
Como uma das formas de retomar o debate sobre a importância do brincar e mesmo de oferecer às crianças as oportunidades que a família e a própria escola lhes vêm negando de exercer esse direito, têm sido estimulada nos últimos anos, a implantação das chamadas Brinquedotecas ou Ludotecas.
A Brinquedoteca, na definição da Professora Nylse Helena da Silva Cunha (Presidente da Associação Brasileira de Brinquedotecas) é:
“um espaço preparado para estimular a criança a brincar, possibilitando o acesso a uma grande variedade de brinquedos …. é um lugar onde tudo convida a explorar, a sentir, a experimentar.”
Uma Brinquedoteca pode ter vários objetivos, entre os quais:
– estimular o desenvolvimento integral das crianças,
– valorizar o brincar e as atividades lúdicas,
– possibilitar à criança o acesso a vários tipos de brinquedos e de brincadeiras,
– enriquecer as relações familiares, através da participação dos adultos nas
– atividades infantis,
– emprestar brinquedos,
-desenvolver hábitos de responsabilidade e cooperação entre as crianças e entre
crianças e adultos.
Existem, no Brasil e no mundo inteiro, Brinquedotecas que possuem um ou vários destes objetivos ou ainda com preocupações específicas, dependendo do contexto onde foram criadas.
Assim, encontramos Brinquedotecas:
– em hospitais,destinadas a amenizar o sofrimento das crianças internadas,
– terapêuticas, que auxiliam no trabalho com crianças portadoras de deficiências,
– anexas a Universidades, onde se realizam pesquisas sobre o desenvolvimento infantil e onde s o testados novos brinquedos e brincadeiras,
– comunitárias, onde as relações de vizinhança s o estimuladas,
– em clínicas psicológicas, quando colaboram no tratamento de crianças com dificuldades de comportamento etc,
– compostas por material de sucata (as “sucatecas”) que utilizam brinquedos confeccionados com material em desuso.
O que não se pode esquecer é que qualquer que seja o tipo, o acervo, os objetivos específicos da brinquedoteca, nela a criança tem oportunidade de
“…entender tantas coisas através do brincar, … se entender através de tantas maneiras de brincar” (Fanny Abramovich in Brinquedoteca, o Direito de Brincar)
A Brinquedoteca na Pastoral da Criança
O principal objetivo do projeto “Brinquedos e Brincadeiras” na Pastoral
da Criança é o de estimular nas nossas comunidades o “brincar” como um
elemento indispensável ao pleno desenvolvimento das crianças.
Entretanto, apesar da importância de conhecermos as brinquedotecas existentes hoje no Brasil, é preciso n o perder de vista a realidade da Pastoral, que difere básicamente de todas as experiências conhecidas, uma vez que n o dispomos de locais, nem de recursos para a montagem de um acervo de brinquedos.
Assim, na Pastoral da Criança, a Brinquedoteca deve ter como principais características:
– 1 – O resgate da cultura local, através do estímulo às danças, jogos, músicas e outras atividades típicas de cada comunidade. Para isso, as líderes poder o
programar encontros com as crianças e suas famílias, onde o tema, o objetivo, as atividades ser o a realização de atividades culturais valorizadas na comunidade. Assim, teremos os cantadores, os violonistas ou mesmo as serestas em que todos recordam as músicas e danças de sua juventude. As festas juninas no nordeste, a panelada no sul, em cada região, em cada município, encontraremos atividades culturais típicas que podem ser motivo de integração das famílias e de desenvolvimento das crianças.
– 2 – O incentivo ao “brincar junto”, em que as famílias, compreendendo a importância das atividades lúdicas, delas participem. São as tardes (ou manhãs) de lazer, que muitas de nossas líderes já promovem e onde adultos e crianças brincam descontraidamente, utilizando ou n o brinquedos ou outros materiais.
Nesses momentos, sempre que possível, é importante promover a auto-expressão plástica: desenhos, pinturas, modelagem com argila, são atividades que podem ajudar na integração famililar, nas aprendizagens infantis, na descoberta de sua própria capacidade criadora.
– 3 – O estímulo às atividades realizadas em contato com a natureza – caminhar, subir em árvores, reunir-se à sombra de uma árvore para contar histórias, observar o ambiente, colecionar folhas, sementes, pedras, etc – são atividades
que podem reunir as famílias em momentos prazeirosos.
– 4 – A realização de “oficinas de brinquedos”, onde adultos e adolescentes constroem, com material de baixo custo coletado pela própria comunidade, brinquedos que possam ser doados, emprestados ou trocados, especialmente pelas crianças menores.
– 5 – A troca de brinquedos, quando as crianças e as famílias emprestam seus brinquedos, industrializados ou construídos artesanalmente, para que todos tenham oportunidade de vivenciar brincadeiras diferentes.
Em todos esses momentos e atividades, a líder pode debater com os participantes temas como a importância do brincar, a necessidade de oferecer às crianças brinquedos e brincadeiras que sejam, antes de tudo, estimuladores de seu desenvolvimento integral,…
Um dos principais objetivos das líderes será sempre o de sensibilizar a família para a importância das atividades lúdicas, capacitando-a inclusive para que assuma seu papel de educadora das crianças pequenas, ressaltando que, quanto mais a família participar e incentivar as brincadeiras infantis, melhor cumprirá esse papel.
Assim, esperamos que as Brinquedotecas Experimentais organizadas pela Pastoral da Criança venham a servir como elemento catalizador das atividades, reunindo e aportando novos significados, através das atividades lúdicas, à mística, à filosofia de trabalho, à pedagogia libertadora que orientam nosso trabalho.
Acreditamos que, à medida que tais experiências sejam divulgadas, passar o a ser difundidas enriquecendo as comunidades e as famílias e oferecendo às crianças novas oportunidades de desenvolvimento.
Normas para o Funcionamento das Brinquedotecas na Pastoral
CADA BRINQUEDOTECA DEVE CONTAR COM:
– Um responsável pelo material e pelos brinquedos – pode ser uma das líderes;
– Local para acomodação dos materiais – sugerimos as caixas empilháveis;
– Local para o desenvolvimento das atividades – de acordo com a realidade de cada comunidade, pode ser o sal o paroquial, a sala de uma escola, …
São atribuições do responsável pela Brinquedoteca:
– Zelar pelo material e pelos brinquedos;
– Cadastrar as crianças e famílias que participar o,
– Planejar as atividades: semanais, mensais ou diárias,
– Promover reuniões com as famílias com o objetivo de esclarecer sobre a Brinquedoteca,
– Promover oficinas para construção de brinquedos envolvendo não sóas famílias das crianças como outras da comunidade etc:
– Buscar recursos financeiros e/ ou materiais, na própria comunidade ou em outros locais, para enriquecer as atividades da Brinquedoteca;
– Participar dos encontros de capacitação em Educação Essencial;
Modalidades de Funcionamento da Brinquedoteca
1 – Para as crianças
A partir do número de crianças da comunidade, do local onde funcionará e do número de adultos disponivéis, pode-se prever várias alternativas para a freqüência das crianças à Brinquedoteca:
– Todos os dias da semana, atendendo um grupo de 15 a 20 crianças a cada dia, perfazendo um total de 75 a 100 crianças por semana em um horário ou de 150 a 200 se a Brinquedoteca funcionar em dois períodos de quatro horas cada;
– Duas ou três vezes por semana, também com grupos de 15 a 20 crianças;
É possível atender a um número ainda maior de crianças se o horário de cada grupo for reduzido para duas horas;
– A “hora da história”, em que possa reunir crianças, pais e mesmos irm os mais velhos, para que uns contem histórias para os outros – podem ser as histórias dos livros infantis ou os “causos”contados pelos mais velhos, principalmente as vovós e vovôs.
Observação
ex:
1- Sempre que houver mais de 10 crianças em um grupo, é necessário contar com pelo menos dois adultos.
2 – O período durante o qual cada criança permanecerá na Brinquedoteca é de sua livre opção – por exemplo, se a Brinquedoteca está aberta das 14:00 às 18:00 uma criança poderá permanecer no local todo o período enquanto outra permanece apenas das 14:30 às 15:30.
3 – Durante a permanência da criança na Brinquedoteca, o papel dos adultos será o de propor, orientar e controlar brincadeira, porém cada criança terá a liberdade de decidir se deseja ou n o participar das atividades propostas – o principal objetivo deverá se permitir que a criança brinque e experimente os materiais.
4 – Entretanto, é indispensável que o adulto responsável oriente todos os frequentadores da Brinquedoteca para os cuidados que precisam ter com os brinquedos e materiais, sendo tarefa de cada criança arrumar e manter limpos os que utilizou.
5 – O empréstimo de brinquedos será uma decis o da equipe local, que deverá estabelecer quais os que podem ser emprestados, em que condições etc.
importante estar atento para alguns aspectos:
– As crianças maiores (mais ou menos de 04 anos em diante) provavelmente poder o entender que os brinquedos devem permanecer na Brinquedoteca, pois estar o à sua disposição quando ela retornar;
– Os pequeninos já n o entendem este tipo de raciocínio, porém s o mais fáceis de convencer e é possível que aceitem levar para casa um brinquedo de sucata, por exemplo;
– Os brinquedos industrializados e mais frágeis ou de muitas peças, em princípio não devem ser emprestados, pela dificuldade que representa a sua reposição;
– Uma das normas para empréstimo é que o brinquedo seja sempre devolvido, mesmo que esteja um pouco danificado.
2 – Para as famílias e a comunidade
É indispensável que a Brinquedoteca, antes de mais nada, seja um espaço que estimule as atividades de lazer entre pais e filhos. Para isso, é necessário prever atividades como:
– Reuni es para construção de brinquedos a serem utilizados na Brinquedoteca; quando for construído um número grande de brinquedos semelhantes, alguns poder o ser reservados para empréstimo ou doação;
– “Momentos de lazer”, em que as famílias participem juntas de
brincadeiras, atividades de auto-expressão plástica e musical,…
– Nas comunidades onde, ao entardecer, as famílias se reunem à porta das casas para conversar, promover, em dias pré-determinados, jogos, brincadeiras, brinquedos cantados ou mesmo o contar histórias, podendo ser utilizados nestas atividades os brinquedos e materiais da Brinquedoteca;
Quando a criança faz o que gosta e sente-se feliz, ela aceita um desafio e resolve o problema com criatividade. O aluno precisa de espaço para expor suas idéias, assim terá iniciativa para explorar a criatividade que muitas vezes passa sufocada dentro de si.
A escola precisa oferecer um espaço de experimentação e criação, estimulando um sentimento de cooperação e solidariedade, além de trazer possibilidades de chegar-se a Zona de Desenvolvimento Proximal na criança, podendo torná-la capaz de desenvolver-se em sua plenitude.
Em meio a descontração, as brincadeiras o brinquedo, os espaços favoráveis a criança internaliza o conhecimento que lhe é oferecido, relacionando-o com as vivências do seu dia-a-dia e usando-os ou transformando-os para melhorar a sua realidade e as de quem as rodeia.
Muitos são os aspectos existentes em relação ao brincar e aos brinquedos, cada criança apresenta um jeito de ser e de brincar, ela é única. O brinquedo e a brincadeira tornam o ambiente, os espaços da escola, um lugar onde aprende-se com criatividade, curiosidade, significado e trazendo à tona o pensamento e a expressão da criança, tornando-se um grande aliado na educação.
A brincadeira do faz-de-conta tem uma ligação entre os sinônimos brincar/assimilar.
Brincando a criança se diverte e assimilando conceitos ela envolve-se em uma realidade, cujo, “faz-de-conta” representa, introduzindo ação e sentimento à objetos, como um pedaço de madeira ou um carrinho, que na brincadeira podem andar, dormir, comer ou sorrir.
Brincando de imitação a criança tem a capacidade de transportar o mundo real para o mundo imaginário e vice-versa, resolvendo suas angústias e conflitos imediatos, assimilando e compreendo melhor os conceitos.
Diferentes Espaços da Brinquedoteca
1. Canto do “faz- de conta”.
É um espaço com móveis infantis:
· de cozinha – pia de lavar louça, panelinhas, fogão, geladeira, mesas e cadeiras, loucinhas e outros.
de hospital – uniforme, consultório, luvas, etc.
de supermercado – carrinho de feira, objeto para comprar.
de camarim – com espelhos, fantasias, chapéus, adereços, bijuterias e maquilagem, roupas e sapatos, gravatas, xale, etc.
2. Canto da história
· Um espaço com tapetes, almofadas, colchonetes, mesas e cadeiras (pequenas e coloridas).
Livros infantis (confeccionados e/ou comprados).
A primeira forma de leitura é a leitura de imagens, figuras, este espaço é para o cultivo ao hábito da leitura.
3. Canto das Invenções/ Sucatoteca/ Oficina
· Local onde serão deixados avisos, recados, notícias, fotos,etc.
4. Sala de Jogos
· Vários tipos de jogos de interesse para a faixa etária de 04 a 12 anos (memória, vareta, …).
Autora: Marcia Maria Kaschuk
Bom dia!
Li seu artigo, muito enriquecedor, gostaria muito de compartilhá-lo com meus alunos do Curso de Formação de professores. Você concorda?
Claro, fique à vontade!
Na Questão da Rotina pude aprender na prática, e percebi que tudo descrito com que eu vi no estágio de Pedagogia Hospitalar.