Resumo
O presente trabalho visa analisar criticamente os cursos de formação inicial em matemática, as metodologias adotadas, as grades curriculares e as competências e habilidades dos recém-formados em matemática. Busca-se também discutir sobre as problemáticas presentes em sala de aula advindas das mazelas dos cursos de formação, grandes responsáveis pelos conhecimentos iniciais dos professores de matemática em sua prática docente. Descreve-se sucintamente as carências do discente em relação à matemática, suas dificuldades na aprendizagem, suas expectativas e sua visão de como deveria ser o ensino da matemática e o professor de matemática ideal. É dispensado aqui qualquer comentário sobre outras modalidades de ensino que não seja a formação inicial do professor de matemática.
Introdução
Para que cheguemos ao cume dos saberes sobre o desenvolvimento da educação formal e aumentemos a compreensão de como é possível ofertar uma educação em excelência dentro dos moldes das pedagogias revolucionárias e dos grandes pensamentos de homens que dedicaram suas vidas ao desenvolvimento das práticas docentes e as descobertas de meios facilitadores da aprendizagem, é preciso que estejamos abertos a mudanças significativas. Essas mudanças, características marcantes do homem em sua natureza divina, se dão por intermédio das carências do meio, da obscuridade do espírito, do prazer em evoluir e da oportunidade em levar ao pódio novos aprendizes entusiasmados com a possibilidade de concretização de sonhos até então vividos apenas nos terrenos da mente dormente.
Ser educador é tomar para si conhecimentos de povos passados e transmiti-los a gerações presentes como herança social corrente ao longo dos anos. É ter vocação para desempenhar essa função tão bela e necessária à humanidade, mas também é ter compromisso com a formação pessoal e de tantas outras pessoas que sonham em poder gerir suas próprias vidas através das competências e habilidades ofertadas pelos processos de ensino. Educar é tornar alcançável a independência cognitiva do aprendiz, é formar educandos compromissados com o zelo planetário, bem como, com a manutenção de uma sociedade igualitária e despreconceituada.
Sem dúvida, um dos temas mais discutidos e polêmicos no que concerne ao ensino da matemática moderna é a formação inicial do educador matemático. Para debater sobre esse assunto, faremos uma reflexão crítica sobre os cursos de licenciatura em matemática na tentativa de chegar a um dos fatores indicadores dos fracassos do ensino da matemática atual, seus pontos positivos e negativos, as competências e habilidades dos recém-licenciados em matemática, seus limites profissionais, suas necessidades, seus medos e os reflexos dessas realidades no ensino da matemática.
Paralela à discussão relativa aos cursos de formação em matemática, faremos outra reflexão, dessa vez sobre os alunos da educação básica em matemática. Demonstrar-se-á, sucintamente, como estes recebem os seus docentes em sala de aula, as suas necessidades de aprendizes, os objetivos educacionais na visão do discente e como, na ótica deste, seria o professor e o ensino da matemática ideal.
Os cursos de licenciatura em matemática
A discussão que se segue refere-se aos cursos de licenciatura em matemática. Seguindo essa trilha teórica, com algumas dosagens de experiência acadêmica e profissional, enxergaremos, por análise crítica e reflexiva, os principais pontos a serem abordados no contexto ao qual se predispõe esse debate.
Os cursos de formação inicial de educadores matemáticos são os grandes responsáveis pelo preparo do profissional da docência, seu embasamento teórico, seu ingresso no universo da pesquisa, sua postura profissional, seus conhecimentos mais profundos dos conteúdos matemáticos a serem lecionados e toda uma estrutura lógico-cognitiva necessária ao bom desempenho do que se dispõe a ensinar matemática. Na prática, será que é isso mesmo que acontece? Teme-se que não.
Cada vez mais, nos cursos de licenciatura em matemática, demonstra-se a priorização dos conceitos abstratos e a subordinação dos conteúdos pedagógicos, que na verdade formam a alma do professor, seja ele mediador de qualquer área do saber. Além disso, existem poucas matérias contemplantes das bases pedagógicas, bem como, dos conteúdos históricos da matemática e suas aplicações.
A formação do professor de matemática engloba alguns atributos que são quase inaplicáveis nas salas de aulas da educação básica. Há sempre uma grande ênfase nos conteúdos de cálculos diferenciais e integrais, física teórica e experimental, equações diferenciais, geometria diferencial, em fim, uma série de conceitos abstratos que estão distantes das aplicações curriculares dos ensinos fundamental e médio.
De forma alguma tira-se a grandiosa importância dessas disciplinas, uma vez que cada uma delas é responsável pelo desenvolvimento lógico-matemático, pelas ideias espaciais ou de áreas, pela compreensão dos fenômenos naturais ou até mesmo pelas diversas aplicações matemáticas a outras áreas do saber como a física, química, engenharia, biologia, astronomia, etc. Mas, se os cursos de licenciatura em matemática têm como mola mestra a formação de educadores matemáticos habilitados a ensinar turmas do ensino fundamental maior e médio, não seria o caso de trabalhar conteúdos compatíveis com essa realidade? Não seria ideal que se trabalhasse com os futuros professores de matemática os métodos de ensino, as diversas correntes pedagógicas e os conteúdos aplicáveis às turmas que futuramente irão lecionar? O curso que forma o professor de matemática não deveria ser chamado de Licenciatura em Educação Matemática? Será que os cursos atuais de licenciatura em matemática formam educadores matemáticos ou simplesmente matemáticos?
As provocações anteriores servem para que façamos reflexões e possamos chegar a conclusões que confortem o nosso espírito curioso por respostas que envolvam essa problemática. Foi por causa de todas essas mazelas das licenciaturas em matemática que surgiu a educação matemática. A educação matemática apresenta-se como uma nova ciência capaz de diagnosticar os fracassos no ensino da matemática e corrigi-los a custa de muito trabalho de pesquisa e adoção de métodos revolucionários de ensino. Em suma, a educação matemática trata de como o ensino da matemática deve acontecer, suas projeções futuras, as posturas docentes em sala de aula, as aplicações das teorias pedagógicas, as indicações das pedagogias em seus diversos momentos e a criação de possibilidades de um ensino de sucesso da matemática moderna.
O recém-formado x a prática docente
Diante de tanta ingestão de conceitos abstratos, o professor de matemática recém-formado é levado à sala de aula sem o preparo adequado para enfrentar os questionamentos dos discentes, principalmente, nos conteúdos que estão fora do seu leque de conhecimentos, pois em grande parte deles, como durante o curso acadêmico não foi necessária sua utilização, caem no esquecimento e o que se tem é a sensação de impotência diante das necessidades da turma em processo de aprendizagem.
Assim, o ensino da matemática naufraga a cada dia num misto de bloqueios psíquicos em sua aprendizagem, mas também, num despreparo do docente desta disciplina. Diante da fragilidade de sua formação inicial, principalmente, no tocante a sua postura em sala de aula, o prematuro professor de matemática se vê diante das grandes necessidades da educação, do clamor dos alunos por um ensino efetivo, dos objetivos a alcançar, dos programas a cumprir e sem condição suficiente para mostrar as soluções possíveis para os problemas em curso.
A formação do educador matemático deve estar norteada nos princípios básicos da educação e dar-lhe mecanismos suficientes para assumir uma carreira profissional com o mínimo de empecilhos possíveis. Para isso, o enfoque maior deveria estar nos conteúdos aplicáveis ao currículo da educação básica, nas disciplinas pedagógicas – aliadas do profissional da docência em todos os momentos profissionais, nas muitas aulas de estágios, na disciplina história da matemática, pois é esta a responsável por mostrar a evolução do conhecimento matemático, as necessidades dos povos ao criarem suportes matemáticos que amenizassem os seus problemas diários. Paralelo a isso, viriam os conteúdos puramente matemáticos, pois sem dúvida, eles são responsáveis pelo aguçamento da percepção das coisas e a expansão do raciocínio lógico – grande responsável pelas tomadas de decisões.
Mais uma vez, reitera-se que todas as disciplinas de cunho abstrato citadas anteriormente têm o seu papel fundamental no ensino da matemática, porém, como estamos tratando da formação de educadores matemáticos, a ênfase maior deve ser no seu preparo para lidar com o ensino da matemática e seus diversos atritos históricos com o ato de aprender.
O ensino da matemática na visão do aluno
É comum assistirmos embates entre professores e alunos sobre as facilidades, ou não, em aprender matemática. Será que é realmente fácil aprender matemática? A depender de como ela é ensinada, sim. Todo e qualquer conhecimento a ser mediado é fácil de ser captado, mas depende, necessariamente, da metodologia adotada pelo docente e suas facilitações. Depende também das aplicabilidades dos conteúdos na vida prática do aluno, como ele enxerga-o, sua disposição em aprender, do ambiente de aprendizagem e da concentração do aluno durante a aula.
A sociedade vigente ruma aos caminhos das aplicações práticas do que é aprendido. É importante frisar que somente o que tem aplicação imediata, na ótica da sociedade atual, é tido como importante, como necessário. Como aprender depende do interesse do estudante e da dedicação do professor, deve-se procurar aplicações imediatas para os conteúdos abordados em aula, e mesmo aqueles sem aplicações imediatas, devem ser ilustrados com indicações de uso futuro, para que o aluno entenda a importância em aprendê-lo, reformulá-lo e socializá-lo posteriormente.
Vivendo em uma sociedade onde o capitalismo prevalece, a concorrência aumenta a cada dia, a capacitação profissional é primordial para o ingresso no mercado de trabalho, o discente procura na escola sua futura realização pessoal. Realizar-se pessoalmente é adquirir um bom emprego, conforto, estabilidade financeira e evolução profissional. Sendo assim, a boa escola é aquela que compõe-se de espaços adequados para o recebimento desses sonhadores que buscam nela o meio ideal para que os seus objetivos tornem-se possíveis. E o bom professor, qual será? Em uma resposta simples e objetiva: o bom professor é aquele que media todo esse processo de realização do aluno, é aquele que é amigo, companheiro dos momentos difíceis dos caminhos da educação, mas acima de tudo é aquele que facilita o aprendizado para que a sua compreensão implique no aumento das possibilidades de sucesso do aprendiz.
Considerações finais
Necessário é que os cursos de formação inicial de educadores matemáticos sofram uma séria reformulação em sua grade curricular a fim de obterem-se profissionais preparados para enfrentar as adversidades da educação. Professores proativos, capazes de enfrentar as dificuldades, de erguerem-se diante dos fracassos do ensino da matemática e dispostos a superarem todos os empecilhos postos nos seus caminhos profissionais. Além disso, devem formar professores autossuficientes em sala de aula, embasados pedagogicamente, preenchidos de conteúdos específicos, interdisciplinares e ricos em postura docente. Porém, não dá para ser um bom profissional da educação somente com a formação inicial. O professor deve estar atento às novas correntes pedagógicas, aos novos conhecimentos inseridos nas plataformas da educação, nas novas mídias, na globalização das tecnologias, em fim, tornarem-se atualizados constantemente através da formação continuada.
“O bom docente é aquele que se forma diariamente, alimentando seu espírito e preparando-se para os desafios da educação”.
Robison Sá.
Por Robison Sá
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