Os estudos de Lev Vygotsky (1896-1934) sobre o aprendizado provêm da concepção do homem como um ser que se constitui em contato com a sociedade. Segundo Miranda; Senra, (2012), estes são os pilares básicos do pensamento de Vygotsky:
- “As funções psicológicas têm um suporte biológico, pois são produtos da atividade cerebral”. O cérebro é um sistema aberto, pois é mutável. Suas estruturas são moldadas ao longo da história do homem e de seu desenvolvimento individual;
- O funcionamento psicológico tem como base as relações sociais, dentro de um contexto histórico;
- A cultura é parte essencial do processo de construção da natureza humana;
- A relação homem-mundo é uma relação mediada por sistemas simbólicos. Entre o homem e o mundo existem elementos mediadores – ferramentas auxiliares da atividade humana.
A Teoria de Vygotsky e o Desenvolvimento Infantil
A teoria de Vygotsky em relação ao desenvolvimento infantil é vista por três aspectos:
O Aspecto Instrumental – compete à natureza como mediadora das funções psicológicas mais complexas. Não somente respondemos aos estímulos que nos são proporcionados pelo meio, assim como o modificamos e usamos as modificações.
O Aspecto Cultural – abrange os meios socialmente organizados pelos quais a sociedade estrutura os tipos de trabalhos que a criança em desenvolvimento deve enfrentar, e os tipos de instrumentos mentais e físicos que ela utiliza para dominar estas tarefas.
O Aspecto Histórico – os instrumentos culturais ampliam os poderes do homem e organizam seu pensamento.
Vygotsky definiu três estágios de desenvolvimento:
1° – Nível de Desenvolvimento Real – refere-se a tudo aquilo que a criança já tem consolidado em seu desenvolvimento, e que ela é capaz de fazer sozinha sem a mediação de um adulto ou de outra criança.
2° – Nível de Desenvolvimento Potencial: refere-se à solução de atividades realizadas sob a orientação de um outro indivíduo mais capaz ou em cooperação com colegas mais experientes;
3º – Nível De Desenvolvimento Proximal – refere-se aos processos mentais que estão em construção na criança, ou que ainda estão em processo de maturação: é a distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial.
Conforme Vygotsky, a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) é potencializada por meio da interação social do aprendiz com outro(s) indivíduo(s) mais experiente(s). A aplicação de sua abordagem na prática educacional requer, primeiramente, que o instrutor reconheça a ideia desta zona proximal e a estimule ao desenvolvimento cooperativo e colaborativo, procurando promover assim, um caminho de aprendizagem adequado, capaz de conduzir o aprendiz de sua Zona de Desenvolvimento Proximal ao Nível de Desenvolvimento Real (VYGOTSKY, 1988).
Para Vygotsky, o professor no processo de ensino-aprendizagem deve ser facilitador, incentivador ou motivador, caracterizado pela mediação da aprendizagem. Desta forma, o professor colabora ativamente para que o aluno chegue ao seu objetivo. No processo de alfabetização, é importante que o professor esteja atento ao nível de desenvolvimento do aluno de forma a mediar adequadamente o processo.
Segundo Coelho (2003, p. 67-68), fundamentando nos estudos de Vygotski, Luria e Braslavski, foi possível encontrar alguns níveis a partir dos quais poderemos entender as produções das crianças, considerando-se desde a sua história prévia até o desenvolvimento pleno da capacidade de escrita:
Nível I – Fase pré-instrumental ou pré-escrita, dos atos diretos, imitativos, primitivos. A criança não compreende o mecanismo da escrita, apenas imita o gesto do adulto. Ela não usa o signo como auxiliar mnemônico, mas grafa em sentido linear, demonstrando primeiros sinais de compreensão externa da escrita. Nesta fase, escrever não ajuda a memorização, pelo contrário, atrapalha. A criança realiza grafismos por impulso imitativo da escrita alheia, faz “leituras” a partir de ilustrações, pode utilizar-se de letras ou pseudoletras, mas de maneira não-instrumental, isto é, elas não têm função específica de escrita.
Nível II – Fase do signo primário ou signo estímulo. As inscrições não são diferenciadas, mas há relação funcional com a escrita, com sinais estáveis. Por meio da escrita topográfica, a criança faz o desenho da fala na qual usa marcas (figuras e imagens) específicas para lembrar-se do material que foi “ditado”. O aspecto topográfico dessa escrita indica que nenhum rabisco significava coisa alguma, mas sua posição, situação, relação com outros rabiscos conferiam-lhe a função de auxiliar técnico de memória. Ela pode começar a usar letras de maneira ainda ilegível, sem muita significação, como uma simples resposta a uma sugestão, não há conteúdo próprio e a criança não desvenda o significado do que foi anotado.
Nível III – Fase do signo-símbolo. A escrita já é estável e vai adquirindo significação e caráter mnemônico. O signo-estímulo da fase anterior é substituído pelo signo-símbolo, com o mesmo significado para todos, legível, de uso instrumental. Consegue demonstrar uma aproximação com a escrita, com o conhecimento do signo, com letras de forma ou manuscrita, e uma preocupação com a direção, respondendo a uma sugestão: frase grande grafia grande, frase pequena grafia pequena. Um primeiro salto qualitativo é dado, refletindo não apenas o ritmo externo das palavras dadas, mas o seu conteúdo. O signo começa a adquirir significado ao se introduzirem os fatores número, forma e cor, relacionados às palavras.
Nível IV – A grafia da criança começa a adquirir características de escrita simbólica. Pela primeira vez, a criança é capaz de “ler” o que escreveu. Sai do nível da imitação mecânica para o status de instrumento funcionalmente empregado. Pode ocorrer que a criança utilize a escrita pictográfica como recurso, se ela não conhece as letras ainda.
Nível V – Fase da escrita simbólica propriamente dita, extremamente significante, em condições de utilizar estratégias metalinguísticas. A criança compreende a leitura e produz escrita significativa como forma complexa de comportamento cultural, com textos que utilizam palavras formadas por sílabas complexas que, apesar dos erros, são legíveis para os demais leitores. Na leitura, passa a fazer pausas, a ter fluidez crescente com eventuais demoras e erros isolados. Demonstra controle na escrita como um instrumento de linguagem mais elevada, cuidando da sintaxe e da ortografia. Utilizando-se de suas funções mentais superiores, apresenta pensamento categorial que permite o uso de estratégias metacognitivas para monitorar seus conhecimentos linguísticos.
Esses níveis são considerados importantes para o processo de alfabetização, pois permitem entender que o processo de apropriação da escrita não acontece da mesma forma, tampouco ao mesmo tempo para toda criança.
Para mais informações sobre a importância da alfabetização, consulte A importância da alfabetização: explorando o vínculo entre desenho e escrita.
Se você está buscando recursos para auxiliar no processo de alfabetização, considere explorar materiais didáticos que podem ser úteis.
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