Ana Caroline Martinelli e Bianca Raquel Castro*
“_Querido diário, hoje logo ao acordar, tomei café assistindo ao jornal da manhã e li também os classificados do jornal impresso que assino. No caminho do trabalho, vi um outdoor expondo um curso que tanto quero fazer à distância e recebi um panfleto de liquidação da loja que tem minhas marcas preferidas, que sorte! Chegando ao trabalho, logo acessei a internet para conferir meus e-mails e também enviar alguns pendentes, recebi e efetuei várias ligações para clientes. No almoço, assisti televisão e depois, só para relaxar, escutei um programa de rádio. Quando o expediente acabou, tentei assistir à minha novela, mas estava chata, então parti para um filminho mesmo. Dei uma espiadinha básica no meu Orkut e Facebook, também fiz uma postagem no Twitter. Entrei no MSN para bater um papo com meu novo amigo, mas que pena, ele estava offline! Então, lhe enviei apenas um torpedo SMS…” Este fictício relato de diário foi a forma criada para resumir a influência da mídia no cotidiano das pessoas na atualidade.
Com toda a dominância que a mídia exerce sobre a sociedade contemporânea, influenciando diretamente a subjetividade humana, é inegável a importância que a Psicologia possui em atuar como veículo de criticidade e orientação aos conteúdos dirigidos a um público-alvo, bem como ao comportamento deste público frente aos conteúdos. Para entender melhor essa relação, confira o artigo sobre tecnologia na educação.
Nesta perspectiva, a mídia pode ser entendida como meio de comunicação em massa. Segundo Moreira (2010), o estopim para o nascimento da comunicação em longa escala surgiu com o nascimento da imprensa, no final do século XIV, por Gutenberg, proporcionando aos sujeitos acesso aos livros que anteriormente eram manuscritos e com preço pouco acessível. Inicialmente surgiram os livros e folhetos, após 150 anos foram sendo impressos jornais e surgindo os correios como forma rápida e urgente de divulgação entre as regiões. (MOREIRA, 2010).
De acordo com Gindre (2009), já existia mercado antes mesmo de existir o capitalismo, porém a grande “sacada” do capitalismo do século XXI foi de que as relações humanas podem ser medidas pelo mercado. Assim, é possível comprar bens inteligíveis como o conhecimento e interatividade, que, ao contrário de mercadorias físicas, são multiplicáveis e vão confrontando a própria lógica de escassez do capitalismo, pois a informação é um bem divisível ao infinito.
Frente a estas reflexões, é quase impossível pensar em sujeito e em sociedade sem levar em conta a mídia. Esta, por sua vez, possui seus prós e contras. Seus aspectos positivos são que possibilita novas formas de sociabilidade e ação social, pois o indivíduo passa a ser ativo frente aos meios de comunicação, bem como a propagação do conhecimento e produção de empregos. A Nigéria, por exemplo, sem possuir sequer um cinema, é o maior produtor audiovisual e de longas-metragens, sendo o segundo setor que mais emprega no país, com 1 milhão de trabalhadores na área (GINDRE, 2009).
Contudo, existem também os aspectos negativos da mídia em relação ao modo de vida dos sujeitos na contemporaneidade. A mídia torna os sujeitos reféns, manipula-os e os seduz através de seu “bombardeio” de informações que atua no processo de formação da subjetividade. “O sujeito encontra-se assediado pelo mundo espetacularizado, sendo levado a experimentar uma existência e uma vida “falsas”” (ARBEX, 2009).
Questões éticas devem ser ressaltadas quanto aos conteúdos expostos. O Conselho Federal de Psicologia (CFP) já posiciona-se acerca desta questão. Em campanha de 2009 pelo controle de meios de comunicação, refere-se que a exposição inadequada da imagem humana anula a variedade de formas do ser, reforçando um padrão estético. Vindo ao encontro disto, Rowe; Ferreira; Hoch (2011) ressaltam que a mídia exerce relação com a tomada de decisão para a realização de cirurgias plásticas e a satisfação frente à cirurgia. Assim, é possível inferir que o sujeito encontra-se anulado na sua diferença, sufocando a sua singularidade em prol da homogeneização das subjetividades divulgadas pela mídia.
Outra questão importante de ser destacada refere-se ao posicionamento do CFP, ainda em campanha de 2009, pelo fim de publicidade destinada ao público jovem, pois crianças e adolescentes são mais frágeis ao consumismo e modelos construtivos de identidade. Países como Bélgica, Dinamarca, Grécia, Irlanda, Itália, Noruega, Suécia e Inglaterra regulam a publicidade voltada para este público. O CFP busca discutir a publicidade quanto ao marketing veículos individuais e também ao fim de publicidade de bebidas alcoólicas.
A Psicologia como ciência interventiva na sociedade já parece possuir um posicionamento crítico frente a questões publicitárias, um posicionamento positivista, usando-as de forma contribuinte para o desenvolvimento da subjetividade do ser humano, já que é impossível se pensar em um mundo sem a mídia. Afinal, a globalização só tem a aumentar as interfaces da comunicação em massa, porém o desafio e obrigação dos profissionais das áreas que preconizam o bem-estar humano é opinar sobre quais conteúdos realmente valem a pena serem difundidos. As relações pessoais através do contato devem ser incentivadas, pois como posiciona-se Moreira (2010), a rede virtual captura o sujeito em sua solidão, solidão esta que pode ser transmitida via satélite.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Mídia e Psicologia: produção de subjetividade e coletividade. 2. ed. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2009.
MOREIRA, Jacqueline de Oliveira. Mídia e Psicologia: considerações sobre a influência da internet na subjetividade. In: Revista Electrónica Internacional de la Unión Latinoamericana de Entidades de Psicología. 20.ed, 2010. Disponível em <http://www.psicolatina.org/20/midia.html>. Acesso em 15 out. 2011.
ROWE, Janaina Fatima; FERREIRA, Valéria; HOCH, Verena Augustin. Influência da mídia e satisfação com imagem corporal em pessoas que realizam cirurgia plástica. In: Jornada Interestadual de Psicoterapias Corporais, IV, 2011. Disponível em <http://www.centroreichiano.com.br/artigos/Anais%202011SC/ROWE,%20Janaina%20Fatima%20e%20outras.%20Influencia%20da%20midia.pdf>. Acesso em 15 out. 2011.
Para mais informações:
http://www.fndc.org.br
http://www.crp07.org.br
http://www.eticanatv.org.br
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