Planejamento: 8 passos para elaborar a grade de aulas
Com critérios objetivos, é possível organizar os horários de forma propícia à aprendizagem.
De um ano para outro, a escola passa por algumas mudanças: turmas são criadas ou fechadas, o currículo se altera, alguns professores deixam a instituição e outros chegam. A grade de aulas, por consequência, precisa ser revista. Essa tarefa merece bastante atenção, pois é esse arranjo que pautará a rotina de alunos e professores durante os meses seguintes. Provavelmente, ao se deparar com uma planilha de horários em branco, você já tenha se perguntado: por onde começar?
Nas séries iniciais do Ensino Fundamental, isso não é um problema, já que o professor polivalente acompanha o mesmo grupo todos os dias da semana e, portanto, tem um horário fixo. Os únicos docentes que se revezam são os especialistas – geralmente os de Arte e Educação Física. No entanto, na segunda etapa do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, em que uma classe chega a ter mais de dez professores, esse processo não é tão simples.
Muitos diretores adotam softwares – existem os pagos e os gratuitos – como apoio. A maioria, no entanto, prefere montar as planilhas no papel ou no mural. Com ou sem a ajuda da tecnologia, os horários não podem ser preenchidos de forma mecânica. Isso porque as possibilidades de combinação são muitas. “Existe um propósito pedagógico a ser alcançado. Por isso, a reflexão por parte dos gestores é imprescindível”, explica Suzana Mesquita, coordenadora pedagógica da Escola Projeto Vida, em São Paulo.
Mais do que burocracia, a organização é uma parte importante do planejamento. A quantidade de tentativas (e erros, principalmente) diminui se algumas regras forem estabelecidas de antemão. A mais importante é dar prioridade às necessidades de aprendizagem dos alunos. Dessa forma, alguns pontos são inegociáveis – um professor com perfil alfabetizador, por exemplo, tem de ficar com uma turma de 1º ou 2º ano – e ao redor deles vão se encaixando as demandas menos importantes – como a preferência de um docente por concentrar as aulas em apenas um dia. Os demais critérios são definidos com base nas características da escola. Em uma instituição com muitas turmas e apenas um laboratório para Ciências, Biologia, Física e Química, essas disciplinas provavelmente terão de ser alocadas com prioridade para evitar que eventuais trocas interfiram no cronograma do local compartilhado.
Montar a grade de aulas pode ser considerado uma etapa da revisão do projeto político-pedagógico (PPP). Afinal, antes de realizá-la, é preciso seguir os mesmos procedimentos usados para a atualização do documento: a análise das matrículas e dos dados de aprendizagem e a avaliação dos recursos e da estrutura da escola. Esse é um bom começo, porém alguns imprevistos certamente aparecerão no meio do caminho. Nesta reportagem, você encontra oito passos básicos para que sua grade de horários seja um quebra-cabeça mais fácil de montar, com as dicas de especialistas e gestores de diversas redes de ensino do país.
2. Avaliação dos resultados
Analise junto com a coordenação pedagógica os resultados da aprendizagem levando em consideração os seguintes aspectos das aulas:
Produtividade Observe se há muita diferença de aproveitamento entre as turmas. Os alunos que têm aula de determinada disciplina no primeiro tempo têm notas menores e reclamam de sono? Os professores que lecionam logo após o recreio notam o grupo mais agitado e precisam interromper as atividades com frequência? Identifique os docentes com mais habilidade de gestão de sala de aula para que sejam lotados preferencialmente nesses horários. E providencie formação para os demais a fim de diminuir esse problema no ano seguinte.
Duração Aulas duplas podem ser uma solução para disciplinas que trabalham com projetos. As que utilizam o laboratório talvez não caibam em tempos de 45 ou 50 minutos, pois há a necessidade de preparar os experimentos e limpar o espaço após o uso. Por outro lado, quando a carga horária de uma disciplina é pequena, aulas casadas vão rarear o contato entre alunos e docentes. Imagine que as duas únicas aulas de Língua Estrangeira da semana sejam dadas em sequência na segunda-feira. Além de ficar muito tempo sem ter contato com o idioma, em caso de falta do professor, os conteúdos serão retomados apenas 15 dias depois.
Encadeamento Analise a logística dos projetos interdisciplinares: para viabilizá-los, foram necessárias muitas trocas de horário entre os professores? Se, para determinada série, existe um planejamento de projetos interdisciplinares – como um de Meio Ambiente envolvendo Geografia e Ciências -, é interessante que essas matérias estejam na sequência uma da outra. Considere ainda o deslocamento. Disciplinas que usem de forma recorrente espaços distantes da sala de aula podem ser colocadas preferencialmente no primeiro ou no último tempo, facilitando o fluxo nos corredores.
3. Atribuição de turmas
Os registros dos formadores também auxiliarão na escolha das turmas para as quais os professores lecionarão. Rosana Leite de Farias, diretora-geral do CIE Miécimo da Silva, no Rio de Janeiro, discute com as coordenadoras pedagógicas, Halene Simone Dias da Silva e Márcia de Carvalho Araújo, o perfil dos docentes de acordo com o grau de domínio dos conteúdos e de afinidade com a faixa etária dos alunos. Com base nesses critérios, elas decidiram manter o professor de Química, Gustavo Felício, no 3º ano, pois ele conseguiu fazer com que o desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) melhorasse naquela disciplina. “Uma vez definido que o perfil do professor é mais adequado a determinada série, não voltamos atrás para resolver conflitos de horário. Buscamos fazer as trocas que não comprometam as escolhas pedagógicas”, explica Rosana.
4. Análise dos espaços
É possível que algumas aulas dependam da disponibilidade de ambientes. Quando toda a escola compartilha a sala de informática, o laboratório de Ciências e a quadra esportiva, vale a pena montar cronogramas específicos para o uso desses espaços – principalmente se eles são usados por mais de um professor. Aulas externas estão sujeitas a fatores climáticos – e isso também deve ser levado em conta. Lucinara Vieira Antunes, diretora da EM Hercílio Amante, em Criciúma, a 191 quilômetros de Florianópolis, reserva os primeiros tempos para a Educação Física. “Como a quadra é descoberta, dou preferência ao começo da manhã, pois o sol próximo ao meio-dia atrapalha o desempenho dos alunos.”
5. Retomada dos anos anteriores
Levantadas as mudanças e redefinidos os critérios que melhor contribuem para a aprendizagem, é hora de elaborar a grade de fato. Vale consultar a do ano anterior e analisar o que pode ser mantido. Professores para quem foram atribuídas as mesmas turmas e cuja carga horária continua a mesma tendem a aceitar dar aula nos mesmos dias. Aqueles que trabalham em outras instituições terão mais facilidade em se adaptar a condições previamente acordadas. Há cinco anos, quando assumiu a direção da EE Alzira Ramos, em Cariacica, na Região Metropolitana de Vitória, Julio Gaudio levava uma semana montando os horários. Com o tempo, no entanto, ele passou a consultar as grades anteriores, que ele carrega coladas na agenda. “Ainda que haja algum ajuste, dá muito menos trabalho do que começar do zero.”
6. Definição de prioridades
Diretores e consultores entrevistados por GESTÃO ESCOLAR sugerem usar a seguinte ordem para designar as aulas:
a) Efetivos com carga horária total
Exceto nos horários de formação e de planejamento, esses profissionais estarão em sala de aula para cumprir a jornada integral. Como não há variáveis em negociação, é mais fácil formar a base da grade com esses professores.
b) Efetivos com carga reduzida
– cujas aulas necessitam de espaço próprio Essa é a limitação inflexível, pois não dá para criar novos ambientes de uma hora para outra. Dê prioridade aos docentes que ministram aula nos laboratórios e na quadra. Qualquer mudança mais à frente pode ser trabalhosa.
– que dão aula em mais de uma escola Nesse caso, a negociação é até possível. Porém a disponibilidade de tempo desses profissionais é menor.
– com outros tipos de restrição Problemas como cursos e compromissos pessoais serão considerados apenas se os critérios pedagógicos não ficarem comprometidos.
– sem impedimentos Como esses estão sempre à disposição, deixe-os por último para ocupar as lacunas ou solucionar eventuais janelas de outros professores.
c) Temporários
Nem sempre eles são conhecidos com antecedência. Por isso, dificilmente se leva em conta o perfil deles na atribuição de turmas. Em muitas redes, as escolas simplesmente informam os horários em que os temporários deverão estar na escola, cabendo a eles se adequar.
7. Trocas e negociações
Mesmo seguindo a ordem sugerida no item anterior, o horário pode apresentar janelas em excesso ou desagradar os professores. É um transtorno para eles, por exemplo, dar somente a primeira e a última aulas. Nesses casos, volte à lista da disponibilidade dos docentes e procure fazer ajustes usando o bom senso. Quando mais de um professor pede para fazer alterações, Alexandro Cunha, do CE Chequer Jorge, dá prioridade aos mais antigos – uma norma comum nas escolas. No caso dele, no entanto, funciona mais como um critério de desempate, sempre respeitando a regra de priorizar a aprendizagem. Se algum horário não fechar de jeito nenhum, vale negociar com a Secretaria de Educação ou diretamente com as outras escolas. No começo de 2012, Sandra Martelli de Albuquerque, diretora da EM Flavio de Souza Nogueira, em Sorocaba, a 99 quilômetros de São Paulo, percebeu que as aulas do professor Patric Peterson Germano, de Sociologia, eram no mesmo horário das que ele daria na EM Doutor Getúlio Vargas. Ela entrou em contato com sua colega, Adriana Ricardo da Mota Almeida, diretora da outra escola. “Às vezes, uma conversa simples resolve o problema para ambas as equipes gestoras.”
8. Ajustes finais
Mesmo com o planejamento, a grade ficará sujeita a ajustes. Mudanças inesperadas na equipe podem acontecer pouco antes do começo do ano letivo e, após o início das aulas, é possível identificar falhas na rotina. A EREM Maria Vieira Muliterno, em Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife, precisou alterar as aulas de Matemática de todo o Ensino Médio. Tradicionalmente, a disciplina era dividida em três subáreas – Geometria, Álgebra e Matemática Financeira -, cada uma delas assumida por um professor em todos os anos do Ensino Médio. Em 2012, a diretora, Miriam da Paz, resolveu designar um docente por série para dar os três conteúdos. Contudo, na segunda semana de aula, a equipe gestora fez uma avaliação e percebeu que os alunos não se adaptaram à nova organização. Afinal, na antiga divisão, os professores acompanhavam as turmas durante as três séries do Ensino Médio, o que facilitava a continuidade no trabalho. “O mais prático nem sempre é o melhor para a aprendizagem.”
Fonte: Aurélio Amaral ([email protected])
http://gestaoescolar.abril.com.br/aprendizagem/planejamento-8-passos-elaborar-grade-aulas-729287.shtml?page=7
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