Uma nova proposta para o ensino de crianças com ADD
Este artigo apresenta um método inovador de ensino para crianças com ADD, abordando a importância da atenção e do desenvolvimento de habilidades sensíveis e criativas, além de discutir alternativas para a educação inclusiva.
Fala-se muito sobre pedagogia, teorizam-se processos, montam-se projetos até interessantes para crianças com diferentes síndromes. Estas ideias, além de não serem mais do que utópicas, dificilmente chegam a ser debatidas com especialistas sobre as síndromes e levadas à população em geral.
Ao criarmos instituições que amparam crianças com hiperatividade, podemos estar afastando definitivamente essas crianças do âmbito social-real, comprometendo os esquemas de aprendizagem e a linguagem corporal.
Sabemos que a atenção de crianças com ADD é menor frente a estímulos. Menor no que se refere ao tempo em que a criança fixa sua atenção aos estímulos.
Trataremos nesta etapa do trabalho sobre os aspectos que a atenção pode tomar na vida da criança. Ao lidar com atenção, estamos abordando a via de entrada de informações na vida intelectual da criança. Pedagogicamente falando, sabemos que o caminho que essa atenção faz nos primeiros anos da vida da criança é do concreto para o abstrato. A criança vislumbra o concreto percorrendo o caminho do seu desenvolvimento até chegar no abstrato. Essa abstração é tão cobrada e valorizada pelos educadores que, por si só, é fonte de grande poder intelectual e de criatividade. Entendendo melhor o processo de pensamento de uma criança com ADD, sabe-se que ela, ao não dirigir sua atenção somente a um objeto devido à sua sensibilidade a estímulos externos, traça um emaranhado de associações que se acercam muito à abstração. Podemos dizer então que uma criança hiperativa possui uma capacidade de abstração muito grande que leva a um potencial intelectual e criativo muito elevado.
Da mesma maneira que isolar essa criança do ambiente escolar, com os estímulos existentes nele, é prejudicial, podemos dizer que o oposto pode tornar-se complicado.
Geralmente, o trabalho de um educador visa igualmente o individual e, junto com isso, uma concepção do que é o grupo. Essa criança carece de uma atenção especial, mais cuidadosa, um trabalho amplo, fazendo uma ponte entre sua casa, escola e clínica terapêutica.
Levando em conta a realidade do ensino infantil que hoje está em decadência, carente de profissionais e amparo governamental, insistimos no conhecimento e interesse nas síndromes que afetam a educação. Sabemos que existem classes de quase 40 alunos, onde uma atenção especial torna-se inviável. Por isso, defendemos a existência de uma ponte entre o meio que a criança vive, ampliando a rede social, fazendo com que a criança conviva com mais pessoas, permitindo, desta forma, um melhor desenvolvimento das suas habilidades.
Buscamos neste trabalho não só divulgar informações sobre uma condição que é tão pouco conhecida e que, no entanto, afeta tantas pessoas, como também discutir as possíveis alternativas para a educação da criança com ADD, propondo métodos de ensino adequados que permitam uma integração social mais ampla.
A principal questão é como podemos dar a uma criança com ADD a atenção e o apoio que elas necessitam quando nem crianças sem a síndrome e com necessidades menores conseguem ter esse tipo de atenção? Como desenvolver a atenção da criança aproveitando o potencial criativo e sensível dela?
Primeiramente, devemos ter a consciência de que a ADD limita a capacidade de aquisição rápida da criança. O que devemos trabalhar nessas crianças é o seu lado sensível, tanto emocional quanto criativo. Como já foi mencionado, as crianças com ADD têm um potencial enorme para desenvolver essas capacidades. Antes de iniciar o trabalho, devemos saber como realizar a estimulação nelas.
As condições do mundo atual levam a uma ansiedade pela alfabetização que, em alguns casos, tem se realizado a partir dos 3 anos de idade, fazendo com que as crianças deixem de desenvolver algumas outras atividades fundamentais que serviriam como suporte para uma alfabetização futura, ampliando a base para a aquisição. Entre essas características, o esquema corporal, pois sabemos que o corpo de uma criança pode lhe proporcionar prazer, além de ser uma fonte receptiva e transmissora de informações externas e internas.
A criança vai desenvolvendo o seu esquema corporal através da superação de obstáculos e do treinamento dos movimentos, indo de movimentos grosseiros até a coordenação motora fina.
O corpo sensivelmente capta e percebe sensorialmente o mundo. Essa porta de entrada possibilitará para a criança criar critérios qualitativos e discriminativos que serão fundamentais para a sua percepção espacial, social e corporal. Nas escolas de hoje, o trabalho corporal resume-se às aulas de educação física, que podem levar essas crianças à fadiga e ao consequente desinteresse em desenvolver essas habilidades. O trabalho corporal não deve ser limitado apenas à atividade esportiva, trabalhos em grupos, introdução de regras, etc. Ele é sensível, é dramático, é o processo criativo, que se apresenta como um facilitador para obter a atenção da criança com ADD. Através do corpo, sensibilizamos outras áreas. O esquema corporal de uma criança com ADD se vê comprometido por disfunções de inibição e controle.
Uma intervenção por parte do educador pode ser levada para o lado do experimento sensorial. Sabe-se que, através do corpo, podemos sensibilizar outras áreas. Um exemplo de trabalho com o corpo que busca, através de outro estímulo mais concreto, fazer com que a criança experimente sensações corpóreas: um trabalho com argila pode não buscar apenas a concretização de algo pensado. Existe uma parte sensível que se utiliza do tato.
Fazendo a criança perceber o material com que trabalha. O professor, ao estimular e valorizar suas descobertas, pode introduzir conceitos discriminativos entre outros, devido à sensibilização (que pode ser chamada de “aquecimento”) que a criança experienciou. Com isso, abrem-se novos caminhos para a introdução e estimulação de outras áreas.
Todo esse universo é precioso para a criança, pois nele terá liberdade para criar. A criança com ADD tem aí um recurso que seguramente terá sua atenção durante algum tempo. Muitas vezes nos perguntamos se o processo é a segurança da atenção ou se o produto é que mostra o grau de atenção que a criança designou para a atividade.
Como tudo, o processo pedagógico é progressivo. Ao valorizar o processo gerador de um produto, estamos abrindo o caminho para uma evolução que exige paciência por parte do educador. A criança com ADD, ao trabalhar com suas habilidades sensíveis, pode usar a sua percepção a estímulos para desenvolver um produto do processo criativo. Como sabemos, o mais difícil para uma criança com ADD é finalizar uma tarefa, pois assim que começa uma já está prestando atenção em outra. Tendo essa finalidade, essa necessidade por um produto na escola infantil, estamos virando a cara para o processo criativo. A cada pensamento, uma forma, um gesto, uma ação, enfim, o processo.
Ao valorizarmos este processo, enriquecemos o intelecto da criança e, assim, cada vez mais ela está disposta a criar. Imaginemos se fosse criada uma sala especial para uma criança com ADD, branca, sem interferências ou estímulos, senão aqueles já planejados pelo educador.
Estaríamos afastando a possibilidade da criança de entrar em contato com o mundo real, composto de estímulos que ajudariam essa criança a formar conceitos grupais, desenvolvendo o seu intelecto capacitado para interagir com o meio.
Acreditamos que, lidando com a criança com ADD de uma maneira que a atitude criativa possa ser estimulada e transmitida, estaremos fazendo com que a criança se integre melhor ao meio e evite as decepções causadas pela desinformação alheia. É preciso conscientização, não só sobre a problemática em si, mas sobre a predisposição que cada criança tem em cada área do conhecimento. Para isso, devemos nos tornar mais sensíveis, com visão ampla para um mundo dinâmico e mutável que é o mundo infantil.
Conclusão
Escrito por: Fernando Lage Bastos e Marcelo Cunha Bueno
Através da elaboração deste trabalho, pudemos notar que, embora a ADD afete uma parcela grande da população, especialmente infantil, e pelo que deduzimos, este problema não deve ser algo novo, pois acreditamos que a ADD tenha acompanhado a espécie humana desde sempre, mas foi apenas neste século que começaram a ocorrer alguns avanços nesta área. Novas tecnologias como a psicofarmacologia, o EEG, a genética, as análises neuroquímicas, além das tecnologias de neuroimagem como o PET, SPECT, MRI e fMRI, possibilitaram que a definição da ADD como um transtorno e possibilitaram também estabelecer quais eram os seus sintomas e como estes se manifestam. Outros avanços na neuropsicologia e na psicofarmacologia permitiram que o tratamento de ADD fosse possível, permitindo que o indivíduo possa ter uma vida praticamente normal, especialmente se este diagnóstico for feito cedo.
Infelizmente, o diagnóstico precoce da ADD continua a ser um dos maiores problemas em relação à doença. Embora o conhecimento sobre ADD na comunidade científica esteja já bem avançado, o mesmo aparentemente não acontece com a população leiga. As pessoas com ADD passam um bom tempo da sua vida sendo acusadas de uma série de coisas, sua auto-estima é rebaixada, e elas têm dificuldade na escola e também têm dificuldades sociais.
A situação em casa normalmente não é melhor, pois os pais, pressionados pela sociedade e escola, frequentemente culpam a criança de algo que ela não tem culpa e ficam se perguntando onde erraram.
Mesmo quando os pais ou o paciente procuram ajuda para o seu problema, a situação pode não ser resolvida sem antes ter se passado por um longo caminho de tratamentos ineficazes, diagnósticos mal feitos e opiniões divergentes.
É neste ponto que gostaríamos de chamar a atenção de psicólogos e pedagogos. Estes profissionais, pela sua formação fundamentalmente humanista, tendem a desconhecer a parte biológica da mente humana; alguns destes até negam totalmente que a mente seja fundamentada na biologia, mantendo o velho e desatualizado paradigma cartesiano de mente x corpo (res cognito x res extensa). Gostaríamos de chamar a atenção destes profissionais para que evitem entrar no caminho do “tudo é psicossomático” e recomendem que estudem e se informem mais a respeito da biologia da mente. Muitos casos de ADD passam anos e anos em terapias psicodinâmicas ou em terapias alternativas que só trazem ainda mais sofrimento para o paciente. Sabemos que muitos psicólogos vão se enfurecer com esta ideia, mas, infelizmente para eles, há coisas que uma droga pode tratar melhor que anos e anos de terapia. Aos médicos, deixamos a recomendação de que não vejam os pacientes de ADD apenas como pessoas que necessitam de uma droga estimulante.
Entendam os problemas causados por este problema e, caso seja necessário, solicitem ajuda de um psicólogo e da equipe pedagógica da escola da criança.
Queremos deixar claro que não estamos dizendo que a Psicologia e a Pedagogia não têm função em ADD. Isto seria uma mentira, pois as drogas usadas para o tratamento de ADD não resolvem o problema de anos e mais anos de sofrimento causados pelo não diagnóstico do problema. Queremos defender que haja um melhor entendimento entre a Medicina, a Psicologia e a Pedagogia, de forma que os profissionais de cada uma destas ciências não tenham a ilusão de que possam resolver o problema sem se utilizar do apoio de outros profissionais. O problema de ADD exige uma visão multidisciplinar para ser resolvido.
Finalmente, gostaríamos de deixar a mensagem para que os profissionais olhem o problema de vários pontos de vista. Se isto fosse feito não só com pessoas com ADD, mas com todos os pacientes que procuram nossa ajuda, muito sofrimento seria evitado.
Divulguem o mais que puderem sobre ADD. No dia em que estamos escrevendo esta conclusão, podemos ver que um canal de televisão está exibindo um programa explicando o que é ADD para uma parcela da população muito maior do que qualquer livro ou trabalho científico terá acesso. Acreditamos que este será o caminho para um melhor entendimento do problema pela população e a redução do sofrimento provocado pela desinformação.
Temos uma visão otimista de que os progressos atuais nos levarão a conhecer melhor a nossa mente e a nossa psicologia, ajudando o Ser Humano a se compreender melhor, trazendo benefícios para a nossa sociedade e, quem sabe, melhorando o humor do mundo que anda tão carente de amor, otimismo, compreensão e esperança neste século.
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