Infância e Sociedade: O Conceito de Infância
Criança é entendida como oposição ao adulto, pela falta de idade ou de “maturidade” e de “adequada integração social”. Sendo de classes sociais diferentes, é inadequado supor a existência de uma população infantil homogênea, ao invés de se perceber diferentes populações infantis com processos desiguais de socialização.
Ao longo dos séculos, houve uma evolução na mudança de atitudes em relação à família, transformação dos sentimentos de infância (consciência da particularidade infantil) e da família.
Essas modificações são feitas à luz das mudanças ocorridas nas formas de organização da sociedade, onde a criança é compreendida segundo uma perspectiva do contexto histórico em que está inserida.
Sentimento de infância não é o mesmo que afeição pelas crianças, mas sim, a consciência da particularidade infantil, ou seja, o que distingue a criança do adulto, e faz com que a criança seja considerada um adulto em potencial.
Dois aspectos precisam ser enfatizados em relação a esse novo sentimento:
- O índice de mortalidade era alto, e a morte de crianças era natural e, quando sobrevivia, entrava no mundo dos adultos. No século XVI, as descobertas científicas prolongam a vida.
- O sentimento moderno de infância corresponde a atitudes contraditórias que caracterizam o comportamento dos adultos: uma considera a criança ingênua, inocente, e é traduzida pela paparicação dos adultos; a outra considera a criança como um ser imperfeito e incompleto, que precisa de moralização e de duração feita pelo adulto.
A ideia de infância aparece com a sociedade capitalista, urbano-industrial, na medida em que muda o papel social desempenhado pela criança na comunidade. Na sociedade burguesa, a criança passa a ser cuidada, escolarizada e preparada para atuação futura.
Esta forma de organização instituiu diferentes classes sociais, onde o papel da criança é diferente.
As crianças (nativas ou imigradas, ricas ou pobres, brancas ou negras) tinham (e têm) modos de vida e de inserção social diferentes umas das outras, o que correspondia (e corresponde) a diferentes graus de valorização da infância pelo adulto, a partir das condições econômicas, sociais e culturais e do papel efetivo que exerciam (e exercem) na comunidade.
A paparicação e moralização são contraditórias, mas se completam na concepção de infância enquanto essência infantil.
As noções pedagógicas de natureza e de cultura, ao serem aplicadas à infância, assumem um caráter temporal, o que confunde a infância, origem individual do homem, com a origem da humanidade: a infância corresponderia ao estágio originário da humanidade e, como tal, expressaria os traços essenciais da natureza humana.
No nível da relação da criança com o adulto, o adulto estabelece uma imagem de criança como um ser fraco e incompleto, atribuindo tais características à “natureza infantil”, o que dissimula ideologicamente as relações da criança com o adulto, onde exerce sobre a criança uma autoridade constante que é social e não natural, e que reproduz as autoridades de uma sociedade. Já no nível de relação da criança com a sociedade, a criança é considerada um ser que não é ainda social, desempenhando um papel marginal nas relações sociais, tanto em relação a bens materiais quanto em participar de decisões.
Para a pedagogia “tradicional”, a tarefa da educação é discipliná-la e inculcar regras, através do adulto.
A pedagogia “nova ou moderna”, protege o natural infantil, preservando a criança da corrupção da sociedade e guardando sua pureza, e a educação baseia-se na liberdade da criança.
A primeira relação entre adulto e criança é econômica. Para o adulto, a criança não produz economicamente e a criança financeiramente depende do adulto, o que varia com a classe social. A educação tem um valor de investimento a médio ou longo prazos e o desenvolvimento da criança contribuirá futuramente para aumentar o capital familiar.
As desigualdades sociais reais existentes entre as crianças são deixadas à margem pelo pensamento pedagógico.
Um conceito de criança abstrato, de “cunho humanista”, contrapõe-se a um conceito de criança único, científico, estabelecendo uma falsa dicotomia, porque a criança é encarada como se fosse a histórica e como se seu papel social e desenvolvimento independessem das condições de vida, da classe social e do meio cultural de sua família.
Para entender melhor as relações sociais e a importância da educação, é interessante explorar o conceito de educação alimentar para crianças, que pode influenciar diretamente o desenvolvimento infantil.
Autor: Michele R. Ouverney Silveira
eu preciso de um texto sobre infância e sociedade.