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Atualizado em 09/08/2024

Crônica: Contact Call Center

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Ontem, o telefone de uma empresa do extremo sul irritou minha vizinha, porque queria irritar-me. Alguém queria falar comigo.

Quem? A propósito, era interurbano. Como vai, senhor? Vou bem. A que devo? Antes, por favor, como conseguiu localizar-me?

Graças à modernidade, informática, Facebook, e-mail, YouTube, salas, copas e cozinhas de relacionamento (e olhe que não tenho nada disso, e se pudesse escolher para comunicar-me, seria tupi-guarani e latim). Ah, então, foi cruzamento de dados de bancos… Não posso mais me esconder dos sulistas.

Recomendei que não mais me ligassem com nenhum propósito, a não ser trazer notícias dos mais antigos filósofos, que são minha paixão, e nunca os encontrei ao vivo. Nos “vemos” por livros.

A senhora pode confirmar alguns dados? Graças a Deus, alguns dados ainda estavam seguros. Como não desejasse confirmar nada, acabei desligando o telefone. Voltaram a ligar e achei que estavam me tomando por outra pessoa, é evidente, mas assim que ele declinou meu nome, voltei à condição de possível cliente. Mas, para minha surpresa, ele garantiu: “tia (não imaginei que no sul eu seria tia, pois sou no sudeste e fui mainha no nordeste), soltastes os cascos”. Cascos? O golpe com certeza não era para mim. Revidei automaticamente.

– Não tenho cascos. E em contrapartida… Sua mãe tem. Nem respirei fundo. Tenho respirado fundo a minha vida inteira. Parti para cima com verbetes. Tirei o anel de doutor. Pois fiquem sabendo que sei como tratar tipos assim. Não tenho cascos (que me desculpem os animais de cascos, tão necessários) que este cidadão desnecessário vai ter o que merece. E saiba que sou capixaba e, na minha terra, cascos só em animais.

Ao perceber a deselegância e derreter-se em pedidos de desculpas, desnecessário, humildemente informou que “cascos” eram regionalismo (nervoso, irritado, cansado…). Quase me rendi à explicação tão fraca. Pensei na minha vida inteira e voltei a respirar fundo. Regionalismo? Ora essa! Você nunca ouviu dizer “que em Roma… como os romanos?” Ora, não me subestime. Conheço os catarinas e você está se esquivando da gafe. Percebi que finalmente poderia recolocar o anel, pois o catarina já estava sem jeito. Regionalismo? É doutrina. É caráter. Não é desculpa.

E vou citar para esse sujeito um regionalismo de minha terra: “telefonou, não se comunicou, recicle, vai executar um /Project Web/ Access”. Morou?

Autora: Aurea Mendonca Coelho Goncalves


Este texto foi publicado na categoria Cultura e Expressão Artística.

 About Pedagogia ao Pé da Letra

Sou pedagoga e professora pós-graduada em educação infantil, me interesso muito pela educação brasileira e principalmente pela qualidade de ensino. Primo muito pela educação infantil como a base de tudo.

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