O Bullying (termo utilizado para definir as brincadeiras sarcásticas e de mau gosto que acontecem na sociedade) ainda não é conhecido como deveria ser, por isso queremos com este trabalho pesquisar quando e como ocorre, levantar casos reais, para depois podermos esclarecer pais, professores e alunos sobre este assunto tão grave que está muito perto de nós.
Ao analisarmos as relações de agressividade e violência presentes no cotidiano escolar dos últimos dez anos, percebemos que as manifestações “gratuitas” de violência física, psicológica e social entre as crianças, adolescentes e jovens têm crescido exponencialmente a cada ano, e as proporções e implicações destas afetam não só os educandos em questão, mas sim, expandem para demais membros da comunidade escolar, como professores, funcionários e gestores, sendo que vez ou outra extrapolam os muros da instituição escolar, e se alastram também pelas mídias eletrônicas e por meio de e-mails, blogs e sítios de relacionamentos, nos quais um grupo de alunos expõe um de seus colegas de sala a situações vexatórias.
Em alguns casos, o bullying faz com que suas vítimas passivas se tornem mais tarde, algozes de seus torturadores ou da instituição que representa o âmbito social que não foi capaz de protegê-los das inúmeras formas de agressão das quais foram alvos ao longo de anos, retratados pela mídia em casos famosos, como o dos jovens de Columbine em 1998, o do atirador coreano Cho Seung Hi em 2007, ou de Edimar Aparecido Freitas, de 18 anos, que invadiu em 2003 a escola onde havia estudado, no município de Taiuva, em São Paulo, e feriu gravemente a bala cinco alunos, matando-se em seguida.
Casos assim estão cada vez mais comuns em nosso país, por isso a necessidade de conscientizar pais, alunos e professores de que o Bullying é grave e que está mais perto de nós do que gostaríamos. Para entender melhor o impacto do bullying, é importante conhecer a importância da autoestima nas crianças.
O que é bullying?
Palavra de origem inglesa, adotada em muitos países para definir o desejo consciente e deliberado de maltratar uma outra pessoa e colocá-la sob tensão; termo que conceitua os comportamentos agressivos e anti-sociais; violência escolar.
Bully, enquanto nome, é traduzido como “valentão”, “tirano”, e como verbo, “brutalizar”, “amedrontar”. Dessa forma, a definição de bullying é compreendida como um subconjunto de comportamentos agressivos, sendo caracterizado por sua natureza repetitiva e por desequilíbrio de poder. O desequilíbrio de poder caracteriza-se pelo fato de que a vítima não consegue se defender com facilidade, devido a inúmeros fatores: por ser de menor estatura ou força física; por estar em minoria; por apresentar pouca habilidade de defesa; pela falta de assertividade e pouca flexibilidade psicológica perante o autor ou autores dos ataques.
Assim sendo, por definição universal, bullying é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outros, causando dor, angústia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão, além de danos físicos, morais e materiais, são algumas das manifestações do comportamento bullying.
O primeiro a relacionar a palavra ao fenômeno foi Dan Olweus, professor da Universidade da Noruega. Ao pesquisar as tendências suicidas entre adolescentes, Olweus descobriu que a maioria desses jovens tinha sofrido algum tipo de ameaça e que, portanto, bullying era um mal a combater.
Bullying são todas as formas de atitudes agressivas intencionais e repetitivas que ridicularizam o outro. Atitudes como comentários maldosos, apelidos ou gracinhas que caracterizam alguém, e outras formas que causam dor e angústia, e executados dentro de uma relação desigual de poder que são características essenciais que tornam possível a intimidação da vítima.
O Bullying é um problema mundial, é encontrado em qualquer escola, não restringindo um tipo específico de instituição. O bullying começou a ser pesquisado há cerca de dez anos atrás na Europa, quando se descobriu o que estava por trás de muitas tentativas de suicídio entre adolescentes. Geralmente, os pais e a escola não davam muita atenção para o fato, que geralmente achavam as ofensas bobas demais para terem maiores consequências, o jovem recorria a uma medida desesperada.
Atualmente, todas as escolas do Reino Unido já implantaram políticas anti-bullying. Os estudos da Abrapia demonstram que não há diferenças significativas entre as escolas avaliadas e os dados internacionais. A grande surpresa foi o fato de que aqui os estudantes identificaram a sala de aula como o local de maior incidência desse tipo de violência, enquanto, em outros países, ele ocorre principalmente fora da sala de aula, no horário de recreio.
Segundo pesquisas da ABRAPIA, os autores são indivíduos que geralmente não têm empatia, frequentemente pertencem a famílias desestruturadas, nas quais há pouco relacionamento afetivo entre seus membros. Seus pais exercem uma supervisão pobre sobre eles, toleram e oferecem como modelo para solucionar conflitos, comportamento agressivo ou explosivo. Admite-se que os que praticam o bullying têm grande probabilidade de se tornarem adultos com comportamentos anti-sociais e/ou violentos, podendo vir a adotar, inclusive, atitudes delinquentes ou criminosas.
Os alvos são pessoas ou grupos que são prejudicados ou que sofrem as consequências dos comportamentos de outros e que não dispõem de recursos, status ou habilidade para reagir ou fazer cessar os atos danosos contra si. São, geralmente, pouco sociáveis. Um forte sentimento de insegurança os impede de solicitar ajuda. São pessoas sem esperança quanto às possibilidades de se adequarem ao grupo. A baixa autoestima é agravada por intervenções críticas ou pela indiferença dos adultos sobre seu sofrimento. Alguns crêem ser merecedores do que lhes é imposto.
Têm poucos amigos, são passivos, quietos e não reagem efetivamente aos atos de agressividade sofridos. Muitos passam a ter baixo desempenho escolar, resistem ou recusam-se a ir para a escola, chegando a simular doenças. Trocam de colégio com frequência ou abandonam os estudos. Há jovens que, por extrema depressão, acabam tentando ou cometendo suicídio.
As testemunhas, representadas pela grande maioria dos alunos, convivem com a violência e se calam em razão do temor de se tornarem as “próximas vítimas”. Apesar de não sofrerem as agressões diretamente, muitas delas podem sentir-se incomodadas com o que vêem e inseguras sobre o que fazer. Algumas reagem negativamente diante da violação de seu direito a aprender em um ambiente seguro, solidário e sem temores. Tudo isso pode influenciar negativamente sobre sua capacidade de progredir acadêmica e socialmente.
Histórico do Fenômeno
O bullying é um fenômeno mundial tão antigo quanto a própria escola. Apesar de os educadores terem consciência da problemática existente entre agressor e vítima, poucos esforços foram despendidos para o seu estudo sistemático até princípios da década de 1970.
Dan Olweus, pesquisador da Universidade de Bergen, desenvolveu os primeiros critérios para detectar o problema de forma específica, permitindo diferenciá-lo de outras possíveis interpretações, como incidentes e gozações ou relações de brincadeiras entre iguais, próprias do processo de amadurecimento do indivíduo.
O programa de intervenção de Olweus tinha como características desenvolver regras claras contra o bullying nas escolas, alcançar um envolvimento ativo por parte dos professores e dos pais, aumentar a conscientização do problema para eliminar mitos sobre o bullying e prover apoio e proteção para as vítimas.
Nos Estados Unidos, o bullying é hoje tema de grande interesse. O fenômeno cresce entre os alunos das escolas americanas. Os índices de sua incidência são tão altos que os pesquisadores americanos o classificam como um conflito global e prevêem que, se persistir essa tendência, será grande o número de jovens que se tornarão adultos abusadores e delinquentes.
No Brasil, o bullying ainda é pouco comentado e estudado, motivo pelo qual não existem indicadores que forneçam uma visão global para que possamos compará-lo aos demais países. O que se sabe é que em relação à Europa, no que se refere aos estudos e tratamento desse comportamento, estamos com pelo menos 15 anos de atraso.
Casos reais de bullying
Em janeiro do ano passado, Edmar Aparecido Freitas, de 18 anos, entrou no colégio onde tinha estudado, em Taiúva (SP), e feriu oito pessoas com disparos de um revólver calibre 38. Em seguida, se matou. Obeso, ele havia passado a vida escolar sendo vítima de apelidos humilhantes e alvo de gargalhadas e sussurros pelos corredores. Atitude semelhante tiveram dois adolescentes norte-americanos na escola de Ensino Médio Columbine, no Colorado (EUA), em abril de 1999. Após matar 13 pessoas e deixar dezenas de feridos, eles também cometeram suicídio quando se viram cercados pela polícia. Assim como o garoto brasileiro, os jovens americanos eram ridicularizados pelos colegas.
Em fevereiro último, na cidade de Remanso, interior baiano, um adolescente de dezessete anos, vítima de humilhações na escola, matou seu principal agressor (um garoto de treze anos), a secretária do curso de informática, ferindo mais três pessoas. Não conseguiu cometer o suicídio, como tinha planejado, foi dominado por um colega.
Gislaine, aluna da 2ª série, de oito anos, estava faltando frequentemente à escola. Quando comparecia, chorava muito e não participava das aulas, alegando dores de cabeça e medo. Certo dia, alguns alunos procuraram a professora da turma dizendo que a garota estava sofrendo ameaças. Teria que dar suas roupas, sapatos e dinheiro para outra aluna, caso contrário apanharia e seria cortada com estilete.
Carlos, da 5ª série, foi vítima de alguns colegas por muito tempo, porque não gostava de futebol. Era ridicularizado constantemente, sendo chamado de gay nas aulas de educação física. Isso o ofendia sobremaneira, levando-o a abrigar pensamentos suicidas, mas antes queria encontrar uma arma e matar muitos dentro da escola.
Adolescentes de 12 anos estão criando sites para agredir, coagir e denegrir a imagem de colegas de colégio. A violência, em muitos casos, sai das aulas de informática e chega a agressões físicas, dentro e fora das escolas. Foi o caso do menor P., de 12 anos. Ele virou alvo de chacota no site Euodeiocatuca, que, em linguagem chula, o ridicularizava, com insinuações de homossexualismo.
Depois que seus pais exigiram a retirada do site do ar e a escola suspendeu por dois dias o seu autor, G., de 12 anos, P. passou a ser agredido por grupos de alunos no recreio, à porta da escola e até fora dela, no curso de inglês. O resultado é que P. não sai mais de casa sozinho e mudou de colégio, devido à coação que sofreu. Há alguns meses, uma menina de 12 anos teve que deixar o colégio após um ataque semelhante de gangues da internet. Em um outro colégio, alunos da 6ª série, a maioria entre 11 e 12 anos, criaram um site durante a própria aula de informática e passaram a denegrir meninos e meninas da escola. O site, de conteúdo violento e pornográfico, registrava 300 entradas por dia e chocou os pais pela falta de respeito entre os colegas, agravada por um palavreado incompatível com a formação que desejavam para seus filhos.
“Se eu tivesse uma filha e falassem dela o que eu li no site sobre outras alunas, morreria de vergonha. A ideia de fazer um site é boa, a execução é sensacional, mas o conteúdo é de uma agressividade assustadora.
Hoje, meninos e meninas de 12 anos são altamente agressivos. Sobretudo as meninas, mais maduras, que aprontam, bebem e cansam de chegar de ressaca na escola às segundas-feiras. A agressividade entre os jovens na escola precisa ser discutida”, diz Claudia Ramos, mãe de um dos alunos.
Quando ela e o marido João Carlos Pinheiro, entraram no site feito pelos alunos num domingo de setembro, ficaram estarrecidos. Na manhã seguinte, levaram o caso à diretora da escola que já estava tomando providências para a retirada do site, junto ao provedor. Pais e alunos foram chamados para discutir o caso, mas a questão ainda está no ar. Como lidar com a agressividade sem limites dos jovens e substituí-la por solidariedade, respeito ao outro e exercício de cidadania? “O que eu achei mais absurdo foi que a maioria dos alunos não via nada demais no site. Para eles, é normal fazer isso com os colegas. É claro que, no meu tempo de colégio, alguns meninos e meninas eram difamados à boca pequena. Mas, com a internet, a agressão se tornou pública e muito mais violenta”, comenta Claudia.
A mãe do menor P., agredido pela internet e fisicamente, Jussara Ferreira, registrou a queixa de todas as agressões sofridas pelo filho, identificando a maioria dos menores agressores, na 5ª Promotoria de Justiça de Infância e Juventude. O diretor da escola diz que a instituição enfrentou o problema e puniu os responsáveis pela criação do site e pela briga no pátio, mas não pode se responsabilizar pelo que os alunos fazem na rua. O advogado Carlos Alberto Lima de Almeida, do Sindicato de Estabelecimentos de Ensino, diz que a escola só é juridicamente responsável pelo que ocorre no seu interior. Para ele, o único caminho para enfrentar a agressividade dos jovens é resgatar a família para o ambiente escolar. “Os pais deixam a formação da criança exclusivamente para a escola. Eles não sabem o que os filhos estão fazendo”.
Programas existentes para combater o bullying
Como reflexo dos trabalhos desenvolvidos nos países europeus, existem alguns programas em desenvolvimento no país, assim como literatura já publicada. Entre eles, o Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes, criado pela ABRAPIA – Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Criança e à Adolescência, em parceria com a Petrobrás Social, sendo desenvolvido em 11 escolas do Município do Rio de Janeiro e o Programa Educar para a Paz, em desenvolvimento desde agosto de 2002, em uma escola da Rede Pública Municipal de São José do Rio Preto, com resultados comprovados. O que antes incidia em um a cada quatro alunos, após a implantação do programa verifica-se sua ocorrência em um a cada 47 alunos. Portanto, faz-se necessário e urgente, iniciativas que visem coibir e prevenir esse comportamento maléfico, que atinge a nossa população escolar, tornando-as reféns dentro da própria escola.
O bullying não é somente um fenômeno que causa dor e sofrimento às suas vítimas, mas um fenômeno excludente que se contrapõe aos objetivos da educação do século XXI: “escola inclusiva, segura e de qualidade”. Para saber mais sobre a importância de ensinar ética aos filhos, acesse a importância de ensinar ética aos filhos.
ABRAPIA
A ABRAPIA, contando com o patrocínio da PETROBRAS, realiza um Programa que visa diagnosticar e implementar ações efetivas para a redução do comportamento agressivo entre estudantes de 11 escolas localizadas no Município do Rio de Janeiro. É seu objetivo sensibilizar educadores, famílias e sociedade para a existência do problema e suas consequências, buscando despertá-los para o reconhecimento do direito de toda criança e adolescente a frequentar uma escola segura e solidária, capaz de gerar cidadãos conscientes do respeito à pessoa humana e às suas diferenças.
Programa Educar para Paz
Este programa é composto de estratégias psicopedagógicas e socioeducacionais que visam à intervenção e à prevenção da violência nas escolas, com enfoque específico na redução do fenômeno bullying entre os escolares.
Os objetivos propostos pelo Programa Educar para a Paz são os seguintes:
- que os alunos sejam conscientizados do fenômeno e suas consequências, a partir da análise das próprias experiências vivenciadas no cotidiano, a fim de que percebam quais os pensamentos e as emoções despertadas por ele, bem como os motivos norteadores desse tipo de conduta;
- que os alunos, por meio da interiorização de valores humanos, desenvolvam a capacidade de empatia, a fim de que percebam as implicações e os sofrimentos gerados por esse tipo de comportamento e desenvolvam habilidades para sua erradicação;
- que os alunos se comprometam com o bem-comum e se tornem agentes de transformação da violência na construção de uma realidade de paz nas escolas.
Etapas Para Se Criar Um Programa Anti-Bullying
Pesquisando a realidade
Este é o primeiro passo a ser dado e resume-se na aplicação de um questionário de pesquisa com a participação de todos os alunos da escola, antes de receberem qualquer tipo de informação sobre o bullying. Apenas um pequeno texto, apresentado no momento da aplicação, tenta situar os estudantes dentro de conceitos sobre os quais se deseja obter opiniões.
Os resultados dessa aplicação vão determinar a prevalência, incidência e consequências do bullying em cada escola. Seus dados caracterizam a percepção espontânea dos alunos sobre a existência de bullying e seus sentimentos sobre isso.
Nem mesmo os professores devem estar cientes sobre o tema. No momento da aplicação do instrumento, deve-se entregar a cada um deles uma carta, explicando o objetivo da pesquisa e fornecendo algumas orientações sobre a metodologia utilizada.
O questionário deve ser aplicado simultaneamente em todas as turmas de um mesmo turno, evitando-se a troca de informações nos corredores, ou a possível intimidação de alguns alunos-alvos de bullying.
Em busca de parcerias
Uma vez analisados os resultados, todo o corpo docente deve ser informado e incentivado a discutir suas implicações, definindo que estratégias devem ser utilizadas durante o processo de divulgação e sensibilização dos alunos.
Formando um grupo de trabalho
Esse grupo deve ser composto por representantes de todos os segmentos da comunidade escolar, incluindo professores, funcionários, alunos e pais. Com base na realidade percebida por seus membros e com o auxílio dos dados da pesquisa, serão definidas coletivamente as ações a serem priorizadas e as táticas a serem adotadas.
Ouvindo opiniões
As propostas definidas pelo Grupo de Trabalho poderão ser submetidas a todos os alunos e funcionários, permitindo-se que sejam dadas sugestões sobre os compromissos e ações que a comunidade escolar deverá adotar para a prevenção e o controle do bullying.
Definindo os compromissos
A definição da relação final dos compromissos e prioridades poderá ser feita em assembleia geral contando com todos os alunos, professores e funcionários ou, apenas, pelo Grupo de Trabalho.
Divulgando o tema
Os compromissos e prioridades deverão ser amplamente divulgados. Diversas cópias serão afixadas em vários locais da escola.
Informando os pais
Os pais serão informados sobre os objetivos do projeto por meio de carta ou utilizando-se espaços dentro de reuniões organizadas pelas escolas.
Entrevistas
Foram feitas perguntas a 50 professores de diversas séries da rede de ensino particular e pública dos municípios de São Pedro e Santa Maria da Serra e chegamos à seguinte conclusão:
Pergunta 1: O que é Bullying?: 35 não sabem o que é Bullying, nem como ele ocorre, mas 48 admitem que existem brincadeiras de mau gosto na sala de aula.
Pergunta 2: Onde ele ocorre?: 100% responderam que as brincadeiras sarcásticas ocorrem nas escolas de todos os níveis sociais.
Pergunta 3: De que maneira os alunos se envolvem com o Bullying?: 30 pessoas não souberam responder e o restante diz que os alunos mais espertos atingem os mais tímidos.
Pergunta 4: Quais são as consequências para os alvos?: 25 acreditam que seja a humilhação, 15 a baixa autoestima, 10 a raiva e tristeza.
Pergunta 5: E para os autores, quais as consequências?: 15 professores disseram que é a euforia, 25 disseram ser o sucesso e o restante acreditam ser o bem-estar.
Pergunta 6: E quanto às testemunhas?: 29 pessoas disseram que as testemunhas se calam para não virar o próximo alvo, as outras 21 acham que as testemunhas gostam do que estão vendo e até incentivam.
Pergunta 7: Agressores precisam de vítimas. E quem são as vítimas?: Os professores disseram que 35 são os alunos mais tímidos e 15 são ex-vítimas de agressores.
Percebemos que as pessoas entrevistadas sabem pouco sobre o fenômeno Bullying. Por isso, é indispensável informar a todos os professores, coordenadores, diretores, pais e alunos sobre o fenômeno, como, quando e onde ele ocorre para evitarmos consequências mais graves.
O papel da educação
A educação do jovem no século XXI tem se tornado algo muito difícil, devido à ausência de modelos e de referenciais educacionais. Os pais de ontem mostram-se perdidos na educação das crianças de hoje. Estão cada vez mais ocupados com o trabalho e pouco tempo dispõem para dedicarem-se à educação dos filhos. Esta, por sua vez, é delegada a outros, ou em caso de famílias de menor poder aquisitivo, os filhos são entregues à própria sorte.
Os pais não conseguem educar seus filhos emocionalmente e, tampouco, sentem-se habilitados a resolverem conflitos por meio do diálogo e da negociação de regras. Optam muitas vezes pela arbitrariedade do não ou pela permissividade do sim, não oferecendo nenhum referencial de convivência pautado no diálogo, na compreensão, na tolerância, no limite e no afeto.
A escola também tem se mostrado inabilitada a trabalhar com a afetividade. Os alunos mostram-se agressivos, reproduzindo muitas vezes a educação doméstica, seja por meio dos maus-tratos, do conformismo, da exclusão ou da falta de limites revelados em suas relações interpessoais.
Os professores não conseguem detectar os problemas e, muitas vezes, também demonstram desgaste emocional com o resultado das várias situações próprias do seu dia sobrecarregado de trabalhos e dos conflitos em seu ambiente profissional. Muitas vezes, devido a isso, alguns professores contribuem com o agravamento do quadro, rotulando com apelidos pejorativos ou reagindo de forma agressiva ao comportamento indisciplinado de alguns alunos.
O Que a Família Pode Fazer?
Não há receita eficaz de como educar filhos, pois cada família é um mundo particular com características peculiares. Mas, apesar dessa constatação, não se pode cruzar os braços e deixar que as coisas aconteçam, sem que os educadores (primeiros responsáveis pela educação e orientação dos filhos e alunos) façam algo a respeito.
A educação pela e para a afetividade já é um bom começo. O exercício do afeto entre os membros de uma família é prática primeira de toda educação estruturada, que tem no diálogo o sustentáculo da relação interpessoal. Além disso, a verdade e a confiabilidade são os demais elementos necessários nessa relação entre pais e filhos. Os pais precisam evitar atitudes de autoproteção em demasia, ou de descaso referente aos filhos. A atenção em dose certa é elementar no processo evolutivo e formativo do ser humano.
O Que a Escola Pode Fazer?
Em relação à escola, em primeiro lugar, deve conscientizar-se de que esse conflito relacional já é considerado um problema de saúde pública. Por isso, é preciso desenvolver um olhar mais observador tanto dos professores quanto dos demais profissionais ligados ao espaço escolar. Sendo assim, deve atentar-se para sinais de violência, procurando neutralizar os agressores, bem como assessorar as vítimas e transformar os espectadores em principais aliados.
Além disso, tomar algumas iniciativas preventivas do tipo: aumentar a supervisão na hora do recreio e intervalo; evitar em sala de aula menosprezo, apelidos, ou rejeição de alunos por qualquer que seja o motivo. Também pode-se promover debates sobre as várias formas de violência, respeito mútuo e a afetividade tendo como foco as relações humanas.
Mas tais assuntos precisam fazer parte da rotina da escola como ações atitudinais e não apenas conceituais. De nada valerá falar sobre a não-violência, se os próprios profissionais em educação usam de atos agressivos, verbais ou não, contra seus alunos. Ou seja, procurar evitar a velha política do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.
Sugestões de ações pedagógicas
Atividade para Sala de Aula
Baseando-se em princípios de convivência, sugerimos a elaboração de um estatuto contra o bullying ou contra a violência, centrado em direitos e deveres para toda a comunidade escolar, além das devidas sanções, levando em conta os direitos humanos de igualdade e respeito de todos os seres humanos. Para a elaboração dos pactos de convivência ou do estatuto contra o bullying, expomos aqui algumas diretrizes que foram seguidas no Programa Educar para a Paz e que funcionaram.
Conscientização: os alunos devem estar conscientes dos objetivos de cada uma das regras que comporão o estatuto.
Discussão: o tutor relaciona na lousa as condutas violentas que mais incidiram nas investigações. Pede que os alunos se dividam em grupos e discutam quais são os direitos e quais são os deveres que deverão ter em relação a cada conduta. O tutor ou um aluno indicado anota na lousa as sugestões de cada grupo e também pode sugerir outras normas que julgar importante.
Votação: Deve-se chegar a um consenso por meio de votação da forma que o tutor achar conveniente.
Sanção: Criar normas e não utilizá-las é perda de tempo. É necessário que a infração a elas acarrete sanções previstas no estatuto. Caberá aos alunos indicar quais serão as consequências se as normas não forem obedecidas.
O estatuto será elaborado pelos alunos e nunca imposto pela escola. Criar normas torna-se um processo que exige consenso, reflexão e participação do maior número possível dos membros da comunidade educativa. A convivência é um ato de todos, motivo pelo qual todos devem participar. A assembleia geral para validar o estatuto feito em sala deve contar com a presença dos tutores, dos representantes de cada classe, do Conselho de Escola e dos pais e sendo impresso para que todos tenham conhecimento.
Recomendamos que as sanções sejam convertidas em ações solidárias e que seu cumprimento se dê com a ajuda dos alunos solidários. Dessa forma, o aluno que desobedece às regras tem a possibilidade de aprender atitudes positivas e melhorar seu comportamento com o auxílio de um companheiro.
Indicadores de Bullying
De acordo com as indicações de Dan Olweus, psicólogo norueguês da Universidade de Bergen e importante pesquisador sobre o assunto, para que uma criança ou adolescente seja identificado como vítima ou agressor, pais e professores precisam ter atenção se o mesmo apresenta alguns comportamentos:
VÍTIMA
Na escola
• Durante o recreio está frequentemente isolado e separado do grupo, ou procura ficar próximo do professor ou de algum adulto;
• Na sala de aula tem dificuldade em falar diante dos demais, mostrando-se inseguro ou ansioso;
• Nos jogos em equipe é o último a ser escolhido;
• Apresenta-se comumente com aspecto contrariado, triste, deprimido ou aflito;
• Desleixo gradual nas tarefas escolares;
• Apresenta ocasionalmente contusões, feridas, cortes, arranhões ou a roupa rasgada, de forma não-natural;
• Falta às aulas com certa frequência;
• Perde constantemente os seus pertences.
Em casa
• Apresenta, com frequência, dores de cabeça, pouco apetite, dor de estômago, tonturas, sobretudo de manhã;
• Muda o humor de maneira inesperada, apresentando explosões de irritação;
• Regressa da escola com as roupas rasgadas ou sujas e com o material escolar danificado;
• Desleixo gradual nas tarefas escolares;
• Apresenta aspecto contrariado, triste, deprimido, aflito ou infeliz;
• Apresenta contusões, feridas, cortes, arranhões ou estragos na roupa;
• Apresenta desculpas para faltar às aulas;
• Raramente possui amigos, ou se possui, são poucos os que compartilham seu tempo livre;
• Pede dinheiro extra à família ou furta;
• Apresenta gastos altos na cantina da escola.
AGRESSOR
Na escola
• Faz brincadeira ou gozações, além de rir de modo desdenhoso e hostil;
• Coloca apelidos ou chama pelo nome e sobrenome dos colegas, de forma malsoante;
• Insulta, menospreza, ridiculariza, difama;
• Faz ameaças, dá ordens, domina e subjuga;
• Incomoda, intimida, empurra, picha, bate, dá socos, pontapés, beliscões, puxa os cabelos, envolve-se em discussões e desentendimentos;
• Pega materiais escolares, dinheiro, lanches e outros pertences dos outros colegas, sem consentimento.
Em casa
• Regressa da escola com as roupas amarrotadas e com ar de superioridade;
• Apresenta atitude hostil, desafiante e agressiva com pais e irmãos, chegando a ponto de atemorizá-los sem levar em conta a idade ou a diferença de força física;
• É habilidoso para sair-se bem em “situações difíceis”;
• Exterioriza ou tenta exteriorizar sua autoridade sobre alguém;
• Porta objetos ou dinheiro sem justificar sua origem.
Quando a Brincadeira Passar a Ser Bullying
Quando as brincadeiras ultrapassarem os limites determinados pelo grupo social causando nos alvos apatia, raiva, humilhação, descontrole emocional, o professor deverá intervir para evitar brigas, discussões, revolta e até mesmo que o aluno se sinta desprezado pelos colegas.
Bibliografia
BEAUDOIN, Marie – Nathalie, TAYLOR, Maureen: Bullying e desrespeito: como acabar com essa cultura na escola. Tradução Sandra Regina Netz. – Porto Alegre: Artmed, 2006.
FANTE, Cleo: Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. – 2 editado, revisado e ampliado. – Campinas, SP: Verus, 2005.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural. São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Revista NOVA ESCOLA. Ano XXII nº 199 – Janeiro/Fevereiro 2007 (página 29)
Bullying, In: BUENO, F. S.: Minidicionário da Língua Portuguesa (São Paulo, FTD, 1996)
Autor: Rafaela Pimentel Servilha
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