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Comparando a teoria de Piaget e Vygotsky

Descubra a diferença entre a teoria da aprendizagem de Piaget e Vygotsky. Saiba como essas duas abordagens diferentes podem ajudar seus alunos a atingirem seu potencial máximo.

Comparando a teoria de Piaget e Vygotsky

Jean Piaget

Piaget estuda paralelamente o desenvolvimento cognitivo, o julgamento moral e a linguagem, conseguindo perceber a relação entre as estruturas cognitivas e o desenvolvimento social.

Nos estágios do desenvolvimento psíquico, Piaget distinguiu aspectos diferenciados, aos quais relacionamos: as funções de conhecimento, que são responsáveis pelo conhecimento que se tem do mundo e que incluem o pensamento; as funções de representação, que incluem todas as funções graças às quais representamos um significado qualquer, usando um significante determinado; e as funções afetivas, que constituem, para Piaget, o motor do desenvolvimento cognitivo.

O desenvolvimento dessas funções, segundo Piaget, é marcado por períodos que preparam o indivíduo para o estágio seguinte.

Os estágios do desenvolvimento cognitivo são:

  • Estágio Sensório-Motor: que representa a conquista do universo prático, através da percepção e dos movimentos.
  • Estágio Pré-Operatório: que é uma preparação e organização das operações concretas; a criança volta-se para a realidade e surge o aparecimento da linguagem.
  • Estágio Operatório: as ações são interiorizadas e se constituem operações; o que construía no plano da ação, agora consegue reconstruir no campo da representação. É neste estágio que a criança é capaz de cooperar.
  • Estágio de Operações Formais: que distingue entre o real e o possível.

Lev Semenovich Vygotsky

Para Vygotsky, a aprendizagem sempre inclui relações entre as pessoas.

Segundo a tradição marxista, Vygotsky considera que as mudanças que ocorrem em cada um de nós têm sua raiz na sociedade e na cultura.

A relação do indivíduo com o mundo está sempre mediada pelo outro. Para fazer a mediação, o homem também se utiliza de instrumentos, como, por exemplo, o machado para o lenhador.

No campo psicológico, o homem também se utiliza de instrumentos, só que agora chamados de “signos”, que por sua vez também são, por Vygotsky, chamados de “instrumentos psicológicos”.

O signo é uma marca externa que auxilia o homem em tarefas que exigem memória ou atenção, como fazer uma lista de compras por escrito.

Com o tempo, a utilização de marcas externas vai dar lugar a processos internos de mediação, chamados de processo de internalização.

As possibilidades de operação mental não constituem uma relação direta com o mundo real fisicamente presente; a relação é mediada pelos signos internalizados que representam os elementos do mundo, libertando o homem da necessidade de interação concreta com os objetos de seu pensamento.

Um dos instrumentos básicos que temos é a linguagem, onde Vygotsky trabalha com duas funções básicas: intercâmbio social – criação e utilização de sistemas de linguagem, que o homem utiliza para se comunicar com os seus semelhantes; e o pensamento generalizante, onde a linguagem ordena o real, agrupando todas as ocorrências de uma mesma classe de objetos sob uma mesma categoria conceitual.

Antes de o pensamento e a linguagem se associarem, existe uma fase pré-verbal e uma fase pré-intelectual. Após, os processos de desenvolvimento do pensamento e da linguagem se unem, surgindo assim o pensamento verbal e a linguagem intelectual. Podemos ainda dizer que é no significado da palavra que o pensamento e a fala se unem em pensamento verbal, mas não podemos nos esquecer de que os significados continuam a ser transformados durante todo o desenvolvimento do indivíduo.

Deste modo, é a função generalizante da linguagem que a torna um instrumento do pensamento.

A partir das concepções descritas acima, Vygotsky construiu o conceito de zona de desenvolvimento proximal, que é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas pela criança, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado pela solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros.

Concluímos assim dizendo que, para Vygotsky, as relações entre aprendizagem e desenvolvimento são indissociáveis.

Diferenças teóricas entre Piaget e Vygotsky

Comparando a teoria de Piaget e a de Vygotsky, poderemos notar as diferenças existentes entre elas.

Entre estas diferenças, podemos destacar que a teoria de Piaget é construtivista, com ênfase no papel estruturante do sujeito, e também que Piaget reformou em bases funcionais as questões sobre pensamentos e linguagem. Por ser ao mesmo tempo pensador e cientista experimental, a Piaget interessava uma visão transformadora da epistemologia.

Apesar de a teoria de Vygotsky também apresentar um aspecto construtivista, seria na medida em que busca explicar o aparecimento de inovações e mudanças no desenvolvimento a partir do mecanismo de internalização.

Por outro lado, Vygotsky enfatiza o aspecto interacionista, pois considera que é no plano intersubjetivo, isto é, na troca entre as pessoas, que têm origem as funções mentais superiores, que são mecanismos psicológicos complexos, que envolvem controle consciente de comportamento, ação intencional e liberdade do indivíduo em relação às características do presente momento.

A teoria de Piaget também apresenta a dimensão interacionista, mas sua ênfase é colocada na interação do sujeito com o objeto físico, onde a criança, observando este objeto, aprende a afirmar unicamente o que percebe, a distinguir o que é real do que é produto da imaginação e consequência da afetividade, que influencia seu juízo; além disso, não está clara em sua teoria a função da interação social no processo de conhecimento.

Para Piaget, a criança se apodera de um conhecimento se “agir” sobre ele, pois aprender é modificar, descobrir, inventar.

Para Vygotsky, a aprendizagem sempre inclui relações entre as pessoas. A relação do indivíduo com o mundo está sempre mediada pelo outro. Este processo de mediação, ou melhor dizendo, os mediadores, sempre estarão entre o homem e o mundo real; estes mediadores são: Instrumentos e Signos.

Os estudos de Vygotsky sobre a aquisição de linguagem como fator histórico e social enfatizam a importância da interação e da informação linguística para a construção do conhecimento. O centro do trabalho passa a ser, então, o uso e a funcionalidade da linguagem, o discurso e as condições de produção.

Já para Piaget, o desenvolvimento cognitivo se dá pela assimilação do objeto de conhecimento a estruturas anteriores presentes no sujeito e pela acomodação dessas estruturas em função do que vai ser assimilado. A adaptação – que envolve a assimilação e a acomodação numa relação indissociável – é o mecanismo que permite ao homem não só transformar os elementos assimilados, tornando-os parte da estrutura do organismo, como possibilitar o ajuste e a acomodação deste organismo aos elementos incorporados. Quando o campo afetivo está afetado, a adaptação não acontece; a criança assimila, pode até acomodar, mas a adaptação vai estar cortada.

Outro fator desenvolvido na teoria de Piaget é a maturação, onde acreditava-se que o desenvolvimento estivesse predeterminado e o seu afloramento vinculado apenas a uma questão de tempo.

Por sua vez, Vygotsky criticou severamente este fator, pois acreditava que o desenvolvimento tinha sua origem nas capacidades humanas.

Outra divergência que notamos claramente é a respeito da fala egocêntrica. Enquanto que para Piaget é uma transição entre estados mentais individuais não verbais, de um lado, e o discurso socializado e o pensamento lógico de outro, para Vygotsky está claramente associada ao pensamento e indica que a trajetória da criança vai dos processos socializados para os processos internos.

Desta forma, podemos dizer que, para Vygotsky, o desenvolvimento é um processo que se dá de fora para dentro, já para Piaget, o desenvolvimento se dá de dentro para fora.

Bibliografia

GOULART, Íris B. Piaget: experiências básicas para utilização pelo professor. Ed. Vozes, 12º ed., 1997.

OLIVEIRA, Marta K. Vygotsky: Aprendizado e Desenvolvimento, um processo sócio-histórico. Ed. Scipione, 1993.

BOCK, Ana M. B.; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria L.T.- Psicologias: Uma Introdução ao estudo de Psicologia. Ed. Saraiva, 1992.

Sugestões de leitura

Autor: Flávia Marcela da Costa

Para uma compreensão mais aprofundada sobre o desenvolvimento infantil, consulte o artigo sobre A Psicologia do Desenvolvimento.

Se você está interessado em entender mais sobre a importância da interação social na aprendizagem, não deixe de conferir o texto sobre Psicologia no Mundo.

Por fim, para saber mais sobre a relação entre afetividade e aprendizagem, explore o artigo sobre Afetividade e Emoção.


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