A MATEMÁTICA como instrumento de EXCLUSÃO EDUCACIONAL
Matemática é o componente curricular obrigatório da Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Seus conteúdos e conceitos devem ajudar o aluno a decifrar a informação disponível na sociedade. Pelo contrário, da maneira como está sendo ensinada, ela conduz as pessoas à condição de excluídos (não esclarecidos), não contribuindo para a formação do homem enquanto cidadão, como recomenda a LDB (Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996). Embora tenha havido um avanço no discurso dos educadores, livros didáticos e mesmo nas propostas curriculares, a maneira como a Matemática é, de modo geral, apresentada nas escolas ainda continua reforçando uma concepção de conhecimento estático, pronto, árido, e que não considera o conhecimento matemático que os estudantes constroem intuitivamente no dia a dia.
O corpo da tese pode ser faccionado em várias dimensões. Qual é o atual quadro da Matemática nas escolas? O que se ensina? Como se ensina? O que se aprende? Como se aprende? Os conteúdos ensinados ajudam a minimizar a evasão escolar e, em última instância, contribuem, de maneira efetiva, para atenuar a exclusão social? O cenário atual nos conduz a afirmar que a resposta é não. Outras indagações podem nos conduzir a um determinado esclarecimento sobre as cinco primeiras dimensões. Seu filho sabe o que é e como usar uma regra de três simples ou composta? Seu filho sabe quando o resultado de uma das quatro operações básicas da matemática está certo ou errado? Seu filho sabe para que serve o determinante de uma matriz? O resultado das perguntas pode levar o caro leitor a entender um pouco sobre a qualidade da educação.
Na escola que temos foram deixados de lado conteúdos como porcentagem, juros simples, juros compostos, geometria plana, geometria espacial etc. Raros são os problemas escolares que são contextualizados, ou melhor, conteúdos que poderiam contribuir para desenvolver competências e habilidades essenciais (abstrair/abstração, aplicar/aplicação, inferir/inferência, mediar/mediação etc.) e necessárias ao pleno exercício da cidadania, que também são conteúdos escolares exigidos em concursos públicos. O que está ocorrendo nas escolas da rede pública e da rede privada é que os estudantes estão submetidos ao ensino de uma matemática extremamente elementar (devido à minimização da matriz curricular da Educação Básica), desinteressante e sem aplicação mediata.
Josias Alves de Melo Filho, professor da Universidade Católica de Brasília, afirma que “pela simples razão de ser uma matéria inútil e desinteressante para a população como um todo, deixar de ensiná-la poderia até ser um benefício, pois eliminaria fonte de frustração” (Educação Matemática e Exclusão Social: tratamento diferenciado para realidades desiguais). As aulas de matemática, em nível fundamental e médio, e até mesmo na Educação Superior, ainda são transmitidas por intermédio do método expositivo, metodologia adotada pela educação jesuítica, em que o professor escreve no quadro de giz o conteúdo que considera importante e significativo para o aluno aprender. São, na realidade, exercícios sem nenhuma ou pouca reflexão que, no fundo, é a repetição de modelos de solução apresentados pelo professor.
O que se pode afirmar da aula expositiva de matemática é que a mesma está relacionada a uma prática pedagógica que revela uma concepção de que o aprendizado da matemática pode ocorrer por um processo de transmissão de conhecimento direcionado para o não esclarecimento. E essa maneira de ensinar faz com que os alunos acreditem que aprender matemática significa acumular fórmulas e algoritmos. Em outras palavras: aprender matemática é aplicação de regras. Tal prática inviabiliza que os alunos continuem os seus estudos, haja vista que são submetidos a métodos arcaicos e conteúdos que nada têm a ver com a realidade onde estão inseridos. Ressaltamos, ainda, a total despreocupação dos programas de ensino com o dia a dia e a ausência de conteúdos que sejam capazes de instrumentalizar o educando para a vida.
Nas constatações empíricas realizadas ao longo do estágio supervisionado (com os alunos do curso de pedagogia), verificamos, também, que no decorrer das aulas de matemática não há espaço para que os sujeitos da aprendizagem possam questionar e analisar os conteúdos curriculares trabalhados em sala de aula, tornando os discentes seres passivos que apenas escutam e copiam (próprio da pedagogia tradicional que é praticada pelos adeptos da Educação Bancária), o que dificulta o desenvolvimento do pensamento crítico e criativo, não contribuindo para retirar os discentes do “estado de ignorância matemática por um estado apropriado de conhecimento que lhes seja útil para melhor intervir na sociedade em que vivem” (Josias Alves de Melo Filho, na mesma obra).
Quando se fala em vinculação entre cidadania e educação, numa educação escolar marcada pela exclusão social, é a matemática responsável pela exclusão educacional, que é uma das facetas da exclusão social porque não viabiliza a apreensão de conceitos da matemática que deveriam conduzir os estudantes ao estado de esclarecimento de sua condição de OPRIMIDO. Todavia, há um processo de ensino da matemática que se materializa como antítese daquele que é praticado nas escolas tanto municipais quanto estaduais, por exemplo, os acampados e assentados do Movimento Sem-Terra buscam na aplicação mediática dos conceitos da matemática como se buscassem o remédio para uma ferida, porque eles sabem onde está o furo da bala, pelo lado que eles são explorados.
Rubens da Silva Castro é Professor da Faculdade de Educação da UFAM.
Elizeu Vieira Moreira é Professor da SEDUC e do PARFOR/FACED/UFAM.
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Uma calculadora científica pode ser uma ferramenta útil para o aprendizado.
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