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A desconstrução do ser pela televisão

Este artigo analisa como a televisão molda a forma de pensar e o comportamento das pessoas, discutindo seus efeitos e como evitar a desconstrução da identidade pela telinha.

A desconstrução do ser pela televisão

A desconstrução do ser pela televisão

REFLEXÕES SOBRE A TELEVISÃO BRASILEIRA


A desconstrução do ser pela televisão

A linguagem da mídia sempre foi usada como instrumento das classes dominantes, voltada para a alienação das massas. Desde a sua invenção (o primeiro livro impresso por Guttemberg foi a Bíblia), tem sido usada para a manutenção do status quo. Na atualidade, sem dúvida nenhuma, a televisão é a principal ferramenta usada neste sentido. Para que possamos compreender melhor esse poder massificador da TV, temos que conhecer alguns mecanismos utilizados por seus controladores.

Começaremos nossa análise a partir do conteúdo, forma e horário dos programas exibidos. Cada um deles é exatamente preparado de forma a vender o produto mais “desejável” para a classe e faixa etária que tem maiores possibilidades de estar assistindo o tal programa. De manhã, por exemplo, temos a programação voltada para o público infantil, e não é preciso ir muito longe para notar que todos os desenhos animados que fazem sucesso aparecem quase que instantaneamente nas prateleiras das lojas de brinquedos. As crianças são mais fáceis de manipular, pois ainda não possuem a personalidade formada e acabam introjetando as informações transmitidas, associando-as à própria narrativa mostrada. Assim, aquilo que aparece como bom nos desenhos, será bom na vida real, e vice-versa. O formato desses programas é sempre o mesmo: a apresentadora, que é o principal canal de transmissão dos conceitos emitidos, as brincadeiras (menino x menina) e todo o preconceito subliminado nas “atividades” do programa. Desta forma, o produto é vendido como solução aos conflitos internos infantis, às necessidades de amor, proteção e prazer que a criança sofre justamente por ser uma personalidade em formação. O horário da tarde, mais voltado às donas-de-casa e o público adolescente, funciona da mesma maneira, estabelecendo relações de desejo entre aquilo que querem vender e aquilo de que as pessoas têm mais necessidade. O merchandising parece ser o ponto máximo desta relação, mostrando os personagens em situação agradável, felizes e consumindo o produto, passando assim a imagem de felicidade e satisfação associada àquele produto. Para mais informações sobre o impacto da tecnologia na educação, veja A Tecnologia na Educação.

Analisemos agora outra característica da TV: a anulação do senso de realidade do indivíduo. Sabemos que o nosso “mundo real” existe a partir daquilo que percebemos, ou seja, da nossa cognição. Desta forma, recebemos e codificamos as informações, aprendendo a lidar com as situações ao nosso redor. Dentro deste nosso sistema de compreensão do mundo, os conceitos de espaço e tempo são essenciais, pois estabelecem a nossa realidade tal como ela é. Nestes dois conceitos é que a televisão age para deslocar o indivíduo da sua realidade. Em seu próprio formato, a TV já começa com vantagem sobre os outros métodos de aprendizagem, pois trabalha estimulando os dois sentidos mais desenvolvidos do homem: a visão e a audição. Recebemos dela ao mesmo tempo informações visuais e auditivas complementares, selecionando aquilo que nos interessa, de acordo com a nossa realidade psíquica. A televisão age deturpando a noção de espaço e tempo, estabelecendo o estado de alienação do ser.

O mundo real visto pela televisão (noticiários, jornais, documentários) é limitado. Não existe o espaço real. Tudo cabe dentro da tela. As distâncias são eliminadas, e com isso o conceito de espaço dentro do acontecimento também é eliminado. Também é possível notar que não há continuidade. Cada notícia é mostrada como se fosse um fato isolado, sem um elemento causador e sem consequências. Desta forma, o espectador deixa de fixar o mundo real dentro de sua existência, absorve as notícias como se fossem atrações de circo, com um interesse efêmero, como se aquilo não fosse atingi-lo. Assim, ao vermos uma enchente em Bangladesh ou um acidente de trem na Índia, não nos comovemos, não sentimos, pois é como se aquilo não existisse, fosse em outro planeta ou fosse ficção. Alienamo-nos, perdemos nossa capacidade de nos indignar.

Por outro lado, a ficção (novelas, filmes, séries) é feita de maneira a colocar as situações dentro do princípio de realidade. Há o realismo na vida dos personagens. Na novela, vemos os mais variados tipos sociais, de forma a estabelecer identidade com o maior número possível de espectadores. Dentro desta realidade, os personagens têm e/ou são, também, aquilo que a classe a que representam desejam ter e/ou ser (comércio subjetivo, merchandising). Estas ficções passam-se quase que sempre em localidades onde é fácil estabelecer a localização geo-social. São Paulo, Rio, o Nordeste são os palcos mais comuns, justamente por serem locais de fácil identificação com o povo brasileiro. O tempo nessas novelas segue quase que fielmente o tempo da realidade. Um capítulo diário quase sempre corresponde a um dia também na vida do personagem. Essa equiparação do tempo ficcional com o tempo real dá a ilusão de que o personagem, em algum lugar (também definido), existe, mesmo quando a novela não está sendo exibida.

Desta maneira, o real é mostrado como ilusão e a ilusão é mostrada como vida real, retirando o indivíduo de sua realidade física e psíquica. E isso acarreta algumas consequências, sendo as duas principais a “acomodação” do intelecto e a infantilização. A acomodação surge da facilidade em absorver as informações transmitidas pela TV. Não é necessário e nem estimulado nenhum exercício mental para decodificar as mensagens, aliás, pelo que já vimos, isto é constantemente desestimulado, provocando uma espécie de atrofia das capacidades críticas do indivíduo. A infantilização é a constante satisfação dos desejos dos telespectadores, que, vendo aquilo que querem, consomem e satisfazem-se, acomodando-se com relação à realidade.

Com tudo o que foi exposto aqui, quis auxiliar o leitor a compreender melhor o papel da Televisão dentro da sociedade, examinando o modo como ela é utilizada, visando facilitar o entendimento de todas estas polêmicas que surgem com relação à influência sociológica que este poderoso meio de transmissão traz para a Humanidade. Para uma análise mais profunda sobre o uso da tecnologia na educação, confira A Formação de Educadores do Campo para Uso das Tecnologias Digitais na Educação.

FONTES DE REFERÊNCIA

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 12ª ed. São Paulo: Ed. Ática, 1999.

POSNER, Michael. Cognição. 1ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Coleção Temas Psicológicos, 1980.


Texto 2:

REFLEXÕES SOBRE A TELEVISÃO BRASILEIRA

“Um dos mais belos exemplos de preconceito explícito contra a televisão é apócrifo. Ele é descrito apenas como um professor PhD em Virginia, que escreveu uma carta a Robert Thompson, professor na Universidade de Siracusa, mais ou menos o seguinte: “A influência da TV em nossa sociedade tem sido uniformemente maligna, e não existe um único problema social com que nos deparemos que não tenha sido causado ou exacerbado pela televisão (…). Acredito que só exista uma cura para a doença social que a televisão causou: abolição. A apreensão e destruição de todos os aparelhos de TV e arquivos de videotape seria um grande passo na estrada de volta para a sanidade do mundo.” (in A Nova Televisão, Nelson Hoineff, Ed. Relume Dumará, Rio, 1996)

Por incrível que pareça, existem muitas pessoas que concordariam com este professor norte-americano, tanto nos Estados Unidos quanto no próprio Brasil. Durante todo o ano passado, foi intensamente debatida a qualidade da programação nacional e internacional dos canais abertos, discussão essa gerada pela não-surpreendente mas desagradável invasão do “horário nobre” por programas de caráter indubitavelmente medíocres, tais como Ratinho e os programas no estilo “Linha Direta”, por exemplo.

Porém esta discussão, como tantas outras no Brasil, parece que não vai render nenhum fruto. Afinal de contas, o quadro que temos é o da própria televisão discutindo e criticando a si mesma, o que não leva a lugar nenhum, notória é a falta de senso crítico que a maioria dos profissionais da mídia possui.

A ausência de objetividade nesta polêmica é não só evidente como também incentivada pela própria “opinião pública”, pois assim, fica mais difícil perceber que o problema na TV não é a TV, e, sim, quem a faz.

Diversos exemplos em vários países, dentre os quais se destaca a Inglaterra, mostram que a televisão tratada com seriedade pode gerar lucros e ainda exibir programação de qualidade. Mas no Brasil isto é mais difícil. Ao examinarmos o processo histórico de implantação da televisão nacional, entendemos imediatamente que o mal está na raiz.

Precisamos compreender que a televisão, como qualquer outro meio de comunicação, não é mais que um espelho da realidade, o local onde o melhor e o pior da sociedade aparece e tem destaque. Se a programação está no nível medíocre que está, é tanto culpa da “TV” quanto da “audiência”. A televisão reflete exatamente aquilo que o país é: uma total desorganização política e social.

É necessário, talvez por parte da universidade brasileira, um estudo aprofundado das causas, consequências e, também de alternativas para que o nível cultural da televisão melhore. Estes grupos de estudo devem estudar desde o processo histórico, sociológico, psicológico e filosófico até as formas de gerar lucro através dos comerciais, de forma a criar a semente de uma nova televisão no Brasil, que irá não apenas ser mais atraente aos olhos e ouvidos, mas também colaborar efetivamente no processo de desenvolvimento social do nosso país.

FONTE DE REFERÊNCIA

HOINEFF, Nelson. A Nova Televisão. 1ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Relume Dumará, 1996.

 


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