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Atualizado em 10/08/2024

Resumo do Livro “Laços de Família” de Clarice Lispector

Leia o resumo do livro “Laços de Família” de Clarice Lispector e descubra o universo emocional desta obra-prima. Conheça a história de Paulo e sua relação com os outros membros de sua família, seus dilemas e seu caminho de autoconhecimento. Saiba todos os segredos deste clássico da literatura brasileira!

Estreando em 1944, com Perto do coração selvagem, Clarice Lispector foi recebida com entusiasmo pela crítica brasileira. Sérgio Milliet saudou o romance como “a mais séria tentativa de romance introspectivo entre nós”, enquanto Antônio Cândido antevia na jovem escritora (tinha, então, 19 anos), a afirmação de “um dos valores mais sóbrios e, sobretudo, mais originais de nossa literatura”, dada “a intensidade com que sabe escrever e a rara capacidade de vida interior”.

Além do romance citado, sua obra romanesca compõe-se de O lustre (1946), A cidade sitiada (1949), A maçã no escuro (1961), A paixão segundo G.H. (1964), Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres (1969) e A hora da estrela (1977). Na área do conto, destacam-se as coletâneas Laços de Família (1960), A legião estrangeira (1964), Felicidade clandestina (1971) e A imitação da rosa (1973). Além de romances e contos, Clarice Lispector é também autora de livros de crônicas (Visão de esplendor, de 1975) e obras infantis (O mistério do coelhinho pensante, de 1967, A mulher que matou os peixes, de 1969, e A vida íntima de Laura, de 1974).

De origem russa (nasceu numa cidadezinha da Ucrânia em 1925), Clarice Lispector, ainda criança, veio com a família para o Brasil, onde se fixou (Nordeste inicialmente, e depois Rio de Janeiro). Sua formação intelectual e literária deu-se, pois, totalmente no Brasil. Casada com um diplomata (Maury Gurgel Valente), acompanhou-o pela Europa e Estados Unidos, onde nasceram seus dois filhos: Pedro (Suíça) e Paulo (Estados Unidos). De volta ao Brasil, separou-se do marido e passou a levar uma vida bastante isolada em seu apartamento, no Rio de Janeiro, ao lado do cão Ulisses, seu companheiro inseparável. A solidão, bem como a presença de animais, é um dos aspectos frequentes em sua obra. Em 1977, morreu de câncer, um dia antes de seu aniversário, 9 de dezembro.

“Questões filosóficas profundas, como a verdade e a condição humana, estão colocadas nos romances, contos e crônicas de Clarice. Essa reflexão é sempre despertada a partir de um fato aparentemente banal, e jorra como produto incontrolável de um fluxo de consciência. A tomada de consciência pelas personagens de Clarice obedece muitas vezes a um ritual reflexivo, tortuoso e, até mesmo, doloroso. E é precisamente nesses momentos que a obra da autora se revela em toda a sua beleza e profundidade, embora isso incomode a visão estereotipada e pacata corrente na classe média urbana, onde ela preferia localizar suas personagens” (“Literatura Comentada” – Abril Educação).

Na ficção de Clarice Lispector, destaca-se a introspecção, que ao pé da letra, quer dizer visão para dentro, e é mais ou menos isso que vamos observar na autora: partindo da vida interior de suas personagens, preocupa-se a escritora “menos em desvendar-lhes o mecanismo psicológico dos atos que a própria razão metafísica do seu estar no mundo”. Partindo sempre de casos aparentemente banais (o leitor que lhe buscar apenas o enredo sairá certamente frustrado), a escritora se volta para o mundo interior das personagens, dissecando-as com a sua máquina de raios-X, fazendo-as divagar sobre o sentido de sua existência e sobre o seu estar no mundo. O resultado é extremamente doloroso e angustiante: a existência humana não tem sentido, se captada racionalmente. Só resta então uma solução: viver inconsciente e massificado, integrando-se nas estruturas e convenções que o mundo oferece, ou então marginalizar-se. É exatamente essa consciência do existir que “estabelece uma angustiosa dualidade na inteireza do ser” (José Paulo Paes).

Assim, é de notar-se que essa conscience malheuse, essa problematicidade da existência em face do universo, aflora nas personagens de Clarice Lispector, por via de um momento de iluminação intuitiva, por vezes de um incidente aparentemente trivial, como aquela brusca freada que aparece em “Amor” e “Os laços de família”, a qual desperta a personagem para ver as coisas além da casca da rotina em que vive atolada. De um modo geral, todos os meus contos apresentam essa visão introspectiva. Outro exemplo é “O crime do professor de Matemática”, em que, ao enterrar um cão morto, “o protagonista da narrativa se dá conta do que em si havia de culpa metafisicamente irresponsável” (José Paulo Paes).

É a partir daí que o iluminado se desprende dos laços convencionais da vida comunitária para viver, na nudez da autoconsciência, o seu drama existencial. Esse é o momento de introspecção, em que a personagem se desliga do mundo para se interiorizar no seu mundo e nas suas indagações metafísicas.

Depois tudo volta à normalidade, e a vida continua corrida e besta como ela é, pautada pela rotina e pelo artificialismo das convenções sociais.

OS CONTOS DE LAÇOS DE FAMÍLIA: SÍNTESE E PROBLEMÁTICA

1) Devaneio e embriaguez de uma rapariga. O conto enfoca uma situação de fastio e tédio que envolvem as pessoas que se deixam enclausurar pela rotina da vida moderna, enjaulando-se no dia-a-dia de um apartamento.

Cenas vagas, aéreas, vão-se deslizando pela mente embriagada de uma rapariga – casada e mãe. Os devaneios são constantes. A realidade presente, concreta – rara – muito rara.

Densa angústia a deprime e comprime. Esmaga-a o dia-a-dia, sempre cercada das mesmas coisas e do mesmo afeto.

“— Ai que não me maças! Não me venhas a rondar como um galo velho!” (7). Enclausurada no seu mundo, esmagada pela rotina diária, nada lhe agrada: “Mas ela nem sequer a responder-lhe, a alçar os ombros com um muxoxo amuado, importunada, que não me venhas a maçar com carinhos; desiludida, resignada, empanturrada, casada, contente, a vaga náusea” (15).

O protetor do marido passa-lhe pela mente. Roça-lhe o pé “por baixo da mesa, e por cima da mesa a cara dele” (15). Tinha o direito de quebrar a rotina? “— Cadela, disse a rir” (16).

Tecnicamente, o conto é narrado sob a forma de um monólogo interiorizado – o que lhe confere um caráter nitidamente introspectivo.

Nem foi preciso dizer que a personagem é portuguesa: a própria linguagem se encarregou disso. É o que se pode depreender a partir do uso de certos vocábulos (“elétricos”, “miúdos”, “fato”, “peúgas”, “pasto” etc.); construções frásicas (“estava a se pentear”, “estivessem à casa”, “se mo permite”); uso do sufixo diminutivo – ito (“frecurazita”, “vestidito”, “dedito” etc.); e uso do apóstrofo em muitas expressões (“d’impaciência”, “d’enfeites”, “d’arte” etc).

2) Amor. Esquematicamente, diríamos que o tema deste conto é o mundo de rotina x cego (libertação).

“Amor” é semelhante ao conto anterior: está também sob o signo da rotina, onde a personagem vive sem refletir que há todo um mundo à sua volta, diferente a cada minuto, novo a cada momento. Ana é uma bem comportada mãe de família com filhos, marido e apartamento a cuidar: “Assim, ela o quisera e o escolhera” (19).

O seu mundo, porém, está prestes a desmoronar: o sossego de sua vida-agradável-burguesa dilui-se com uma freada brusca do ônibus e com um cego que mascava chicletes. A partir daqui a insegurança domina-a, dilacera-a, e Ana se desprende da pacatez do seu mundo de rotinas: Ana já não era a mesma. Tem medo de perder o seu refúgio, de desmoronar o seu lar em que “tudo foi feito de modo que um dia se seguisse ao outro” (22) e em que “se podia escolher pelo jornal o filme da noite” (30).

Então tenta desesperadamente se reencontrar. Densa angústia: “Ah! era mais fácil ser um santo que uma pessoa!” (27). Tenta desesperadamente se fechar, se enclausurar no seu mundo interior – no mundo de sua rotina, “afastando-se do perigo de viver” (30).

Livre do cego que a faz enxergar o mundo que a rodeia e os anseios a que renunciara como esposa, Ana, nos braços seguros do marido, “sem nenhum mundo no coração”, deita tranquila e em paz: “Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia” (30).

3) Uma galinha. “Uma galinha” é um conto que mais parece uma crônica. Trata-se de uma galinha que foge à morte e ao almoço dominical de uma família. Perseguida pelo chefe-de-família, o bichinho “tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar sem nenhum auxílio de sua raça” (32).

“Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada” (32). E, cansada de fugir, acaba sendo presa pelo perseguidor.

Mas definitivamente, aquela família não teria carne de galinha naquele domingo: “de pura afobação a galinha pôs um ovo” (33). E o chefe-de-família então decidiu:

“— Se você mandar matar esta galinha, nunca mais comerei galinha na minha vida!” (33).

E assim a galinha passou a “morar com a família”, até que seu convívio virasse rotina.

“Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se os anos” (34).

Ela era sempre uma galinha – desde “o começo dos séculos”, e seria capaz de atuar sobre seu próprio destino e a sua própria condição galinácea.

Tendo, mais uma vez, o mundo restrito da pequena burguesia tradicional como pano de fundo, o conto volta a insistir numa temática básica de Clarice: “a alteração do cotidiano atuando profundamente nos sentimentos das personagens. É interessante observar que o próprio fato voltará a ser rotina e as pessoas esquecerão suas emoções”.

4) A imitação da rosa. A realidade exterior, ou seja, o motivo de “A imitação da rosa” é aparentemente banal: Laura, a personagem central do conto, vê-se envolvida com relações rotineiras: jantar em casa de amigos, e, à espera do marido (Armando), hesita em enviar à anfitriã (Carlota) um buquê de rosas que comprara para si.

É nessa hesitação que o drama interior da personagem vai-se revelando: Laura revive um passado de angústias, imersa nas suas próprias reflexões, abandonada num mundo vazio, onde não há filhos em que a rotina e a normalidade eram um imperativo avassalador. Laura se angustia e se autoflagela com seus devaneios tortuosos de torturas.

A beleza das rosas revela a sua obsessão pela perfeição: “sinceramente, nunca vi na minha vida coisa mais perfeita” (50). E as rosas, que passam a representar uma presença no apartamento vazio, são suas: “eram lindas e eram suas” (49).

Tendo ainda como meta o perfeccionismo, outra obsessão sua é a ordem, o método, o detalhe: “seu velho gosto pelo detalhe” (40); “seu minucioso gosto pelo método” (36); enfim, “magoava-a que Carlota desprezasse seu gosto pela rotina”.

5) Feliz aniversário. “Trata-se do conto mais irônico do livro. Por isso o mais mordaz, o que enxerga a vida com mais negativismo. Há uma perversidade implícita na forma da velhice e da vida. A rotina deixa de ser habitual para ser constante, existencial. E a ruptura dela é anual, vem de fora do mundo cansado que nos envolve, porque ele é nossa própria obra”.

O entrecho do conto, o seu ponto de partida, é um aniversário – aniversário de uma velha de 89 anos, que mora com a filha Zilda, a única que tinha condições de hospedá-la.

À noitinha, os filhos vão chegando, cada um mais superficial que o outro, o que a velha vai percebendo através do seu monólogo interior e seu aparente mau humor.

A superficialidade do tratamento fraternal, as rixas entre noras, as diferenças econômicas entre os vários irmãos, a educação diferente dos netos e bisnetos, os presentes imbecis e sem utilidades, as conversas vazias e forçadas, as aparências para “manter os laços” vão surgindo no conto e evidenciando a degradação da instituição familiar. Tudo isso deprime e escangalha a aniversariante, que, rancorosa, desabafa o seu ódio e a sua angústia:

“— Que vovozinha que nada!” explodiu amarga a aniversariante. “Que o diabo vos carregue, corja de maricas, cornos e vagabundos!” (68).

Depois todos se vão, e a aniversariante, quase nonagenária, permanece “sentada à cabeceira da mesa, ereta, definitiva, maior do que ela mesma… Será que hoje não vai ter jantar, meditava ela. A morte era o seu mistério” (75).

6) A menor mulher do mundo. Um explorador francês (Marcel Prete) descobre na África Equatorial a menor tribo de pigmeus do mundo e, dentro dela, a menor mulher do mundo: um ser humano de apenas 0,45 cm de altura a quem batizou como o carinhoso apelido de Pequena Flor. E descobre o francês: Pequena Flor, bem como a sua tribo (likoulas) estavam na iminência de ser exterminados: os bântus viviam caçando-os com redes e devoravam-nos. Na longínqua África, um ser humano (embora de 0,45 cm…) estava em perigo de morte.

O achado foi publicado em jornal “onde coube em tamanho natural” (79). Mas, em vez de provocar sentimentos de piedade nas pessoas grandes, “a menor mulher do mundo” “causa sensacionalismo e uma curiosidade mórbida, motivando diferentes reações: “aflição”, “perversa ternura”, “tristeza de bicho”. Em apenas uma criança de cinco anos, a reação é espontânea e sincera.

“— Mamãe, olhe o retratinho dela, coitadinha! Olhe só como ela é tristinha!” (80)

No conto, como é fácil perceber, a sociedade rejeita qualquer ser ou coisa que não se enquadra na sua estrutura convencional e preestabelecida: “Deus sabe o que faz” (86).

7) O jantar. É o primeiro conto em que a personagem principal é masculina.

Num restaurante, entra um velho esfomeado para jantar. Num outro canto, alguém lhe espreita e acompanha os mínimos movimentos, do início ao fim da refeição. Observa-lhe as indecisões, os gestos, as mãos peludas, e mesmo os dentes postiços. Procura captar-lhe “as profundezas”, “mas é inútil. A grande aparência que vejo é desconhecida, majestosa, cruel e cega” (91).

Aqui, mais uma vez, sobressai a temática frequente de Clarice: pessoas que fogem dos seus sentimentos, escondendo-se sob uma casca dura através de si mesmas. Pessoas que, para fugirem da própria fraqueza, chegam à impessoalidade, à quase inumanidade. É o caso do velho, que, por trás da aparente tranquilidade, certamente traz no seu íntimo um vulcão de problemas.

É exatamente isso que motiva a explosão de raiva de que é portador o narrador e observador do velho:

“Mas eu sou um homem ainda.

Quando me traíram ou assassinaram, quando alguém foi embora para sempre, eu perdi o que de melhor me restava, ou quando soube que vou morrer – eu não como. Não sou ainda esta potência, esta construção, esta ruína. Empurro o prato, rejeito a carne e seu sangue” (92-93)

8) Preciosidade. Novamente uma figura feminina volta a ser a personagem central: uma estudante de 15 anos, que não era bonita, mas que trazia dentro de si uma preciosidade – algo “que era intenso como uma jóia. Ela” (95).

Introspectiva, tímida, medrosa, excessivamente pudica, ela se esconde de tudo e de todos, procurando passar sempre despercebida, utilizando uma aparência sóbria e fria como seu único meio de defesa: “Estou sozinha no mundo. Nunca ninguém vai me achar, nunca ninguém vai me amar! Estou sozinha no mundo!”.

Este “estar sozinha no mundo” era a sua preciosidade. Até que um dia foi tocada e o mistério de sua preciosidade maculado por passos que a seguem na madrugada sombria e algodoada. Então passa a ser mulher e “ganhou os sapatos novos” (108): ela se enquadra na estrutura e convenções sociais.

9) Os laços de família. Aqui é mãe (Severina) e filha (Catarina) que não se entendem.

O genro (Antônio), casado com Catarina, completa o triângulo da rotina e do desamor, reaparecendo, plenamente, a temática fundamental de Clarice: “não esqueci de nada? Perguntava pela terceira vez a mãe” (109). Sim. Ela esquecera alguma coisa: o sentimento, o amor que não existe entre elas, “como se mãe e filha” fosse “vida e repugnância” (112). “Mas agora era tarde demais. Parecia-lhe (a Catarina) que deveriam um dia ter dito assim: sou tua mãe, Catarina E ela deveria ter respondido: e eu sou tua filha” (113). Entre elas não havia mais sentimento. E, para perceberem isso, foi preciso, mais uma vez, uma “freada brusca” que as despertasse. A rotina superficializou os sentimentos; o enquadramento social exigira comportamentos pré-determinados, palavras necessárias e vazias de significado; entre elas só havia palavras carregadas de atrito, de desencontro, de monotonia e irritação.

No seu apartamento, onde “tudo corria bem”, trancado nas quatro paredes do seu “Sábado”, o genro lê indiferentemente:

“— Catarina, esta criança ainda é inocente!” (120)

Por trás dessa situação está uma verdade terrível: ou viver dentro da rotina ou quebrá-la, provocando, neste último caso, o caos, o colapso, o pânico: o desvendamento de uma verdade monstruosa; verdade esta tão gritante, tão caótica, que ameaça a ruína completa. A única solução, então, “o único refúgio é a remodelação paciente da rotina, para que a verdade novamente seja contida: a fuga eterna dos homens de si mesmos!”

“— Depois do jantar iremos ao cinema”, resolveu o homem (120).

Com relação à técnica, é curioso observar como a autora realça os olhos de Catarina: analisa-a pela expressão dos seus olhos, porque os olhos, sem dúvida, são a janela da alma.

10) Começos de uma fortuna. Aqui são colocados dois problemas que aparecem ser responsáveis por grande parte das angústias, desequilíbrios mentais e crimes da atualidade: o dinheiro e a falta de comunicação dentro do próprio lar. Na sociedade moderna, dita “de consumo”, o homem tece um mundo de sonhos e aspirações “totalmente” impossíveis sem o dinheiro que ele, na maioria das vezes, não tem. Só se lhe apresentam duas saídas: ele toma emprestado e vai-se envolvendo em dívidas sempre maiores: “Mas depois eu tenho de devolvê-lo a você e já estou devendo ao irmão de Antonio” (126), ou perde-se em conjectura: “se eu tivesse dinheiro… pensava Artur” (121). Artur, menino ainda, dá os primeiros passos na construção do que será um dia a sua fortuna: talvez uma dezena de quimeras, talvez centenas de promissórias.

“Papai, chamou Artur docilmente, com as sobrancelhas franzidas; papai, como são promissórias?” (129).

Artur vai aprendendo as manhas da vida e das pessoas: “Pelo visto, disse desviando do amigo a raiva, pelo visto basta você ter uns cruzeirinhos que mulher logo fareja e cai em cima” (126).

As circunstâncias vão crescendo em importância, a necessidade de ser aceito se impõe, e Artur, “à porta do cinema não pode deixar de pedir emprestado a Carlinhos, porque lá estava Glorinha com uma amiga” (127).

Dentro do lar, sua mãe, entregue demais às obrigações, não entendia seu problema: “A mão olhou-o seca como a um estranho. No entanto ele era mais parente que seu pai, que, por assim dizer, entrara na família” (122).

Patenteia-se neste conto, como em outros, também a situação dramática da mulher dona de casa, esposa e mãe, associada ao fogão e a trabalhos domésticos, sem outra função que a de procriar e aprontar roupa e comida para os hóspedes: marido e filhos.

“Coma mais batatas, Artur”, tentou a mãe inutilmente arrastar os dois homens para si (129).

Mas eles estavam perdidos sem seu mundo, falando de promissórias.

“Promissórias, dizia o pai afastando o prato, é assim: digamos que você tenha uma dívida” (129).

11) Mistério em São Cristóvão. Neste conto, podemos observar tendências surrealistas. Clarice explora o subconsciente construindo uma simbologia complexa e difusa. A partir do próprio título, verificamos, de certa forma, o caráter velado do acontecimento. O caso se dá numa noite de maio, em casa de uma família onde “as crianças têm ido diariamente à escola, o pai mantém os negócios, a mãe trabalhou durante anos nos partos e na casa, a mocinha está se equilibrando na delicadeza de sua idade (19 anos), e a avó atingiu um estado!” (132). Nessa noite, após cada um ir se deitar, seguindo os padrões de uma vida sem graça, sem novidades, tem lugar o episódio: três mascarados, um galo, um touro e um demônio, invadem o jardim da casa para colher jacintos. “Um jacinto para pregar na fantasia” (133). O intuito dos três não é consumado porque descobrem o rosto da jovem olhando-os justamente quando haviam quebrado a haste de uma das flores.

“Nenhum dos quatro saberia quem era o castigo do outro. Os jacintos cada vez mais brancos na escuridão. Paralisados eles se olhavam” (134).

“Um galo, um touro, um demônio e um rosto de moça haviam desatado a maravilha do jardim…” (135).

Algo aconteceu entre estas quatro criaturas, algo que as perturbou profundamente, algo que quebrou a rotina maçadora de suas vidas comuns. No jardim, por instantes, os quatro se fixaram, e algum mistério de não sei onde, se fez ou desfez. No entanto, “era um toque perigoso para as quatro imagens” (135).

Pressentindo o perigo, os três mascarados fogem, e a moça grita. A família volta sua atenção e cuidados para a mocinha cuja única expressão fora o grito, e, entre seus cabelos, apareceu um fio branco. Por instantes a família, com exceção das crianças, se preocupa com o fato. De alguma forma o acontecimento os toca, e eles se tornam “atentos e inquietos”. “A mocinha já não vivia a perscrutar” (136), e tudo aos poucos volta ao de sempre: “…a avó, de novo pronta a se ofender, o pai e a mãe fatigados, as crianças insuportáveis…” (137).

Tal como nos contos “Os laços de família” e “Amor”, onde a freada do táxi e a arrancada do bonde representam momentos de tomada de consciência, aqui, em “O mistério de São Cristóvão”, o momento crucial se dá quando há o grito da moça, sinal de uma dor e de um espanto que se sucedem à experiência mágica que interrompe o fluir monótono dos dias sem sentido.

12) O crime do professor de Matemática. Este é outro conto que apresenta uma personagem masculina no papel principal. Trata-se de um professor de Matemática que encontra um cachorro morto numa esquina e resolve enterrá-lo, buscando, com isso, punir-se pelo fato de ter abandonado seu próprio cão numa outra cidade. Após fazê-lo, o professor sente-se livre e começa a pensar no seu cão. Assim, através de um monólogo de grande beleza e profundidade, Clarice vai deixando suas pinceladas de filosofia de vida: o cão (José) pertencera desde filhotinho ao professor de Matemática e juntos haviam brincado e se entendido. No entanto, o que não permitiu a continuidade deste relacionamento foi uma exigência do cão: “De si mesmo, exigias que fosses um cão. De mim, exigias que eu fosse um homem” (144).

O professor, incapaz de cumprir tal requisito, escolheu abandonar o cão, e, com ele, a preocupação de procurar satisfazer a exigência. Abandona-o com alívio.

“Com alívio sim pois exigias com a incompreensão serena e simples de quem é um cão heróico – que eu fosse um homem” (145).

O monólogo prossegue e a lucidez do professor vai aumentando. Ele conclui que, na verdade, cometera tal crime por ser um “crime menor”, pelo qual “ninguém vai para o inferno”. Ninguém poderia condená-lo por ter somente largado um certo cão à sua própria sorte. Ao ver o outro cão, porém, o professor sente que deveria compensar sua atitude. Lembramos aqui a “lei da equivalência das janelas” ou “lei da compensação moral”, explicada em Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, através da qual o homem busca sempre justificar seus atos ou ideias com outros atos e ideias. O processo de aclaramento da visão interior continua e o professor reflete que talvez “o cão abandonado exigisse dele muito mais que a mentira”, exigisse que ele “fosse um homem – e como homem assumisse o seu crime” (147). Premido por este raciocínio, o professor desenterra o outro cão que há pouco enterrara e volta para a sua casa, a sua família. Cremos perceber no José o chamamento para um exercício consciente de um papel – o papel de HOMEM -, ao qual os homens quase sempre querem fugir. José é tudo aquilo que nos impele à atitude, nos exige um parecer, nos lembra da vida. Se o professor tivesse compensado o seu crime com o enterro de outro cão, ele estaria se esquecendo do chamamento do próprio íntimo para a realização como HOMEM.

13) O búfalo. A exemplo de “Os laços de família”, temos aqui um conto de grande intensidade dramática. Focaliza uma mulher infeliz no amor, rejeitada pelo homem a quem só sabe amar e “cujo crime único era o de não amá-la” (151).

Esta mulher trazia no peito, “que só sabia resignar-se, que só sabia suportar, só sabia pedir perdão, só sabia perdoar e só aprendera a ter a doçura da infelicidade, e só aprendera a amar, a secreta vontade de matar, a necessidade de odiar” (155).

“Onde aprender a odiar para não morrer de amor? E com quem?” (155).

A mulher vai ao jardim zoológico na tentativa de aprender com os animais este sentimento que procura, mas, como é primavera “o mundo das bestas se cristianiza em patas que arranham mas não dói…” (155).

Presa de si mesma, enjaulada no seu amor, ela tudo enxerga transbordando AMOR. Até que viu o búfalo negro ao entardecer. Seja pelo cansaço, por ser pôr-de-sol, por ele ser grande e negro, seja pelo que for, o fato é que o búfalo a faz sentir o que buscava: “a vontade vagarosa de matar”, o ódio, enfim. E copiando a tranquilidade nervosa do bicho, ela pode dizer: “Eu te amo”, com ódio. O conhecimento do ódio de certo modo a faz morrer um pouco e ela cai, perto da cerca do búfalo guardando a imagem de contornos suaves e duros, olhos pequenos e calmos.

O ESTILO DE ÉPOCA

A obra de Clarice Lispector se localiza na terceira fase do Modernismo, que muitos preferem chamar de Pós-Modernismo.

1) Como é próprio dos autores (pós)-modernistas, a maneira de fazer literatura de Clarice Lispector marca-se pela originalidade e pelo modo anti-convencional com que organiza o texto. O autor (pós)-modernista, e especialmente Clarice Lispector, sempre foge das convenções estabelecidas e da linguagem estereotipada, o que, aliás, já vai expressando o conteúdo temático de sua obra – tirar a máscara das formalidades e revelar a verdade subjacente em cada um.

2) Coerente com essa postura do autor (pós)-modernista, é frequente nas obras desse estilo de época o emprego da técnica surrealista, em que a narrativa vai brotando à mercê do fluxo da consciência do condutor da estória.

Essa visão surrealista que perpassa alguns dos contos pode ser notada sobretudo em “Amor” (a imagem do cego a perseguir a personagem, a necessidade que Ana tem de amar o cego representa bem sua ânsia de se entregar ao seu mundo obscuro e desconhecido) e em “Mistério em São Cristóvão” (a coincidência fatalista que envolve aquelas “quatro máscaras” numa noite de magia).

3) Nessa linha de raciocínio, as obras (pós)-modernistas, concebidas e elaboradas à maneira surrealista, sempre provocam discussões e polêmicas por parte do leitor. É a concepção da obra aberta, sujeita a interpretações várias, em que o autor não entrega o produto mastigadinho – pronto para ser consumido.

Como ressaltam Youssef-Abdalla a propósito da obra da autora, em “Literatura Comentada”, “Clarice respeita o seu leitor, por isso ela cria, na viagem de suas personagens, um novo espaço de liberdade, dentro do jogo ficcional. É um jogo onde todos – narrador, personagens e leitor – devem participar de forma ativa”. Laços de família sem dúvida, enquadra-se perfeitamente nessa concepção de obra aberta.

4) A realidade brasileira, em que sempre se embasa a literatura modernista, pode ser detectada em Laços de Família em que traços da nossa cultura podem ser vislumbrados.

Essa aparência brasileira, entretanto, é altamente enganosa no livro como, aliás, em todos os grandes autores (pós)-modernistas. O homem aqui é visto como ser humano na sua dimensão universal: é o homem moderno, de qualquer espaço, alienado e esmagado pela rotina, descaracterizado e perdido no anonimato dos grandes centros urbanos.

5) Embora correta, apesar das inovações, a linguagem de Clarice Lispector, como é comum no (Pós)-Modernismo, apresenta traços da linguagem coloquial em que as normas morfo-sintáticas não são observadas. Isso, evidentemente, faz sentido, pois o que a autora pretende é adequar a linguagem à personagem, fazendo o registro do seu modo próprio de falar.

ESTILO / LINGUAGEM

A maneira de escrever de Clarice Lispector é bastante coerente com o seu modo de ser e com o estilo de época em que se enquadra. Como já observamos, a forma de expressão utilizada por ela – original e desestereotipada – revela bem o conteúdo temático apresentado.

1) Clarice Lispector não se preocupa em contar uma estória. Sua preocupação maior é com as impressões, como ela própria observa: “os meus livros não se preocupam com os fatos em si, porque para mim o importante é a repercussão dos fatos no indivíduo”.

2) “Rompe-se assim a narrativa referencial ligada a fatos e acontecimentos. Em lugar dela, emerge uma narrativa interiorizada, centrada num momento de vivência interior da personagem (ou narrador)” – observam Youssef-Abdalla, em “Literatura Comentada”. O seu estilo, pois, – que lembra Machado de Assis – é arrastado, anda devagar, porque a sua preocupação é desvendar a verdade subjacente em cada um, mascarada pela casca da rotina.

3) Essa tendência para a introspecção gera, em Clarice Lispector, um certo cerebralismo manifestado através da linguagem paradoxal, mais em nível do pensamento e da ideia. É uma literatura de reflexão, que exige do leitor muito esforço para entender e desvendar o mistério que envolve aquilo que a autora quer transmitir. Essa postura da autora está evidentemente bem coerente com a concepção de obra aberta da literatura (pós)-modernista.

4) Outra preocupação da autora é casar forma com conteúdo. E o que observa a dupla Youssef-Abdalla: “É admirável sua consciência técnica adequando forma e conteúdo. Por exemplo, dissocia as unidades narrativas para mostrar a falta de ligações mais profundas na sociedade. Organiza a narrativa em ritmo lento, para contrastar com o movimento da vida nas grandes cidades. Filtra todos os fatos através de uma consciência que se isola do conjunto – eis aí a solidão do homem moderno”.

5) Como ressalta o crítico Luis Costa Lima, “a linguagem de Lispector contém como que uma armadilha: a sua simplicidade enganosa, podendo dar ao leitor a impressão de uma planura sem fim, de uma superfície horizontal”. Eis outro elemento básico para a compreensão de Clarice. Não se iluda o leitor: por trás dessa aparente simplicidade lingüística muitas verdades dolorosas se escondem: “toda a clareza tem seu reverso e mesmo na coisa comum podemos condensar perguntas que não se desejam”. Para que conto mais simples do que “Uma galinha”? Entretanto, por trás daquela história, muitas verdades se escondem.

É curioso observar aqui que essa linguagem comum, revestindo aparentemente um desenrolar de ocorrências, “é um correlato, ao nível da linguagem, da opacidade do mundo” (Luís Costa Lima).

6) Outro aspecto que marca bem o estilo de Clarice Lispector é a sua tendência para os seres frágeis e irracionais – próximos do “coração selvagem”. Essa busca, que remonta “ao mundo pré-vegetal anterior aos símbolos e à cultura”, está bem coerente com a profunda introspecção que configura suas obras. Dessa forma, essa “simplicidade enganosa” mascara problemas existenciais, subjacentes no recôndito do homem. O que a autora pretende é exatamente desvendar o mistério que se esconde sob essa casca de simplicidade.

7) Mascaradas pela rotina do dia-a-dia, suas personagens sempre têm, como observou o poeta Affonso Romano, um momento de “epifania”, “quando acontece um evento ou incidente que ilumina a vida da personagem”.

8) Coerente com essa tendência, a obra de Clarice Lispector é povoada de “bichos”: cavalo, galinha, barata, aranha, búfalo, gato, cão etc. Essa presença revela bem a sua busca do “coração selvagem”, irracional, que configura um mundo de harmonia, sem a complicação do mundo dos homens.

9) Embora se expresse em prosa, como é próprio do conto, a linguagem de Clarice Lispector caracteriza-se, frequentemente, pela “liricidade”. Revela-o não só pela marca pessoal que imprime nas suas criações literárias, como pela riqueza metafórica. Suas metáforas, expressivas e poéticas, primam pela originalidade.

PERSONAGENS

Quase todas as personagens dos contos são femininas; excetuam apenas “O jantar” e “O crime do professor de Matemática”, onde a personagem central é masculina. Sem dúvida, isso tem um sentido na obra: a rotina é o principal tema dos contos de Clarice, e ninguém mais do que a mulher é vítima do dia-a-dia da existência.

De um modo geral, suas personagens são seres fracos, desajustados, frustrados, que se escondem por trás de uma casca que os envolve de náusea e angústia – autênticas personagens-ostra. Quase sempre têm um momento de lucidez, despertando-se da rotina que as cega e esmaga, quando se revelam frágeis e inseguras. A única solução, então, é refugiar-se na rotina, onde se escondem das próprias fraquezas, ambições e frustrações. Não passam, pois, de meros fantoches, pois lhes falta integração psicológica e liberdade de escolha: são seres destituídos de autodeterminação, que movem conforme as imposições e convenções familiares e sociais. Por essa razão – porque lhes falta vontade própria e autodeterminação -pode-se dizer que não têm completa consciência das coisas nem liberdade de ação: vivem esmagadas pelas grades da rotina e da inconsciência, parecendo mais “figuras de pensamento que entes humanos” (Luís Costa Lima).

Invariavelmente, pertencem à família urbano-burguesa-tradicional, onde está nítida a decadência dos valores sociais e familiares. Nesse contexto, o apartamento é uma presença constante, onde quase sempre vivem com “a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar”. Os “laços”, que envolvem o título e a maioria dos contos, não passam de uma tremenda ironia, o que não deixa de estar coerente com a casca de suas personagens-ostra: os “laços” são apenas aparentes e mascaram o artificialismo do relacionamento humano.

TÉCNICA NARRATIVA

Com relação à técnica empregada por Clarice, é importante ressaltar aqui o monólogo, elemento predominante do conto de Clarice Lispector, conforme observa Adornas Filho, no artigo “O conto e o monólogo”.

Sem dúvida, o monólogo é uma decorrência da introspecção, em que a personagem se revela de dentro para fora, mostrando-se mentalmente, numa total desarticulação com o real.

Outro recurso técnico que deve ser anotado também é a “sensação de pintura” que prevalece nos seus contos: a narrativa é sempre feita através de observações visuais. Um exemplo nítido, nesse sentido, é o conto “Os laços de família”, onde os olhos de Catarina têm destaque especial.

A narrativa quase sempre se “quebra” por um momento de lucidez da personagem, o que constitui uma espécie de clímax do conto. Depois tudo volta à normalidade, quando, quase sempre, se percebe a problemática apresentada.

CONCLUSÃO

Num conjunto de treze contos, Clarice Lispector nos apresenta o retrato de uma época: a nossa. Através de uma linguagem cuidadosamente empregada, ela vai levando-nos pelos caminhos de sua sensibilidade a identificar as mazelas e a deterioração de nossas estruturas e valores. O livro enfoca e fotografa o desmoronamento de todo um complexo de instituições, fórmulas e convenções sociais; a coisificação do homem, mero espectador de sua própria tragédia animal, “fechado entre as quatro paredes de seu sábado”, preso nos apartamentos frios e impessoais, onde tudo vai bem, enquadrado no esquema da maioria inócua e ridícula.

O homem acovardado, medroso do próprio destino, apagado, restrito às atividades básicas de conservação e defesa.

O homem que é levado, que não quer tomar conhecimento de sua alienação, e, se por acaso isso acontece, recusa-se a tomar qualquer providência.

O homem mascarado, insensível, forjando atitudes, ideias e sentimentos, a título tão somente de verniz.

O homem hóspede de sua própria casa, ignorante de suas possibilidades, forasteiro em sua própria terra.

Através de uma colocação muito bem feita, Clarice Lispector aponta a situação dramática da mulher dentro da estrutura social vigente: “a mãe trabalhou durante anos nos partos e na casa” (131). A mulher se cansa, se enfara, se empanturra dessa vida de momentos iguais e insípidos. E que pode o indivíduo fazer ante o mundo? Ou ele se enquadra, se amolda e se torna a mãe desvelada, a esposa perfeita, o funcionário-padrão, e é aceito pela sociedade; ou ele não se enquadra, e é rejeitado como Pequena Flor, por ser diferente. Após o enquadramento só vem a rotina que, se quebrada, traz angústia; se mantida, traz fastio.

É assim que o homem, fechado no abraço-prisão de seu próprio comodismo, vai enfraquecendo, puindo, soltando, destruindo os laços que o unem à própria vida. Estruturados sobre uma base de artificialismo, fingimento e interesses, não podem subsistir e se desmancham. Os laços de família tão tênues, tão frágeis e tão corroídos que atestam a desestruturação de uma sociedade doente.

Os homens veem a “opacidade do mundo”, o vazio e a gratuidade da existência, a falta de justificativa da vida diária, a banalidade e estupidez de seus dias vividos na base de ilusões e convencionalismos, mas, na certeza da angústia como decorrência da conscientização, preferem ficar “cansados do dia, felizes em não discordar, tão dispostos a não ver defeitos” (28).

NOTA: As páginas indicadas referem-se à 5ª edição de Laços de família (Editora Sabiá).

Prof. Teotônio Marques Filho (com a colaboração da Profa. Deisa Chamahum Chaves)


Este texto foi publicado na categoria Cultura e Expressão Artística.

 About Pedagogia ao Pé da Letra

Sou pedagoga e professora pós-graduada em educação infantil, me interesso muito pela educação brasileira e principalmente pela qualidade de ensino. Primo muito pela educação infantil como a base de tudo.

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