Bullying: A brincadeira que não tem graça
Todos os dias, alunos no mundo todo sofrem com um tipo de violência que vem mascarada na forma de “brincadeira”. Estudos recentes revelam que esse comportamento, que até há bem pouco tempo era considerado inofensivo, pode acarretar sérias consequências ao desenvolvimento psíquico dos alunos, gerando desde queda na autoestima até, em casos extremos, o suicídio e outras tragédias.
Todo mundo já testemunhou uma dessas “brincadeirinhas” ou foi vítima delas: intimidar, apelidar, humilhar, isolar, ofender, amedrontar, perseguir e bater. Mas esse comportamento, considerado normal por muitos pais, alunos e até professores, está longe de ser inocente. Ele é tão comum entre crianças e adolescentes que recebe até um nome especial: Bullying
Trata-se de um termo em inglês utilizado para definir maus-tratos não só entre alunos nas escolas, podendo ocorrer também entre irmãos, colegas de trabalho, ou seja, entre pares, pessoas com o mesmo nível de poder.
O Bullying no ambiente escolar caracteriza-se por atitudes agressivas (físicas ou verbais), intencionais e repetidas praticadas por um ou mais alunos contra outro. Não se trata de brincadeiras ou desentendimentos eventuais, pois os estudantes que são alvos de bullying sofrem esse tipo de agressão sistematicamente.
Durante o processo, são envolvidos três tipos de pessoas: o agressor, a vítima e as testemunhas.
O agressor é quem aplica os atos de bullying sobre os outros. Suas atitudes incluem agredir, ameaçar, amedrontar, apelidar, bater… São indivíduos com pouca empatia, que gostam de se ver cercados, admirados e temidos por outros alunos, assumindo posições de liderança negativa.
A vítima é quem sofre o bullying. Seus atos incluem não ter vontade de ir à escola, mudar frequentemente de trajeto, chegar machucado sem explicação, pedir para trocar de escola, parecer angustiado e deprimido, voltar do colégio com roupas e livros rasgados… Eles têm baixa autoestima, agravada pela indiferença dos adultos quanto ao seu sofrimento, não se integram ao grupo, abandonam os estudos, são passivos e quietos, pouco sociáveis e inseguros.
As testemunhas são todos que convivem em um ambiente de intimidação, ansiedade e medo gerado pelo bullying. Constituem a maioria dos alunos, calam-se em função do medo de se tornarem a “próxima vítima”, sentem-se incomodados com o que veem, inseguros sobre o que fazer e podem ter sua capacidade de desenvolvimento escolar prejudicada.
Entre 2002 e 2003, a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA) realizou um projeto, com o patrocínio da Petrobrás, cujos objetivos eram criar referências para os alunos que precisam de apoio e proteção (agressores e vítimas) e para que denunciem as violências sofridas ou testemunhadas, monitorar, avaliar e analisar a evolução do problema nas escolas, criar um programa modelar no combate ao bullying, incentivar o protagonismo juvenil, fortalecer e organizar ações já existentes nas escolas, reduzir o bullying nas escolas selecionadas, ensinar e debater com professores, pais e alunos formas de combater o bullying e evitar que essas situações aconteçam, com a intenção de criar uma cultura de paz nas escolas.
A pesquisa da ABRAPIA, que foi realizada com alunos de 11 escolas do Ensino Fundamental do Rio de Janeiro (nove públicas e duas particulares), entrevistou 7757 alunos de 5ª a 8ª séries, com idades entre 10 e 20 anos. Apresenta dados como o número de crianças e adolescentes que já foram vítimas de alguma modalidade de bullying.
Na primeira etapa da pesquisa, 41% dos alunos disseram ter sofrido ou cometido alguma forma de agressão física ou verbal. Na segunda, houve uma queda de 6%, e diminuiu em 35% o número de casos ocorridos dentro de sala de aula.
O bullying pode ocorrer no recreio, nos corredores do colégio, sala de aula (lugar com maior número de ocorrências), quadras e banheiros. Foi constatado que 60% das agressões aconteceram em um espaço em que existe uma autoridade presente e ainda foram descobertos casos de professores que reforçavam a violência, dando apelidos aos seus alunos.
O papel da escola é adotar medidas que envolvam toda a comunidade escolar, contribuindo positivamente para a formação de uma cultura de não-violência. O professor pode trabalhar a questão da moral e do respeito com os alunos. Para mais informações sobre a importância da educação socioemocional, consulte Educação Socioemocional na Infância.
No caso dos pais que têm um filho passando por esse problema, é fundamental mostrar-se disponível para ouvi-lo. Nunca devem aconselhá-lo a revidar a agressão; mas, sim, esclarecer que ele não é culpado pelo que está acontecendo. Também é essencial entrar em contato com a escola.
O bullying deixa marcas tanto na pessoa que o sofre quanto em quem o pratica, incluindo efeitos na vida adulta que podem abalar a vida afetiva e profissional. Para entender mais sobre os impactos emocionais, veja Afetividade e Emoção.
Segundo Aramis, coordenador do primeiro estudo feito no Brasil a respeito desse assunto, a única maneira de combater esse tipo de prática é a cooperação por parte de todos os envolvidos: professores, funcionários, alunos e pais.
Os psicólogos, psicopedagogos e educadores em geral têm como missão modificar essas atitudes, informar os pais e responsáveis, que muitas vezes não têm estudo e nem se prepararam para isso.
Referências bibliográficas:
VEIGA, Aida. Sutil e cruel agressão. Revista Época. Maio, 2004.
Folhetos da ABRAPIA
Autor: Denise Gomes Bandeira de Mello
Para ajudar a lidar com a situação, considere utilizar brinquedos que ajudam a aliviar o estresse.
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