Teoria Queer: Uma política pós identitária para a Educação
Por Tamires Rodrigues
Nos últimos tempos, a sexualidade tornou-se objeto de bastante privilégio no olhar de cientistas, dos estudiosos em psiquiatria, educadores, passando a se constituir, efetivamente, numa questão. (LOURO, 2001)
Desde então, a sexualidade, a partir das diversas perspectivas, vem sendo descrita, explicada, educada e até mesmo normatizada. Hoje, estamos vivenciando a multiplicação de instâncias e instituições que se autorizam a definir padrões, normas, sanidades ou insanidades e delimitar saberes e práticas como adequadas ou infames, reivindicando assim suas verdades e sua ética.
O embate por si só merece uma especial atenção de estudiosos culturais e educadores. Mas a complexidade está na contínua transformação e instabilidade. Segundo LOURO (2001), o grande desafio não é apenas assumir que as posições de gênero e sexuais se multiplicaram, mas também admitir que as fronteiras estão sendo constantemente atravessadas e, o que é ainda mais complicado, que o lugar social no qual alguns sujeitos vivem é exatamente a fronteira.
Queer pode ser traduzida por estranho, excêntrico, raro, extraordinário. Mas a expressão também se constitui na forma pejorativa com que são designados homens e mulheres homossexuais. Este termo, com toda sua carga de estranheza e deboche, é assumido por uma vertente dos movimentos homossexuais precisamente para caracterizar sua perspectiva de oposição e de contestação. Creio que para esse grupo, ser queer caracteriza colocar-se em oposição à normalização, venha ela de onde vier.
Para estudiosos queer, a afirmação da identidade constitui uma demarcação e também a negação do seu oposto, ou seja, sua diferença. A identidade negada constitui o sujeito. Isto contribui para um questionamento sobre os processos que caracterizam apenas uma forma de sexualidade – a homossexualidade – como a única considerada normal.
Sobre as questões que envolvem o campo da identidade, os teóricos queer sugerem uma teoria e uma política pós-identitária, sendo que o foco não seria a vida e o destino de homens e mulheres homossexuais, mas sim a crítica que se forma pela oposição de gêneros e a centralidade que organiza as práticas sociais e a relação entre os sujeitos. Para uma análise mais aprofundada sobre a diversidade na educação, consulte Variação Linguística e Preconceito Linguístico.
Ao estudar textos de Guacira Louro, encontramos um ótimo questionamento que pergunta como um movimento que se remete ao estranho e ao excêntrico pode ser articulado com a educação, que tradicionalmente é o espaço da normatização e do ajustamento. Como traduzir a teoria queer para uma prática pedagógica?
Tomaz Tadeu da Silva argumenta que a teoria queer efetua uma verdadeira reviravolta epistemológica. A teoria queer quer nos fazer pensar queer. Ela nos obriga a considerar o impensável, o que é proibido pensar, em vez de simplesmente considerar o pensável, o que é permitido pensar. Pensar queer significa questionar, problematizar, contestar todas as formas bem comportadas de conhecimento e de identidades. Silva, 2000, p.107.
Uma pedagogia e um currículo queer se distinguiriam de programas multiculturais bem intencionados, onde as diferenças são toleradas. Eles estariam voltados para a análise das produções das diferenças e assim trabalhar as diversas formas de identidade. A diferença deixaria de estar ausente para estar presente, mas que essa presença faça sentido para quem educa e para quem será educado. Neste sentido, o currículo passaria a prestar atenção ao jogo político aplicado nas metodologias de ensino. Seria combater a homofobia, a afirmação de que apenas um padrão é aceitável. Seria denunciar a negação e construir uma forma de quebrar o processo de normalização e marginalização de indivíduos.
Ela pode ser estranha e perturbadora, pode causar concordâncias e discordâncias. Por tudo isso, ela pode ser arriscada, mas não podemos negar que a teoria queer nos faz pensar.
Autor: Tamires Ferreira Rodrigues é licenciada em Pedagogia pela UniRio, graduanda em Letras e pós-graduanda em Metodologia de ensino em Sociologia e Filosofia.
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