João Luís de Almeida Machado Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro “Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema” (Editora Intersubjetiva).
“A criança de três anos que descobre o que se pode fazer com blocos, ou a de seis anos que percebe o que acontece quando põe cinco cêntimos e mais cinco cêntimos juntos, é verdadeiramente um descobridor, mesmo que toda a gente no mundo já o saiba. Ocorre um genuíno incremento da experiência; não é apenas mais um item mecanicamente acrescentado, mas um enriquecimento com uma nova qualidade. O charme que a espontaneidade de crianças jovens nutrem por observadores simpáticos é devido à compreensão desta originalidade intelectual. A alegria que as próprias crianças sentem com as suas próprias experiências é a alegria da construção intelectual da criatividade, se me é permitido usar esta palavra, sem ser mal entendido”. (Democracia e Educação).
John Dewey é, certamente, um dos mais influentes pensadores na área da educação contemporânea. Esse destacado filósofo, psicólogo e pedagogo, nascido nos Estados Unidos, posicionou-se a favor do conceito de Escola Ativa, na qual o aluno tinha que ter iniciativa, originalidade e agir de forma cooperativa.
Dewey acreditava que escolas que atuavam dentro de uma linha de obediência e submissão não eram efetivas quanto ao processo de ensino-aprendizagem. Seus trabalhos alinhavam-se com o pensamento liberal norte-americano e influenciaram vários países, inclusive o movimento da Escola Nova no Brasil.
A estadia na John Hopkins fez com que Dewey tivesse contato com duas importantes referências para seu futuro profissional. A partir das explicações, aulas e aprofundamentos com o professor G. Stanley Hall, proeminente psicólogo experimental norte-americano, Dewey percebeu a importância da aplicação da metodologia científica nos estudos em Ciências Humanas.
O contato com o professor George Sylvester Morris, por outro lado, colocou Dewey em sintonia com as obras do hegelianismo e, especificamente, com o modelo orgânico de natureza concebido pelo idealismo alemão. Ao criar pontos de convergência entre essas duas teorias e linhas de pensamento, Dewey estabeleceu ideias gerais que embasaram parte de seus pensamentos e produções acadêmicas.
Ao obter a sua titulação de doutor no ano de 1884, Dewey aceitou convite para dar aulas na Universidade de Michigan, onde ficou por dez anos. Nesse período acabou produzindo suas primeiras obras: Psychology (1887) e Novos ensaios de Leibniz acerca da compreensão humana (1888).
Fernando Azevedo e Anísio Teixeira, educadores brasileiros que se mobilizaram em
No ano de 1894, Tufts e Dewey foram para a recém-inaugurada Universidade de Chicago. Essa experiência foi fundamental para as obras do educador, pois permitiram que ele superasse seu pensamento idealista e adotasse uma linha mais prática e empírica baseada na Teoria do Conhecimento que estava de acordo com a Escola Americana do Pensamento, de bases pragmáticas.
A mudança ocorrida em seus estudos e conclusões levou Dewey a publicar uma série de ensaios que tinham o título coletivo “O pensamento e seus temas”. Esses trabalhos foram publicados por Dewey juntamente com outros professores da Universidade de Chicago numa obra conhecida como “Estudos em Teoria Lógica” (1903).
Outra experiência definidora de rumos para a obra de Dewey foi a fundação e direção de uma escola-laboratório em Chicago onde teve a oportunidade de aplicar novas ideias e métodos pedagógicos. Desse seu trabalho surgiu a sua primeira obra dedicada especificamente à educação, “A Escola e a Sociedade” (1889).
Problemas com a administração dessa escola em Chicago acabaram levando Dewey a mudar de ares em 1904 quando ele, já respaldado por sua reputação como autor, professor e filósofo, mudou-se para a Universidade Columbia, em Nova Iorque.
“Em escolas equipadas com laboratórios, lojas e jardins, que livremente introduzem dramatizações, jogos e desporto, existem oportunidades para reproduzir situações da vida, e para adquirir e aplicar informação e ideias num progressivo impulso de experiências continuadas. As ideias não são segregadas, não formam ilhas isoladas. Animam e enriquecem o decurso normal da vida. Informação é vitalizada pela sua função; pelo lugar que ocupa na linha de ação”. (Democracia e Educação)
A chegada a Columbia deu-lhe novos subsídios, pois se encontrava em uma instituição mais tradicional, que já havia abrigado alguns dos maiores pensadores norte-americanos. Era um período propício a entrar em contato com pensadores e filósofos representativos de outras linhas de pensamento.
Dessa época surgiram vários artigos sobre a teoria do conhecimento e a metafísica, dentre os quais muitos foram selecionados e publicados em dois livros: “A influência de Darwin na filosofia e outros ensaios sobre o pensamento contemporâneo” (1910) e “Ensaios em lógica experimental” (1916).
A produção na área da educação foi reforçada em seu período de trabalho na Universidade de Columbia com o surgimento de duas obras de grande importância: “Como nós pensamos” (1910), em que aplicava a Teoria do Conhecimento à Educação; e “Democracia e Educação” (1916), sua maior contribuição à pedagogia.
Além de teorizar em educação, filosofia e psicologia, Dewey também era conhecido publicamente por posicionar-se como analista de temas contemporâneos. Contribuía com revistas populares como The New Republic e Nation e tomava partido em causas com as quais se identificava, como foram os casos da luta pelo voto feminino ou seus esforços em favor da criação de sindicatos para professores.
Seus principais trabalhos a partir dos anos 1920 surgiram de palestras proferidas em eventos acadêmicos e populares nos quais participava como convidado. Entre esses trabalhos incluem-se “Reconstrução e Filosofia” (1920), “Natureza Humana e Conduta” (1922), “Experiência e Natureza” (1925), “Em busca de Certezas” (1929).
Os anos 1930 marcam a aposentadoria de Dewey das atividades educacionais. Entretanto, o educador continuou ativo publicamente com destacadas participações em eventos de repercussão internacional (como em seus posicionamentos favoráveis ao colega filósofo Bertrand Russell, ameaçado de perder sua cadeira como professor no College de Nova Iorque por setores conservadores) ou ainda através da publicação de novos artigos e livros.
Antes de seu falecimento em 1952, aos noventa e dois anos, Dewey ainda teve algumas outras obras publicadas como “Arte como experiência” (1934), “Liberdade e Cultura” (1939), “Teoria da Validação” (1939), entre outras.
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