Na pesquisa, A importância da Educação Ambiental para a formação do cidadão do campo: uma reflexão sobre a prática dos professores, realizada, descreve-se o tratamento dado à temática Educação Ambiental na prática dos professores do terceiro e do quarto ano do Ensino Fundamental em uma escola do Assentamento Panelão, no município do Careiro-Castanho. Para tanto, apresenta a Educação Ambiental na escola do campo, onde trata da Educação do Campo e da formação do cidadão, em seguida são apresentadas as concepções de Educação Ambiental, procura-se identificar a partir da educação escolar, qual das concepções dará maior contribuição à formação dos camponeses e, por fim aborda a Educação Ambiental no currículo, nesse momento, faz-se uma prévia da evolução do conceito de meio ambiente e da proposta da Educação Ambiental, além de tratar do parecer da transversalidade e do tema transversal meio ambiente e sua posição no currículo.
Compreende-se a importância da Educação Ambiental através da realidade de uma escola do campo. Para tanto, descreve-se o contexto da pesquisa através do histórico do Município, do histórico do Assentamento e do diagnóstico da escola, tratando dos aspectos geográficos e sociais peculiares ao ambiente circundante da pesquisa, investiga-se a prática pedagógica dos professores sobre o objeto de estudo, a opinião dos mesmos a respeito da Educação Ambiental e a concepção de meio ambiente dos estudantes. Desse modo, os resultados demonstram a necessidade de trabalhar a temática Educação Ambiental, de modo a considerar a realidade dos estudantes camponeses, uma vez que o tema é relevante para o povo do campo.
Palavras-chave: Educação Ambiental. Educação do Campo. Formação do cidadão.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONCEPÇÕES, CURRÍCULO E FORMAÇÃO DO CIDADÃO DO CAMPO
1. 1 Educação Ambiental na escola do campo
1. 2 Concepções de Educação Ambiental
1. 2.1 Educação Ambiental Popular ou Comportamental na escola?
1. 2.2 Por uma educação voltada a formação do cidadão
1. 3 Educação Ambiental no currículo
2 TOTALIDADE HISTÓRICA DA PESQUISA E APRECIAÇÃO DOS RESULTADOS
2. 1 O Município do Careiro-Castanho
2. 1. 1 Histórico do Município
2.1.2 Características geográficas do Município
2.1.3 A vida social no Careiro-Castanho
2.2 O Projeto de Assentamento Panelão
2.2.1 Histórico do PA Panelão
2.3 Totalidade singular da pesquisa: Escola Municipal Fred Fernandes da Silva
2.3.1 O meio físico da escola
2.3.2 A comunidade escolar e seu cotidiano
2.3.3 Aspectos econômicos, sociais e culturais
2.3.4 Ambiente de aprendizagem: métodos, técnicas e resultados
2.3.5 Os indicadores da escola
2.4 A Educação Ambiental em uma escola do campo
2.4.1 Caracterização dos sujeitos da pesquisa
2.4.2 Concepções de Educação Ambiental e de meio ambiente dos professores
2.4.3 A prática da Educação Ambiental no terceiro e no quarto ano do Ensino Fundamental
2.4.4 O meio ambiente na visão dos educandos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Origem da população do Assentamento Panelão
Gráfico 2 – Situação dos estudantes nos anos de: 2004, 2005, 2006 e 2007
LISTA COM ILUSTRAÇÕES
Desenho 1: A – 08 anos, terceiro ano
Desenho 2: R – 14 anos, terceiro ano
Desenho 3: I – 12 anos, quarto ano
Desenho 4: J – 10 anos, terceiro ano
Desenho 5: R – 14 anos, quarto ano
Desenho 6: T – 07 anos, quarto ano
LISTA DE SIGLAS
AGROPEC – Feira Agropecuária do Careiro
CEAM – Companhia Energética do Amazonas
DEDIAC – Departamento de água do Careiro
EA – Educação Ambiental
IBGE – Instituto Brasileiro Geográfico Estatístico
INCRA – Instituto Nacional de Colonização de Reforma Agrária
PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais
PPP – Projeto Político Pedagócico
PROFORMAR – programa de Formação de professores do Ensino Fundamental
PRONERA – Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
SEDUC – Secretaria de Educação do Estado do Amazonas
UEA – Universidade do Estado do Amazonas
INTRODUÇÃO
No decorrer da história da humanidade, a educação escolar tem sido apenas uma educação reprodutora dos fatos sociais, mas a realidade contemporânea permite-nos perceber que a escola como a instituição educacional mais importante da atualidade deveria contribuir na formação humana, porque a educação faz parte da vida e tem um papel importante na construção da cidadania.
Nas últimas décadas tem ocorrido um processo acelerado de mudanças nas esferas socioeconômicas e ambientais, essas mudanças contribuíram para extinção de muitas espécies de seres vivos, o que resultou no desequilíbrio de diversos ecossistemas da Terra. O número de pessoas pobres no mundo aumentou consideravelmente, assim como a exclusão social. O mundo, hoje, vive uma crise ambiental, resultante do processo acelerado de desenvolvimento da sociedade contemporânea, centrada no acúmulo de dinheiro e no consumismo demasiado.
Partindo dessa realidade é que consideramos importante a associação entre Educação Ambiental e educação escolar desde os anos iniciais do Ensino Fundamental, para a melhoria da qualidade do ensino e, conseqüentemente, da qualidade de vida de todos aqueles que participam da escola, isso porque numa concepção de Educação Ambiental Transformadora, a educação escolar é tida como ambiente de mudança social, onde ocorre uma transformação associada aos valores, aos padrões cognitivos, à ação política democrática e às relações econômicas. Essas mudanças fortalecem a identidade das pessoas através do exercício da cidadania, da percepção da totalidade das relações sociais no mundo e da superação das formas de dominação (LEUREIRO, 2004).
Diante desse pressuposto, acreditamos que a Educação Ambiental pode contribuir para a formação emancipatória de todos os cidadãos, principalmente os do campo que se encontram excluídos dos processos de transformação social, submetidos a aceitarem tudo o que é posto pelo sistema político-financeiro que rege nosso país. Entretanto, na escola, a Educação Ambiental só poderá contribuir para a formação emancipatória desses cidadãos, se for desenvolvida como uma prática diária e, por isso, precisa ser iniciada na sala de aula, por professores e estudantes, e aos poucos conquistar outros espaços da escola, pois desta maneira ajudará o educando a ampliar sua visão de mundo, permitindo-lhe fazer leitura crítica e reflexiva de seu ambiente natural e social.
A pesquisa emerge a partir de nossa experiência enquanto professores de uma determinada escola do Projeto de Assentamento Panelão, onde observamos que a maioria dos estudantes não valorizava o ambiente circundante, visto que, embora na escola tivesse um lixeiro em todas as salas de aula e uma lixeira maior fora das salas, percebemos que os arredores da escola estavam repletos de folhas de papel e embalagens de salgadinhos e doces, mas não só o tratamento que davam ao lixo que produziam, mas também, a falta de zelo pela a escola, pois apesar de ser um bem comum a todos, suas paredes e suas mesas estavam riscadas, alguns vidros das janelas haviam sido quebrados e algumas portas e pias já estavam destruídas, apesar da escola ter apenas dois anos de funcionamento na época do diagnóstico. Essa falta de atitudes e procedimentos que pudessem manter o ambiente limpo e saudável, refletia também nas relações interpessoais.
Os educandos pareciam não ter conhecimento que seus atos podiam gerar conseqüência positiva ou negativa no ambiente e, dependendo da conseqüência poderia ser prejudicial não só a sua vida, mas também, das outras pessoas que fazem parte desse contexto. Diante disso, percebemos que os estudantes devem ter acesso a uma educação voltada para o Meio, para que possam se sentir parte tanto do meio natural quanto do meio social, enxergando sua importância e sua dependência na relação natureza/sociedade. Perante a essas observações foi que sentimos a necessidade de investigar se a Educação Ambiental desenvolvida pelos professores do terceiro e do quarto ano do Ensino Fundamental da escola pesquisada, tem contribuído para a formação do cidadão do campo.
Para tanto, foi necessário identificarmos a concepção de meio ambiente e de Educação Ambiental dos professores, verificando como eles desenvolviam os temas relacionados ao meio ambiente, além disso, avaliamos ser importante, conhecer a concepção de meio ambiente dos estudantes.
A investigação teve uma abordagem qualitativa, por concordamos que em educação não devemos unicamente nos ater a dados quantitativos, pois “[…] parte-se do princípio de que no âmbito social existem diferentes problemáticas, questões e restrições que não podem ser explicadas nem compreendidas em toda a sua extensão a partir da abordagem quantitativa” (GONZAGA, 2005, p. 91). Visando identificar as concepções de meio ambiente e de Educação ambiental dos professores e verificar como são desenvolvidos os temas ambientais, utilizamos a entrevista estruturada, o questionário de perguntas abertas e a observação não-participante. Quanto à entrevista, Gonzaga (2005, p. 97) afirma que ela “consiste em uma conversação com o propósito de obter informações para a investigação, envolvendo duas ou mais pessoas. Contudo não é uma simples conversa, mas, sim, uma conversa orientada para um objetivo definido”.
No que se refere ao questionário, Gonzaga (2005, p. 96) comenta que ele
[…] é constituído por uma série de perguntas, elaboradas com o objetivo de se levantar dados para uma pesquisa, cujas respostas são formuladas por escrito pelo informante, sem o auxilio do investigador. Todas as questões são pré-determinadas, e as respostas são dadas por escrito.
E para avaliarmos se as respostas dadas pelos professores durante a entrevista e/ou questionário, coincidem com o que trabalham na sala de aula nos propusemos a observar a prática pedagógica dos mesmos. Conforme Gonzaga (2005, p. 98), a observação
É uma técnica de coleta de dados para obter informações e utiliza os sentidos para captar aspectos da realidade. Não se resume apenas a um ver ou ouvir superficial. Diferente das percepções cotidianas, não intencionais (espontâneas) e passivas, compreende uma busca deliberada, levada a efeito por cautela e predeterminação.
Fechamos a análise com a técnica dos mapas mentais para conhecermos a concepção de meio ambiente dos educandos. Quanto a essa técnica, Dantas (2006, p.169) afirma que ela é “[…] uma estratégia em representação gráfica do espaço, utilizada na observação de como o sujeito interpreta, interage, modifica e se orienta em determinado contexto, partindo da descrição realizada através de desenhos, a partir de suas percepções e experiência no Meio”.
Apresentamos no primeiro capítulo desse estudo, a fundamentação teórica, onde iniciamos através da Educação Ambiental na escola do campo, depois, tratamos das concepções de Educação Ambiental e mencionamos a qual deveria ser trabalhada nas escolas camponesas, tendo em vista, a formação de cidadãos historicamente enraizados nesse ambiente e, findamos com a Educação Ambiental no currículo, em que abordamos a transversalidade, o papel da escola e do professor, conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais.
Quanto ao segundo capítulo, Apresentamos o contexto da pesquisa, nos sentidos amplo, mediano e singular, através do histórico do Município do Careiro Castanho, do histórico do Projeto de Assentamento Panelão e do diagnóstico da escola investigada, o qual traz aspectos físicos, econômicos e sociais, além do ambiente humano e de aprendizagem e os indicadores da escola, tratando dos pontos positivos e dos que precisam ser transformados. Neste capítulo, também, é feito análise dos dados coletados através da entrevista, do questionário, da observação e dos mapas mentais.
Temos certeza que essa pesquisa não solucionará os problemas educacionais nas escolas do campo, mas, esperamos que as informações que constam nessa investigação possam abrir novos caminhos para reflexões sobre a importância da Educação Ambiental nessas escolas para a formação dos cidadãos do campo.
1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONCEPÇÕES, CURRÍCULO E FORMAÇÃO DO CIDADÃO DO CAMPO
A Educação Ambiental na escola pretende através dos questionamentos que levanta entre sociedade/natureza, indivíduo/sociedade e objetividade/subjetividade levar o estudante a refletir sobre sua própria realidade e a partir daí construir e reconstruir o conhecimento, desenvolvendo a ética ambiental valorizando as pessoas e o ambiente, isso tudo, para ajudá-lo a conhecer o seu meio e agir sobre ele de maneira consciente, pois passa a reconhecer que é ao mesmo tempo um ser natural e social, na comunidade a qual pertence.
Desse modo, pretendemos discutir a importância da Educação Ambiental na escola do campo, procurando compreender as concepções de Educação de Ambiental, como também, o tratamento dado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais à Educação Ambiental.
1. 1 Educação Ambiental na escola do campo
No campo , a escola encontra-se envolvida pelo ambiente natural e por pessoas com necessidades educacionais diferenciadas das pessoas da cidade, pois as pessoas do campo não detêm as mesmas oportunidades de desenvolvimento socioambiental e vêem a escola como uma porta para se ter uma vida mais digna.
A escola como ambiente de aprendizagem, apenas tem preparado os estudantes para o mercado de trabalho e não para terem uma vida de qualidade, pois muitos dos conteúdos trabalhados não estão vinculados à realidade social, natural, política, cultural e econômica, a qual a escola está inserida. Por isso, depois de terem se formado, os estudantes continuam alienados quanto aos interesses da classe dominante, isso se dá pelo fato de não terem sido estimulados a refletir e buscar possíveis soluções para os problemas que ocorrem no ambiente natural e social e que de alguma forma nos atingem, por esse motivo, precisamos estar preparados para enfrentá-los.
Partindo da realidade contemporânea, segundo Jesus et al (2007, p. 45), a escola necessita ter
[…] compromisso com o sistema de valores básicos para a vida e para a convivência. Isto é, a incorporação explícita dos valores éticos que favorecem e tornam possível uma vida mais humana em sociedade: valores capazes de dotar de sentido a existência e o projeto de vida pessoal dos alunos; valores que abram a possibilidade para construir, em seu presente e futuro, uma convivência mais feliz, harmônica e esperançosa.
Neste sentido, a Educação Ambiental na escola contribui para a construção desses valores, uma vez que, procura através de situações-problemas fazer a relação entre os conteúdos trabalhados no âmbito da sala de aula e a realidade do contexto que envolve os estudantes. Estes, por sua vez, constroem sua representação da realidade e passam a agir consciente de seus atos individuais e coletivos no meio em que vivem. Para tanto, é necessário conhecer o ambiente natural e social que envolve a vida dos educandos, procurando desenvolver um trabalho, contextualizando esta realidade, até porque a contextualização é uma ferramenta fundamental nesse processo. Nessa mesma direção, Caldart et al (2005, p. 52-53) nos diz que a escola “precisa desenvolver um projeto educativo contextualizado, que trabalhe a produção do conhecimento a partir de questões relevantes para intervenção social nesta realidade”.
O professor que em sua prática de ensino aproveita o ambiente natural e social do contexto do aluno, valoriza no primeiro momento, o aluno como ser natural, social e histórico, mostrando a ele que todos os aspectos que envolvem sua vida são de fundamental importância para a sua existência e para a vivência dos demais membros da comunidade. Num segundo momento, acaba intencionalmente estimulando o educando a desenvolver ou ampliar sua idéia de vida em sociedade, a entender como ocorrem os processos de mudanças no contexto natural e social da comunidade e posteriormente do mundo, como também, o ajuda valorizar a totalidade de seu contexto, seja o natural e/ou social.
De acordo com Jesus et al (2007, p.48),
A Educação Ambiental é importante na formação do indivíduo porque abre uma perspectiva vital através do manejo das diversas variáveis da dinâmica da vida, além de conseguir colocá-lo como ser natural e, por sua vez, também como um ser social. Essa dupla visão é a que vai permitir ao indivíduo ser consciente de sua realidade e dinamizar o processo de mudança, buscando sempre o equilíbrio do seu entorno (dimensão ambiental).
No momento histórico, o qual, estamos vivendo, entendemos que a educação pensada para e do campo não pode ser entendida como educação rural, pois a educação rural corresponde aos interesse da classe dominante, onde os estudantes não são estimulados a refletir o porquê dos fatos naturais e sociais acontecerem de determinada maneira e não de outra, como também, não são instruídos para buscarem alternativas diante dos problemas que aparecem em nossas vidas (FONSECA E MOURÃO, 2008). As autoridades políticas e a própria escola muitas vezes discriminam os campesinos, enxergando-os como pessoas inferiores e que não necessitam de muito conhecimento para viverem no campo. Essa maneira de olhar as pessoas que habitam o campo tem acelerado o processo de exclusão social e muitos acabam trocando o campo pela cidade, na esperança de uma vida melhor.
Os camponeses têm suas raízes impregnadas ao campo, estas pessoas possuem sentimentos, necessidades, sonhos presentes e futuros que precisam ser percebidos pela a escola que há no campo. A escola, “só olha o aluno e não vê que por trás do aluno há uma criança, um jovem, um adulto, um ser humano” (ARROYO, 2005, p. 74) que sorri, chora, sonha e que deposita na escola sua esperança, com a finalidade de conhecer, por meio dos conhecimentos obtido na escola, alternativas para se ter uma vida mais justa e saudável. Mas, o conhecimento adquirido na escola do campo só será importante se contribuir na formação das pessoas que fazem parte deste contexto, de outro modo ele não terá valor na vida destas pessoas.
O que na verdade nos preocupa é saber que há muitas situações que precisam ser mudadas na escola do campo, desde a postura do gestor e dos professores frente seu papel nesta escola que envolve diversas circunstâncias, tais como, a valorização do educando, o qual carece ser percebido como ser pensante e não como um ser irracional. Arroyo (2005) comenta que não devemos tratar o aluno como número ou como aluno, devemos tratá-los como sujeitos que trazem histórias, que têm diferenças. Como também, é necessário que a escola envolva a realidade do discente, no processo ensino-aprendizagem, abrangendo sua história de vida, cultura, economia, política e outras características peculiares à vida no campo. A participação das autoridades frente à melhoria da qualidade do ensino nestas escolas, é importante, mas a realidade campesina transparece o descaso destas autoridades com a educação do camponês.
Ao se tratar da formação dos discentes, é necessário que a escola perceba que seu papel, no tocante da Educação Ambiental,
[…] não se reduz simplesmente a incentivar a coleta seletiva do lixo, em seu território ou em local público, para que seja reciclado posteriormente. Os valores consumistas da população tornam a sociedade uma produtora cada vez maior de lixo. A necessidade que existe é, na verdade, de mudanças de valores (TRAVASSOS, 2004, p. 18).
Na escola, a Educação Ambiental desenvolvida desde os anos iniciais do Ensino Fundamental ajuda os discentes a serem conscientes, críticos, reflexivos e atuantes na sociedade. Conscientes de sua existência como ser natural e social ao mesmo tempo, capazes de reconhecer que seus atos individuais e coletivos necessitam ser analisados e muitas vezes ser mudados para a convivência na sociedade, capazes de entender o porquê dos fatos sociais acontecerem de determinada maneira e não de outra e, assim se necessário capazes de buscar soluções para os obstáculos que diariamente aparecem em nossa vida. Mesmo porque, numa perspectiva popular, a Educação Ambiental além de questionar a qualidade de vida envolvendo aspectos da vida cotidiana, explicita as interdependências entre ambiente e sociedade. Deste modo, a Educação Ambiental corresponde ao ideário da Educação do Campo, para qual o papel da escola é:
[…] ajudar a construir um ideário que orienta a vida das pessoas e inclui também as ferramentas fundamentais de uma leitura mais precisa da realidade em que vivem. […] E isso tudo para tornar consciente, explicitar, interpretar, questionar, organizar, firmar ou revisar idéias e convicções mais próximas, sobre si mesmo (CALDART, 2004, p. 41).
Embora tenhamos mencionado que a escola precisa contribuir na formação humana, não podemos esquecer que os discentes que vivem na área de reforma agrária, são pessoas que na sua maioria não dispõe de condições socioeconômicas estáveis, fato que dificulta, mas não impossibilita a superação dos obstáculos que surgem em seu contexto, logo, carecemos ter cuidado ao trabalhar essa formação para não tornar os discentes vítimas da violência simbólica do Estado, da mídia ou da política local, sendo necessário fazer com que percebam que o campo faz parte de sua vida, portanto, a qualidade socioambiental deste lugar é de responsabilidade de todos, individual e coletivamente.
As dificuldades que afetam a vida dos educandos do campo, não podem ser ignoradas no ambiente escolar, uma vez que afetam o emocional dos mesmos deixando-os desanimados e por conta disso, deixam de acreditar que o conhecimento adquirido na escola irá ajudá-los a ultrapassar as barreiras que os impendem de crescer. Até porque, como já dissemos anteriormente, esse conhecimento não está vinculado à vida dos discentes. Portanto, citamos que a escola precisa ver o discente não como cliente, para o qual se vende uma mercadoria que o agrada, independente se é de boa qualidade ou não, ou seja, o importante é vender, mas necessita vê-los como pessoas culturalmente enraizadas no contexto do campo.
Caldart (2004, p. 39), diz que:
A escola costuma ser um dos primeiros lugares em que a criança experimenta, de modo sistemático, relações sociais mais ampla das que vive em família, e de uma intencionalidade política e pedagógica nessa dimensão pode depender muitos dos traços de seu caráter, muitos dos valores que assuma em sua vida. Mesmo as crianças que têm cedo uma experiência social muito densa, que é de participar com suas famílias de movimentos sociais, como é o caso das crianças sem-terra, por exemplo, é na escola que costumam encontrar o espaço para trabalhar reflexiva e economicamente as relações sociais vividas na luta pela terra, e então incorporá-las como traços culturais em sua vida infantil, e talvez também depois.
De acordo com a autora, a escola tem uma função muito importante na vida dos camponeses, principalmente, na vida das crianças, pois a educação escolar pode contribuir de maneira positiva ou negativa na formação dos educandos. Deste modo, como professores do campo, devemos inserir no processo ensino-aprendizagem aspectos que fazem parte da vida dos educandos, ou seja, da comunidade local, pois os discentes da escola são filhos de assentados. Embora, as relações interpessoais entre docente e discentes sejam inseparáveis dos atos educativos carecemos “pensá-las não como relação indivíduo-indivíduo para formar indivíduos, mas sim como relações entre pessoas culturalmente enraizadas, para formar pessoas que se constituem como sujeitos humanos e sociais” (CALDART, 2004, p. 34).
O professor necessita ser na escola um educador “cujo papel principal é o de fazer e pensar a formação humana, […] seja educando as crianças, os jovens, os adultos ou idosos” (CARDART, 2004, p. 35). A escola precisa enxergar as crianças como sujeitos sociais e por esse motivo precisam de conhecimentos relacionados à sua realidade, sobretudo, esses conhecimentos não podem apenas ser reproduzidos, eles precisam ser indagados pelos estudantes para que possam conhecer melhor o seu ambiente. Entretanto, para que isso aconteça, o professor tem que criar momentos em que leve a criança a investigar os fatos sociais de sua realidade e posteriormente de seu país e do mundo.
Um aspecto muito importante na vida do camponês e que necessita ser inserido na escola, especificamente, no trabalho do professor é a identidade cultural dos grupos sociais que habitam o campo. Quando a escola resgata a cultura produzida através das relações sociais mediadas pelo trabalho na terra, ajuda “[…] a construir as referências culturais e políticas para o discernimento dos estudantes em relação às suas opções. É a isto que se pode chamar de educação para a autonomia” (CALDART et al, 2005, p. 60). A identidade do povo do campo está presente em seu modo de vida, em seus valores, em seus costumes, em suas crendices, enfim, na sua cultura, sendo significativa para uma educação que deseja contribuir na formação do cidadão do campo.
No ambiente escolar é essencial que o conhecimento esteja voltado para a formação das pessoas e isso deve ser trabalhado desde os anos iniciais do Ensino fundamental. Caldart (2005, p. 121) ressaltar que “se a escola é lugar de formação humana, significa que ela não é apenas lugar de conhecimentos formais e de natureza intelectual. A escola é lugar de tratar das diversas dimensões do ser humano de modo processual e combinado”. Sendo assim, o nosso papel de professor do campo é pensar como podemos contribuir na formação dos cidadãos do campo e procurar desenvolver um trabalho que tenha esta formação como meta principal.
Segundo Caldart (2004, p.35), “construir a Educação do Campo significa formar educadores e educadoras do campo para a atuação em diferentes espaços educativos”, assim sendo, vemos que a Educação Ambiental pode contribuir com os ideais da Educação do Campo, uma vez que procura através do espaço educativo da escola, problematizar os aspectos naturais e sociais que perpetuam a vida dos educandos, possibilitando-lhes o desenvolvimento da leitura crítica de sua realidade. Desta maneira, dá a sua contribuição à formação dos educandos excitando-os a perceberem as relações socioambientais que fazem parte de suas vidas, bem como, auxilia no desenvolvimento de valores de igualdade e de respeito à diversidade, individuais e coletivos, valores de emancipação.
Embora saibamos a sua importância na escola para o desenvolvimento de diversas habilidades necessárias para se viver em sociedade, é necessário conhecer qual Educação Ambiental contribui significativamente à formação do cidadão do campo.
1. 2 Concepções de Educação Ambiental
Visando um aprofundamento sobre a importância da Educação Ambiental na escola do campo, percebemos enquanto consultávamos as literaturas fundamentais a nossa pesquisa, que não havia uma única concepção de Educação Ambiental, por essa razão não queremos fazer um reducionismo dessas concepções, mas não podemos esquecer que o eixo da nossa pesquisa é a formação do cidadão do campo, desse modo, nos perguntamos: qual Educação Ambiental contribui significativamente na formação do cidadão do campo? Por quê? Por isso, procuramos compreender essas concepções e verificarmos a sua importância na escola do campo, especificamente, na formação do educando deste contexto.
A prática de Educação Ambiental na escola expressa pela valorização da natureza ou quando trata as relações sociais com mais freqüência nos projetos, nas metodologias, no entendimento sobre meio ambiente e/ou como este é trabalhado pelos professores dessa escola, nos revela que tipo de Educação Ambiental está sendo desenvolvida. Quanto à origem dessas práticas, Carvalho (2001, p. 45) faz a seguinte observação:
As práticas de EA, na medida em que nascem da expansão do debate ambiental na sociedade e de sua incorporação pelo campo educativo, estão atravessadas pelas vicissitudes que afetam cada um destes campos. Disto resultam pelo menos dois vetores de tensão que vão incidir sobre a EA: I) a complexidade e as disputas do campo ambiental, com seus múltiplos atores, interesses e concepções e II) os vícios e as virtudes das tradições educativas com as quais estas práticas se agenciam.
O primeiro vetor acarreta a complexidade e as disputas do campo ambiental incluindo seus diversos participantes com seus interesses e concepções, onde as questões socioambientais estão em confronto e como tal carecem ser discutidas, entendidas e se possível transformadas. No segundo vetor, os vícios e as virtudes das tradições educativas são ajustados e não carecem serem questionados e, tão pouco, necessitam de transformações profundas. Segundo a autora, surgem desses vetores pelo menos duas concepções de Educação Ambiental, as quais, ela definiu como: a comportamental e a popular.
O campo da Educação Ambiental é muito complexo, tornando impossível dizer que estas duas concepções fecham essa esfera, embora, elas sejam abrangentes. Contudo, destacaremos os aspectos que diferem essas duas concepções: comportamental e a popular, na educação escolar.
1. 2. 1 Educação Ambiental Popular ou Comportamental na escola?
A realidade contemporânea do planeta Terra divulga uma crise ambiental como resultado de uma crise civilizatória crescente. A crise abrange tanto a área social quanto a área natural, sendo que, a área natural recebe um destaque maior pelos meios de comunicação e até mesmo pelos ambientalistas. O desequilíbrio ambiental é enunciado pelo uso excessivo dos recursos naturais, pelo processo acelerado de industrialização em prol do desenvolvimento, dando destaque a poluição do ar, da água e do solo. Essa deterioração do ambiente resulta no “efeito estufa”, ou seja, no aquecimento do planeta e, conseqüentemente, na extinção da vida na Terra.
Nas últimas décadas, diversos questionamentos e debates passaram a surgir na esfera social, em diferentes lugares do mundo, em que vieram à tona as causas e as conseqüências do desequilíbrio ambiental que tanto tem angustiado as pessoas nos diferentes níveis sociais. “Com o debate ambientalista generaliza-se um certo consenso no plano da opinião pública, a respeito da urgência de conscientizar os diferentes estratos da população sobre os problemas ambientais que ameaçam a vida no planeta” (CARVALHO, 2001, p. 46). A conscientização das pessoas sobre os problemas ambientais recebe ênfase na concepção de Educação Ambiental Comportamental, sendo importante que as pessoas tenham consciência que precisam mudar alguns de seus comportamentos para cooperarem na preservação da natureza.
Partindo deste pressuposto, a educação torna-se um elemento importante para propagar os conhecimentos sobre as questões ambientais, na expectativa de promover mudanças de atitudes e comportamentos fundamentais a manutenção dos recursos naturais. Entretanto, educar para preservar à natureza não é suficiente para ter conhecimento dos inúmeros problemas ambientais existentes, mesmo porque, nem sempre estão diretamente ligados a preservação destes recursos. Mais do que ter consciência, é ter sensibilidade e perceber que as questões ambientais não se reduzem ao meio ambiente natural.
Essa mudança de comportamento frente aos problemas ambientais fica evidente nessa concepção quando dá ênfase na educação das crianças, levando em consideração que estão em fase de desenvolvimento de seus comportamentos e suas capacidades. Acredita-se que a educação para a consciência ambiental tenha mais sucesso se for trabalhada preferencialmente nas crianças dos que nos adultos, porque os adultos já possuem costumes e comportamentos solidificados, tornando difícil a mudança (CARVALHO, 2001).
A Educação Ambiental Comportamental aponta a mudança de comportamento diante do meio ambiente como objetivo principal de um projeto ambiental. Esta concepção está intrinsecamente conceituada na psicopedagogia comportamental, tanto que Carvalho (2001, p. 46) faz a seguinte colocação:
A psicologia comportamental é, sobretudo, uma psicologia da consciência. Isto significa, por exemplo, considerar o comportamento uma totalidade capaz de expressar a vontade dos indivíduos. Acredita, também, que é possível aceder a vontade dos indivíduos e produzir transformações nas motivações das ações destes através de um processo racional, que se passa no plano do esclarecimento, do acesso das informações coerentes e da tomada da consciência. Isto quer dizer em última instância, que esta matriz teórica supõe indivíduos cuja totalidade da ação encontra suas causas na esfera da razão, e é nesta esfera também que se pretende situar as relações de aprendizagem e a formação dos valores.
Diante dessas colocações expressas pela autora, compreendemos que esta abordagem de Educação Ambiental não atribui importância a diversos aspectos da esfera socioambiental essenciais à formação, reduzindo a dinâmica da vida à conservação do ambiente. Além disso, a leitura que se tem da realidade é fragmentada, limitando a aprendizagem a uma consciência ambiental racional, onde os discentes aprendem sobre o ambiente e formam valores com base na razão sem considerar outras dimensões da vida no processo ensino-aprendizagem.
Do outro lado, em contraposição a esta concepção destaca-se a Educação Ambiental Popular que diante dos mesmos problemas que ocorrem no planeta possuem uma visão diferenciada desses fatos num sentido mais amplo, envolvendo a ação educacional como um ato político, ou seja, prática social de formação da cidadania. Neste sentido, o papel da educação é direcionado a formação de cidadãos políticos, aptos a atuar criticamente perante as inúmeras situações que surgem na esfera socioambiental que os circunda. Segundo Carvalho (2001, p. 46), esta educação é destinada aos “sujeitos históricos, inseridos numa conjuntura sociopolítica determinada, cuja ação, sempre intrinsecamente política, resulta de um universo de valores construídos social e historicamente”.
A Educação Ambiental Popular trabalha com uma visão crítica dos fatos sociais, por isso, os comportamentos de preservação do meio ambiente não são pontos chaves nessa concepção. Para alcançar um ambiente saudável, não basta ter comportamentos e atitudes de preservação, é preciso conhecer a origem da desordem social, desenvolver valores éticos, políticos e ambientais, para assim agir consciente e criticamente sobre os conflitos presente nas relações sociedade e natureza, mesmo porque uma pessoa pode ter comportamentos de “não sujar as ruas e participar de mutirões de limpeza […], no entanto, pode considerar adequada a política de produção e transferências de lixos tóxicos para outra região não se importando com a poluição de um local distante do seu” (CARVALHO, 2001, p. 49).
Esse ato individualista que desconsidera a existência do outro não pode ser considerado como ato positivo diante da concepção de meio ambiente citada por Carvalho (2001, p. 47) como base para uma educação popular, sendo “um campo de sentido socialmente construído e, como tal, atravessado pela diversidade cultural e ideológica, bem como pelos conflitos de interesse que caracterizam a esfera pública”. Nessa concepção não é priorizado nenhum grupo social para se trabalhar a Educação ambiental, aqui todos os grupos fazem parte da sociedade, portanto, são todos importantes nesse processo de transformação social, logo, as crianças são importantes a partir do momento em que estão envolvidas no processo de formação de cidadania.
A educação escolar tem um papel essencial na inserção das crianças no processo de formação da cidadania, pois através de uma aprendizagem significativa pode trazer uma nova visão do conhecimento, dando um novo sentido à vida. Entretanto, para a efetivação desse processo cabe ao professor uma tarefa primordial no ambiente escolar, ser um educador ambiental, através de sua prática de ensino, em suas relações sociais individuais e/ou coletivas com as crianças. Conforme Carvalho (2001) um educador ambiental é na verdade um intérprete das relações sociais, portanto, um facilitador das ações individuais e grupais ocasionando novas experiências e aprendizagens significativas a vida destes pequenos cidadãos.
A autora ainda esclarece, que:
A EA popular, por sua vez, age dentro de um universo onde a educação é uma prática de formação de sujeitos e de produção de valores, comprometida com um ideário emancipatório e, ao enfatizar a dimensão ambiental, amplia a esfera pública, incluindo neste debate sobre o acesso e as decisões relativas aos recursos naturais (CARVALHO, 2001, p. 49).
O papel da escola contemporânea vai além de ser uma instituição social transmissora de informações e conhecimentos vazios dissociados do contexto extra-escolar, sendo necessário averiguar o sentido do ato educativo não esquecendo a dinâmica da vida, trabalhar as relações sociais a partir de cada pessoa, de cada contexto, enfim, a partir das relações de conflitos que se funde na esfera socioambiental, valorizando a dimensão ambiental no processo educativo. Desta maneira, a Educação Ambiental Popular estabelece subsídios para uma educação voltada à formação do estudante.
Apontando a formação do cidadão do campo como parte principal nesse estudo, procuraremos relacionar as questões que compõem esta última concepção à realidade da escola do campo, visando sua importância nesse processo de formação. Para isto, contaremos com as seguintes abordagens de Educação Ambiental: Ecopedagogia, Educação Ambiental Crítica, Educação Ambiental Transformadora e Educação Ambiental Emancipatória, porque acreditamos ser as que procuram fazer com que o indivíduo se perceba como um ser natural e social.
1. 2. 2 Por uma educação voltada a formação do cidadão
Hoje, entendemos por educação escolar àquela que tem por objetivo final contribuir para a formação dos cidadãos, seja do campo ou da cidade, por isso, nos inquietamos com a qualidade da educação nas escolas do campo, de modo que concordamos com Loureiro (2004, p. 77), quando afirma que:
Educar é ação conservadora ou emancipatória (superadora das formas alienadas de existência); pode apenas reproduzir ou transformar-nos como seres pelas relações no mundo, redefinindo o modo como nos organizamos em sociedade, como gerimos seus instrumentos e como damos sentido à nossa vida.
A ação educativa não solucionará os problemas que perpetuam a esfera social, por isso não pode ser entendida como salvação, esquecendo as outras instituições sociais que também se preocupam com este ambiente, contudo, a ação educativa pode ser uma prática que contribui para a transformação social, na medida em que somos cidadãos inseridos nas contradições sociais. A educação pode ser um processo libertador das formas de alienação da classe dominante, quando procura emancipar os diferentes sujeitos que participam de uma educação escolar comprometida com seu papel de instituição educacional mais importante da era contemporânea.
Uma educação escolar que dá ênfase aos fatos sociais através da leitura superficial desses fatos transmitindo-os como simples informações para enraizar o conhecimento do senso comum que já possuem, não encaminha a libertação dos cidadãos. Ensinar e aprender sobre o ambiente parece fácil, mas exige uma reflexão crítica e posteriormente ação sobre o que ensinar, como ensinar, por que ensinar, enfim, o que se pretende alcançar com esses conhecimentos. O que percebemos na escola é que essas reflexões não são profundas no sentido de buscar conhecer a essência do ato educativo, descrito por Bárcena (2002), como um acontecer dinâmico das lutas cotidianas, sendo que, a vida cotidiana é o lar do sentido.
Na maioria das vezes a educação na escola do campo torna-se excludente, no sentido de que não trabalha a política, a economia, a cultura e os interesses dos diversos grupos sociais do local. E quando os aspectos sociais das comunidades do campo são trazidos, para dentro do contexto escolar acabam sendo configurados como relações sociais de perfil ingênuo e, portanto, inferior ao perfil da cidade, fazendo com que estes sujeitos continuem subordinados aos interesses de uma sociedade neoliberal. Por isso, é preciso pensar o papel da escola numa sociedade tão desigual que não respeita as diferenças dos grupos sociais e suas peculiaridades, tratando com inferioridade o povo do campo.
Partindo desse leque social, remetemo-nos a pensar numa Educação que dê sentido a formação humana. Diante desse fator importante, dizemos que o sentido básico da prática educativa é pensar na formação de sujeitos historicamente enraizados em situações que envolvem relações individuais e coletivas no e do ambiente social e/ou natural. Sendo assim, as opções pedagógicas da escola têm suma importância para o alcance dessa primícia educacional, pois elas são capazes de aproximar ou distanciar esses sujeitos, da realidade vivida por eles.
Neste sentido, Carvalho (2004) refere-se à educação, dizendo que ela não deve tomar o indivíduo como unidade básica, isto é, não deve ser centrada no indivíduo, como também, não deve ser direcionada a coletivos abstratos. E ainda ressalta que a formação acontece sobre as relações indivíduo-sociedade, deste modo, só fazem sentido se pensados em relação. Os seres humanos vivem em sociedade e interagem no ambiente natural e social, individual ou coletivamente, por isso a Educação Ambiental Crítica preocupa-se com estas relações e procura através da prática despertar a responsabilidade do sujeito consigo próprio, com os outros, com o ambiente natural e com planeta. De fato ter responsabilidade com o mundo é ser responsável consigo próprio, com os outros e com o ambiente sem dicotomizar essas dimensões.
A escola precisa utilizar subsídios teóricos e metodológicos para a prática da Educação Ambiental. Ao usar temas geradores na problematização das situações que envolvem o ambiente, contribui para uma educação libertadora, permitindo aos seus educandos desenvolverem um pensamento crítico, criativo e complexo, uma vez que, são obrigados a formular novos conceitos a respeito do que foi problematizado, assim amplia a sensibilidade e ajuda-os a perceber o discurso ideológico da classe dominante, pois assim conseguirão entender as relações que ocorrem na esfera socioambiental, sendo capazes de fazer suas próprias escolhas, aquelas que julgarem mais adequadas a sua vida.
Embora pareçam simples os meios para alcançar essa transformação nos indivíduos, eles não o são. Travassos (2004, p. 49) salienta que:
Educar é uma tarefa de dedicação e envolve criação de planos de ação considerando conceitos, teorias, reflexões e o uso do bom senso, incluindo também o repensar dos currículos escolares e a ampliação de dinâmicas de avaliação contínua e coerente no processo de ensino-aprendizagem.
É então que vemos a importância do professor como facilitador da compreensão das relações que incide na vida dos sujeitos, relações que carecem ser percebidas por diferentes ângulos, com o intuito de ampliar a curiosidade de seus aprendizes, curiosidade que os leva a fazer reflexões sobre a problemática, reflexões que os conduzem ao desenvolvimento da criticidade dos fatos e criticidade que muitas vezes exige mudanças de pensamento, de atitude, de ação individual e coletiva na sociedade, tendo em vista um ambiente de maior qualidade. A prática educativa recebe grande destaque por parte de Paulo Freire, pois procura mostrar a abrangência do que venha ser o papel do professor frente a pessoas com que trabalha.
Ele diz que ensinar exige do professor uma série de saberes, dentre os quais, ensinar exige: pesquisa, respeito aos saberes dos educandos, criticidade, estética e ética, corporeificação das palavras pelo exemplo, reflexão crítica sobre a prática, o reconhecimento e a assunção da identidade cultural, entre outras especificidades (FREIRE, 1996).
Ser professor na perspectiva de uma Educação Ambiental e de uma Educação do Campo que considere a formação humana, também, como parte dos processos educacionais, não é tarefa fácil, como Freire (1996, p. 79) diz “mudar é difícil mas não impossível”. Sendo assim, o direcionamento que cada professor dá a sua prática de ensino carece ser revisada, por ele mesmo e por outros colegas da área, de modo que perceba o que é necessário mudar para se tornar um educador ambiental ativo. Enquanto professores, sabemos que o conhecimento está em continua construção, sendo preciso sucessivamente nos atualizar para não cairmos na mesmice prejudicando o desenvolvimento das habilidades dos aprendizes, ou para não conduzi-las de maneira errônea.
As questões ambientais, hoje, são inseparáveis do processo educativo, entretanto o direcionamento dado a elas pode resultar em uma visão distorcida sobre sua influência na vida de todas as pessoas. A visão de mundo que cada cidadão possui foi e é construída a partir do contato que tiveram e tem com estas questões que estão inseridas na sociedade, seja através da escola, da mídia, da religião e/ou da família. Por essa razão, acreditamos ser indispensável o papel do professor como um agente esclarecedor dessas questões que muitas vezes são aceitas pelos cidadãos, como processos normais da vida social, ou acham a vida injusta, mas num senso comum não conseguem entender o porquê de tanta diferença entre as classes sociais ou o que fazer, enquanto cidadãos inseridos neste contexto, para superar esses entraves. Partindo dessa realidade social, numa proposta de Educação Ambiental Transformadora, a escola deve
[…] estabelecer processos educativos que favoreçam a realização do movimento de constante construção do nosso ser na dinâmica da vida como um todo e de modo emancipado. […] Assim posto, privilegiar somente um dos aspectos que formam a nossa espécie (seja o ético, o estético, o sensível, o prático, o comportamental, o político ou o econômico, enfim, separar o social do ecológico e o todo das partes) é reducionismo, o que pouco contribui para uma visão da educação integradora e complexa do mundo (LOUREIRO, p. 73, 2004).
Os cidadãos do campo também necessitam conhecer mais a fundo seu ambiente para fortalecer a sua identidade cultural de camponês como também para compreender as relações que ocorrem na esfera socioambiental local ou não, percebendo não só os resultados dessas relações, mas conhecer como elas surgiram, ou seja, seus efeitos e suas causas. A escola tem papel importante na formação de sujeitos emancipados, por isso não pode deixar de abordar nenhum aspecto que contribui para a formação da identidade cultural de todos os cidadãos. O papel do professor é extremamente importante para consolidação desse processo em que o estudante passa a reconhecer o ambiente social e natural como parte de sua vida à medida que percebe que é ao mesmo tempo um ser natural, social e histórico. Neste direcionamento, Gadotti (2002, p. 24) comenta que “as exigências da sociedade planetária devem ser trabalhadas pedagogicamente a partir da vida cotidiana, a partir das necessidades e interesses das pessoas”.
No campo da educação nos deparamos com diversos perfis de professores, entre estes, destacamos o perfil do professor educador, um professor que trabalha de maneira contextualizada, que não deixa suas aulas se tornarem sem importância para aqueles que num ambiente de aprendizagem buscam em parte a completude de suas vidas, que incentiva o estudante a fazer uma viagem profunda sobre o assunto que está sendo discutido, além da problematização realizada para obter uma aprendizagem significativa, põe em prática aquilo que segundo a sua compreensão é fundamental para se viver no ambiente.
Neste sentido, o bom professor é aquele que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento de seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma “cantiga de niná”. Seus alunos cansam mais não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas (FREIRE, 1996, p. 86).
Esse professor, embora consiga atrair a atenção dos aprendizes para o que ensina, não se acomoda, porquanto está sempre em busca de novos conhecimentos. Conhecimentos que nem sempre são acrescentados como sendo positivo, mas que legitimam aquilo que já acreditava ser importante em sua prática educacional. Olhar o mundo por diferentes posicionamentos é procurar entender como ocorrem os processos de mudanças, seja positiva e negativamente na esfera socioambiental.
A realidade social e natural do campo é diferente da realidade da cidade, logo, o professor da escola do campo necessita fazer uma “reciclagem” em sua mente antes de trabalhar com as dimensões sociedade e natureza, para não se tornar apenas um reprodutor dos fatos sociais, mas para que consiga envolver tanto o conhecimento científico como o conhecimento não-científico referente a estas dimensões em sua prática de ensino sem dicotomizá-las e assim, atentar para mudanças de pensamento nos estudantes.
Conforme Loureiro (2004, p. 78):
Mudança de pensamento pressupõe mudança de percepção, de ligação sensível articulada aos processos racionais; pressupõe vinculação entre teoria e prática, ação e reflexão, entre indivíduo e sociedade, aspectos objetivos e subjetivos que definem nossa unidade social na natureza.
A Educação Ambiental procura compreender as relações sociedade/natureza, na expectativa de intervir sobre os problemas e conflitos ambientais, onde destaca uma nova ética ambiental voltada à reconstrução dos valores ético-políticos, ressignificando o cuidado com a natureza e para com os outros. Mesmo porque, as relações sociais que perpetuam o mundo presente, sejam do indivíduo consigo próprio, com o outro ou ainda com o ambiente, são consideravelmente injustas, ecologicamente insustentáveis, economicamente deterministas, politicamente não-democráticas, eticamente utilitárias e que podem ser transformadas em direção contrárias (LIMA, 2004). Partindo dessas relações é que insistimos na idéia de que a educação escolar precisa está voltada à formação das pessoas que historicamente construíram sua identidade de camponês, até porque, o conhecimento é uma arma poderosa de controle social.
Para que de fato, a Educação Ambiental na escola contribua para formação do cidadão do campo, é fundamental sabermos como ela é apresentada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. E a partir desse conhecimento sejamos capazes de articular a realidade do contexto do campo e os demais conhecimentos necessários a formação desses sujeitos.
1. 3 Educação Ambiental no currículo
No Brasil, desde o século XVII, há registro de Leis estabelecidas sobre a proteção do meio ambiente. Conforme o passar dos anos, essas Leis foram evoluindo e estendendo-se no conceito de meio ambiente que de início ficava limitado à proteção da fauna e flora brasileira. Na época presente, o conceito de meio ambiente não está restrito à natureza e ao ser humano, podendo ser dividido em duas partes: meio ambiente natural e construído (ROCCO, 2002). Embora seja possível decidi-lo, não podemos esquecer que, hoje, estas partes estão em contínua relação, visto que, o ser humano é um ser social e natural. Partindo desse princípio, a Lei n. 6.938/81, especificamente, no Artigo 3º, destaca que meio ambiente é “o conjunto de condições, leis, influências e integrações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (VEMAQA, 2000, p. 20).
No mundo, notadamente, a partir da década de 70 (setenta) foram realizados encontros em alguns países, inclusive no Brasil, para tratar as questões ambientais dando um enfoque global. Em 1972, ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente: Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente, onde surgiram os princípios básicos para inserir e guiar os povos do mundo na preservação e na melhoria do meio ambiente. O princípio 19 refere-se a educação em assuntos ambientais, para as gerações jovens, para os adultos e dá ênfase especial aos menos favorecidos, ressaltando que proteção e melhoria do meio ambiente em sua plena dimensão humana é de responsabilidade dos indivíduos, empresas e comunidades (VEMAQA, 2000). A cada encontro ficava ainda mais explícita à necessidade de por em prática as decisões adotadas sobre as questões ambientais.
A realidade do planeta levou vários países a criar leis que dessem um enfoque maior aos problemas ambientais visando minimizar as agressões ambientais existentes tanto na esfera natural quanto na social. Perante essa realidade, o artigo 225 da Constituição brasileira, ressalta que:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público:
[…]
VI. promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
[…] (ROCCO, 2002, p. 36-37).
A Constituição com a pretensão de garantir a concretização desse direito ressalta, entre outros fatores, a importância da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino, mas é preciso saber o que se entende por Educação Ambiental, que tratamento é necessário dar a ela no currículo escolar e como deve ser trabalhada no âmbito da sala de aula. Além disso, para por em prática a Educação Ambiental na escola exige dos professores um conhecimento sobre as questões ambientais a nível local, regional, nacional e mundial, não estamos dizendo que eles devem conhecer a fundo estas questões, porém sabemos que todas elas, seja de uma maneira mais simples ou mais complexa se interligam, por isso é importante que os professores conheçam essas questões.
Em consonância com a Constituição, a Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental, traz nos artigos 1º e 2º as seguintes afirmações:
Art. 1º. Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
Art. 2º. A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis do ensino e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal (ROCCO, 2002, p. 225).
Diante dessas afirmações, podemos compreender que a Educação Ambiental é abrangente, pois percorre diversas instituições governamentais e não-governamentais que propagam a defesa do meio ambiente, sendo este fundamental a todas as formas de vida. Entre essas instituições temos a escola, avaliada como a instituição educacional mais importante da atualidade, portanto, entendemos que a escola deve fazer valer seu papel dentro da sociedade, buscando através do manuseio de diversos componentes educacionais, formar o estudante para a vida em sociedade.
A partir do conhecimento dos princípios básicos (artigo 4º.) e dos sete objetivos fundamentais (artigo 5º.) da Educação Ambiental descritos na Lei mencionada anteriormente, entendemos o porquê de a Educação Ambiental ser um componente essencial e permanente da educação nacional, pois ela na escola pretende contribuir para a qualidade do meio ambiente, ou seja, qualidade de vida, despertando o estudante para as diferentes situações que envolvem a sua vida. Para isto é indispensável que a escola desenvolva a Educação Ambiental desde a Educação Infantil, visto que, o artigo 10 da Lei 9.795/99 expõe que ela “será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidade do ensino formal” (ROCCO, 2002, p. 228).
Sabemos que a Educação Ambiental na escola é fundamental para a formação do cidadão, por trazer à luz as múltiplas e complexas relações envolvendo inúmeros aspectos essenciais à vida em sociedade, entretanto, necessitamos conhecer como ela é apresentada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, para assim, conduzirmos o conhecimento de modo que contribua significativamente na formação do cidadão do campo, ou seja, no desenvolvimento de capacidades que possibilitem aos estudantes intervir na realidade para transformá-la e não para aceitá-la de qualquer forma.
O meio ambiente foi contemplado no currículo como um Tema Transversal e interdisciplinar e para estudo do meio é necessário o emprego da Educação Ambiental, uma vez que ela abrange todas as áreas do conhecimento não podendo torna-se uma matéria nem ficar restrita as disciplinas como Geografia, História ou Ciências Naturais, embora tenha um vínculo maior com estas disciplinas, por tratar as diferentes relações que ocorrem na esfera socioambiental, mas também é possível trabalhá-la em outras áreas do conhecimento.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais e ética referem-se ao meio ambiente como Tema Transversal, por conter os seguintes critérios: Urgência social, por tratar as questões graves que se apresentam como obstáculos para a cidadania; Abrangência nacional, ou seja, pertinente a todo o país; possibilidades de ensino e aprendizagem no ensino fundamental, sendo possível o alcance da aprendizagem nessa etapa da escolaridade; favorecer a compreensão da realidade e a participação social, que os alunos possam desenvolver a capacidade de posicionar-se diante das questões que interferem na vida coletiva, superar a indiferença, intervir de forma responsável (BRASIL, 2001). Deste modo, os temas transversais trabalhados de forma contínua e integradora, possibilitam ao estudante desenvolver as capacidades vitais para se situar no mundo como ser natural, histórico e social.
Os Temas Transversais devem ser trabalhados na escola através da transversalidade e da interdisciplinaridade para poderem ser abarcados pelos discentes de maneira que possam usar a aprendizagem desses temas em suas vidas. Ao abordar a transversalidade e a interdisciplinaridade, os Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais e ética (2001, p. 40) afirmam que:
Ambas – transversalidade e interdisciplinaridade – se fundamentam na crítica de uma concepção de conhecimento que toma a realidade como um conjunto de dados estáveis, sujeitos a um ato de conhecer isento e distanciado. Ambas apontam a complexidade do real e a necessidade de se considerar a teia de relações entre os seus diferentes e contraditórios aspectos. Mas diferem uma da outra, uma vez que a interdisciplinaridade refere-se a uma abordagem epistemológica dos objetos de conhecimento, enquanto a transversalidade diz respeito principalmente à dimensão da didática.
Neste sentido, a interdisciplinaridade faz questionamento ao fato de um objeto de estudo ser trabalhado em apenas uma área do conhecimento, mesmo que o objeto estudado faça parte da realidade circundante da escola não é possível conhecê-lo se for restrito a uma única disciplina, assim a interdisciplinaridade refere-se, portanto, a uma relação entre disciplinas. E a transversalidade busca através da prática educativa constituir uma relação entre a realidade e os conhecimentos teoricamente sistematizados, isso significa que as questões que envolvem a nossa vida devem ser trazidas para a sala de aula, de modo que possamos aprender sobre a realidade e para a realidade (BRASIL, 2001). Assim, a transversalidade permite ao estudante enxergar um objeto de estudo por diferentes ângulos, como também, dá liberdade à escola para trazer saberes extra-escolares presentes na realidade dos estudantes, dando um sentido social aos conhecimentos aprendidos na escola.
Na Educação Ambiental, a aprendizagem da realidade socioambiental dar-se-á de maneira interdisciplinar e transversal em cada série do Ensino Fundamental, momentos em que os estudantes estão construindo seus valores, atitudes e reconhecendo normas. Essa construção é dependente das relações interpessoais que estabelecem em diferentes contextos, um deles o escolar, por isso,
[…] não só entre o professor e alunos, mas também entre os próprios alunos, o grande desafio é colocar-se no lugar do outro, compreender seu ponto de vista e suas motivações aos interpretar suas ações. Isso envolve a atitude de solidariedade e a capacidade de conviver com as diferenças (BRASIL, 2001, p. 45).
Mesmo nos primeiros anos do Ensino Fundamental podemos oferecer informações, vivências e reflexões sobre as causas e as nuanças dos valores que orientam para vida em sociedade e que podem ser transformados. O que pretendemos através da Educação Ambiental Popular na escola não é adestrar os estudantes lhes ensinando valores e normas de boa convivência sem permitir-lhes desenvolver um pensamento crítico diante das questões ambientais que de alguma maneira afeta a sua vida, mas através da “[…] relação entre autonomia e autoridade: permitir que valores e normas sejam discutidos, avaliados e reformulados” (BRASIL, 2001, p. 47), mesmo porque “estabelecer relações de autonomia, necessárias à postura crítica, participativa e livre pressupõe um longo processo de aprendizagem até que os alunos sejam capazes de atuar segundo seus próprios juízos” (BRASIL, 2001, p. 47).
As relações sociais que ocorre no ambiente da sala de aula, seja professor/estudante(s) e/ou estudante/estudante(s), são oportunidades cruciais para o professor que vê o estudante como um ser historicamente situado, enfatizar os assuntos ambientais de modo a provocar situações que o leve a pensar seu papel no mundo, enquanto ser social, histórico e natural. De acordo com Travassos (2004), os estudantes carecem ser habilitados para conhecerem seu ambiente e agirem em defesa dele, visto que este os afeta ou é afetado por eles, cabendo ao professor, o papel de promover a educação para o meio ambiente.
O professor, enquanto facilitador do conhecimento precisa criar situações-problemas que envolvam as questões socioambientais presentes na comunidade onde a escola está inserida, como também as questões planetárias, e que ao longo da história da humanidade gerou e continua gerando problemas drásticos na esfera social de muitas sociedades do mundo. Neste sentido, é preciso ter consciência que apenas ensinar os conteúdos das disciplinas não ajudará os sujeitos a construírem uma identidade cultural com valores ético-políticos ambientais, é necessário repensar a prática educacional voltada para formação de pessoas comprometidas com as relações presentes em seu cotidiano.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais: meio ambiente: saúde, nos informam que:
A principal função do trabalho com o tema Meio Ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso é necessário que, mais do que informações de valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e procedimentos. E esse é um grande desafio para a educação. Comportamentos “ambientalmente corretos” serão aprendidos na prática do dia-a-dia na escola: gestos de solidariedade, hábitos de higiene pessoal e dos diversos ambientes, participação em pequenas negociações podem ser exemplos disso (BRASIL, 2001, p. 29).
Em parte concordamos com essa informação, mas acreditamos que para contribuir definitivamente com a formação do cidadão do campo, não basta desenvolver um trabalho visando alcançar apenas a conscientização e comportamentos ambientalmente corretos, se esse é o nosso objetivo principal, significa que estamos nos orientando por uma Educação Ambiental Comportamental apoiada na psicopedagogia comportamental. Este modelo de Educação Ambiental não corresponde ao ideário da Educação do campo.
Diante da afirmação colocada pelos PCNs, salientamos que o trabalho com a Educação Ambiental Popular na escola é fundamental na contribuição da formação do cidadão do campo, por compreender o processo educativo como um ato político no sentido amplo, isto denota uma prática social de formação de cidadania, onde valores democráticos, libertários e solidários são construídos a partir da construção e reconstrução do conhecimento das questões sociais.
Portanto, cabe à escola do campo e, principalmente, ao professor a responsabilidade de direcionar o conhecimento para o estudo do meio, não reproduzindo as informações, mas levantando questionamentos sobre as questões ambientais dentro e fora do contexto campesino, com a pretensão de abrir os olhos dos estudantes para se perceberem como cidadãos que carecem de novos conhecimentos ou reformular suas idéias para fazerem escolhas, as quais possam avaliar como sendo adequadas as suas necessidades individuais e coletivas, ou seja, à sua vida. Sendo assim, incumbe ao professor à opção de escolher qual Educação Ambiental utilizar para ajudar os estudantes a se tornarem conscientes, críticos, reflexivos e atuantes na sociedade, visando contribuir para uma educação libertadora dos processos de dominação.
2 TOTALIDADE HISTÓRICA DA PESQUISA E APRECIAÇÃO DOS RESULTADOS
A caracterização do contexto da pesquisa é importante para que possamos conhecer mais a fundo, os múltiplos aspectos peculiares à realidade dos que participam direta ou indiretamente da investigação, por isso, os aspectos físicos, históricos, culturais, econômicos, políticos, naturais, enfim, os aspectos que permeiam a dimensão natural e social deste universo serão abordados para ajudar na compreensão desse estudo.
Porquanto, a seguir proporcionaremos os históricos e características do município do Careiro-Castanho e do Projeto de Assentamento Panelão, além do diagnóstico da Escola Municipal Fred Fernandes da Silva. Divulgaremos, ainda, a análise das informações coletadas durante todo proceder da pesquisa.
2. 1 O Município do Careiro-Castanho
No sentido amplo da investigação, tendo em vista conhecer a realidade social e natural do município é que abordamos a história do Município do Careiro-Castanho, a sua localização, os seus meios de comunicação e os meios transportes, sua economia, bem como, os sistemas: demográfico, habitacional e de saneamento, além das atividades educacionais, culturais e de lazer desse povo.
2. 1. 1 Histórico do Município
O professor Agnelo Bitencourt em seu relato, uma região próspera: “O Careiro”, apontado por Almeida (2005), informa que as pessoas autênticas e de saudosas memórias, contaram que por volta de 1870, a região do Careiro passou a ser propriedade de um único homem, o caboclo Francisco Ferreira, mas conhecido pelo o apelido de “Chico Macuco”.
Por volta de 1877, muitos nordestinos, principalmente, do Estado do Ceará, vieram para Manaus, movidos pelo fenômeno da seca que assolava o Nordeste e muitos se fixaram no Careiro que, rapidamente, passou a ter uma razoável população. O Nordeste sofria com secas subseqüentes levando muitos nordestinos a abandoarem sua terra natal, vindos dos estados de Piauí, Ceará, Paraíba, Maranhão e de outros para habitarem essa região do Careiro, mais precisamente nos locais de Cambixe e Janauacá.
No ano de 1890, por causa da seca muito intensa no Nordeste, o número de imigrante foi abundante, tanto que o governo amazonense determinou a criação de duas colônias para que os nordestinos ficassem abrigados, uma em Santa Maria do Janauacá e a outra com o nome “13 de Maio”, no Cambixe. Eles foram sustentados pelo governo durante seis meses, sendo que, cada colono, recebeu um lote de terra para trabalhar, apesar de existir indícios de que essa iniciativa foi logo abandonada, o Careiro-Castanho, ficou conhecido, conforme registro na História do Amazonas como a verdadeira expressão viva da capacidade realizadora do nordestino que, soube conviver com a natureza, em uma área rica por sua fauna e flora.
Nos registros históricos constam que o distrito do Careiro foi criado pelo Decreto Estadual nº 176, de 1º de Dezembro de 1938, em outro local que não é o atual, integrando o Município de Manaus, mas formado por um território desmembrado do Município de Manacapuru. A criação do Município do Careiro aconteceu em virtude da Lei nº 99, de 19 de Dezembro de 1955, saindo a sua área do Município de Manaus, ocasião em que a ex-vila do Careiro foi transformada na sede municipal com categoria de cidade.
Conforme a Lei nº 05, de 19 de Fevereiro de 1972, à sede do Município foi transferida para atual localidade, com a mesma denominação de Careiro, entretanto, o hábito popular e a forte influência do rio Castanho fizeram com que passasse a identificar o referido Município como Careiro-Castanho. A palavra careiro significa: “Caminho de Índio”, originou-se da forte influência do Paraná do Careiro, o qual, ao ser visto pelos pilotos das aeronaves era denominado como “grande caminho”.
2.1.2 Características geográficas do Município
O Município do Careiro está localizado na 7ª sub-região Rio Negro/Solimões no Km 102 da Rodovia BR-319. Suas coordenadas geográficas são: Latitude: 1° 12’00S, Longitude: 61° 46’00 W. É dono de 6.124,30 Km², que corresponde a 0,39% do território do Estado do Amazonas, fazendo limites com os Municípios de: Manaquiri, Careiro da Várzea, Autazes e Borba.
O Município do Careiro está divido em seis distritos: Distrito do Purupuru; Distrito de Anveres; Distrito de Janauacá; Distrito do Araçá; Distrito do Mamori, e; Distrito do Andirobão. Contendo setenta e duas comunidades distribuídas nos referidos distritos.
Em relação às peculiaridades de relevo e do clima do Município pode-se considerá-lo semi-plano com altitude nunca superior a 100 mm. Conforme o sistema de Koppen, o clima do Município se enquadra no grupo: clima tropical Chuvoso, por isso, a precipitação pluviométrica anual da região varia de 2. 100 a 2.400 mm e a unidade relativa do ar é de 85% a 90%.
Quanto às características vegetativa e hidrográfica do município, ressalta-se que este é constituído de árvores de grande porte nos terraços aluviais e nos tabuciários, e por árvores de médio porte nas encostas, tornando-se caracterizado por duas regiões fito-ecológicas: Região da Floresta Densa Tropical e Região da Floresta Aberta Tropical, possuindo grandes variedades de pássaros e aves. Estando localizado nas margens do Rio Castanho detém uma boa parcela de lagos, furos e igarapés. Os rios do município também se caracterizam por belas paisagens, contendo grandes variedades de aves às suas margens e diversas qualidades de peixes ornamentais e não-ornamentais.
Os aspectos relacionados à vida social do município são importantes para conhecermos mais detalhes da realidade deste contexto da pesquisa, por esse motivo, a seguir trataremos dessas características peculiares aos moradores dessa comuna.
2.1.3 A vida social no Careiro-Castanho
A população do Município do Careiro, conforme o censo realizado em 2001 pelo IBGE é de 27.554 habitantes, sendo que 21.677 habitam na Zona Rural e, 5.877 na Zona Urbana, esses totais estão distribuídos entre 14.311 homens e 13.243 mulheres em todo o município perfazendo o total acima citado. A faixa etária da população é de 0 a 70 anos, totalizando uma média de 4 a 12 pessoas por famílias.
A rodovia BR-319 Manaus/Porto Velho conecta o Município do Careiro-Castanho com os Municípios de Autazes, no Km 26, pela estrada Careiro/Autazes AM 461, e o Manaquiri, Km 90, pela estrada Careiro/Manaquiri CRO-2. Por esse motivo o transporte terrestre é o mais utilizado.
O transporte rodoviário no percurso Manaus/Careiro ou Careiro/Manaus, é efetivado pelas empresas “Trans-Gilberto”, “Trans-Cláudio”, “Transporte Rural Jabuti’ e “Aruanã”, além de táxis e kombi lotações com saída tanto do Careiro-Castanho quanto do Careiro da Várzea. A saída dos transportes começa às quatro horas da madrugada no Município do Careiro-Castanho e às sete horas da manhã no Município de Careiro da Várzea. O último ônibus sai do Careiro-Castanho às dezesseis horas e o outro sai do Careiro da Várzea às dezoito horas. O tempo médio de percurso em relação ao município e a capital é de 01 h e 40 minutos.
O transporte fluvial é o segundo mais utilizado. O Rio Castanho afluente do Rio Solimões possui inúmeros igarapés, Paranás e furos navegáveis durante a época da “cheia”. Na linha Manaus/Careiro há embarcações de grande porte, como por exemplo, Comandante Carlos César, com saída às dezoito horas na quinta e segunda-feira de Manaus para o Castanho e, na quarta e no sábado do Castanho para Manaus. O tempo médio do percurso varia em média de 04 horas à 10 horas, dependendo da potência da embarcação.
A econômica local é caracterizada, principalmente, pela agricultura alicerçada nas culturas de mandiocas, abacaxi, arroz, batata-doce, cana-de-açúcar, cará, feijão, juta, cacau, malva, milho, hortaliças, possui grande destaque nas culturas permanentes de abacate, banana, cacau coco, laranja, limão, tangerina, pupunha, cupuaçu, guaraná. A criação de bovinos e suínos, cuja produção de carne e de leite, manteiga e queijo, destinam-se ao consumo local e a comercialização fora do município. Avicultura municipal corresponde ao maior grupo de animais de raça fina do interior do Estado do Amazonas, baseia-se principalmente na criação de patos, marrecos, perus e gansos.
Ainda sobre a economia destaca-se o extrativismo vegetal apoiado na exploração de borracha, castanha-do-pará e gomas não elásticas. Existem no município empresas do setor secundário como usina de beneficiamento de arroz, serrarias, olarias, padarias e marcenarias em funcionamento. O comércio local é diversificado com lojas atacadistas e varejistas, além de outros serviços, tais como: restaurantes, casa noturna, borracharia, oficinas para veículos, protético, advogado, serviços de alto-falantes e postos de vendas de passagens rodoviárias.
Quanto à educação, o Município do Careiro possui uma rede de Ensino Fundamental que atende a população infantil/adulto dos diversos distritos com escolas padronizadas, construídas com recursos do próprio município, num total de setenta e duas escolas, sendo que, duas encontram-se na sede do Município e as demais estão distribuídas nos distritos de Anveres, Purupuru, Araçá, Mamori, Janauacá e Andirobão, contando com uma frota de transporte escolar (01 Kombi, 01 Perua Besta, 04 ônibus e 80 Barcos), para transporte de alunos na malha terrestre e fluvial.
A sede do município apresenta um complexo escolar constituído por duas escolas de Ensino Fundamental e Médio com Curso Acadêmico, um Pólo Universitário – UEA, como também, um Centro Profissionalizante: Sociedade Lanteriama para Auxílio da Amazônia, em regime de internato com os cursos de marcenaria e agricultura, atendendo vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana durante todo o ano. E ainda nos distritos de Araçá e Purupuru são mantidas pela SEDUC (Secretaria de Educação do Estado do Amazonas) duas escolas de Ensino Fundamentam e Médio. No que se refere ao rendimento escolar do Município, podemos dizer que nos últimos dois anos o índice do fracasso ascendeu dois por cento, visto que, em 2006, houve um índice de vinte por cento, onde somamos os desistentes e reprovados e, em 2007, foi feito a mesma soma, e obtivemos vinte e dois por cento, como resultado.
No que se refere ao saneamento básico, afirma-se que através da parceria com o Governo do Estado, a Prefeitura Municipal do Careiro concluiu obras na rede de esgoto, drenagem e pavimentação (calçadas e meio fios) em boa parte das ruas da sede do município. A coleta é feita pela Secretaria Municipal de Obras e Urbanismo e o lixo é despejado em local aberto distante da área habitacional.
Atualmente, o abastecimento de água é feito pela DEDIAC (Departamento de Água do Careiro), com 05 (cinco) poços artesianos de 150m de profundidade com caixas elevatórias com vazão de 15.000litros, interligada com a rede, para atender todas as residências da sede do Município. E o abastecimento de energia é feito pela Companhia Energética do Amazonas S/A – CEAM, com motores de potência de 570 KWH de consumo.
Na usina termelétrica do município foram instalados 02 (dois) motores de 1.000 KVA, cada perfazendo um total de 2.000 KVA, onde abastecem a sede do município, toda a extensão da BR-319 do km 102 ao km 0 e mais 20 km da margem esquerda do Paraná do Careiro, Município do Careiro da Várzea. Embora, a demanda tenha perpassado de 570 KWH de consumo, ainda há sobra de 1.200 KWH. Estes motores têm condições de suportar a área do Distrito Industrial que está sendo implantada, em condições de transformar o Município do Careiro em um dos municípios mais potentes do estado, no que se refere à economia agro-industrial.
A cultura do Município do Careiro é bastante diversificada, devido à ampla influência de costumes e confrontos de etnias, como: amazonenses, maranhenses, paraenses, paulistas, mineiros, gaúchos e paranaenses, que formam sua população.
O abacaxi e o cupuaçu são as principais atividades do cultivo na agricultura. Na piscicultura destaca-se a pesca do tucunaré que predomina a cultura do município.
A pesca do Tucunaré que é decretada nos meses de agosto a outubro, está atraindo turistas de todo o Brasil e até mesmo de outros países. Nesta época, o pescado chega a atingir até 60 cm, tendo carne de excelente paladar. A pesca esportiva do tucunaré atualmente é apreciada por pescadores do mundo inteiro.
Na atualidade, o município apresentar uma infra-estrutura de apoio ao turismo com hotéis regionais, onde destacamos: o Hotel/Clube de Pesca Privé do Castanho, com magníficas suítes e apartamentos, piscina, restaurantes, bar, kits pescaria e translado para lagos, fica localizado na sede do município é o único Hotel Clube de Pesca da Região, além, de conforto e atendimento personalizado tem a disposição todas às facilidades para a realização de uma inesquecível pescaria. Assim também, o Hotel/Acampamento Amazon Lodge que possui hospedaria em apartamentos flutuantes, comida típica regional, pescaria, visitas aos lagos e igarapés, pernoites na reserva ecológica do acampamento. Localizado no Distrito do Mamori / Rio Juma.
O município oferece aos seus visitantes diversos pontos de opções: restaurantes, lanchonetes, bares, sorveterias e danceteria, além dos serviços: postal, telefônico, Agência Bancaria do BRADESCO/AS e hospital com Pronto Socorro e Pronto Médico. Essas são algumas das estruturas que o Município oferece para criar facilidades e alcançar o desenvolvimento afetivo e eficaz do turismo. Despertando assim, o intercâmbio das manifestações culturais e apoios intermunicipais, na realização de eventos culturais e esportivos. Deporto.
Os principais eventos culturais do Município são: Festival da Cultura de Frutas Regionais coordenada pela Assessoria de Comunicação Social, Cultura e Desporto, realizada no dia 01 de maio, na sede do município; Festejo da Padroeira Nossa Senhora de Fátima, comemorado no período de 08 a 13 de maio; Festival Folclórico do Careiro, realizado nos dias 25, 26 e 27 de junho com apresentação do boi-bumbá “Estrelinha”, e várias danças típicas regionais: carimbó, quadrilhas, cirandas, danças nordestinas; Feira Agropecuária do Careiro (AGROPEC), realizada no mês de agosto com apresentações de rodeios, provas de hipismo e venda de produtos agrícolas e de animais; Festa do Abacaxi, no Juma, realizada nos dias 30 e 31 de Outubro; Comemoração em homenagem ao aniversário do município, realizado no dia 19 de Dezembro.
Além dos eventos anteriores, o Município do Careiro oferece várias opções de lazer à sua população e aos visitantes, tais como: uma quadra poliesportiva coberta; quatro quadras poliesportivas aberta; um estádio (Estádio Municipal Afonsão); um ginásio poliesportivo; uma área para cooper; um campo de areia society; visitas a floresta com grande ocorrência de plantas ornamentais como orquídeas de diferentes qualidades e outras espécies, aves e muitos animais silvestres.
Num sentido amplo compreendemos o universo da pesquisa, no entanto, as informações ainda não são suficientes para conhecermos esse campo de estudo, por isso, apresentaremos a seguir, o Projeto de Assentamento Panelão.
2.2 O Projeto de Assentamento Panelão
A história do Assentamento Panelão, como também, sua localidade, seus fatores sócio-econômicos e culturais que acompanham sua população são considerados fundamentais para a compreensão do contexto mediano da pesquisa. Desse modo, destacaremos as peculiaridades desse ambiente, as quais, julgamos indispensáveis para obtermos uma noção mais precisa dessa realidade.
2.2.1 Histórico do PA Panelão
O Governo Federal criou o Projeto de Assentamento Panelão através da PORTARIA INCRA SR (15) Nº. 114, de 17 de Dezembro de 1998, publicada no DOU Nº. 248, de 28/12/98, com área de 4.025,8939 hª, situado na margem direita do Rio Castanho Município do Careiro, entre a BR 319, desapropriada por interesse social e matriculada em nome da União sob o nº. R-053, livro 02, ficha 01, no Cartório da Comarca do Careiro, e que prevê a criação de 256 (duzentos e cinqüenta e seis) unidades agrícolas familiares e a implantação de infra-estrutura física necessária ao desenvolvimento da comunidade rural.
Segundo algumas pessoas que habitavam próximo à área destinada a União, o Assentamento foi nomeado por Panelão devido a uma comunidade que existia nas limitações dessa área pela parte do rio. Não obstante, outras pessoas dizem que durante a seca apareciam enormes buracos onde viviam as cobras grandes e esses buracos eram chamados pelos caboclos de “panelão”.
A área do Assentamento pertencia a dois irmãos, Sancrei e Nereu, desde o princípio do século passado, com o Título Tupãna. Na década de 90, a área foi invadida por pessoas que não possuíam terras para desenvolver a agricultura. Os donos da terra confrontaram-se inúmeras vezes com Clotildo conhecido como Colló. A área disputada era vasta e, próxima da sede do Município do Careiro-Castanho, o que levou 90 famílias a invadirem.
O conflito entre os invasores e o proprietário da terra durou alguns anos. Então o Sindicato dos Trabalhadores do Careiro, com o senhor Nogueira na presidência, contratou um advogado para defender as causas das pessoas que queriam trabalhar na terra. Depois de muita luta o INCRA resolveu desapropriar a área do Título Definitivo. A partir desse momento, a área passou a ser demarcada em lotes medindo 100 metros de largura por 1000 metros de comprimento, num total de duzentos e cinqüenta e seis lotes de terra distribuídos aos agricultores. Em seguida as casas foram construídas e o ramal foi aberto com seis vicinais.
O Projeto de Assentamento Panelão, está localizado no Km 102, na margem direita da BR 319, no Município do Careiro. Mais de 80% das famílias são oriundas do próprio estado do Amazonas, principalmente dos municípios de Careiro-Castanho e Manaus. O gráfico a seguir, mostra os municípios de onde migraram as famílias que, hoje, formam a comunidade do Assentamento.
Gráfico 1 – Origem da população do Assentamento Panelão – Fonte INCRA
Os dados que constam no gráfico nos permite dizer que o Projeto de Assentamento exerce um papel importante no que diz respeito à contribuição para permanência do homem no meio rural reduzindo a migração campo/cidade, uma vez que, foi doado a cada família um lote de terra para morarem e cultivarem, como também, uma casa construída pelo INCRA, embora, nem todos os lotes possuam uma casa.
Quanto à educação na comunidade, informamos que, em 2001, foi construída a Escola Municipal Antonio Soares de Melo, localizada na Vicinal 05. Esta funcionou durante dois anos, em 2002 e 2003, durante esse período atendeu alunos do primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental. Nesta escola trabalhou apenas a professora Kênia Maquiné. A escola era multisseriada e tinha uma única sala de aula.
Hoje, o Assentamento Panelão, conta com uma escola bem estruturada, A Escola Municipal Fred Fernandes da Silva, localizada aproximadamente ao centro do Assentamento, para facilitar o acesso a todos. A escola atende alunos do primeiro ao nono do Ensino Fundamental. Construída em 2003 e funcionando desde 2004. Atualmente, apenas o gestor e um professor desta escola não são assentados, os demais professores e funcionários da escola são filhos de assentados ou são assentados, por esse motivo estes estão cursando o Normal Superior, através da parceria INCRA/UEA/PRONERA.
No Assentamento tem um Posto de Saúde, mas não há médico no posto, apenas um agente de saúde. Há também um microscopista que, embora não more no assentamento trabalha de segunda a sexta-feira passando de casa em casa para verificar se há pessoas com sintomas de malária. O laboratório de exame de malária, no momento está localizado em um dos quarto do alojamento dos professores, na referida escola.
Na comunidade há dois poços artesianos, um está localizado no terreno da escola, sendo que a encanação de água beneficia apenas a escola, e o outro não possui encanação de água. Esta situação, principalmente na época da seca traz sofrimento à maioria dos moradores do Panelão, pois as famílias que moram perto da escola carregam água “na cabeça” para minimizar as necessidades básicas, outros consomem as águas que ficam em pequenos lagos, muitas vezes barrentas e não recebem tratamento adequado ao consumo. São poucos os moradores que possuem em seu terreno um poço artesiano.
A maior parte dos assentados sobrevive da agricultura familiar, extração de madeira, caça e pesca, estas duas últimas somente para o consumo da própria família. A maioria acaba não tendo uma renda que possa suprir as necessidades básicas de cada família, pois além de não terem apoio das autoridades competentes, são vítimas constantes do mosquito transmissor da malaria e doentes são impossibilitados de trabalhar.
No tocante da religiosidade, a maioria da população da comunidade é evangélica, por conta disso há poucas festas culturais na comunidade, visto que as datas de maiores comemorações são: O dia das mães, dos pais, a páscoa, o dia das crianças, o natal e o ano novo.
Na comunidade há a associação dos moradores, que trabalha em prol de uma melhor qualidade de vida. A assentada Margarete assumiu o cargo de presidente no ano de 2007, desde então, junto com os demais membros da associação têm procurado através dos meios cabíveis a uma associação, contribuir para que a população do assentamento possa ter uma melhor qualidade de vida.
A comunidade comprou um caminhão para transportar os produtos agrícolas duas vezes por semana até a sede do município para serem vendidos, porém nem sempre é possível, porque o ramal está em péssimas condições de tráfego, por conta disso, o caminhão nem sempre consegue realizar esse percurso. O transporte mais usando na comunidade é a bicicleta, todavia, existem famílias que não possuem nenhuma bicicleta e se deslocam via terrestre “a pé” ou em canoas com ou sem motor.
A energia elétrica chegou à comunidade há pouco tempo, trazendo consigo mais famílias, oriundas, sobretudo do município de Manaus e da sede do município de Careiro-Castanho e, possibilitando um pouco de conforto para os moradores, pois algumas famílias já compraram alguns eletros domésticos como, por exemplo, geladeira, liquidificador, entre outros.
Acreditamos que a partir das informações sobre o Assentamento, passamos a ter uma visão mais concisa do ambiente da pesquisa, entretanto, a investigação é de cunho educacional, logo, o contexto primordial nesse estudo é o escolar, sendo assim, ele será apresentado minuciosamente como forma de contribuir significativamente sobre esse estudo.
2.3 Totalidade singular da pesquisa: Escola Municipal Fred Fernandes da Silva
A Escola Municipal Fred Fernandes da Silva foi construída no ano de 2003, fruto de um Projeto do Governo Federal que visava melhorar a qualidade da educação dos assentados. O nome da escola surgiu da homenagem que o INCRA fez a um funcionário que prestou serviço ao Município do Careiro-Castanho, e falecera no corrente ano. No ano seguinte especificamente, no dia 13 de Março, a escola foi inaugurada, e no dia 15 do mesmo mês iniciou o ano letivo no Assentamento.
As informações que constam nessa parte do trabalho trazem ao nosso conhecimento as peculiaridades do contexto da Escola Municipal Fred Fernandes da Silva. Desse modo, serão caracterizados os seguintes aspectos, como: o meio físico, o meio econômico e social, o ambiente humano, o ambiente de aprendizagem, como também, os indicadores da minha escola, visto que a realidade da referida escola retrata suas necessidades, suas dificuldades e suas conquistas.
2.3.1 O meio físico da escola
A Escola Municipal Fred Fernandes da Silva está localizada na Vicinal Principal, praticamente no centro do assentamento, sobre um terreno que mede 100000 m², cercado de arame liso com colunas de concreto e, um portão de ferro. As dependências físicas da escola ocupam aproximadamente 10% da área do terreno e estão divididas em três blocos conectados entre si por um pátio em forma de polígono hexágono, cujas dependências veremos a seguir.
O bloco administrativo é composto por uma sala para o gestor, uma sala para os professores, uma secretaria com arquivo, além de dois banheiros, um almoxarifado e um corredor. A sala da diretoria e a sala dos professores possuem a mesma medida 14,80 m². A área da sala da secretaria somada com a medida da área dos banheiros e do almoxarifado é equivalente 45,55 m². O corredor mede 25,60 m², logo a área do bloco administrativo corresponde a 100,75 m².
Atualmente, a sala do gestor e a sala dos professores funcionam como sala de aulas, o almoxarifado como depósito para livros e a sala da secretaria está funcionando como sala do gestor e dos professores. Esta última sala contém três mesas feitas de madeira e ferro: a da diretória, a dos professores e a do secretário, seis cadeiras almofadadas, dois armários e dois arquivos de ferro, duas estantes, um computador com impressora todos em boas condições de uso, e a saleta de arquivo serve de depósito para seis computadores, uma impressora e para a televisão, todos com defeitos. Os dois banheiros que pertencem esse bloco possuem um vaso sanitário com caixa de descarga acoplada e uma pia, e são de uso exclusivo dos professores e da administração da escola, sendo que o banheiro masculino está com defeito há mais de dois anos.
O bloco pedagógico possui quatro salas de aula medindo 49 m² cada, uma sala de leitura e uma sala de informática, estas últimas também são usadas como salas de aula. Todas as quatro salas de aula foram contempladas com um armário de ferro, mesa e cadeira para o professor, mesas e cadeiras para os alunos e uma lousa embutida na parede. A sala de leitura foi observada com seis estantes de ferro, destas, quatro estão no almoxarifado e duas na sala da secretaria. E por fim a sala de informática que foi contemplada com oitos computadores, destes, um está em uso na secretaria da escola, seis estão guardados na saleta de arquivos e o outro não está nas dependências da escola.
A sala de leitura e a sala de informática nunca funcionaram para estes fins. No primeiro ano de trabalho, a escola apenas possuía os livros didáticos referentes aos primeiros cinco anos do Ensino Fundamental, que foram entregues aos professores e aos estudantes. Embora, do segundo ano em diante a quantidade de livros venha crescendo gradativamente, ainda não foi possível colocar em prática, pois a sala de leitura está funcionando como sala de aula. Por outro lado, os oito computadores destinados a sala de informática, nunca foram usados pelos alunos, visto que nos primeiros anos não tinha energia elétrica na comunidade e quando chegou a energia, somente dois computadores estavam funcionando, um deles está na sala da secretaria da escola e, o outro, encontra-se em uso no Cartório Eleitoral do Município, os demais estão na sala de arquivo da secretaria da escola.
O bloco da área de serviço é formado por uma cozinha com depósito, área de serviço e banheiro que mede 6 m² contendo um vaso sanitário com caixa de descarga acoplada, uma pia e um chuveiro para uso particular dos servidores gerais, além destes, nessa área há dois banheiros medindo cerca de 14,10 m² cada, sendo um masculino e um feminino, ambos, com quatro vasos sanitários e duas pias para uso específico dos educandos, esses banheiros estão precisando de reparos, como também, um corredor medindo 25,60 m². A cozinha é provida de freezer, geladeira, liquidificador e fogão industriais, armários embutidos, duas pias para lavar as lousas e um “tanquinho” para lavar os panos de chão. A área do bloco da área de serviço é igual à área do bloco administrativo, ou seja, 100,75 m².
O alojamento dos professores encontra-se dentro do terreno da escola, no entanto, está desligado dos blocos mencionados anteriormente. No alojamento há dois quartos e um banheiro, entretanto, até a data presente nenhum professor chegou morar. No ano de 2007, não havia no prédio da escola nenhuma sala disponível para a turma do segundo ano do Ensino Fundamental, então um dos quartos do alojamento dos professores foi usado como sala de aula e outro foi usado pelo microscopista para atender os alunos e demais comunitários que estivessem com os sintomas da malária.
Na escola há motor de energia, mas dificilmente o óleo é suficiente para mantê-lo em funcionamento durante um mês. Além do motor de energia, a escola tem em sua propriedade um poço artesiano construído para o uso de água encanada na cozinha e em todos os banheiros. O motor é usado geralmente quando a caixa d’ água está vazia, isso ocorre de duas a três vezes por semana e ainda assim falta o óleo para seu funcionamento, por isso dificilmente é ligado para outros fins. O abastecimento de óleo é feito pela Prefeitura Municipal do Careiro que libera uma cota quinzenal ou mensal, mas nem sempre é suficiente.
A estrutura física do prédio da escola e do alojamento dos professores é composta da seguinte maneira: todas as paredes são de alvenaria, as portas são feitas de MDF, as janelas são de ferro e vidro transparente, o teto é coberto com uma estrutura de madeira, ferro e telha de barro e, o piso é revestido de cerâmica branca. Entretanto, após quatro anos de funcionamento a escola está precisando de reparos: na cobertura, porque a madeira utilizada para fazer parte do telhado está apodrecendo, pondo em risco a segurança dos que freqüentam a escola; em algumas portas, que devido o contado com a água, sua estrutura encontra-se danificada, principalmente, as portas dos banheiros; em algumas janelas, pois alguns vidros foram quebrados, uns por ato de vandalismo e outros por furtos.
2.3.2 A comunidade escolar e seu cotidiano
A escola, até o ano de 2007, atendeu cento e vinte e nove educandos distribuídos do primeiro ao nono ano do Ensino Fundamental, em um único turno, o vespertino, e para atender esses estudantes conta com um quadro de dezesseis funcionários, como destacamos nas referidas funções abaixo.
Um gestor, ainda que não possua formação superior para a função que exerce, atua na escola há dois anos e está concluindo o Normal Superior pelo PROFORMAR (Programa de Formação de Professores de Ensino Fundamental); dez professores em fase de conclusão do Curso Normal Superior, sendo seis estudantes do PRONERA (Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária) e, quatro do PROFORMAR.
A maioria exerce essa função de professor, há mais de cinco anos, sendo que os professores do sexto ao nono ano, não possuem formação superior para trabalhar nessa área do Ensino Fundamental, o que de certa forma prejudica a aprendizagem dos educandos. A escola conta ainda com o trabalho de uma merendeira, de dois servidores gerais encarregados de zelar pela limpeza da mesma, de um vigia e de um motorista que conduz os estudantes à escola em uma Kombi, estes funcionários moram na própria comunidade, já o gestor e os professores residem na sede do município.
A escola possui inúmeros cômodos que necessitam ser limpos todos os dias e as duas pessoas que trabalham na limpeza não dão conta desta tarefa, por isso, a escola conta com a ajuda de uma amiga da escola para essa atividade. A maioria procura trabalhar para manter o bom funcionamento da escola.
2.3.3 Aspectos econômicos, sociais e culturais
Ao ser construída a escola previa atender alunos do primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental, no entanto, havia na comunidade, adolescentes que precisam estudar no sexto ano, que por insistências de seus pais a escola também passou a atender esses alunos, conforme os alunos iam passando para o sétimo, o oitavo e por último para o nono ano, a escola era obrigada a atendê-los, tal atendimento se dava pela insistência dos pais e assim foi sendo necessário disponibilizar outras salas para que esses alunos pudessem ser atendidos. No turno da noite funciona, na escola, uma turma de Educação de Jovens e Adultos, pelo PRONERA.
A escola é a única do Assentamento, além disso, a escola mais próxima fica na sede do município, aproximadamente 08 km de distância, por isso, todos os estudantes da escola vivem na comunidade local. A população é formada por amazonenses, maranhenses, cearenses e outras naturalidades, ou seja, a comunidade possui características culturais peculiares aos estados mencionados, a maior parte dos moradores é evangélica.
O Assentamento Panelão é um dos focos principais de malária, no município, como a maioria das famílias sobrevive da agricultura familiar, extração de madeira, caça e pesca, acaba não tendo uma renda que possa suprir suas necessidades básicas, pois são vítimas constantes do mosquito transmissor da malária e doentes são impossibilitados de trabalhar, este fato é visível no ambiente escolar, uma vez que, é comum, alunos, especialmente, aqueles que dependem muitos dos pais, chegarem à sala de aula necessitados dos materiais escolares, calçado e contando com a merenda escolar por não terem o comer em casa.
As portas da escola estão sempre abertas a qualquer pessoa que queira participar de forma direta ou indiretamente das realizações da mesma como as programações do ano letivo, tais como: páscoa, dia do índio, dia das mães e dos pais, dia do estudante, dia do professor e outras atividades que possam surgir durante as reuniões com os pais e mestres, como também, procura trazer os pais para a escola incentivando a participarem mais da vida escolar de suas crianças através da escolha “do pai e da mãe do ano”.
A ausência do Projeto Político Pedagógico na escola é uma das ferramentas que desacelera essa relação, já que o PPP é construído com a participação da comunidade, valorizando as pessoas que participam diariamente de suas realizações. Embora, até o presente momento, exista esse empecilho, a escola procura aproximar a comunidade à vida escolar, através das reuniões realizadas pela escola, em que são tratados assuntos inteiramente ligados à escola e também é dada a oportunidade à presidente da comunidade para tratar dos assuntos de interesses de todos os assentados.
2.3.4 Ambiente de aprendizagem: métodos, técnicas e resultados
Na Escola Municipal Fred Fernandes da Silva, embora, exista escassez de materiais didáticos e de apoio, a maioria dos professores procura melhorar sua prática de ensino, conforme as informações que adquirem no Curso Normal Superior, valorizando o conhecimento, a ética, formação de hábitos e atitudes, a solidariedade, o exercício de liberdade do saber crítico e responsabilidade, tornando o aprendizado bastante significativo na construção do saber com um ambiente criativo e uma constante inovação, sobretudo respeitando o discente e seu ambiente, para efetivar a aprendizagem.
Apesar de a escola ser situada em uma área de Reforma Agrária, seus recursos são disponibilizados pela Prefeitura Municipal, tais recursos não suprem as necessidades da demanda escolar. Alguns professores vão às escolas estaduais pedir ao gestor e aos professores que doem ou lhes emprestem livros, para fazerem o planejamento de suas aulas. O ensino dos assuntos em algumas salas ocorre de maneira interdisciplinar e em outras não. O planejamento é feito individualmente conforme o ano que o professor trabalha, quando há dúvidas em relação ao planejamento os professores se ajudam.
Ao tratar as dificuldades enfrentadas pelos docentes no ambiente de aprendizagem, nota-se uma dedicação da maioria para vencer os obstáculos que surgem, buscam soluções dialogando com os outros professores da escola, com o gestor e com os pais de alunos, até porque na escola não tem pedagoga que possa orientar os professores como progredir frente aos problemas.
2.3.5 Os indicadores da escola
De acordo com os dados adquiridos na secretaria da escola, obteve-se os seguintes indicadores em relação aos alunos matriculados, desde o ano de 2004 ao ano de 2007.
No ano de 2004 foram matriculados 93 alunos, do primeiro ao sexto ano do Ensino Fundamental, dos quais, 52 foram aprovados, 11 reprovados, 15 desistentes, 14 transferidos e 01 evadido. Em 2005, foram matriculados 96 alunos, do primeiro ao sétimo ano do Ensino Fundamental, dos quais foram: 53 aprovados, 21 reprovados, 13 desistentes, 08 transferidos e 01 evadido.
No ano seguinte, constaram no registro da secretaria da escola 117 alunos matriculados do primeiro ao oitavo ano do Ensino Fundamental, dos quais, 63 foram aprovados, 27 reprovados, 23 desistentes, 05 transferidos e 01 evadido. Por fim, no ano de 2007, a secretaria registrou 129 alunos matriculados, do primeiro ao nono ano do Ensino Fundamental, dos quais foram: 96 aprovados, 10 reprovados, 02 desistentes, 16 transferidos e 05 evadidos.
O gráfico abaixo apresenta os indicadores de matrículas referentes aos quatro anos de funcionamento da escola, ou seja, do ano de 2004 ao ano de 2007. Os dados estão organizados em porcentagem para facilitar a comparação entre os anos e fazer possíveis observações positivas ou negativas em relação ao número de alunos aprovados, repetentes, desistentes, transferidos e evadidos com a intenção de entender o porquê dos resultados finais de cada ano.
2.4.1 Caracterização dos sujeitos da pesquisa
Quanto aos sujeitos, trabalhamos com dois professores, um do terceiro ano e outro do quarto ano do Ensino Fundamental, sendo que o primeiro será mencionado como prof. A e o segundo como prof. B. Estes professores têm entre 32 e 38 anos, atuam como professores do campo em média de oito a treze anos, um deles já concluiu o Curso Normal Superior pelo PROFORMAR e o outro está concluindo o curso pelo PRONERA. Embora tenhamos utilizado os mapas mentais para conhecermos a concepção dos educandos sobre meio ambiente, não podemos considerá-los como sujeitos da pesquisa, uma vez que nossas observações tinham por objetivo investigar a prática dos professores, como eles trabalham a Educação Ambiental e como isso tem refletido nos estudantes.
2.4.2 Concepções de Educação Ambiental e de meio ambiente dos professores
As famílias que habitam o campo possuem laços com a terra que se solidificaram ao longo da história desse povo, principalmente pelas lutas no direito de usar a terra para tirar o seu sustento. Para contribuir no fortalecimento da identidade de camponês, a escola necessita tratar tanto dos conhecimentos formais como dos informais, sendo importante tratar das diversas dimensões que perpetuam a vida do ser humano, dentro e fora do campo. Por isso, a “escola do campo tem que ser um lugar onde especialmente as crianças e os jovens possam sentir orgulho desta origem e deste destino; não porque enganados sobre os problemas que existem no campo, mas porque dispostos e preparados para enfrentá-los, coletivamente” (CALDART, 2005, p. 157).
Na atualidade, não se pode negar que a Educação Ambiental é um componente essencial da educação nacional para o estudo do Meio, além disso, a educação escolar é o caminho mais importante para cooperar expressivamente na formação do cidadão. Tendo em vista contribuir para a formação do cidadão do campo foi que sentimos a necessidade de conhecer a concepção dos professores sobre Educação Ambiental e meio ambiente. Para tanto utilizamos as seguintes técnicas: entrevista e questionário.
A realização da entrevista foi individual e em dias alternados, com o seguinte procedimento: conversamos primeiro com o prof. B e depois com o prof. A, explicamos o motivo que nos levou a entrevistá-los e falamos da importância de suas respostas para nossa pesquisa.
A entrevista com o professor B, não possível no primeiro momento, visto que, este não conseguiu responder as seguintes perguntas: Qual a sua concepção de meio ambiente? Qual a sua concepção de Educação Ambiental? Após ter tomado conhecimento de todas as perguntas nos pediu para entrevistá-lo, no outro dia, pois disse que ia consultar um material de Educação Ambiental que possuía em casa, como precisávamos da resposta dele, concordamos, e assim ocorreu.
Em relação ao prof. A, seguimos os mesmos procedimentos iniciais anteriores, no entanto, utilizamos o questionário. Lemos todas as perguntas e depois perguntamos se tinha alguma dúvida, a resposta foi não. Sendo assim, aguardamos as respostas e no final agradecemos sua colaboração. Ao iniciarmos a análise dos dados, percebemos que as respostas obtidas, através do questionário, não respondiam claramente o nosso primeiro objetivo, por isso voltamos a conversar com os dois professores. No que se refere à primeira pergunta sobre a concepção de meio ambiente dos professores, obtivemos as seguintes respostas:
Prof. A – Meio ambiente é tudo aquilo que nos cerca como o meio natural e social.
Meio natural é tudo aquilo que a natureza nos oferece tudo que está a nossa volta.
Meio social ex: nós fazemos parte de uma comunidade e por isso pertecemos ao meio social.
Prof. B – Tudo que está em volta de nós: água, animais, plantas, pessoas, ar, clima, vegetação e etc;
A partir da primeira resposta, percebemos que a visão de meio ambiente que esse professor possui não está restrita ao meio natural. Por outro lado, o outro professor, apesar de dizer que tudo que está a nossa volta compõe o meio ambiente, não menciona a participação do homem no meio social, apenas refere-se a ela em relação com a natureza, de modo que entendemos que esse conceito de meio ambiente é um conceito ecologista, o qual reforça a relação de meio ambiente às áreas biológicas.
Quanto à definição de meio ambiente, a Lei nº 6.938/81, no artigo 3º, inciso I, institui por meio ambiente “o conjunto de condições, leis, influências e integrações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (ROCCO, 2002, p. 20). A mesma Lei destaca como um dos objetivos principais da Educação Ambiental, “o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos” (ROCCO, 2002, p. 226). Desse modo, entendemos que a concepção dos professores sobre meio ambiente deve abranger tanto o meio natural quanto o meio social sem dicotomizar essas dimensões.
Após termos o conhecimento sobre a concepção de meio ambiente dos sujeitos da pesquisa, procuramos conhecer qual a concepção que possuíam sobre Educação Ambiental. No que se refere a essa pergunta, os professores disseram:
Prof. A – É todo os aspectos relacionado ao meio ambiente como por exemplo: as pessoas, animais, as florestas, os rios e etc.
Prof. B – É o estudo do meio ambiente de forma geral, que se refere o ambiente social, natural em seus devidos aspectos e as mais variadas problemáticas que a Educação Ambiental nos permite buscarmos soluções para melhor convivermos no ambiente natural e social.
Na réplica do Prof. A, detectamos que ele não possui um entendimento conciso do que venha a ser Educação Ambiental, caso que nos preocupa, pois se não temos uma concepção de Educação Ambiental para nos guiar, como poderemos dizer que estamos trabalhando com a Educação Ambiental. Entretanto, a partir de sua resposta, verificamos que os aspectos naturais são mais explorados, logo sua concepção de Educação ambiental está ligada à preservação da natureza.
No que se refere à resposta do Prof. B, verificamos que sua idéia de Educação Ambiental é abrangente e não se restringe aos aspectos naturais, por conta disso lembramos de sua resposta sobre meio ambiente, a qual, ficou limitada a área natural, por isso chegamos a pensar que sua resposta foi pré-elaborada, uma vez que num primeiro momento não conseguiu responder essa mesma pergunta, fato que foi analisado na sala de aula através de sua prática docente, onde os resultados virão num segundo momento.
Este trabalho de pesquisa fundamenta-se numa concepção de Educação Ambiental enraizada na Educação Popular. “A EA popular compartilha com essa visão a idéia de que a vocação da educação é a formação de sujeitos políticos, capazes de agir criticamente na sociedade” (CARVALHO, 2001, p. 49). Nesta concepção, “o meio ambiente é tido como um campo de sentidos socialmente construído e, como tal, atravessado pela diversidade cultural e ideológica, bem como pelos conflitos de interesse que caracterizam a esfera pública” (CARVALHO, 2001, p. 47). Por isso é que consideramos importante conhecermos a concepção dos sujeitos da pesquisa sobre Educação Ambiental e sobre meio ambiente, pois essas concepções nos dizem em parte como o professor conduz o conhecimento no âmbito da sala de aula.
2.4.3 A prática da Educação Ambiental no terceiro e no quarto ano do Ensino Fundamental
Na escola do campo, considerando a importância de contribuir na formação dos cidadãos, acreditamos ser necessário que os professores trabalhem o conhecimento, as atividades e as habilidades dos estudantes concomitantemente. Para que o educando aprenda da e para a realidade, as questões ambientais carecem ser entendidas por diferentes ângulos. Para tanto, a Educação Ambiental na sala de aula necessita ser desenvolvida como uma prática interligada a todas as disciplinas regulares.
Desse modo, perguntamos aos professores, em quais disciplinas eles trabalhavam as questões ambientais e pedimos a eles que justificassem suas respostas. Em relação a essa pergunta, obtivemos as seguintes réplicas:
Prof. A – Geografia e Ciência porque as duas têm conteúdos que podemos relacionar com o meio ambiente, ou seja relacionando a questão do meio ambiente na preservação.
Prof. B – Geografia e Ciências, por que e os que mais se aproximam com os assuntos relacionados com a natureza.
Diante das respostas, verificamos que ambos possuem o mesmo pensamento, pois destacam as mesmas disciplinas e suas justificativas direcionam a preservação da natureza. Entretanto, vamos analisar as respostas separadamente, por exemplo, quando o Prof. A, diz que “as duas têm conteúdos que podemos relacionar com a preservação do ambiente”, entendemos que o tema meio ambiente não é trabalhado como um tema transversal, pois as questões ambientais abrangem as dimensões: sociedade e natureza, desse modo, não é impossível aprender sobre essas questões apenas a partir dos conhecimentos da Geografia e das Ciências Naturais.
Perante a resposta do prof. B, quando ele diz: são as “que mais se aproximam com os assuntos relacionados com a natureza”, em parte concordamos com ele, mas as questões ambientais são provenientes da vida social, por isso carecem ser estudas por outros campos da educação escolar. Neste sentido, cabe “[…] ao professor mobilizar tais conteúdos em torno de temáticas escolhidas, de forma que as diversas áreas não representem continentes isolados, mas digam respeito aos diversos aspectos que compõem ao exercício da cidadania” (BRASIL, 2001, p. 38-39).
Deste modo, o trabalho do professor com as questões ambientais necessita ser sistemático, mesmo porque um dos quatro pontos da proposta da transversalidade “[…] aponta uma transformação da prática pedagógica, pois rompe a limitação da atuação dos professores às atividades formais e amplia a sua responsabilidade com a sua (sic) formação dos alunos” (BRASIL, 2001, p. 38).
Para que pudéssemos compreender um pouco mais do trabalho desses professores com os temas ambientais, perguntamos quais atividades de Educação Ambiental eram desenvolvidas em suas aulas. No que se refere a essa pergunta, os professores responderam:
Prof. A – Preservação do meio ambiente; Ética, o respeito as pessoas, confiança em si mesmo; A cidadania, trabalhei os valores éticos, respeito as diferenças culturais.
Prof. B – Conceituo sobre breves comentários no que a EA estuda, procurando orientar os mesmo para não jogar lixo nos rios, igarapés, e evitar o desmatamento e a queimadas.
Baseados na resposta do Prof. A, pedimos que desse mas detalhes sobre como desenvolvia essas atividades, e ele nos disse que esse ano apenas tinha desenvolvido atividades de preservação da natureza, e que as outras atividades havia desenvolvido nos anos anteriores. Fato que se confirma durante nossas observações.
Durante uma de suas aulas de Ciências, a preservação do meio ambiente foi abordada como tema. Nesse dia o prof. A usou o livro didático e escreveu o assunto no quadro, e quando foi explicar o assunto apresentou um cartaz com quatro imagens e quatro frases com as seguintes informações: Preserve a natureza! Não jogue lixo nos rios! Proteja os animais! Não jogue lixo nas ruas! Conforme apresentava as imagens, explicava a importância de por em prática as mensagens que foram proporcionadas.
No que se refere à preservação do meio ambiente, podemos dizer que essa aula foi importante, mas não suficiente para despertar a sensibilidade dos educandos. Para isso, faz-se necessário, várias aulas, e não somente as aulas de Ciências. Sabedores que o meio ambiente não se resume ao ambiente natural, porquanto ao trabalhar a questão da preservação é fundamental problematizar o papel do ser humano no ambiente, através das diversas áreas do conhecimento.
Não se trata tão-somente de ensinar sobre a natureza, mas de educar “para” e “com” a natureza; para compreender e agir corretamente ante os grandes problemas das relações do homem com o ambiente; trata-se de ensinar sobre o papel do ser humano na biosfera para a compreensão das complexas relações entre a sociedade e a natureza e dos processos históricos que condicionam os modelos de desenvolvimento adotados pelos diferentes grupos sociais (MEDINA et al, 1999, p. 25).
Trazendo para a discussão a fala do prof. B, percebemos que assim como o prof. A trabalha com uma visão de Educação Ambiental voltada a preservação do ambiente. Entretanto, insistimos em dizer que mesmo que seja para trabalhar com o tema preservação é necessário o engajamento em todas as áreas do conhecimento e para um entendimento mais amplo deve ser problematizado o papel do ser humano no ambiente, visto que se hoje é preciso preservar o ambiente é porque o ser humano ao longo de sua história vem explorando a natureza sem se preocupar com o resultado dessa agressão.
Ainda sobre as atividades de Educação Ambiental, perguntamos quais as dificuldades enfrentadas para desenvolvê-las, e suas respostam foram basicamente iguais: a falta de materiais didáticos e livros que falem sobre Educação Ambiental, pois sentiam dificuldades para organizar as aulas. Em virtude disso, perguntamos se haviam tido algum preparo para trabalhar com a Educação Ambiental, os dois se referiram a disciplina de Educação Ambiental no Curso Normal Superior, no entanto, afirmaram que oito dias não foram suficientes para aprenderem sobre a prática dessa educação na sala de aula.
Contudo, as questões ambientais estão aí, e legitimamente não podemos desenvolver um trabalho educacional sem tratar essas questões a partir de uma visão holística, do contrário não estaremos contribuindo para uma educação libertadora e sim para uma educação conservadora, reprodutora dos fatos sociais. É evidente que as dificuldades existem, mas precisam ser superadas pelos professores em equipe, para que o trabalho com os temas ambientais possa realmente favorecer a formação de sujeitos culturalmente enraizados no contexto campesino. “Para os professores polivalentes de primeiro e segundo ciclos, essas situações serão especialmente valiosas para que possam definir a forma de trabalhar com os Temas Transversais a partir da realidade de cada um e dentro das possibilidades da escola” (OLIVA et al, 2001, p. 29).
Para aprendermos sobre as questões ambientais, principalmente, nos anos iniciais do Ensino Fundamental é indiscutível a abordagem das questões sociais e naturais peculiares ao campo. Diante disso, precisávamos saber que importância tem os temas ambientais na vida dos educandos, na opinião dos professores. Quanto a isso, eles nos responderam:
Prof. A – É importante na conscientização da preservação do meio ambiente e na sua formação como cidadão críticos conscientes de seus direitos e deveres.
Prof. B – Na minha própria observações pessoais em que o mundo vem em grandes proporções, cujo o homem é responsáveis pela maior parte da degradação ambiental do Meio Ambiente. Por isso, acho importantíssimo trabalhar com conceitos de EA para conscientizar as pessoas futuramente.
Em se tratando das respostas do Prof. A e do Prof. B, verificamos que ambos atribuem a importância para a conscientização dos cidadãos. Embora o Prof. A atribua importância a formação do cidadão crítico, acaba reduzindo essa importância a conscientização de seus direitos e deveres. Em relação à opinião do Prof. B, acreditamos que apenas trabalhar com conceitos de Educação Ambiental não tornará as pessoas conscientes.
No tocante ao trabalho com temas relacionados ao meio ambiente, os Parâmetros Curriculares Nacionais: meio ambiente: saúde, afirmam que:
A principal função do trabalho com o tema Meio Ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso é necessário que, mais do que informações de valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e procedimentos. E esse é um grande desafio para a educação. Comportamentos “ambientalmente corretos” serão aprendidos na prática do dia-a-dia na escola: gestos de solidariedade, hábitos de higiene pessoal e dos diversos ambientes, participação em pequenas negociações podem ser exemplos disso (BRASIL, 2001, p. 29).
Como já dissemos num outro momento desse trabalho, não concordamos em suma com essas afirmações, visto que parte delas evidencia os ideais de uma Educação Ambiental Comportamental. Porém, neste momento, onde as opiniões dos professores sobre a importância desse tema para a vida do educando vieram à tona, sentimos a necessidade de retornarmos a essas informações para reforçar a idéia de que no âmbito da sala de aula os professores têm autonomia para conduzir o conhecimento sobre o ambiente, tendo em vista contribuir para a formação de cidadãos conscientes, críticos, reflexivos e atuantes na sociedade, individual e coletivamente.
Em virtude disso, concordamos com Caldart (2005, p.120) ao argumentar que:
Quando os educadores se assumem como trabalhadores do humano, formadores de sujeitos, muito mais do que apenas professores de conteúdos de alguma disciplina, compreendem a importância de discutir sobre suas opções pedagógicas e sobre que tipo de ser humano estão ajudando a produzir e a cultivar. Da mesma forma as famílias passam a compreender por que não podem deixar de participar da escola e de tomar decisões sobre seu funcionamento.
A prática da Educação Ambiental na escola depende principalmente dos professores, pois são eles quem estabelecem um contato mais próximo com os educandos, o que permite conhecer suas dificuldades de aprendizagem, como também, as dificuldades que enfrentam fora do ambiente escolar, visto que, conhecemos o entorno da escola também através dos educandos. Neste sentido, atribuímos importância à realidade dos educandos para aprenderem do e para o meio. Tanto que procuramos saber dos professores se ao desenvolverem trabalhos com os temas ambientais, procuravam relacioná-los com o contexto do campo, o qual, a escola está inserida e como isso era feito. Quanto a isso, os entrevistados nos disseram:
Prof. A – Sim, incentivando-os no cuidado com o meio em que vivem, falando da importância para suas vidas.
Prof. B – Sim com a realidade local dos comunitários, orientados os discentes para que os mesmos estejam conscientes em não degradar a natureza, no que se refere a queimadas, desmatamento e a poluição dos igarapés, e etc;
Partindo da resposta do Prof. A, vemos que a realidade do ambiente dos estudantes não é devidamente explorada para estudo do meio, uma vez que estudar da e para a realidade carece-nos tratarmos tanto as questões sociais quanto as questões naturais intrínsecas a vida dos camponeses, dizemos isso porque perguntamos ao Prof. A de que meio ele estava se referindo e ele nos respondeu “da natureza que havia no campo, das plantas, dos animais, da água”. Assim como o Prof. A, o Prof. B referiu-se à natureza esquecendo das relações sociais presentes no campo, relações que retratam a história de vida desse povo, relações que transparece o descaso das autoridades com as pessoas que habitam o campo, relações que fortalecem a identidade de camponês caracterizada em parte pelo trabalho com a terra.
É claro que as questões naturais devem ser abordadas na escola do campo, mesmo porque para onde olhamos, vemos a presença muito forte das características naturais, diversidades de árvores, plantas e arbustos, como também vários igarapés e um grande número de seres vivos, entre outras. Conquanto, sabemos que o ambiente natural sofre constantes mudanças causadas pela a ação do homem, muitas vezes em pequena escala por necessidades de sustentação e outras em grande escala causadas por uma pequena parte da população mundial que visa o acúmulo de bens materiais e capital financeiro. Por essas razões, é que os aspectos naturais do campo e as relações sociais são essenciais na discussão da Educação Ambiental Popular, onde
[…] os alunos devem ser capacitados para conhecerem seu meio e agirem em defesa dele, visto que este os afeta ou é afetado por ele. Logo, cabe ao professor um papel importante no programa para a educação para o meio ambiente: ele será o facilitado das explorações realizadas pelos seus alunos nas investigações tanto das alterações urbanas como dos processos que acontecem dentro do próprio ambiente em que vivem. (TRAVASSOS, p.24, 2004)
No momento, o que nos inquieta é ter verificado tanto através da fala dos professores como através de nossas observações, que eles trabalham com uma visão de Educação Ambiental Comportamental, situação que em nossa opinião não contribui expressivamente para a formação dos cidadãos do campo. Entretanto, sabemos que é possível mudar a nossa praxe educacional, pois somos em parte responsáveis pela formação dos educandos. Desse modo, devemos por em prática o nosso papel de professor ambiental, ou seja, ajudar o estudante a se perceber como um ser natural e social, para que possa agir no ambiente esclarecido dos processos que ocorre nessas duas dimensões de nossas vidas e assim ser capaz de fazer suas escolhas, as quais considerem ser mais adequadas a sua vida de camponês.
2.4.4 O meio ambiente na visão dos educandos
No campo, o meio ambiente também é caracterizado por relações sociais e naturais. Essas relações interferem na vida dos educandos, positiva ou negativamente, visto que a partir dessas interações ambientais somos impulsionados ao desenvolvimento de imagens representativas que nos dão a noção do venha a ser esse ambiente circundante. Esse conhecimento sofre influência constantemente, o que nos leva a modificar as nossas idéias a respeito do meio. Neste sentido, procuramos conhecer a concepção de meio ambiente dos estudantes do terceiro e do quarto ano do Ensino Fundamental e para obtermos essas informações aplicamos a técnica dos mapas mentais.
O procedimento da aplicação da técnica ocorreu da seguinte maneira: no último dia de nosso estágio, pedimos permissão aos professores das turmas observadas para aplicarmos a técnica. Com a permissão concedida, na sala de aula, através de uma conversa, realizamos uma pequena explanação do nosso estudo, na tentativa de mostrar aos mesmos que sua participação era consideravelmente importante para que pudéssemos finalizar parte do nosso trabalho. Desse modo, num primeiro momento, os participantes foram os estudantes do terceiro ano, e num segundo momento os estudantes do quarto ano do Ensino Fundamental, num total de dezesseis participantes. E para análise das concepções sobre o meio ambiente foram selecionados três desenhos de cada turma, por representarem, de maneira mais marcante, a concepção da maioria dos estudantes, como mostramos a seguir.
A – 08 anos, terceiro ano.
A partir das informações presentes no desenho de “T”, percebemos a presença tanto do ambiente social quanto do ambiente natural embora estejam representados em três momentos. No primeiro momento traz aspectos do ambiente natural e social. Num segundo momento é representado apenas os aspectos naturais. Num terceiro momento, segundo a criança, ela representa uma praça e, é nesse momento que percebemos a presença das relações sociais. Apesar de a criança representar em seu desenho, aspectos naturais e sociais, eles ainda não se configuram em recíproca relação.
No contexto singular da pesquisa não existe praça. No entanto, tivemos o conhecimento que a estudante reside no campo apenas há quatro meses e, que anteriormente morava na sede do município. Isso nos permite confirmar que as relações cotidianas, isto é, sociais e naturais, influenciam em nossa concepção sobre o meio ambiente. Quanto à interação entre o homem e o ambiente, Higuchi apud Dantas (2006, p. 213) afirma que a teoria Holismo:
considera indivíduo e ambiente físico como uma unidade, que atuam como um conjunto integrado. Desta alteração resulta uma experiência, uma vivência subjetiva que por sua vez introduz novas formas de comportamento e subjetividade, num incessante contínuo, de forma que processo e estrutura são aspectos integrados e impossíveis de separar […] Nessa perspectiva, ao interagirmos com outros elementos constituintes do ambiente, não só os modificamos, como também nos transformamos por conta dessa interação.
Desse modo, evidenciamos que a concepção sobre meio ambiente da maioria dos educandos, do terceiro e do quarto ano do Ensino Fundamental da escola investigada, está intrinsecamente ligada ao ambiente natural, possivelmente pelas fortes relações estabelecidas com a natureza durante sua vida no campo, ou ainda porque não tiveram um aprendizado mais abrangente sobre esse meio, que considere relações sociais presentes no dia-a-dia tão importante quanto à natureza para a vida em comunidade. Diante disso, pensamos que através da Educação Ambiental Popular possamos ajudar o estudante a se situar no ambiente compreendendo que ao mesmo tempo somos um ser natural, social e histórico, de modo que necessitamos compreender que o ambiente natural e o social são inseparáveis da vida humana.
Na escola pesquisada, as crianças que estudam no terceiro e no quarto ano do Ensino Fundamental, com exceção de duas, têm idade igual ou superior a oito anos, por isso, colocamos ser importante que os professores desses anos comecem a trabalhar as questões ambientais dando um enfoque diferenciado dos anos anteriores, visto que:
Nessa etapa – a partir de oito anos em média – a criança inicia um processo no qual pode cada vez mais julgar os atos levando em conta essencialmente a intencionalidade que os motivou, começa a compreender as regras pelo seu espírito (não mais ao pé da letra) e legitimá-las não mais porque provêm de seres prestigiados e poderosos, mas porque se convence racionalmente de sua validade. O respeito que antes era unilateral – no sentido de respeitar as “autoridades”, mas sem exigir a recíproca – torna-se mútuo: respeitar e ser respeitado. […] Finalmente a criança se concebe como tendo legitimidade para construir novas regras, e colocá-las à apreciação de seus pares. (BRASIL, 2001, p. 85).
Neste sentido, acreditamos que aos professores cabe a responsabilidade com a formação dos sujeitos historicamente inseridos no campo. Mesmo porque, na atualidade, o papel do professor vai além de ensinar conteúdos de determinada disciplina, é preciso que ele seja “um mediador da compreensão das relações que os grupos com os quais ele trabalha estabelecem com o meio ambiente. Atua assim, como um intérprete dessas relações, um facilitador das ações grupais ou individuais que geram novas experiências e aprendizagem” (CARVALHO, 2001, p. 49). Sendo assim, afirmamos que ser professor do campo é ser responsável pela educação do e para o meio, sendo importante dar sentido aos conhecimentos no âmbito da sala de aula, principalmente, relacionando-os com a realidade dos educandos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando pensamos no papel da educação nos dias de hoje, lembramos da realidade de diferentes sociedades do planeta alicerçadas na desigualdade social como resultado de um processo histórico de desenvolvimento que até o momento só trouxe benefício a uma pequena parcela da população mundial. A classe dominante através da mídia, do Estado e da política aliena os povos, impedindo-os de desenvolverem capacidades que possam lhes ajudar a “abrir os olhos” possibilitando enxergar que as diversas questões ambientais que afetam suas vidas poderiam diminuir significativamente se a sociedade, de um modo geral, mudasse seu estilo de vida. Para tanto, entendemos que a escola deve ser uma das maiores instituições sociais colaboradora para essa mudança, utilizando as mais variadas ferramentas educacionais, dentre estas, a Educação Ambiental formal e informal.
Ao pesquisarmos sobre a importância da Educação Ambiental para a formação do cidadão do campo, descobrimos que existem várias concepções de EA e, por isso não basta dizermos que trabalhamos com ela em nossa prática de ensino, precisamos conhecer as características básicas de cada uma delas, para escolhermos aquela que de fato corresponda aos ideais da Educação do Campo, visto que nós, estudantes do PRONERA, somos sabedores que a Educação do Campo foi e é uma conquista árdua dos camponeses, tal qual, torna-se uma ferramenta indispensável ao trabalho do professor no campo.
Desse modo, ao investigarmos se a Educação Ambiental desenvolvida pelos professores do terceiro e do quarto ano do Ensino Fundamental da escola pesquisada, tem contribuindo para a formação do cidadão do campo, verificamos que os docentes ainda não possuíam uma visão sistemática da proposta da EA, além disso, as questões presentes no contexto do campo, também, não são devidamente exploradas para que os estudantes possam compreendê-las, fato que em nossa opinião dificulta o desenvolvimento das capacidades essenciais à vida, isto é, ser consciente de sua importância individual e coletiva no meio em que habita, o desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo diante das relações que ocorrem na esfera socioeconômica e ambiental dentro e fora do campo, sabedores das relações de dominação e sujeição entre as classes.
Assim sendo, acreditamos que o professor, em sua prática educacional, deve gerar situações que provoquem o desafio intelectual, inquietude diante dos fatos pertinentes as dimensões sociais e naturais. Para tanto, é necessário ampliar as possibilidades de compreensão das diferentes relações, contribuindo assim, para a formação emancipatória dos cidadãos do campo, o que fundamenta o papel de uma educação voltada à transformação social.
Conforme todo esse estudo, almejamos que essa pesquisa ocasione transformações na prática pedagógica dos docentes do campo, onde a formação de cidadãos conscientes, críticos, reflexivos e atuantes na sociedade, possa ser objetivo principal desses educadores. Em virtude disso, esperamos que a nossa investigação impulsione mudanças educacionais nas escolas camponesas considerando a Educação Ambiental Popular como um componente educacional indispensável para o estudo e compreensão das relações presentes no meio ambiente.
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Autor: Reginaldo
Muito bom este contéudo e de muito grande valor
Muito obrigada
Vou compartilhar com os meu amigos!