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Atualizado em 09/08/2024

O Crescimento da Criança Segundo Piaget

Explore a teoria de Piaget e como ela pode ajudar a entender o desenvolvimento infantil, além de sua importância na educação. Aprenda sobre os estágios de desenvolvimento e como estimular as habilidades cognitivas das crianças.

O Crescimento da Criança Segundo Piaget

Introdução

No âmbito da disciplina de Psicologia, foi-nos proposto a realização de um trabalho – Os estágios de desenvolvimento segundo Piaget. Neste trabalho, tentarei dar resposta às seguintes questões: “Quem foi Jean Piaget” e “O que se entende por estágios de desenvolvimento”. Abordarei, de seguida, os quatro estágios de desenvolvimento:

  • Estágio sensório-motor (dos 0 aos 18/24 meses)
  • Estágio pré-operatório (dos 2 aos 7 anos)
  • Estágio das operações concretas (dos 7 aos 11/12 anos)
  • Estágio das operações formais (dos 11/12 aos 15/16 anos)

Com este trabalho, pretendo alcançar os objetivos propostos.

Quem foi Jean Piaget

Jean Piaget (1896-1980) foi um psicólogo e filósofo suíço, conhecido pelo seu trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil. Piaget passou grande parte de sua carreira profissional interagindo com crianças e estudando o seu processo de raciocínio. Os seus estudos tiveram um grande impacto sobre os campos da Psicologia e Pedagogia.

O que se entende por estágios de desenvolvimento

A noção de estágio é, de certo modo, artificial e surge como instrumento de análise, indispensável para a explicação dos processos e das características que se vão formando ao longo do desenvolvimento da criança. A criança, à medida que evolui, vai-se ajustando à realidade circundante e superando de modo cada vez mais eficaz as múltiplas situações com que se confronta.

Se uma criança de 3 anos resolve determinado problema, suscitado pelo meio, que não conseguia aos 2 anos, é porque possui, a partir de agora, uma determinada estrutura mental diferente da anterior e, de certo modo, superior, porque lhe permite resolver novos problemas e ajustar-se à situação.

Os sucessivos ajustamentos da criança ao meio que se vão manifestando ao longo do seu desenvolvimento devem ser interpretados em função desses mesmos estádios. Os vários psicólogos da criança não são unânimes no que se refere à sucessão dos estágios, na medida em que cada um os aplica como instrumentos da sua própria teoria explicativa.

Piaget refere-se a estádios não numa perspectiva global, mas cada estágio não comportando todas as funções: mentais, fisiológicas, sociais e afetivas, mas somente funções específicas. Assim, considera a existência de estágios diferentes relativamente à inteligência, à linguagem e à percepção. Piaget refere que a aceitação da noção de estágio exige determinados pressupostos, tais como:

  • Caráter integrado de cada estágio. As estruturas construídas e específicas de determinada idade da criança tornam-se parte integrante da estrutura da idade seguinte;
  • Estrutura do conjunto. Os elementos constituintes de determinado estágio estão intimamente ligados entre si e contribuem conjuntamente para caracterizar determinada conduta;
  • Todo o estágio tem um nível de preparação e um nível de consecução. O estágio não surge definido e acabado, mas evolui no sentido da sua superação.
  • As crianças podem iniciar e terminar determinado estágio em idades diferentes. O período estabelecido para delimitar os estágios é médio.

Os estádios de Piaget colocam a tônica na função intelectual do desenvolvimento. Ele não nega a existência e a importância de outras funções, mas delimita e especifica o campo da sua investigação ao domínio da epistemologia genética. A psicologia da criança, em Piaget, quase se identifica com uma psicologia da inteligência.

Estágios de desenvolvimento

Cada estágio é definido por diferentes formas do pensamento. A criança deve atravessar cada estágio segundo uma sequência regular, ou seja, os estágios de desenvolvimento cognitivo são sequenciais. Se a criança não for estimulada/motivada na devida altura, não conseguirá superar o atraso do seu desenvolvimento. Assim, torna-se necessário que em cada estágio a criança experimente e tenha tempo suficiente para interiorizar a experiência antes de prosseguir para o estádio seguinte.

Normalmente, a criança não apresenta características de um único estádio, com exceção do sensório-motor, podendo refletir certas tendências e formas do estágio anterior e/ou posterior. Por exemplo, uma criança que se encontre no estádio das operações concretas pode ter pensamentos e comportamentos característicos do pré-operatório e/ou algumas atitudes do estágio das operações formais.

Estágio sensório-motor (0 – 18/24 meses)

A atividade cognitiva durante este estágio baseia-se, principalmente, na experiência imediata através dos sentidos, em que há interação com o meio; esta é uma atividade prática. Na ausência de linguagem para designar as experiências e assim recordar os acontecimentos e ideias, as crianças ficam limitadas à experiência imediata. Assim, a experiência imediata durante este estádio significa que quase não existe nada entre a criança e o meio, pois a organização mental da criança está em estado bruto, de tal forma que a qualidade da experiência raramente é significativa. O que a criança aprende e a forma como o faz permanecerá como uma experiência imediata tão vivida como qualquer primeira experiência.

A busca visual é um comportamento sensório-motor e é fundamental para o desenvolvimento mental, pois este tem que ser aprendido antes de um conceito muito importante designado por permanência do objeto. À medida que as crianças começam a evoluir intelectualmente, compreendem que, quando um objeto desaparece de vista, continua a existir, embora não o possam ver, pois ao saberem que esse desaparecimento é temporário, são libertas de uma incessante busca visual. A experiência de ver objetos nos primeiros meses de vida e, posteriormente, de ver os mesmos objetos desaparecer e aparecer tem um importante papel no desenvolvimento mental. Assim, podemos afirmar que a ausência de experiência visual durante o período crítico da aprendizagem sensório-motora impede o desenvolvimento de estruturas mentais.

Sendo durante este estádio que os bebês aprendem principalmente através dos sentidos e são fortemente afetados pelo ambiente imediato, mas, contudo, sendo também neste estádio que a permanência do objeto se desenvolve, podemos então afirmar que os bebês são capazes de algum pensamento representativo, muito semelhante ao do estádio seguinte, pois seria um erro afirmar que, sendo a sua fala, gestos e manipulações tão limitadas, não haveria pensamento durante o período sensório-motor. “Nada substitui a experiência” é uma boa síntese do período sensório-motor do desenvolvimento cognitivo, pois é a qualidade da experiência durante este primeiro estádio que prepara a criança para passar para o estádio seguinte.

Estágio Pré-operatório (2 – 7 anos)

Este estágio, também chamado de pensamento intuitivo, é fundamental para o desenvolvimento da criança. Apesar de ainda não conseguir efetuar operações, a criança já usa a inteligência e o pensamento. Este é organizado através do processo de assimilação, acomodação e adaptação.

Neste estágio, a criança já é capaz de representar as suas vivências e a sua realidade através de diferentes significantes:

  • Jogo: Para Piaget, o jogo mais importante é o jogo simbólico (só acontece neste período), onde predomina a assimilação (Ex.: é o jogo do faz de conta, as crianças “brincam aos pais”, “às escolas”, “aos médicos”, …). O jogo de construções transforma-se em jogo simbólico com o predomínio da assimilação (Ex.: Lego – a criança diz que a sua construção é, por exemplo, uma casa. No entanto, para os adultos “é tudo menos uma casa”).
  • Desenho: Até aos dois anos, a criança só faz riscos, sem qualquer sentido, porque, para ela, o desenho não tem qualquer significado. A criança, aos três anos, já atribui significado ao desenho, fazendo riscos na horizontal, na vertical, espirais, círculos, no entanto, não dá nome ao que desenha. Tem uma imagem mental depois de criar o desenho. Mas aos quatro anos, a criança já é mais criativa e começa a perceber os seus desenhos e projeta no desenho o que sente. De um modo geral, podemos dizer que, neste estágio, o desenho representa a fase mais criativa e diversificada da criança.
  • Linguagem: A linguagem, neste período, começa a ser muito egocêntrica, pouco socializada, ou seja, a linguagem está centrada na própria criança. Ela não consegue distinguir o ponto de vista próprio do ponto de vista do outro e, por isso, revela uma certa confusão entre o pessoal e o social, o subjetivo e o objetivo. Este egocentrismo não significa egoísmo moral. Traduz, “por um lado, o primado da satisfação sobre a constatação objetiva … e, por outro, a deformação do real em função da ação e ponto de vista próprios. Nos dois casos, não tem consciência de si mesmo, sendo sobretudo uma indissociação entre o subjetivo e o objetivo …”. Isso manifesta-se através dos monólogos e dos monólogos coletivos (Ex.: quando num grupo de crianças estão todas a falar, dá a sensação que estão a conversar umas com as outras, mas não, estão sim todas a falarem sozinhas e ao mesmo tempo, ou seja, cada uma está no seu monólogo e assim manifesta o seu egocentrismo).

O termo egocentrismo, característica descritiva do pensamento pré-operatório, foi progressivamente sendo utilizado por Piaget, que o substitui pelo termo descentração.

A partir dos dois anos, dá-se uma enorme evolução na linguagem. A título de exemplo, uma criança de dois anos compreende entre 200 a 300 palavras, enquanto que uma de cinco anos compreende 2000. Este aumento do número de vocábulos é favorecido pela forte motivação dos pais, ou seja, quanto mais forem estimulados (canções, jogos, histórias, etc.), melhor desenvolvem a sua linguagem. Neste estágio, a criança aprende sobretudo de forma intuitiva, isto é, realiza livres associações, fantasias e atribui significados únicos e lógicos. Se atentarmos a uma experiência muito conhecida de Piaget, em que é dado a uma criança dois copos de água com igual quantidade de líquido, embora um alto e estreito e outro baixo e largo, intuitivamente a criança escolhe o copo alto, pois no seu entender este parece conter mais água.

Estágio das operações concretas (7 – 12 anos)

Para Piaget, é neste estágio que se reorganiza verdadeiramente o pensamento. Como já referi no estádio anterior, as crianças são sonhadoras, muito imaginativas e criativas. É a partir deste estádio (operações concretas) que começam a ver o mundo com mais realismo, deixando de confundir o real com a fantasia. É neste estádio que a criança adquire a capacidade de realizar operações. Podemos definir operação como a ação interiorizada – realizada no pensamento, componível – composta por várias ações; reversível – pode voltar ao ponto de partida. A criança já consegue realizar operações, no entanto, precisa de realidade concreta para realizá-las, ou seja, tem que ter a noção da realidade concreta para que seja possível à criança efetuar as operações.

Para compreendermos qual o aspecto fundamental do período que estamos a analisar, voltamos a referir a experiência dos copos de água. Se no estádio anterior a criança não conseguia perceber que a quantidade era a mesma independentemente do formato do copo, neste estádio elas já percebem que a quantidade (volume) do líquido é a mesma, pois já compreendem a noção de volume, bem como peso, espaço, tempo, classificação e operações numéricas.

Estágio das operações formais (11/12 – 15/16 anos)

A transição para o estágio das operações formais é bastante evidente, dadas as notáveis diferenças que surgem nas características do pensamento. É no estádio operatório formal que a criança realiza raciocínios abstratos, não recorrendo ao contato com a realidade. A criança deixa o domínio do concreto para passar às representações abstratas. É nesta fase que a criança desenvolve a sua própria identidade, podendo haver, neste período, problemas existenciais e dúvidas entre o certo e o errado. A criança manifesta outros interesses e ideais que defende segundo os seus próprios valores e naquilo que acredita.

O adolescente pensa e formula hipóteses; estas capacidades vão permitir-lhe definir conceitos e valores, por exemplo, estudar determinada disciplina, como a geometria descritiva e a filosofia. A adolescência é caracterizada por aspectos de egocentrismo cognitivo, pois o adolescente possui a capacidade de resolver os problemas que por vezes surgem à sua volta.

Conclusão

Foi-me bastante útil a realização deste trabalho, uma vez que me permitiu pensar num tema que, apesar de fazer parte da nossa identidade enquanto pessoa que vive em sociedade, nunca tinha sido alvo de investigação e aprofundamento da minha parte. Devo realçar que, de acordo com a definição de estágios de desenvolvimento apresentada neste trabalho, o crescimento é mais qualitativo do que quantitativo e que se caracteriza por grandes saltos em frente, seguidos por períodos de integração, mais do que por mudanças de grau lineares. A criança geralmente pensa de acordo com o estágio apropriado à sua idade, mas por vezes é capaz de um pensamento próprio do estágio seguinte, pois é a criança que está a evoluir por si sem pressões do exterior.

Espero ter conseguido alcançar os objetivos a que me propus.

Bibliografia

Para saber mais sobre a importância do desenvolvimento infantil, você pode conferir atividades educacionais para o 3º ano do Ensino Fundamental, que abordam temas relevantes para a formação das crianças.

Além disso, é fundamental considerar a importância de jogos educativos que podem auxiliar no aprendizado. Você pode encontrar jogos educativos que estimulam o desenvolvimento cognitivo das crianças.


Este texto foi publicado na categoria Maternidade e Desenvolvimento Infantil.

 About Pedagogia ao Pé da Letra

Sou pedagoga e professora pós-graduada em educação infantil, me interesso muito pela educação brasileira e principalmente pela qualidade de ensino. Primo muito pela educação infantil como a base de tudo.

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