O CIDADÃO DE PAPEL
Este livro mostra de forma bem real o que está por trás de uma sociedade que produz crianças de rua. É uma viagem pelas engrenagens do colapso social, em que a infância é a maior vítima e a violência, uma conseqüência natural. Relata a sociedade em que estamos inseridos, sociedade esta, que possui a verdadeira “cidadania de papel”, ou seja, cidadania que apresentam quase sempre os direitos assegurados quase sempre no papel.
A criança é o elo mais fraco e exposto da cadeia social, e ao mesmo tempo é o futuro do nosso país. Nenhuma nação consegue progredir sem investir na educação, o que significa investir no futuro do país: a infância. A situação da infância é um fiel espelho de nosso estágio de desenvolvimento econômico, social e político.
Nos dias de hoje, existe um imenso problema difícil de ser resolvido: a violência. Um problema que se torna cada dia mais comum e que acarreta no desenvolvimento de nosso país, pois, as principais vítimas são as crianças e jovens.
São muitos os fatores que geram a violência, um deles citados no livro é a má distribuição de renda no país. O Brasil é classificado entre os países com pior distribuição de renda do mundo, ao lado do Panamá, Botsuana, Quênia, Zâmbia e Costa do Marfim. È considerada pobre a família com rendimento per capita igual ou inferior a meio salário mínimo por mês.
A pobreza provoca uma “infecção” chamada desintegração familiar, e ela vêm junto com a violência. Muitas vezes, meninos dizem que preferem morar na rua à viver em casa com seus pais, e é assim que fogem das agressões provocadas pelos próprios pais.
O conceito de democracia significa não apenas possuir direitos políticos iguais, mas também ter maior acesso a renda nacional. Isso garantiria maiores condições de igualdade, é o que se chama de justiça social, cidadania.
É preciso entender bem o que é cidadania para que a situação do país melhore e para que todos se tornem bons cidadãos. Para ser um bom cidadão deve-se compreender quais são os direitos e ainda exercer deveres. A cidadania é vista como o direito de se viver decentemente.
A situação do país é tão “precária” que hoje, até bebês são assassinados. Isso se insere na violência doméstica, provocada pelos mais variados motivos, que vão dos sintomas de depressão, alcoolismo e drogas, desestrutura familiar, desequilíbrio mental e até as necessidades econômicas (desemprego).
Pesquisas apontadas no livro mostram que o número de meninos de rua vêm aumentando radicalmente. È a prova da carência de cidadania de todo um país, que em uma imensa quantidade de garantias não saiu do papel. O menino de rua é um espelho ambulante da história do Brasil.
O aspecto mais dramático é o fato de que esses jovens que optam à viver na rua, na maioria das vezes entram para o caminho do crime e das drogas, e quase nunca retornam à vida de estudo e trabalho.
Impulsionados pela indignação, um grupo de parlamentares resolveu criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), para investigar denúncias de violência contra crianças, sua função é esclarecer os problemas, revelar as causas e propor as devidas soluções. Em 1996. uma CPI revelou que muitas crianças vindas de famílias miseráveis sofriam de exploração sexual e maus tratos, um crime praticado pelos próprios pais.
Na rua, é muito comum os meninos experimentarem as drogas. Drogados, eles não conseguem levar uma vida normal em sociedade. Indefesos, entram para o crime organizado, dirigido por adultos e muitos viram traficantes e morrem em brigas de quadrilhas.
Está provado que violência só gera mais violência. A rua serve para a criança como uma escola preparatória. Do menino marginal esculpe-se um adulto marginal, talhado diariamente por uma sociedade violenta que lhe nega condições básicas de vida. Por trás de um garoto abandonado existe um adulto abandonado, e isso se torna um círculo vicioso, em que todos são vítimas, em maior ou em menor escala.
A infância marginal significa entender porque um menino vai para a rua e não para a escola, e é também entender a história do Brasil, marcada pelo descaso das elites em relação aos menos privilegiados.
Segundo o livro, historicamente, a questão do menino de rua aparece como conseqüência direta da escravidão. E uma das heranças da escravidão é o preconceito, principalmente contra os negros, o que gera mais revolta entre os jovens negros e faz com que eles optem para o caminho das ruas.
A questão econômica do país também não é satisfatória. Durante o regime militar, o Brasil tinha o oitavo PIB (Produto Interno Bruto que mede e controla o que o país produz durante o ano, ou seja a riqueza de um país) do mundo, hoje se encontra na décima primeira posição devido as recentes crises econômicas decorrentes da globalização.
Há uma série de estatísticas que mostram a diferença entre o desenvolvimento econômico e social, a mais reveladora delas é a taxa de mortalidade infantil que cresceu rapidamente nos últimos anos.
Devido à esses e outros problemas aqui citados, o Brasil está abaixo de onde poderia estar, porém, houve uma evolução, houve uma melhoria das campanhas de vacinação, descoberta de novos medicamentos, avanço na medicina…
Outro fato preocupante é a exploração de menores. Um relatório feito pela ONU (Organização das Nações Unidas) revelou que há duzentos milhões de crianças exploradas no trabalho, submetidas à prostituição ou vendidas em adoções comerciais para famílias ricas. Alguns têm até os órgãos de seu corpo retirados para transplantes.
O autor frisa outro sério problema que conseqüentemente gera a violência: o desemprego. Depois da guerra, certamente é o problema que provoca danos mais generalizados no nível de vida das pessoas. Todos sabemos que o desemprego aumentou e aumenta a cada dia, mas poucos, sabem que ele aumentou espantosamente entre os jovens, o que é “caldo” para a formação de delinqüentes.
Com a globalização, aumentou a competição e o risco de desemprego, pois veio o impacto das novas tecnologias que substituem o homem por máquinas.
Enfim, a crise afeta todo mundo, mas de modo diferente. E é importante lembrar que nem tudo são más notícias, a despeito das dificuldades, há muitas pessoas, grupos, entidades atuando junto à criança e ao adolescente e assim obtendo resultados positivos.
Autor: Kamila Moraes Eidt
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