Tentativa de Compreensão do Autismo na Infância
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O termo autismo foi implantado na história da psiquiatria europeia em 1907 por Eugen Bleuer para designar um “ensimesmamento” (retrair-se a si mesmo) do sujeito em seu mundo interno e a ausência de qualquer contato com o interior (Roudinesco & Plon, 1998).
Em 1911, Bleuer formulou o conceito de esquizofrenia, salientando que o seu processo mórbido seria orgânico, mas não necessariamente físico e implicaria uma causalidade psíquica (Holanda, p. 11) e designou por autismo um distúrbio típico da esquizofrenia.
Segundo Maria Cristina Kupfer, durante aula do curso de Extensão Universitária, a palavra é derivada da noção freudiana de auto-erotismo, mas como Bleuer achava o termo muito sexual, fazendo uma contração de autos (o si mesmo) e erotismo, descartando o prefixo Eros (outro), adotou a palavra autismo.
Leo Kanner, em 1943, transformou a abordagem do autismo ao fazer a primeira descrição de onze crianças com características semelhantes.
Estas características são (Stefan, 1991):
- incapacidade para vincular-se de maneira ordinária com pessoas e situações;
- incapacidade para adotar uma postura antecipatória frente às pessoas;
- nenhuma linguagem ou incapacidade de empregar a linguagem de maneira significativa para os demais;
- excelente memória mecânica;
- repetição de pronomes pessoais do jeito que são ouvidos;
- repetição não só das palavras como também a entonação da pessoa com quem fala;
- recusa de comida;
- reagem com horror a ruídos fortes e objetos em movimento;
- atitudes monotonamente repetitivas e necessidade de manter as coisas sempre iguais;
- boa reação com objetos que lhe interessam, podendo jogar com eles durante horas;
- boas potencialidades cognitivas e fisionomias inteligentes;
- fisicamente, essencialmente normais;
- provêm de famílias bastante inteligentes.
Kanner usou o termo “autismo infantil precoce” para designar essas crianças e escreveu um quadro diferente da esquizofrenia, já que o que acontecia com estas crianças era uma incapacidade de estabelecer relações e não a fuga delas. Além disso, o diagnóstico de esquizofrenia pressupõe uma ativa vida de fantasia interior, enquanto nas onze crianças se observou falta de imaginação.
Kanner, ao observar que todas as crianças vinham de famílias inteligentes, ousou comentar que as mães pareciam frias e distantes, insinuando que talvez isso pudesse relacionar-se com os problemas de contato das crianças (Kupfer, 2001). As mães das crianças autistas protestaram contra a ideia de serem frias e, em 1946, Kanner escreveu “Em defesa das mães” e não soube mais o que fazer com as observações sobre as mães, acabando por partir para uma explicação funcional e comportamentalista (M. Faivre-Jussiaux, 1996) que toma por modelo os reflexos condicionados.
Deslocando-se cada vez mais para um organicismo e se opondo às conclusões do maior especialista norte-americano no tratamento de crianças autistas, Bruno Bettelheim, Kanner confiou aos biólogos do futuro a tarefa de forjar a explicação de sua descoberta.
A partir de 1980 e apesar da evolução da psiquiatria para o biologismo, o cognitismo e a genética, nenhum trabalho de pesquisa conseguiu comprovar que o autismo seja de ordem puramente orgânica.
Mesmo a abordagem psicanalítica do autismo, variando em função das diferentes correntes de pensamento que a atravessam, a Psicanálise é capaz de explicar a dimensão psíquica do autismo e permitir cuidar de crianças autistas em escolas, clínicas e centros especializados.
No presente trabalho, me apoiarei na concepção freudo-lacaniana para “tentar” compreender o autismo. Ou seja, como é feita a constituição do sujeito, qual a importância do Outro na passagem para sujeito de desejo e quais suas implicações na escolarização dessas crianças.
O conceito de Outro
O conceito de Outro é um conceito da teoria lacaniana, porém podemos entrevê-lo latente na obra de Freud e, por isso, é um elemento fundamental para Lacan recuperar os ditos freudianos.
Ao deter-se sobre o estado psicológico necessário para desvendar um sonho ou estruturas patológicas, Freud descreve uma atitude de espírito necessária ao fluir das ideias que parecem surgir “por sua livre e espontânea vontade”, associação livre. (Garcia-Roza, 2002).
Este é o primeiro e principal esteio de Outro na obra freudiana. É o Outro do inconsciente, cujo discurso leva a pessoa a falar além do que estava tencionada a falar, outra memória que se abre nas associações.
Ao mesmo tempo, afigura-se, também, outra lógica de funcionamento psíquico, outra linguagem que se manifesta nos tropeços do discurso consciente. Nestas duas dimensões (memória e lógica), pode-se condensar a acepção primeira de Outro como sendo um outro lugar psíquico em relação à consciência.
A derivação do conceito de Outro, a partir do inconsciente freudiano, traz a marca do particular retorno a Freud empreendido por Lacan e elaborado por ele em 1953, quando passa a desenvolver o registro do simbólico, propondo-se a resgatar o fundamento da fala na experiência psicanalítica (Fernandes, 2000).
Valendo-se dos desenvolvimentos da linguística introduzidos por Ferdinand de Saussure, Lacan equiparará as leis do inconsciente decifradas por Freud (condensação e deslocamento) às figuras de linguagem da metáfora e da metonímia (Garcia-Roza, 2002).
Enquanto as duas faces do significado lingüístico (significado e significante) isolados por Saussure são ordens distintas e irredutíveis, Lacan impõe um deslizamento incessante de uma ordem sob a outra, decorrendo disto que estas podem se tocar por delimitações periódicas, mas nunca se recobrir. O significante se reduz a meras unidades diferenciais que em si mesmas nada significam. Sua ação reside na capacidade de remeter sempre a um outro significante, o que equivale a dizer que o significante tem por propriedade existir enquanto articulado. Disto resultando ser da própria estrutura do significante dar lugar ao surgimento de um Outro, de novas significações.
O Outro de Lacan é exterior não só à consciência, mas também em relação ao indivíduo.
O conceito de Outro, compreendido como linguagem, equivale à cultura, ao conjunto de marcas que preexistem e que constituem a história de um sujeito.
Com o adulto na posição de Outro, a criança é colocada num universo de comunicação onde a intervenção do Outro constitui-se como uma resposta a algo que foi suposto como uma demanda, uma projeção do desejo no Outro. A criança fica assujeitada às hipóteses do Outro (Rocha, 2003).
A Subjetividade Humana: a constituição do sujeito
O nascimento de um bebê, aparentemente saudável, não é suficiente para garantir sua constituição como sujeito psíquico.
O sujeito que fala a psicanálise não é um sujeito enquanto denominação de uma pessoa, mas sim o sujeito do inconsciente que se constitui pela linguagem.
Quando uma criança nasce, ela não é mais que um pedaço de carne, um feixe de nervos com unha e cabelo, não havendo “nada que pudesse parecer-se com um EU” (Lajonquière, 1998, pág. 163) e esse “pedaço de carne” para sustentar-se na vida deve ser desejado pelos outros, “para manter-se na vida, a criança precisa que outro a pulsione a viver” (Lajonquière, p. 155).
Sendo a linguagem fundamental para entendermos a construção da subjetividade humana, é preciso identificar no que ela se diferencia de qualquer outro tipo de linguagem encontrada em outras espécies.
Nos animais, a linguagem resume-se a signos (aquilo que representa alguma coisa para alguém) e nos homens, a linguagem é fundada no funcionamento do significante (elementos discretos que, isoladamente, não significam nada, mas produzem significado quando articulados em cadeias).
O sujeito, ao falar, mobiliza vários sentidos que vão muito além de suas intenções imediatas e que estão associadas a outras cadeias significantes que ele não tem acesso, mas que certamente remetem à sua história.
Uma consequência radical da ação da linguagem no sujeito é a total subversão do padrão instintivo.
Nos “Três Ensaios sobre a Sexualidade” (1905), Freud diferencia a sexualidade humana dos outros seres vivos, onde os homens não possuem um objeto pré-determinado e os animais obedecem a um instinto e introduz, aí, o conceito de pulsão.
O impulso, ou pressão, no instinto funciona como algo que, uma vez saciado, adormece até que um novo impulso venha provocá-lo, dado pela necessidade biológica. Já na pulsão, a pressão é constante e nunca chega a uma saciedade plena. No padrão instintivo, a fonte corresponde a processos internos fisiológicos, o objetivo é fixo e o alvo está condicionado à satisfação de uma necessidade. Na pulsão, a fonte desloca-se para as zonas erógenas ligadas aos orifícios corpóreos, o objetivo é substituível e o alvo pode ser desviado para satisfações de outra ordem (Garcia-Roza, 2002).
O objeto da pulsão é um objeto construído através da linguagem, ou seja, pulsão e linguagem são correlatos.
Para a constituição da subjetividade, existem três registros diferentes: simbólico, imaginário e real, e a exclusão de qualquer um dos três registros implica uma exclusão do sujeito.
Os três registros e a constituição do sujeito: o estádio do espelho e o complexo de Édipo
“Uma das dimensões do espaço habitado pelo falante, o imaginário, é a ordem constituída pelas imagens e pela libido, esse elemento sexual, vital que partindo do corpo como fonte, circula entre as imagens – eu e a imagem do eu – ao mesmo tempo em que lhes dá sua necessária sustentação” (Souza, 1991, p. 33).
As questões referentes ao imaginário são articuladas na obra freudiana no campo da teoria do narcisismo, partindo de uma ideia de narcisismo primário onde não existe nada semelhante ao eu, servindo o corpo como o lugar do surgimento das pulsões que encontram logo sua satisfação (auto-erotismo). O auto-erotismo de narcisismo primário não significa que recuse Eros, a sexualidade já presente no início da vida (Holanda, 2003, p. 31), mas sim que o auto-erotismo seria, pois a atividade sexual do estado narcísico da distribuição da libido” (Freud).
O narcisismo primário depende do investimento libidinal dos pais na criança, ou seja, o narcisismo da criança deve ser inferido do narcisismo dos pais, deve ocupar um espaço no desejo parental.
O narcisismo foi tematizado por Lacan em sua concepção do estádio do espelho, que é uma construção teórica elaborada em 1950, que demonstra como se dá a primeira identificação que permitirá o surgimento do EU, a partir do desejo ou olhar materno.
Lacan situa o estádio do espelho entre seis a dezoito meses. Antes disso, o bebê não tem nenhuma imagem constituída e, nesse período, entre seis e dezoito meses, ele recebe a imagem que o Outro (figura materna) lhe oferece.
A criança requer a presença real de alguém que a receba num espaço virtual, lugar de sua falta, espaço que essa criança se espelha, se imaginariza, esse espaço que se cava no agente materno na medida que existe nele uma referência ao simbólico (Jerusalinsky, 1983).
“Simbólico… onde se topam o sujeito e o significante, zona de encontro onde se realiza o que para o falante, é da ordem do possível” (Souza, 1991, p. 9).
Os cuidados e as atenções da mãe para com seu filho referem-se essencialmente ao corpo, suas funções, seu funcionamento. Os discursos que ela formula em relação a ele inscrevem em toda uma rede simbólica de significantes a imagem do próprio corpo, que essa criança é levada progressivamente a se constituir.
Ao nascer, a criança precisa de Outro para satisfazer suas necessidades, outro que, a partir do primeiro grito, já o coloca em seus braços e vá lhe nomeando sentidos, vá lhe ofertando interpretações variadas, faça com que o bebê tenha uma experiência de satisfação.
A criança deve ser conduzida pelo discurso da mãe a constituir a imago do próprio corpo para que esse imago seja simbólica, para não permanecer apenas no registro imaginário, pois o que antecede prepara e antecipa a imagem simbólica do próprio corpo, depende também do imaginário e, mais precisamente, de uma relação bi-unívoca entre o objeto parcial real, mas exterior (o eu) e suas imagens (o seio real) – (Bergès & Balbo, 1997).
De acordo com Kupfer, vemos o bebê virar a cabeça e reencontrar a gestalt do rosto materno, após ela ter se ausentado, e lhe sorrir. Quando esses atos de reconhecimento mãe-bebê começam a falhar, por volta dos seis meses de idade, surgem os primeiros traços autistas. O bebê não olha para ninguém, evita o rosto materno, não fixa a cabeça que cai para o lado, já que não há por que olhar, a boca não erotizada, está sempre semi-aberta e exibe uma constante baba que desliza pelos seus lábios moles.
Uma criança com mais ou menos seis meses de idade “é pura descoordenação motora, fragmentação e falta” (Souza, 1991, p. 35), mas através de sua imagem refletida no espelho, onde o Outro dá suporte, há uma antecipação para a criança de seu amadurecimento corporal que ainda não está constituído e omite a insuficiência.
A mãe, neste momento, é uma mãe pré-especular e esse conceito refere-se às relações mais ou menos conflitivas da mãe com o real do corpo de seu filho, relações em que o que está em jogo é o imaginário de seu próprio corpo, de sua própria fantasmática e onde é levado em consideração a natureza do gozo experimentado.
É ao Outro materno que a criança deve estar atada e isto é representado na tríade imaginária mãe-falo-criança. Já que o desejo da mãe é o falo, a criança quer ser o falo para satisfazer o desejo da mãe.
A criança é o suporte real deste falo imaginário e tenta responder à questão do que o Outro quer dele.
“A realidade é um aparelho comandado e sustentado pela fantasia no centro do qual habita o desejo” (Souza, 53).
O desejo da mãe antecipará no seu filho uma existência subjetiva que ainda não está lá, mas que virá a instalar-se justamente porque foi suposta.
Consequentemente, a subjetivação na criança só é possível a partir de um Outro. Outro que designa um lugar e, ao mesmo tempo, o sustenta, possibilitando o acesso a uma posição simbólica. Esse Outro, encarnado na figura da mãe, deve se encontrar numa posição de dúvida e fazer chamado a um terceiro, o pai, “só assim o filho é objeto de desejo, e só assim, então a mãe inscreve no corpo dele as marcas do simbólico” (Jerusalinsky, 1997, p. 33).
Este pai, descrito por Lacan sob a forma de metáfora paterna, é chamado de Nome-do-Pai, introduz a lei simbólica em que reinava o imaginário entre mãe e criança. Ele interdita à criança suas pretensões de ser ou ter o objeto do desejo materno e interdita à mãe tomar a criança como aquilo que lhe falta e da qual ela não quer se separar.
A Inclusão Escolar
A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (n 9394) trata a Educação Especial como uma modalidade de educação escolar voltada para a formação do indivíduo, com vistas ao exercício da cidadania, que deve realizar-se transversalmente, permeado a todos os níveis e demais modalidades de ensino nas instituições escolares.
Em 1990, surge o movimento em prol da sociedade inclusiva, iniciado pelas Nações Unidas, mediante a resolução desse organismo em defesa de uma sociedade para todos, configurando assim a normativa universal que fundamenta a implantação da inclusão.
Essa abrangência foi definida no âmbito educacional em 1994, por meio do Encontro de Salamanca, na Espanha, resultando no documento “Declaração de Salamanca”, assinado por diversos países, inclusive o Brasil.
Este documento determina a transformação das escolas regulares em Escolas para Todos, onde qualquer aluno portador de necessidades especiais ou distúrbio de aprendizagem possa fazer parte.
Com isso, fica claro que a função dos políticos é manter a ilusão de um mundo melhor. Quando dizem que essas crianças precisam ser incluídas, estão querendo fazer o que é politicamente correto, porém o que acaba acontecendo nas escolas regulares é uma “inclusão intra-muro” (Rinaldi, durante aula do curso de Extensão Universitária), a escola leva o aluno para dentro, mas não o inclui no discurso pedagógico.
O currículo das escolas deveria ser adaptado às necessidades das crianças e não vice-versa. Deveriam prover oportunidades curriculares que sejam apropriadas à criança com habilidades e interesses diferentes.
Os analistas se preocupam em fazer a inclusão de crianças com D.G.D (distúrbios globais do desenvolvimento) bem antes da L.D.B.
Em 1969, Maud Manoni fundou a Escola Experimental de Bonneiul a fim de promover uma pesquisa psicanalítica e pedagógica a respeito dos distúrbios de aprendizagem.
A proposta da escola é trabalhar a Educação Terapêutica, usar a prática de retificação, ou seja, recuperar o que se “estragou”, deformou.
Segundo Manoni, o conflito de constituição do sujeito no autismo é algo que se deu dentro do processo educativo.
No Brasil, existe a Escola Terapêutica Lugar de Vida, que funciona na Universidade de São Paulo no Instituto de Psicologia desde 1991. Lá, as crianças recebem atendimento em grupo, quatro vezes por semana, alternadamente, nas atividades dos grupos do jogo, do educacional, da recreação, nos espaços dos ateliês de artes e contar histórias (Kupfer, 2001).
Kupfer afirma que o campo teórico sobre o qual se assentam as suas práticas clínico-teórico-educacionais chama-se educação terapêutica.
Conclusão
O que acontece no autismo é uma falha no simbólico, o lugar da linguagem.
Para a constituição do sujeito, os dois primeiros anos de vida são cruciais.
Desde o nascimento, o bebê comunica-se por meio de um choro que é preciso que a mãe atribua-lhe um significado, uma interpretação.
Durante a amamentação, já inicia-se um diálogo pela troca de afetos, emoções e necessidades investidas neste ato. Isto vai ocorrendo gradativamente e leva a uma comunicação efetiva entre os dois, a qual deve ter uma intenção, um alvo ou objetivo, demonstrada por meio de um olhar, gestos e, por fim, a fala.
As ações da criança no decorrer de sua constituição devem ser coordenadas e com sentidos. Descobrir, reconhecer, conhecer, compreender e responder às emoções dos outros e discernir o significado produzido pelas pessoas é tarefa que depende que o Outro Primordial (a mãe, não necessariamente a mãe real) a coloque no lugar de sujeito desejante. A mãe deve ensinar para o filho que a palavra é sempre dirigida ao outro.
O autista funciona no “piloto automático”, ninguém precisa guiá-lo, há uma ausência de sujeito, já que lhe faltou a palavra da mãe, a marca na sua constituição, marca “carregada de brasa”, carregada de calor, libido, júbilo, gozo, a falta de alguém que acredita diariamente que o bebê já é um sujeito e que sempre fala com ele, esta suposição do sujeito é o que o constitui.
Somos os seres vivos mais imaturos, a bagagem que nascemos é puro automotismo (reflexo) e, por isso, fazemos um chamado ao Outro para podermos ser sustentados.
À medida que a criança vai se formando sujeito, os reflexos são recalcados.
No autismo, podemos observar que as principais estereotipias são resíduos do automotismo. Por isso, eles balançam os dedos, as mãos e o corpo. Estes reflexos são descargas de energia e não entendia o autista porque ele não tem desejo.
Quanto à inclusão de crianças autistas em escolas regulares, as escolas segregam crianças com autismo porque são refratárias ao próprio ato pedagógico.
Pela própria estrutura de constituição da criança, ela não deveria estar na escola, já que a educação tem três funções: homonização, singularização e socialização.
A escola supõe que a função da homonização, onde a criança deve se conhecer como gente, já esteja feita, função onde o Outro tem sua existência real, não simbólica. Mas os movimentos reflexos não estão constituídos.
As mães inventam um jeito edipiano de interferir nessas crianças.
O autista não instala o significante e a cultura é feita de material significante.
O autista não transfere e a educação exige uma demanda de transferência.
Mesmo assim, como já foi dito na introdução do trabalho, através da Psicanálise, escolas e centros especializados vêm conseguindo bons resultados na educação de autistas.
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SOUZA, N. S. A Psicose: Um estudo Lacaniano. Rio de Janeiro, Campus, 1991.
Além disso, é importante considerar o uso de brinquedos que ajudam no desenvolvimento das crianças autistas, pois podem ser ferramentas valiosas no processo de aprendizagem.
O Aluno Autista e o Processo de Aprendizagem é um tema que merece atenção especial, e você pode encontrar mais informações sobre isso em nossa página dedicada.
Por fim, a inclusão de alunos autistas em sala de aula é um desafio que pode ser superado com estratégias adequadas, como discutido em nossa seção sobre inclusão escolar.