Id, o Ego e o Superego.
O id
O Id contém tudo o que é herdado, que se acha presente no nascimento e está presente na constituição, acima de tudo os instintos que se originam da organização somática e encontram expressão psíquica sob formas que nos são desconhecidas. O Id é a estrutura da personalidade original, básica e central do ser humano, exposta tanto às exigências somáticas do corpo quanto às exigências do ego e do superego.
As leis lógicas do pensamento não se aplicam ao Id, havendo assim, impulsos contrários lado a lado, sem que um anule o outro, ou sem que um diminua o outro (1933, livro 28, p. 94 na ed. bras.). O Id pode ser associado a um cavalo cuja força é total, mas que depende do cavaleiro para usar de modo adequado essa força. Os conteúdos do Id são quase todos inconscientes, eles incluem configurações mentais que nunca se tornaram conscientes, assim como o material que foi considerado inaceitável pela consciência. Um pensamento ou uma lembrança, excluído da consciência mas localizado na área do Id, será capaz de influenciar toda a vida mental de uma pessoa e a personalidade.
O ego
O Ego é a parte do aparelho psíquico que está em contato com a realidade externa. O Ego se desenvolve a partir do Id, à medida que a pessoa vai tomando consciência de sua própria identidade, vai aprendendo a aplacar as constantes exigências do Id. Como a casca de uma árvore, o Ego protege o Id, mas extrai dele a energia suficiente para suas realizações. Ele tem a tarefa de garantir a saúde, segurança e sanidade da personalidade.
Uma das características principais do Ego é estabelecer a conexão entre a percepção sensorial e a ação muscular, ou seja, comandar o movimento voluntário. Ele tem a tarefa de auto-preservação. Com referência aos acontecimentos externos, o Ego desempenha sua função dando conta dos estímulos externos, armazenando experiências sobre eles na memória, evitando o excesso de estímulos internos (mediante a fuga), lidando com estímulos moderados (através da adaptação) e aprendendo, através da atividade, a produzir modificações com referência aos acontecimentos internos, ou seja, em relação ao Id, o Ego desempenha a missão de obter controle sobre as exigências dos instintos, decidindo se elas devem ou não ser satisfeitas, adiando essa satisfação para ocasiões e circunstâncias mais favoráveis ou suprimindo inteiramente essas excitações. O Ego considera as tensões produzidas pelos estímulos, coordena e conduz estas tensões adequadamente. A elevação dessas tensões é, em geral, sentida como desprazer e a sua redução como prazer. O Ego se esforça pelo prazer e busca evitar o desprazer.
Assim sendo, o Ego é originalmente criado pelo Id na tentativa de melhor enfrentar as necessidades de reduzir a tensão e aumentar o prazer. Contudo, para fazer isto, o Ego tem de controlar ou regular os impulsos do Id, de modo que a pessoa possa buscar soluções mais adequadas, ainda que menos imediatas e mais realistas.
O superego
Esta última estrutura da personalidade se desenvolve a partir do Ego. O Superego atua como um juiz ou censor sobre as atividades e pensamentos do Ego, é o depósito dos códigos morais, modelos de conduta e dos parâmetros que constituem as inibições da personalidade. Freud descreve três funções do Superego: consciência, auto-observação e formação de ideais.
Enquanto consciência pessoal, o Superego age tanto para restringir, proibir ou julgar a atividade consciente, porém, ele também pode agir inconscientemente. As restrições inconscientes são indiretas e podem aparecer sob a forma de compulsões ou proibições.
O Superego tem a capacidade de avaliar as atividades da pessoa, ou seja, da auto-observação, independentemente das pulsões do Id para tensão-redução e independentemente do Ego, que também está envolvido na satisfação das necessidades. A formação de ideais do Superego está ligada a seu próprio desenvolvimento. O Superego de uma criança é, com efeito, construído segundo o modelo não de seus pais, mas do Superego de seus pais; os conteúdos que ele encerra são os mesmos e torna-se veículo da tradição e de todos os duradouros julgamentos de valores que dessa forma se transmitiram de geração em geração.
Relações entre os três subsistemas
A meta fundamental da psique é manter e recuperar, quando perdido, um nível aceitável de equilíbrio dinâmico que maximiza o prazer e minimiza o desprazer. A energia que é usada para acionar o sistema nasce no Id, que é de natureza primitiva e instintiva. O Ego, emergindo do Id, existe para lidar realisticamente com as pulsões básicas do Id e também age como mediador entre as forças que operam no Id e no Superego e as exigências da realidade externa. O Superego, emergindo do Ego, atua como um freio moral ou força contrária aos interesses práticos do Ego. Ele fixa uma série de normas que definem e limitam a flexibilidade deste último.
O Id é inteiramente inconsciente, o Ego e o Superego o são em parte. Grande parte do Ego e do Superego pode permanecer inconsciente e é normalmente inconsciente. Isto é, a pessoa nada sabe dos conteúdos dos mesmos e é necessário despender esforços para torná-los conscientes.
Os obstáculos ao crescimento
Ansiedade
Para Freud, o principal problema da psique é encontrar maneiras de enfrentar a ansiedade. Esta é provocada por um aumento, esperado ou previsto, da tensão ou desprezar, podendo se desenvolver em qualquer situação (real ou imaginada), quando a ameaça a alguma parte do corpo ou da psique é muito grande para ser ignorada, dominada ou descarregada.
As situações prototípicas que causam ansiedade incluem as seguintes:
- Perda de um objeto desejado. Por exemplo, uma criança privada de um dos pais, de um amigo íntimo ou de um animal de estimação.
- Perda de amor. A rejeição ou o fracasso em reconquistar o amor, por exemplo, ou a desaprovação de alguém que lhe importa.
- Perda de identidade. É o caso, por exemplo, daquilo que Freud chama de medo de castração, da perda de prestígio, de ser ridicularizado em público.
- Perda de auto-estima. Por exemplo, a desaprovação do Superego por atos ou traições que resultam em culpa ou ódio em relação a si mesmo.
A ameaça desses ou de outros eventos causa ansiedade e haveria, segundo Freud, dois modos de diminuir a ansiedade. O primeiro modo seria lidando diretamente com a situação. Resolvemos problemas, superamos obstáculos, enfrentamos ou fugimos de ameaças, e chegamos a um termo de um problema a fim de minimizar seu impacto. Desta forma, lutamos para eliminar dificuldades e diminuir probabilidades de sua repetição, reduzindo, assim, as perspectivas de ansiedade adicional no futuro.
A outra forma de defesa contra a ansiedade deforma ou nega a própria situação. O Ego protege a personalidade contra a ameaça, falsificando a natureza desta. Os modos pelos quais se dão as distorções são denominados Mecanismos de Defesa.
Mecanismos de defesa
Os principais Mecanismos de Defesa psicológicos descritos são: repressão, negação, racionalização, formação reativa, isolamento, projeção, regressão e sublimação (Anna Freud, 1936; Fenichel, 1945). Todos estes mecanismos podem ser encontrados em indivíduos saudáveis, e sua presença excessiva é, via de regra, indicação de possíveis sintomas neuróticos.
A presença dos mecanismos é frequente em indivíduos saudáveis, mas, em excesso, é indicação de sintomas neuróticos ou, em alguns casos extremos, o excesso indicaria até sintomas psicóticos, e principalmente, o excesso dos mecanismos de projeção, negação da realidade e clivagem do Ego.
Repressão
A repressão afasta da consciência um evento, ideia ou percepção potencialmente provocadores de ansiedade e impede, dessa forma, qualquer “manipulação” possível desse material.
Segundo Freud, a repressão nunca é realizada de uma vez por todas e definitivamente, mas exige um contínuo consumo de energia para se manter o material reprimido. Para ele, os sintomas histéricos frequentemente têm sua origem em alguma antiga repressão. Algumas doenças psicossomáticas, tais como asma, artrite e úlcera, também poderiam estar relacionadas com a repressão.
Negação
Negação é a tentativa de não aceitar na consciência algum fato que perturba o Ego. Os adultos têm a tendência de fantasiar que certos acontecimentos não são, de fato, do jeito que são, ou que na verdade nunca aconteceram. Este vôo de fantasia pode tomar várias formas, algumas das quais parecem absurdas ao observador objetivo.
Para exemplificar a Negação, Freud citou Darwin, que em sua autobiografia dizia obedecer a uma regra de ouro: sempre que eu deparava com um fato publicado, uma nova observação ou pensamento, que se opunha aos meus resultados gerais, eu imediatamente anotava isso sem errar, porque a experiência me ensinou que tais fatos e pensamentos fogem da memória com muito maior facilidade que os fatos que nos são totalmente favoráveis.
Racionalização
Racionalização é o processo de achar motivos lógicos e racionais aceitáveis para pensamentos e ações inaceitáveis.
Racionalização é um modo de aceitar a pressão do Superego, de disfarçar verdadeiros motivos, de tornar o inaceitável mais aceitável. Enquanto obstáculo ao crescimento, a Racionalização impede a pessoa de aceitar e de trabalhar com as forças motivadoras genuínas, apesar de menos recomendáveis.
Formação reativa
Esse mecanismo substitui comportamentos e sentimentos que são diametralmente opostos ao desejo real. Trata-se de uma inversão clara e, em geral, inconsciente do verdadeiro desejo. Como outros mecanismos de defesa, as formações reativas são desenvolvidas, em primeiro lugar, na infância.
Através da Formação Reativa, alguns pais são incapazes de admitir um certo ressentimento em relação aos filhos, acabam interferindo exageradamente em suas vidas, sob o pretexto de estarem preocupados com seu bem-estar e segurança. Nesses casos, a superproteção é, na verdade, uma forma de punição. O esposo pleno de raiva contra sua esposa pode manifestar sua Formação Reativa tratando-a com formalidade exagerada: “não é querida…” A Formação Reativa oculta partes da personalidade e restringe a capacidade de uma pessoa responder a eventos e, dessa forma, a personalidade pode tornar-se relativamente inflexível.
Projeção
É um mecanismo de defesa através do qual os aspectos da personalidade de um indivíduo são deslocados de dentro deste para o meio externo.
A ameaça é tratada como se fosse uma força externa. A pessoa com projeção pode, então, lidar com sentimentos reais, mas sem admitir ou estar consciente do fato de que a ideia ou comportamento temido é dela mesma.
Sempre que caracterizamos algo de fora de nós como sendo mau, perigoso, pervertido, imoral e assim por diante, sem reconhecermos que essas características podem também ser verdadeiras para nós, é provável que estejamos projetando.
Pesquisas relativas à dinâmica do preconceito mostraram que as pessoas que tendem a estereotipar outras também revelam pouca percepção de seus próprios sentimentos.
Regressão
Regressão é um retorno a um nível de desenvolvimento anterior ou a um modo de expressão mais simples ou mais infantil. É um modo de aliviar a ansiedade escapando do pensamento realístico para comportamentos que, em anos anteriores, reduziram a ansiedade. Linus, nas histórias em quadrinhos de Charley Brown, sempre volta a um espaço psicológico seguro quando está sob tensão. Ele se sente seguro quando agarra seu cobertor, tal como faria ou fazia quando bebê.
A regressão é um modo de defesa bastante primitivo e, embora reduza a tensão, frequentemente deixa sem solução a fonte de ansiedade original.
Sublimação
A energia associada a impulsos e instintos socialmente e pessoalmente constrangedores é, na impossibilidade de realização destes, canalizada para atividades socialmente reconhecidas. A frustração de um relacionamento afetivo e sexual mal resolvido, por exemplo, é sublimada na paixão pela leitura ou pela arte.
Deslocamento
É o mecanismo psicológico de defesa onde a pessoa substitui a finalidade inicial de uma pulsão por outra diferente e socialmente mais aceita. Durante uma discussão, por exemplo, a pessoa tem um forte impulso em socar o outro, entretanto, acaba deslocando tal impulso para um copo, o qual atira ao chão.
Consciente, pré-consciente e inconsciente
Freud inicia seu pensamento teórico assumindo que não há nenhuma descontinuidade na vida mental. Ele afirmou que nada ocorre ao acaso e muito menos os processos mentais. Há uma causa para cada pensamento, para cada memória revivida, sentimento ou ação.
Cada evento mental é causado pela intenção consciente ou inconsciente e é determinado pelos fatos que o precederam. Uma vez que alguns eventos mentais “parecem” ocorrer espontaneamente, Freud começou a procurar e descrever os elos ocultos que ligavam um evento consciente a outro. O Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente.
Consciente
Segundo Freud, o consciente é somente uma pequena parte da mente, incluindo tudo do que estamos cientes num dado momento. O interesse de Freud era muito maior com relação às áreas da consciência menos expostas e exploradas, que ele denominava Pré-Consciente e Inconsciente.
Inconsciente
No inconsciente estão elementos instintivos não acessíveis à consciência. Além disso, há também material que foi excluído da consciência, censurado e reprimido. Este material não é esquecido nem perdido, mas não é permitido ser lembrado. O pensamento ou a memória ainda afetam a consciência, mas apenas indiretamente.
O inconsciente, por sua vez, não é apático e inerte, havendo uma vivacidade e imediatismo em seu material. Memórias muito antigas, quando liberadas à consciência, podem mostrar que não perderam nada de sua força emocional. Aprendemos pela experiência que os processos mentais inconscientes são em si mesmos intemporais. Isto significa, em primeiro lugar, que não são ordenados temporalmente, que o tempo de modo algum os altera, e que a ideia de tempo não lhes pode ser aplicada. Assim sendo, para Freud, a maior parte da consciência é inconsciente. Ali estão os principais determinantes da personalidade, as fontes da energia psíquica, as pulsões e os instintos.
Pré-consciente
Estritamente falando, o Pré-Consciente é uma parte do Inconsciente, uma parte que pode tornar-se consciente com facilidade. As porções da memória que nos são facilmente acessíveis fazem parte do Pré-Consciente. Estas podem incluir lembranças de ontem, o segundo nome, as ruas onde moramos, certas datas comemorativas, nossos alimentos prediletos, o cheiro de certos perfumes e uma grande quantidade de outras experiências passadas. O Pré-Consciente é como uma vasta área de posse das lembranças de que a consciência precisa para desempenhar suas funções.
Pulsões ou instintos
Instintos são pressões que dirigem um organismo para determinados fins particulares. Quando Freud usa o termo, ele não se refere aos complexos padrões de comportamento herdados dos animais inferiores, mas aos seus equivalentes humanos. Freud reconhecia os aspectos físicos dos instintos como necessidades, enquanto denominava seus aspectos mentais de desejos. Os instintos são as forças propulsoras que incitam as pessoas à ação.
Todo instinto tem quatro componentes: uma fonte, uma finalidade, uma pressão e um objeto. A fonte é quando emerge uma necessidade, podendo ser uma parte ou todo o corpo. A finalidade é reduzir essa necessidade até que nenhuma ação seja mais necessária, é dar ao organismo a satisfação que ele deseja no momento. A pressão é a quantidade de energia ou força que é usada para satisfazer o instinto e é determinada pela intensidade ou urgência da necessidade subjacente. O objeto de um instinto é qualquer coisa, ação ou expressão que permite a satisfação da finalidade original.
Enquanto as reações iniciais de busca podem ser instintivas, o ponto crítico a ser lembrado é que há a possibilidade de satisfazer o instinto de várias maneiras. A capacidade de satisfazer necessidades nos animais é, via de regra, limitada a um padrão de comportamento estereotipado de cada espécie. Os instintos humanos servem apenas para iniciar a ação. Mas esta, por sua vez, não é predeterminada pela biologia de nossa espécie e nem se caracteriza sempre numa determinada ação particular.
O número de soluções possíveis para um ser humano satisfazer uma finalidade instintiva é uma soma de sua necessidade biológica inicial, mais seu desejo mental (que pode ou não ser consciente) e mais uma grande quantidade de ideias anteriores, hábitos e opções disponíveis.
Freud assume que o modelo mental e comportamental normal e saudável tem a finalidade de reduzir a tensão a níveis previamente aceitáveis. As tensões são resolvidas pela volta do corpo ao nível de equilíbrio que existia antes da necessidade emergir.
Ao examinar analiticamente um determinado comportamento, Freud considerava que a pessoa procurava satisfazer, por essa atividade, suas pulsões psicofísicas subjacentes. Se observarmos pessoas comendo, supomos que elas estão satisfazendo sua fome, da mesma forma como se estão chorando, será provável que algo as perturbou. O trabalho analítico envolve a procura das causas dos pensamentos e comportamentos, de modo que se possa lidar de forma mais adequada com uma necessidade que está sendo imperfeitamente satisfeita por um pensamento ou comportamento particular.
Embora seja possível catalogar uma série ampla de instintos, Freud tentou reduzir esta diversidade a alguns instintos que chamou de básicos.
Instintos básicos
Num primeiro momento, Freud descreveu duas forças instintivas opostas, a sexual (erótica ou fisicamente gratificante) e a agressiva ou destrutiva. Suas últimas descrições, mais globais, encararam essas forças ou como mantenedoras da vida ou como incitadoras da morte. Essas formulações supõem dois conflitos instintivos básicos, biológicos, contínuos e não-resolvidos. Tal antagonismo básico não costuma ser visível ou consciente, e a maioria de nossos pensamentos e ações é evocada por estas ambas forças instintivas em combinação.
Freud impressionou-se com a diversidade e complexidade do comportamento que emerge da fusão das pulsões básicas.
Fases de desenvolvimento da personalidade
Freud concebia o processo de desenvolvimento da personalidade como contínuo. Os estádios mais decisivos do desenvolvimento ocorrem durante os cinco primeiros anos de vida, durante os quais se estabelece, em grande parte, a estrutura permanente. Acreditava na existência de uma sequência característica de estádios psico-sexuais, pelos quais passa a criança. Supunha que as diferenças individuais na personalidade adulta são, fundamentalmente, decorrentes da maneira específica pela qual a pessoa vive e lida com os conflitos despertados nesses estádios.
Fase oral
No primeiro ano de vida, a atenção da criança se centraliza, basicamente, nas zonas erógenas da boca. Obtém o prazer através da sucção. Se existe uma satisfação inadequada, ou se aparecem a angústia e a insegurança com relação à situação de mamar, pode haver uma fixação permanente de alguma energia da libido nas atividades orais. Isto pode provocar, na personalidade adulta, o chamado caráter oral, uma síndrome de traços que inclui dependência, passividade, gula, tendências excessivas para comportamento oral, como é o caso do hábito de fumar ou da tagarelice.
Fase anal
Durante o segundo e terceiro anos de vida, o interesse da criança se centraliza, fundamentalmente, na atividade anal, acentuada pelas exigências dos pais quanto ao controle das fezes e da urina, e pelos tabus ligados ao erotismo anal. Também aqui podem aparecer fixações anais duradouras, resultantes de punições pelo fracasso no controle da evacuação, de excessivas recompensas pelo controle eficiente, ou, de modo geral, das angústias provocadas pelas atividades anais.
Fase fálica
O interesse da criança se volta para os órgãos sexuais e para os prazeres ligados ao seu manuseio. (Freud escandalizou a sociedade vitoriana com a afirmação de que a sexualidade infantil, fantasia sexual e masturbação são universais, uma opinião que é, atualmente, mais geralmente aceita). Nessa fase ocorre, de maneira característica, o que Freud denominou o complexo de Édipo (de acordo com o mito clássico do rei Édipo, que, involuntariamente, matou seu pai e casou com sua mãe). Este é o “romance infantil”, no qual o menino, normalmente, dirige os seus sentimentos eróticos para sua mãe, e a menina os dirige para seu pai. E, ao se colocarem assim nos papéis imaginários de pai e mãe, respectivamente, o menino e a menina chegam a estabelecer as identificações primárias, das quais mais tarde se desenvolvem as complexas identificações masculinas e femininas que constituem uma grande parte da personalidade adulta. Entretanto, vicissitudes no desenvolvimento e a decomposição do complexo de Édipo podem provocar aberrações no desenvolvimento posterior da personalidade, tais como as que se manifestam na homossexualidade latente, nos problemas de autoridade, na rejeição dos papéis masculinos e femininos adequados.
Fase da latência
O período entre os cinco aos dez anos de idade. A sexualidade, que permanece reprimida durante este período, aguarda a eclosão da puberdade para ressurgir. Enquanto a sexualidade permanece adormecida, as grandes conquistas da etapa serão situadas nas realizações intelectuais e na socialização.
Fase genital
Durante a qual o adolescente sente uma mudança de interesse: deixa de interessar-se por si mesmo como o objeto primário, e volta-se para as outras pessoas e coisas como objetos importantes. Assim, surgem as ligações heterossexuais, e a pessoa adquire, gradualmente, interesse pela vida madura. Alcançar a fase genital constitui, para a psicanálise, atingir o pleno desenvolvimento do adulto normal.
Transtornos de personalidade
Transtorno da Personalidade é um padrão persistente de vivência íntima ou comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é invasivo e inflexível, tem seu início na adolescência ou começo da idade adulta, é estável ao longo do tempo e provoca sofrimento ou prejuízo.
Paranóide
É um padrão de desconfiança e suspeitas, de modo que os motivos dos outros são interpretados como malévolos.
Esquizóide
É um padrão de distanciamento dos relacionamentos sociais, com uma faixa restrita de expressão emocional.
Esquizotípica
É um padrão de desconforto agudo em relacionamentos íntimos, distorções cognitivas ou da percepção de comportamento excêntrico.
Antissocial
É um padrão de desconsideração e violação dos direitos dos outros.
Borderline
Borderline é um padrão de instabilidade nos relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos, bem como de acentuada impulsividade.
Histriônica
É um padrão de excessiva emotividade e busca de atenção.
Narcisista
É um padrão de grandiosidade, necessidade por admiração e falta de empatia.
Esquiva
É um padrão de inibição social, sentimentos de inadequação e hiper-sensibilidade a avaliações negativas.
Dependente
É um padrão de comportamento submisso e aderente, relacionado a uma necessidade excessiva de proteção e cuidados.
Obsessivo-compulsiva
É um padrão de preocupação com organização, perfeccionismo e controle.
Freud x Carl Rogers x Lacan
Freud e a Psicanálise
Freud baseou seus estudos na ideia de que o corpo é a fonte básica de toda experiência psíquica, acreditava que os fenômenos mentais estavam intensamente relacionados à fisiologia do cérebro.
Dizia que há uma causa para tudo, cada sentimento e ação. Tudo é causado por uma intenção consciente ou inconsciente e determinado por fatos antecedentes.
Para ele, a mente se divide em consciente e inconsciente. O inconsciente armazena os instintos e desejos aos quais a consciência não tem acesso e também o que foi censurado, que por alguma razão o sujeito não aceita e então reprime no seu inconsciente. São elementos vivos, que ao serem trazidos à consciência provocam grande força emocional.
É no inconsciente que se encontram os principais determinantes da personalidade, as pulsões e os instintos.
O pré-consciente faz parte do inconsciente, porém é a parte que se permite ser lembrada com facilidade, e a memória necessária para que o indivíduo realize suas funções, pois é nela que se armazenam nomes, números, datas, experiências passadas, conhecimentos.
Carl Rogers e a ACP
Carl Rogers, com sua teoria da abordagem centrada no cliente, rompeu com o ortodoxismo da psicanálise da época.
Seu desenho teórico fundamentava-se no princípio de que o homem tem uma tendência inata para desenvolver todas as suas capacidades, o sujeito tem pleno poder de se construir e evoluir totalmente corpo e mente.
Para Rogers, o psiquismo do indivíduo se divide em self (o eu) e suas experiências, crenças, sentimentos e desejos.
O self nasce com a necessidade de ser amado, desejado, para isso, muitas vezes ele reprime seus sentimentos (negando algumas experiências) em prol do desejo do outro, assim, passa a forjar um falso self.
Com isso, o sujeito se torna incongruente, distônico com suas experiências, gerando desequilíbrio. A psicopatologia, para Rogers, pode ser originada desse desequilíbrio.
Esse falso self surge inconscientemente com uma tentativa do sujeito de ser aceito no seu meio.
A incongruência, que se assemelha ao que Freud chama de repressão, tem a ver com a incapacidade de autoconsciência (o self é incapaz de ver o quanto atingiu uma incongruência) e de comunicação (que é inautenticidade, o sujeito sabe o que sente, mas não consegue “colocar para fora”) que pode ser motivada pelo medo ou pela ambição de se conseguir algo (ex: o cinismo, quando falamos algo que não sentimos para conseguir algo em troca).
Quanto à atuação na clínica, Rogers achava que havia três princípios básicos que facilitavam a relação do terapeuta com o paciente.
A aceitação incondicional (o terapeuta deve se mostrar uma pessoa confiante incapaz de julgar o paciente pelos seus atos. “Aceitar o outro como ele é”).
A empatia (o paciente deve sentir que o terapeuta entende o que se passa com ele. “Ver a vida aos olhos do outro”).
A congruência (o sujeito deve ser fiel aos seus desejos. É o elemento de sintonia entre o self e suas experiências).
Porém, a postura do terapeuta não depende de técnicas, apenas desses princípios gerais que devem ser aplicados em quaisquer terapias, seja com velhos, crianças, pobres, ricos…
Quando falava em sintoma, Rogers dizia que ele surge como uma alternativa do indivíduo satisfazer sua experiência, ele surgiria para aliviar a pressão da incongruência.
Diferente de Freud, que diz na psicologia do desejo que o sujeito é fálico, busca sempre algo que o preencha; Rogers dizia que como o sujeito já nasce com sua experiência, crenças e sentimentos, ele deseja algo que o afirme, é uma teoria vitalícia da ação.
Lacan
A obra de Lacan tem base bastante filosófica, usando a lingüística de Saussure, a antropologia de Lévi-Strauss e a dialética de Hegel.
Ele utiliza a lingüística como elemento fundamental na psicanálise, a linguagem determina o sentido e o desejo do indivíduo.
Para Lacan, o inconsciente se estrutura como a linguagem, que é assimilada arbitrariamente como metáfora (condenação) e metonímia (deslocamento).
O significante (que é a marca gráfica, a palavra em si) e o significado (que é a ideia associada à palavra, seu significado) estruturam o inconsciente.
Ou seja, a metáfora leva o indivíduo a associar a imagem de um lobo ao homem. A metáfora é a semelhança e a metonímia a continuidade.
Para Lacan, a linguagem é intermediária entre o sujeito e o objeto.
Já nos primeiros meses de vida, o indivíduo se vê como um ser fragmentado que se associa com o meio, sendo parte de um todo, porém, aproximadamente aos seis meses, o bebê entra na fase do espelho, onde passa a se ver sob o olhar do outro e a se estruturar a partir dele.
Numa fase, a criança passa a ter sua ideia de unidade e assim alivia sua angústia de ser fragmentada.
Porém, para Lacan, o sujeito se vê como algo imaginário, algo que pode vir a ser dependendo do desejo da mãe.
Essa fase do espelho é, para Lacan, a que determina a estruturação do indivíduo, pois ela mostra que o ser deseja ser objeto de desejo do outro, sendo assim, o bebê tenta suprir as necessidades e expectativas da mãe.
Conclusão
As pessoas, geralmente, reconhecem a personalidade uma das outras através dos comportamentos que são exibidos, com grande frequência, por elas. A sociedade, ao observar o comportamento das pessoas, pode aprová-lo ou desaprová-lo, implicando em um controle social (membros considerados desapropriados sofrem profundas repressões).
Podemos perceber que a sociedade, portanto, é a maior influenciadora da personalidade, pois ela força seus membros, que são considerados desapropriados, a mudarem seus hábitos e comportamentos, a fim de enquadrá-los em seus padrões e regras.
Ao desempenhar papéis aceitos pela sociedade, as pessoas podem estar anulando sua verdadeira personalidade, que mostra por que, hoje em dia, os indivíduos sentem tanta dificuldade de encontrar seu verdadeiro eu. Porém, vale lembrar que o homem também é a sociedade e que ele também a mantém e determina.
Foi possível ver que Freud foi quem deu início à psicanálise, e que com estudos comprovou que a personalidade se desenvolve durante os cinco primeiros anos de vida, e que o ambiente onde se vive e os conflitos despertados nesta fase interferem bastante no desenvolvimento da pessoa.
Assim sendo, a Psicanálise, (o estudo e a ciência do Inconsciente) não tinha somente interesse médico, mas interessava agora a todas as ciências do Homem, assim como, todos os Homens.
Referências bibliográficas
PEIXOTO, Paulo Matos. Enciclopédia Universal Paumape. Vol. 7, Vol. 11. Editora Paumape LTDA.
FADIMAN, J. Teorias da Personalidade. Editora Harbra
Site: www.psiqweb.med.br
Site: www.gballone.sites.uol.com.br/freud
Nova Enciclopédia Barsa – São Paulo – Editorial Ltda. 2001
Autor: Karin Aline Hofmann