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A Decifração da Escrita – Regras

Descubra as regras do mundo da escrita com a Decifração da Escrita. Aprenda a correta formatação da escrita com mais facilidade e se torne um escritor mais experiente.

A Decifração da Escrita – Regras

Para quem já sabe ler, a decifração é algo mecânico. Assim, o controle fonético dá-se naturalmente para quem já aprendeu a falar, mas para explicar e demonstrar esses conhecimentos, há uma necessidade de algumas normas e regras que façam com que seja criada uma convenção social, que seja de conhecimento de todos e possa ser compartilhada pelos usuários.

Os conhecimentos dessas regras constituem o segredo da decifração da escrita, onde começa o processo de alfabetização.

Conhecer a língua em que foram escritas as palavras

Para que possamos começar, temos de iniciar pela aprendizagem de uma língua, no nosso caso a brasileira, pois a partir da aprendizagem é que a criança poderá começar a refletir sobre seus conhecimentos da escrita e da leitura e assim poder dar início à decifração.

Conhecer o sistema de escrita

É preciso distinguir um desenho de uma manifestação de escrita, pois o desenho representa algo do mundo para ele, e a escrita representa a linguagem oral que representa o mundo. Uma mesma forma gráfica, portanto, pode ser apenas um desenho ou uma escrita.

Conhecer o alfabeto

O alfabeto é composto por letras nas quais cada uma tem um nome que a identifique. Cada letra representa um dos sons possíveis que a letra apresenta através de um princípio acrofônico.

Conhecer as letras

As letras são unidades do alfabeto que representam os sons vocálicos ou consonantais que constituem as palavras. Elas variam de forma gráfica e no valor funcional. No processo de alfabetização, é mais fácil para o aluno compreender certos tipos de grafias, como por exemplo, a letra que forma saber identificar as letras e compreender suas funções e variações, sendo essencial no processo de alfabetização.

Conhecer a categorização gráfica das letras

As letras, como visto anteriormente, podem apresentar formas gráficas distintas, mas apesar dessa variação, a letra permanece a mesma, pois exerce a mesma função no sistema de escrita.

A forma gráfica pode variar até onde o leitor possa compreender as letras da palavra, mesmo que a mesma se aproxime de formas pouco definidas, como no caso dos rabiscos. Por isso, é preciso conhecer as letras no seu aspecto gráfico e no seu aspecto funcional, para que haja uma identificação da palavra.

Conhecer a categorização funcional das letras

As letras, como unidades abstratas do alfabeto, têm valores funcionais fixados pela história das letras, pelos processos de adaptação a uma determinada língua e pela ortografia das palavras. Portanto, não se pode escrever qualquer letra em qualquer posição sem que haja uma convenção que permitisse isso. Seria como querer escrever “garoto” com letras que não definiriam isso de modo ortográfico correto, como se escrevesse “masifi” para representar o mesmo, sem seguir regras definidas posteriormente pela história da escrita. Ou poderia-se utilizar possibilidades geradas pela ortografia e ter sua forma alterada, como em (casa, caza, caxa, qasa, qaza, qaxa, kasa, kaza, kaxa), sendo somente a primeira definida pela ortografia como certa.

A alfabetização depende essencialmente do conhecimento da categorização gráfica e funcional. Sem esses, um dos grandes problemas do analfabetismo ocorre, pois os alunos não conseguem aprender. Por isso, o professor tem que trabalhar muito nesses dois aspectos.

Conhecer a ortografia

A ortografia é mais importante do que a simples ideia de um alfabeto no nosso sistema de escrita, porque ela controla a categorização gráfica e funcional muito mais do que o princípio alfabético.

Conhecer a ortografia é importante para poder fazer a relação entre as letras e os sons, pois ela comanda o sistema de escrita e atribui valores fonéticos a cada um dos caracteres de uma palavra, estabelecendo como a linguagem oral deve ser segmentada para formar as unidades da escrita.

A ortografia permitiu que a escrita tivesse como função permitir a leitura e que usuários de outros dialetos reconhecessem uma determinada palavra e entendessem o que está escrito.

É mais fácil partir da escrita ortográfica para a decifração da linguagem, atribuindo valores fonéticos às letras do que analisar a fala e chegar à forma ortográfica que a palavra tem.

Até hoje, tem sido dada pouca importância para o estudo da ortografia, tanto nas escolas quanto nos sistemas de escrita, onde os professores só se preocupam em corrigir a ortografia e não em estudá-la com o aluno.

Conhecer o princípio acrofônico

O princípio acrofônico existe desde a formação do primeiro alfabeto e se baseia em um conjunto de regras que usamos para decifrar os valores sonoros das letras, atribuindo a cada letra o som que é dado pelo nome. Após, somam-se os sons para descobrir que palavra está escrita e são feitos os arranjos necessários a respeito dos valores sonoros das letras em função da história das palavras, da ortografia e do dialeto que o leitor conhece. Esse princípio é de grande valor para realizar a decifração e leitura.

Conhecer os nomes das letras

As letras normalmente têm seus nomes representados com o caractere que as representa, como (a, bê, cê, dê, efe, gê, …). Mas há algumas que não são escritas com esses caracteres de representação, como k, h, w, y, as quais são letras de pouco uso. Há também, para estas, variações de escrita com o (w) que em Portugal se lê (duplo vê) ou em inglês lê-se (duplo u). No nordeste, são adotados outros nomes para certas letras, como fé, lê, mê, nê, rê, onde são utilizados os dois nomes.

Conhecer as relações entre letras e sons (Princípios de leitura)

Para saber o som que uma letra tem, é preciso relacioná-la com seu nome (som básico) e em seguida estudar o contexto em que ocorre (letras que vêm antes e depois), para saber se existe alguma regra especial que altere o som básico em função do contexto.

Ex: o “s” entre duas vogais tem som de “zê”, o “c” diante de a ou u tem som de Ka e não de cê.

Conhecer essas relações é indispensável para decifrar e ler.

Conhecer as relações entre sons e letras (Princípios da escrita)

Para quem tem por base a ortografia para chegar à fala de acordo com a norma culta ou com a pronúncia de seu dialeto, o caminho das letras para chegar ao som é relativamente fácil, pois o aluno consegue ler e adaptar a palavra a seu dialeto. Quando ocorre o inverso, há uma certa dificuldade do aluno em conseguir, pois ele terá de definir os sons e transformá-los em palavras que o representem. Como se ele ouvisse a palavra “chão” e tivesse de escolher entre “x” e “ch” para representar na forma escrita, ou quando se diz “andano” ou “drentru”, o aluno dificilmente descobrirá a forma ortográfica. Mas no caminho inverso, quando se conhece a norma padrão, será mais fácil deduzir que a forma “andando” é equivalente a “andano” e “dentro” a “drentu”.

Conhecer a ordem das letras na escrita

Para ler, é preciso ainda saber em que direção a escrita vai. Quando dizemos que escrevemos da esquerda para a direita, significa que a sequência das letras nas palavras obedece a essa ordem. Algumas crianças, muito preocupadas com o traçado das letras, interpretam mal essa afirmação sobre a direção da escrita e acabam escrevendo, em sua maioria, as letras arredondadas de forma espelhada, uma vez que o movimento da mão é da esquerda para a direita e na forma correta da escrita é da direita para a esquerda.

Podemos escrever em outras direções, contanto que o leitor identifique a palavra transmitida.

Conhecer a linearidade da fala e da escrita

A questão anterior está ligada com a característica linear da fala e da escrita. Quando falamos, pronunciamos os elementos segmentados (vogais e consoantes) e os elementos prosódicos (entonação, ritmo, volume, velocidade, duração, e ainda nasalidade, o acento, a qualidade de voz, etc.) todos ao mesmo tempo e variando a cada momento. Mas na escrita, há alguns sinais que representam esses elementos prosódicos de forma que se possa fazer uma leitura correta com a fala, como quando usamos o ponto ou a vírgula para representar uma pausa no texto. Mas cabe ao leitor, como conhecedor da língua, tirar do texto as informações necessárias para reconstruir a linguagem oral na leitura, como se fosse ler o que ele estivesse dizendo por iniciativa pessoal.

Reconhecer uma palavra

Definir uma palavra na linguagem oral é uma tarefa difícil, mas é fácil na escrita. De acordo com as normas ortográficas, todo conjunto de letras separado por um espaço em branco constitui uma palavra. O critério semântico ajuda muito, mas não resolve todas as dúvidas.

No esforço para ler, a decifração começa a fazer sentido no momento em que o leitor descobre uma palavra. Para chegar lá, o fato de a escrita separar as palavras por espaços em branco ajuda enormemente.

O professor deve mostrar ao aluno que uma primeira tarefa é começar a identificar as segmentações das palavras. Para tal, deve ater-se apenas à escrita.

Nem tudo que se escreve são letras

Além das letras, a escrita usa sinais de pontuação, acentos e outras marcas.

A escrita usa esses acentos para marcar variações das qualidades das vogais e servem para modificar as variações fonéticas e orientar a entonação e os elementos prosódicos de um texto.

O desconhecimento dessas marcas às vezes confunde o leitor iniciante, que julga tratar-se de uma letra que ele não conhece, que às vezes bloqueia seu processo de decifração.

Nem tudo que aparece na fala tem representação gráfica na escrita

Nem todas as características sonoras da linguagem oral têm representação gráfica no sistema de escrita. No sistema alfabético, as letras representam apenas segmentos fonéticos e são chamadas de unidades construtivas das sílabas das palavras. Muitos dos elementos prosódicos têm pouca ou nenhuma representação na escrita, pois o sistema de escrita não se preocupa em certos aspectos, como a entonação, que na alfabetização tem que ser trabalhada pelo professor, que precisa ensinar ao aluno o que é ritmo em entonação e fazer com que o aluno aplique esses conceitos na sua leitura do texto.

O alfabeto não é usado para fazer transcrições fonéticas

Por as letras terem seus valores baseados em função da ortografia da língua e da fala dos dialetos, e não a partir das possibilidades articulatórias dos homens, tendo em vista todas as línguas e dialetos do mundo, o uso do alfabeto se torna precário. Ao se transcrever as maneiras que as crianças têm de pronunciar as palavras e registrá-las na forma escrita, para poder fazer com que elas entendam a pronúncia da palavra, poderia cair no erro de fazer o aluno racionalizar a palavra escrita para sua melhor compreensão da fonética, como se a palavra escrita fosse a certa, o que resultaria em erro por parte do aluno na escrita e na própria leitura.

Ex:

jalidice fizero achemo

Já lhe disse fizeram achamos

A competência técnica do professor

Saber decifrar a escrita é o segredo da alfabetização, e para isso o professor deverá fazer muitas coisas, mas a principal será ensinar o aluno a ler. Como alfabetizador, ele deve ter conhecimentos bastante específicos sobre a linguagem em geral e sobre a língua portuguesa para ensinar o aluno a ler e escrever. Precisa conhecer profundamente o funcionamento da escrita, da decifração e de como a escrita e a fala se relacionam.

Muitos professores alfabetizadores tradicionais têm a visão de que para se ler uma palavra basta seguir os sons das letras, e para se escrever uma palavra basta observar os sons que a palavra tem e escrever as letras correspondentes aos sons. E se indagado sobre como se saberá quais são os sons das letras, responderá que se aprende no ba-bé-bí-bó-bu. Ensinar o aluno a ler dessa forma é interpretá-lo e escrever de forma distorcida as palavras.

A autonomia do professor

Para que haja uma melhora na competência do professor, é necessário que ele reflita sobre suas competências. Deverá saber escolher e avaliar os livros que utilizará na sua didática para poder trabalhar em cima de suas questões e avaliar se são importantes para o ensino do aluno. Terá que estudar continuamente a sua área para que possa ser o melhor em sua área de atuação, sem ter de se utilizar de métodos e fórmulas criadas para facilitar a vida de alguns educadores que não querem se dar ao trabalho de estudar e especializar-se.

Um professor, com sua experiência em sala de aula, deve saber aproveitar e tirar daí o que a escola de formação não lhe deu. Para isso, ele deve ser autodidata e procurar, por esforço próprio, corrigir os defeitos de um sistema educacional falho, lendo livros de linguística geral ou de áreas particulares (fonologia, sociolinguística, semântica, etc.), e depois avaliando onde esses conhecimentos adquiridos se adaptam e onde serão aplicados em sua sala de aula. Deve refletir sobre o mecanismo da fala, escrita e leitura e quais os seus usos.

Deve explicitar, através de pequenas regras, o que faz quando ouve, fala e escreve. Deve também refletir sobre suas próprias dificuldades e tentar descobrir formas de superá-las, pois assim poderá procurar resolver suas dificuldades e as de seus alunos.

Autor: Bruno Melo

Este artigo foi organizado por Bruno Melo, resumindo trabalhos de Luiz Carlos Cagliari (UNESP – CNPq) e de Gladis Massini-Cagliari (UNESP – CNPq), em particular o livro “Diante das Letras: a escrita na alfabetização” (Massini-Cagliari, Gladis; Cagliari, Luiz Carlos. Campinas: Editora Mercado de Letras, 1999) e outros livros e publicações dos autores citados.

Para mais informações sobre a alfabetização, você pode conferir atividades de inglês que ajudam no desenvolvimento da leitura e escrita.

Além disso, para aprimorar suas habilidades de escrita, considere utilizar materiais escolares que podem facilitar o aprendizado.

Por fim, é importante entender a relação entre a escrita e a leitura, o que pode ser explorado em habilidades da BNCC que abordam esses temas.


Pedagogia ao Pé da Letra
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