Cascudo nasceu em 30 de Dezembro do ano de 1898, em Natal, capital do Rio Grande do Norte, e morreu nessa mesma cidade no ano de 1986. Nunca deixou a cidade, tendo incorporado essa circunstância biográfica como um ícone de sua identidade existencial e intelectual.
Seus biógrafos têm sublinhado o fato de que Cascudo sempre se definiu a si mesmo como um “provinciano”. Desde o início dos anos 1990, a obra de Cascudo vem se tornando o foco de um renovado interesse por parte dos intelectuais e dos meios de comunicação.
Seus escritos etnográficos, em sua maioria elaborados ainda na primeira metade do século XX, de certa maneira anteciparam os estudos antropológicos que floresceram no Brasil nos anos 70 e cujo foco era a vida cotidiana. Ao tempo em que escrevia seus estudos etnográficos sobre comidas, bebidas, gestos, palavrões, jangadas, redes de dormir e outros aspectos da vida cotidiana brasileira, tais temas não eram considerados objetos relevantes para cientistas sociais sérios e responsáveis. Esses profissionais estavam mais preocupados com temas tais como desenvolvimento econômico, modernização, políticas de Estado, partidos políticos, e não com aspectos vulgares da vida cotidiana.
Não por acaso, Cascudo jamais veio a ser reconhecido como um “cientista social” em sentido estrito. Ainda que fosse um folclorista reconhecido nacional e internacionalmente, sempre ocupou uma posição marginal no sistema acadêmico brasileiro. Até certo ponto, sua posição pessoal expressa a marginalidade a que foram submetidos os “estudos de folclore” na vida intelectual brasileira.
Mas os seus escritos revelam alguns traços que os distinguem daqueles produzidos por outros folcloristas brasileiros. Muitas vezes, Cascudo inicia suas frases afirmando: “Nós, o povo, acreditamos que…”. Ele assume explicitamente, como autor, um ponto de vista sob o qual escreve não “sobre a”, mas “a partir da” própria cultura popular. Assume, deste modo, as categorias dessa cultura, particularmente da cultura popular do Nordeste. Por sua vez, essa cultura é identificada em seus escritos como uma espécie de “sobrevivência” (ainda que bastante viva na atualidade) herdada do Brasil “tradicional”, cuja existência histórica se desenrola do século XVI ao século XIX.
Filho do Coronel Francisco Cascudo, diretor de A Imprensa, e de D. Anna Maria da Câmara Cascudo, nasceu ele quase no penúltimo ano do século XIX, em Natal, na Rua das Virgens, hoje portando seu nome, e onde há uma placa comemorativa em que se lê: “historiador da cidade de Natal, mestre do folclore e glória definitiva da cultura brasileira.” Filho único, o pai era comerciante e coronel da Guarda Nacional e a mãe dos afazeres domésticos. Morreu aos 88 anos do coração na tarde do dia 30 de Julho do ano de 1986.
Na água do primeiro banho, a mãe despejou um cálice de Vinho do Porto para o filho ter saúde e o pai a temperou com um Patacão do Império para merecer fortuna. O padre João Maria, um santo da cidade, batizou-o no bom Jesus das Dores, e a poetisa Auta de Souza, amiga de sua mãe, embalou seu choro forte de menino-homem.
Sonhou ser jornalista e foi. Seu pai, nessa época, ainda era um homem rico e instalou o jornal A Imprensa para seu filho. Nas suas páginas, o estudante que lia até a madrugada passou a exercitar o gosto de escrever, mantendo uma coluna que chamou de Bric-a-Brac (…) observando a paisagem humana e cultural da cidade e sua gente. Seu primeiro livro, Alma Patrícia, saiu em 1921. É a reunião de pequenos estudos sobre poetas e prosadores na Natal de seu tempo.
Fez seus estudos de Humanidades no Ateneu Norte-Rio-Grandense e posteriormente ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia (1918) e depois na do Rio de Janeiro (1919-1922), que largou no 4º ano por dificuldades financeiras. Forma-se enfim em Direito na Faculdade do Recife (1924-1928). Iniciou suas atividades intelectuais pelo jornalismo e a crítica literária (Alma Patrícia, seu primeiro livro é de 1921).
Anos depois, com a tese Da Intencionalidade do Descobrimento do Brasil, conquista a cátedra de História do Brasil do Ateneu em que estudara; ensina ainda Etnografia Geral na Faculdade de Filosofia e conquista o posto de professor de Direito Internacional Público da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, de onde se aposenta em 1966. Excetuada a extensa colaboração esparsa em periódicos, é em especial autor de imensa obra com quase duas centenas de publicações entre livros, traduções, opúsculos, etc.
Tendo apoiado a vanguarda modernista e militado abertamente no movimento integralista brasileiro, ele vai aos poucos concentrando o seu labor na ampla tarefa de investigação tanto como historiador, em que deixa mais de meia dúzia de obras fundamentais, quanto, sobretudo, nas questões de etnografia brasileira, especialmente em suas manifestações de cultura do povo, nas quais se torna, por certo, uma das fontes mais seguras. Assim, há muitas décadas, os estudiosos vêm sorvendo os contributos de suas lições, particularmente neste último território.
Todavia, a exaltação louvaminheira de Câmara Cascudo como folclorista, posto possa ser justa e merecida, não deixa de conter um viés empobrecedor dessa figura extraordinária, verdadeira enciclopédia de múltiplos saberes, e que foi, antes de tudo, um pensador crítico das coisas de nossa gente e de nossa cultura, e mais ainda, um bom historiador, armado pioneiramente de uma perspectiva antropológica que enriquecia sobremaneira tudo quanto examinava. Sem jamais ter abandonado sua vocação original de jornalista-repórter. Eis por que, um dia, reagiu de forma incisiva a essa sua identificação automática como “folclorista”.
Se deixarmos de lado produções menores anteriores, sua primeira obra fundamental é, sem dúvida, Vaqueiros e Cantadores, publicada em 1939 pela Livraria do Globo, na coleção “Biblioteca de Investigação e Cultura” dirigida por Josué de Castro, onde examina os romances tradicionais em verso, as formas mnemônicas de poesia popular, a cantoria, os ciclos do gado e do cangaço. Em seguida, dedica-se aos contos, lendas, mitos, às novelas populares, e ao conjunto de nossa literatura oral, em livros seminais como Contos Tradicionais do Brasil (1946), Geografia dos Mitos Brasileiros (1946, com que ganha prêmio da Academia Brasileira de Letras), Literatura Oral (1952, vol. VI da História da Literatura Brasileira dirigida por Álvaro Lins), Cinco Livros do Povo (1953); e em 1954 reedita com notas e comentários os 3 volumes da edição original (Lisboa, 1885) de Contos e Cantos Populares do Brasil, de Sylvio Romero. Mas o coroamento do conjunto de sua obra nessa área é o monumental Dicionário do Folclore Brasileiro (1954), de que a 2ª (1962) e a 3ª edição (1972) acrescentam mais de duas centenas de novos verbetes, ampliando a colaboração assinada de vários estudiosos do norte ao sul do país.
Além disso, antes e após, foi revelando o catimbó, a jangada, a rede, e inumeráveis ensaios sobre usos e costumes, superstições e crendices, ritos, jogos e festas, gestos, tradições e maneiras de ser do povo, a erudita história de nossa alimentação, etc. Deixa ainda, em 2 tomos, uma obra de síntese conceptual da etnografia geral, cujo manuscrito desapareceu e ressurgiu após vários anos, bastante mutilado, sendo fruto de cuidadosa reelaboração: Civilização e Cultura (1973). Cascudo morreu em 1986. Mesmo num autor que tinha o hábito de atribuir subtítulos modestos a seus livros com a expressão “Pesquisas e Notas”, é quase leviano pretender resumir aqui sua fértil erudição, seu primoroso estilo e a produção original e inovadora de quase 70 anos de investigação. É óbvio que teve precursores reconhecidos, como o maranhense Celso de Magalhães (A Poesia Popular Brasileira, 1873), o pesquisador pernambucano Pereira da Costa (Folk-lore Pernambucano, 1907), Sylvio Romero, Mello Moraes Filho, etc.
Obras de Câmara Cascudo
A partir de seu acervo, Carlos Lyra dividiu a obra de Cascudo em livros e plaquetes (livretos).
Utilizamos o livro de Zila Mamede, Luís da Câmara Cascudo: cinqüenta anos de vida intelectual; 1918-1968; bibliografia anotada, de 1970, para complementar a bibliografia abaixo.
Atualmente já estão disponíveis 20 edições das Actas Diurnas e 6 lendas, com desenhos a carvão de Martha Pawlowna Schidrowitz para uma edição especial, numerada e personalizada do livro Lendas brasileiras, editado em 1945 pela Cattleya Alba – Confraria dos Bibliófilos Brasileiros.
Bibliografia
Livros
- 001 – Alma Patrícia, crítica literária – Atelier Typ. M. Vitorino, 1921
- 002 – Histórias que o tempo leva – Ed. Monteiro Lobato, S. Paulo, (out. 1923), 1924.
- 003 – Joio – crítica e literatura – Of. Graph. d’A Imprensa, Natal (jun), 1924
- 004 – Lopez do Paraguay – Typ. d’A República, 1927
- 005 – Conde d’Eu – Ed. Nacional, 1933
- 006 – O homem americano e seus temas – Imprensa Oficial, Natal, 1933
- 007 – Viajando o sertão – Imprensa Oficial, Natal, 1934
- 008 – Em memória de Stradelli – Livraria Clássica, Manaus, 1936
- 009 – O Doutor Barata – Imprensa Oficial, Bahia, 1938
- 010 – O Marquês de Olinda e seu Tempo – Ed. Nacional, S. Paulo, 1938
- 011 – Governo do Rio Grande do Norte – Liv. Cosmopolita, Natal, 1939.
- 012 – Vaqueiros e Cantadores – (Globo, 1939) – Ed. Itatiaia, S. Paulo, 1984.
- 013 – Antologia do Folclore Brasileiro – Martins Editora, S. Paulo, 1944
- 014 – Os melhores contos populares de Portugal – Dois Mundos, 1944
- 015 – Lendas brasileiras – 1945
- 016 – Contos tradicionais do Brasil – (Col. Joaquim Nabuco), 1946 – Ediouro
- 017 – Geografia dos mitos brasileiros – Ed. José Olímpio, 1947. 2ª edição, Rio, 1976.
- 018 – História da Cidade do Natal – Prefeitura Mun. do Natal, 1947
- 019 – Os holandeses no Rio Grande do Norte – Depto. Educação, Natal, 1949
- 020 – Anubis e outros ensaios – (Ed. O Cruzeiro, 1951), 2ª edição, Funarte/UFRN, 1983
- 021 – Meleagro – Ed. Agir, 1951 – 2ª edição, Rio, 1978
- 022 – Literatura oral no Brasil – Ed. José Olímpio, 1952 – 2ª edição, Rio, 1978
- 023 – Cinco livros do povo – Ed. José Olímpio, 1953 – 2ª edição, ed. Univ. UFPb, 1979.
- 024 – Em Sergipe del Rey – Movimento Cultural de Sergipe, 1953
- 025 – Dicionário do Folclore Brasileiro – INL, Rio, 1954 – 3ª edição, 1972
- 026 – História de um homem – (João Câmara) – Depto. de Imprensa, Natal, 1954
- 027 – Antologia de Pedro Velho – Depto. de Imprensa, Natal, 1954
- 028 – História do Rio Grande do Norte – MEC, 1955
- 029 – Notas e documentos para a história de Mossoró – Coleção Mossoroense, 1955
- 030 – Trinta “estórias” brasileiras – ed. Portucalense, 1955
- 031 – Geografia do Brasil Holandês – Ed. José Olímpio, 1956
- 032 – Tradições populares da pecuária nordestina – MA-IAA n.9, Rio, 1956
- 033 – Jangada – MEC, 1957
- 034 – Jangadeiros – Serviço de Informação Agrícola, 1957
- 035 – Superstições e Costumes – Ed. Antunes & Cia., Rio, 1958
- 036 – Canto de Muro – Ed. José Olímpio, (dez. 1957), 1959
- 037 – Rede de dormir – MEC (1957), 1959 – 2ª edição, Funarte/UFRN, 1983
- 038 – Ateneu Norte-Rio-Grandense – Imp. Oficial, Natal, 1961
- 039 – Vida breve de Auta de Souza – Imp. Oficial, Recife, 1961
- 040 – Dante Alighieri e a tradição popular no Brasil – PUC, Porto Alegre, 1963 – 2ª edição Fundação José Augusto (FJA), Natal, 1979
- 041 – Dois ensaios de História – (Imp Oficial Natal, 1933 e 1934) Ed. Universitária, 1965
- 042 – História da República do Rio Grande do Norte – Edições do Val, Rio, 1965
- 043 – Made in África – Ed. Civilização Brasileira, 1965
- 044 – Nosso amigo Castriciano – Imp. Universitária, Recife, 1965
- 045 – Flor dos romances trágicos – Ed. Cátedra, Rio, 1966 – 2ª ed. Cátedra/FJA, 1982
- 046 – Voz de Nessus – Depto. Cultural, UFPb, 1966
- 047 – Folclore no Brasil – Fundo de Cultura, Rio, 1967 – 2ª edição, FJA, Natal;, 1980
- 048 – História da alimentação no Brasil – Ed. Nacional (2 vols.) fev. 1963), 1967, (col. Brasiliana 322 e 323) – 2ª ed. Itatiaia, 1983
- 049 – Jerônimo Rosado (1861-1930) – ed. Pongetti, Rio, 1967
- 050 – Seleta, Luís da Câmara Cascudo – Ed. José Olímpio, Rio, 1967 – org. por Américo de Oliveira Costa. – 2ª Ed. 1972.
- 051 – Coisas que o povo diz – Bloch, 1968
- 052 – Nomes da Terra – Fundação José Augusto, Natal, 1968
- 053 – O tempo e eu – Imp. Universitária – UFRN, 1968
- 054 – Prelúdio da cachaça – IAA, (maio, 1967), 1968
- 055 – Pequeno manual do doente aprendiz – Ed. Universitária – UFRN, 1969
- 056 – Gente viva – Ed. Universitária UFPe, 1970
- 057 – Locuções tradicionais no Brasil – UFPE, 1970 – 2ª edição, MEC, Rio, 1977
- 058 – Ensaios de etnografia brasileira – INL, 1971
- 059 – Na ronda do tempo – Ed. Universitária, UFRN, 1971 (livro biográfico)
- 060 – Sociologia do Açúcar – MIC – IAA, 1971. Coleção Canavieira n. 5
- 061 – Tradição, ciência do povo – Perspectiva, S. Paulo, 1971
- 062 – Ontem – (maginações) – Ed. Universitária UFRN, 1972
- 063 – Uma História da Assembléia Legislativa do RN – FJA, 1972
- 064 – Civilização e cultura (2 vol.) – MEC/Ed. José Olímpio, 1973
- 065 – Movimento da independência no RN – FJA, 1973
- 066 – O Livro das velhas figuras – (6 vol.) – 1, 1974; 2, 1976; 3, 1977; 4, 1978; 5, 1981; 6, 1989 – Inst. Histórico e Geográfico do RN
- 067 – Prelúdio e fuga do real – FJA, 1974
- 068 – Religião no povo – Imprensa Universitária, UFPb, 1974
- 069 – História dos nossos gestos – Ed. Melhoramentos, 1976
- 070 – O Príncipe Maximiliano no Brasil – Kosmos editora, 1977
- 071 – Antologia da alimentação no Brasil – Livros Técnicos e Científicos ed., 1977
- 072 – Três ensaios franceses, FJA, 1977 (do “Motivos da Literatura Oral da França no Brasil”, Recife, 1964 – Roland, Mereio e Heptameron)
- 073 – Mouros e Judeus – Depto. de Cultura, Recife, 1978
- 074 – Superstição no Brasil – Itatiaia, S. Paulo, 1985
Plaquetes
- 075 – Da poesia popular narrativa no Brasil – Universidade Nacional do México, 1971
- 076 – Ás de Vila Diogo – Museu de Etnografia e História – Junta Distrital do Porto
- 077 – Assunto gago – Museu de Etnografia e História – Junta Distrital do Porto
- 078 – Ceca e Meca – Museu de Etnografia e História – Junta Distrital do Porto
- 079 – O morto no Brasil – Museu de Etnografia e História – Junta Distrital do Porto
- 080 – Água do Lima no Capibaribe – Museu de Etnografia e História – Junta Distrital do Porto
- 081 – Visão do Folclore Nordestino – Museu de Etnografia e História – Junta Distrital do Porto
- 082 – Uma nota sobre o cachimbo inglês – Museu de Etnografia e História – Junta Distrital do Porto
- 083 – Folclore nos Autos Camoneanos – Museu de Etnografia e História – Junta Distrital do Porto
- 084 – Divórcio no talher – Museu de Etnografia e História – Junta Distrital do Porto
- 085 – A cozinha africana no Brasil – Publicações do Museu de Angola, Luanda, 1964
- 086 – Ancha es Castilla! – Academia de Ciências de Lisboa, 1967
- 087 – Três notas brasileiras – Junta Distrital de Lisboa, 1970
- 088 – Conferência (Tricentenário dos Guararapes) – Arquivo Público, Recife, 1949
- 089 – A função dos arquivos – Arquivo Público Estadual, Recife, 1956
- 090 – Desplantes – Revista do Arquivo Municipal – S.Paulo
- 091 – Paróquias do Rio Grande do Norte – Depto. Imprensa, Natal, 1955
- 092 – A família do Padre Miguelinho – Coleção Mossoroense, 1960
- 093 – Ateneu Norte-Riograndense – Coleção “Juvenal Lamartine”, Natal, 1961
- 094 – Breve História do Palácio da Esperança – Depto. Imprensa, Natal, 1961
- 095 – A vaquejada nordestina e sua origem – FJA, 1976
- 096 – Mitos brasileiros – Cadernos de Folclore n. 6, MEC, 1976
- 097 – Paliçadas e gases asfixiantes entre os indígenas da América do Sul – Ed. Biblioteca do Exército, 1961
- 098 – Versos (Lourival Açucena) – Typ. A República, Natal, 1927
- 099– A Carnaúba – in Revista Brasileira de Geografia, p. 159 – IBGE, 1964
- 100 – Alexander Von Humboldt – 1969
- 101 – Natal – (Revista Potyguar), 1939 – Coleção Mossoroense, 1991
- 102 – Caraúbas, Assu e Santa Cruz – (Revista Potiguar, 1938), Coleção Mossoroense, 1991
- 103 – Paróquias do Rio Grande do Norte – Depto. Imprensa, 1955 – Coleção Mossoroense, 1992
- 104 – Três poemas de Walt Whitman – Imprensa Oficial, Recife, 1957 – Coleção Mossoroense, 1992
- 105 – Mossoró e Moçoró – Coleção Mossoroense, 1991 – Consultando São João – Depto. Imprensa, Natal, 1949.
Mais plaquetes e outras publicações
- 106 – O mais antigo marco colonial do Brasil. 1934
- 107 – Intencionalidade no descobrimento do Brasil. Natal, 1935
- 108 – O homem americano e seus temas. Natal, 1935
- 109 – Uma interpretação da couvade. São Paulo, 1936
- 110 – Conversas sobre a hipoteca. São Paulo, 1936
- 111 – Os índios conheciam a propriedade privada. São Paulo, 1936
- 112 – O brasão holandês no Rio Grande do Norte. 1936
- 113 – Notas para a história do Ateneu. Natal, 1937
- 114 – O marquês de Olinda e o seu tempo. São Paulo, 1938
- 115 – Peixes no idioma tupi. Rio de Janeiro, 1938
- 116 – Governo do Rio Grande do Norte. Natal, 1939
- 117 – Informação de história e etnografia. Recife, 1940
- 118 – O nome potiguar. Natal, 1940
- 119 – O povo do Rio Grande do Norte. Natal, 1940
- 120 – As lendas de Estremoz. Natal, 1940
- 121 – Fanáticos da serra de João do Vale. Natal, 1941
- 122 – O presidente parrudo. Natal, 1941
- 123 – Seis mitos gaúchos. Porto Alegre, 1942
- 124 – Sociedade Brasileira de Folclore. 1942
- 125 – Lições etnográficas das Cartas Chilenas. São Paulo, 1943
- 126 – Antologia do folclore brasileiro. São Paulo, 1944
- 127 – Os melhores contos populares de Portugal. Rio de Janeiro, 1944
- 128 – Simultaneidade de ciclos temáticos afro-brasileiros. Porto, 1948
- 129 – Tricentenário de Guararapes. Recife, 1949
- 130 – Gorgoncion; estudo sobre amuletos. Madri, 1949
- 131 – Consultando São João. Natal, 1949
- 132 – Ermet Mell’Acaia e la consulta degli oracoli. Nápoles, 1949
- 133 – O folclore nos autos camponeanos. Natal, 1950
- 134 – Custódias com campainhas. Porto, 1951
- 135 – Conversa sobre direito internacional público. Natal, 1951
- 136 – Os velhos estremezes circenses. Porto, 1951
- 137 – Atirei um limão verde. Porto, 1951
- 138 – Com Dom Quixote no folclore brasileiro. Rio de Janeiro, 1952
- 139 – A mais antiga igreja do Seridó. Natal, 1952
- 140 – O fogo de 40. Natal, 1952
- 141 – O poldrinho sertanejo e os filhos do vizir do Egito. Natal, 1952
- 142 – Tradición de un cuento brasileño. Caracas, 1952
- 143 – História da imperatriz Porcina. Lisboa, 1952
- 144 – A origem da vaquejada do nordeste brasileiro. Porto, 1953
- 145 – Alguns jogos infantis no Brasil. Porto, 1953
- 146 – Casa dos surdos. Madri, 1953
- 147 – Contos de encantamento. 1954
- 148 – Contos exemplares. 1954
- 149 – No tempo em que os bichos falavam. 1954
- 150 – Comendo formigas. Rio de Janeiro, 1954
- 151 – Os velhos caminhos do Nordeste. Natal, 1954
- 152 – Cinco temas do Heptameron na literatura oral. Porto, 1954
- 153 – Pereira da Costa, folclorista. Recife, 1954.
- 154 – Lembrando Segundo Wanderley. Natal, 1955
- 155 – Notas sobre a paróquia de Nova Cruz. Natal, 1955
- 156 – Leges et consuetudines nos costumes nordestinos. Havana, 1955
- 157 – História do município de Santana do Matos. Natal, 1955
- 158 – Vida de Pedro Velho. Natal, 1956
- 159 – Comadre e compadre. Porto, 1956
- 160 – Tradições populares da pecuária nordestina. Rio de Janeiro, 1956
- 161 – Universidade e civilização. Natal, 1959
- 162 – A noiva de arraiolos. Madri, 1960
- 163 – Temas do Mireio no folclore de Portugal e Brasil. Lisboa, 1960
- 164 – Conceito sociológico do vizinho. Porto, 1960
- 165 – Etnografia e direito. Natal, 1961
- 166 – Grande fabulário de Portugal e Brasil. Lisboa, 1961
Livros sobre Câmara Cascudo
- 01 – Viagem ao Universo de Câmara Cascudo. Américo de Oliveira Costa, 1969.
- 02 – Luís da Câmara Cascudo: cinqüenta anos de vida intelectual; 1918-1968; bibliografia anotada. Zila Mamede, 1970.
- 03 – Uma Câmara vê Cascudo. Carlos Lyra.
- 04 – Luís da Câmara Cascudo – Sua vida e Sua obra. Homenagem do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, 1969. Editora Pongetti.
- 05 – Saturnino, Cascudo e o Clube dos Inocentes. José Melquíades de Macedo, 1992
- 06 – Lembranças do meu avô. Newton Cascudo Roberti Leite. Coleção Mossoroense – Série C – Volume 795
- – 1992
- 07 – Câmara Cascudo- um brasileiro feliz. Diógenes da Cunha Lima, 1978 (1ª edição), 1993 (2ª edição), 1998 (3ª edição).
- 08 – Luís da Câmara Cascudo- Bibliografia comentada; 1968-1995. Vânia Gicco, 1996.
- 09 – A presença de Câmara Cascudo em Goiás. Seleção e organização de Getúlio Araújo, 1998.
- 10 – Câmara Cascudo- Um Homem Chamado Brasil. Gildson Oliveira, 1998 – Editora Brasília Jurídico.
Memorial de Câmara Cascudo
O Memorial Câmara Cascudo representa uma homenagem do Governo do Estado ao mais eminente homem de letras, inteligência e cultura do Rio Grande do Norte com projeção internacional. A administração do Memorial é vinculada à Fundação José Augusto, órgão cultural do governo estadual. O prédio que desde 10 de fevereiro abriga o Memorial Câmara Cascudo foi construído em 1875 para abrigar a Tesouraria da Fazenda, no mesmo lugar onde existira o edifício do Real Erário, construído no século XVIII.
O Memorial tem como objetivo preservar e divulgar a vida e a obra de Luís da Câmara Cascudo, abordando diversos aspectos. O principal destaque é a biblioteca particular de Câmara Cascudo, com cerca de 10 mil volumes de diversos assuntos como folclore, religião, História, biografias e romances. A biblioteca é considerada “rara” por possuir obras do início do século passado e livros em diversos idiomas. Grande parte dos livros tem anotações de próprio punho de Cascudo e dedicatórias dos autores.
Além dos livros que compõem a biblioteca, encontram-se ainda as correspondências de Cascudo com diversos intelectuais como Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Carlos Drummond e Gilberto Freyre.
O Memorial abriga ainda a exposição permanente O Mestre Câmara Cascudo em um total de cinco salas que abordam aspectos estudados pelo mestre em sua vasta obra literária.
As duas primeiras salas são compostas por quadros com fotos que retratam passagens marcantes na vida de Câmara Cascudo.
As outras três salas abrigam o Estudo da cédula, com quadros indicando o estudo feito pelo Banco Central para o lançamento da cédula de cinqüenta mil cruzeiros (Cr$ 50.000) homenageando Câmara Cascudo; Arte popular, com mamulengos e peças feitas pelos artesãos Chico Santeiro, Neném e Chiquinha; e a Sala da magia, abordando temas como catimbó, Judas, sincretismo religioso, superstições e outros estudados por Cascudo.
No decorrer dos anos, Cascudo tem sido homenageado de várias maneiras. A mais tradicional tem sido dar seu nome a instituições ligadas à cultura. Aqui você vai conhecer um pouco do Memorial Câmara Cascudo, da biblioteca e do museu que levam seu nome e ainda terá uma oportunidade única: fazer uma visita à casa da “Junqueira Aires”, onde Cascudo viveu a maior parte de sua vida.
Muitas outras homenagens têm sido feitas a Câmara Cascudo: pelo governo federal, pela Caixa Econômica, pelos Correios, pela prefeitura de Natal, por empresas e particulares. Conheça mais algumas delas.
CÉDULA
Cascudo ilustrou a nota de Cr$ 50.000 na Era Collor.
Loteria
A Caixa Econômica também homenageou Câmara Cascudo.
Postal
Outra homenagem da Caixa Econômica.
Selo Homenagem dos correios no ano do Centenário.
Conta de Energia No mês do centenário, uma homenagem nas contas de energia
Conto de Câmara Cascudo
A Gulosa disfarçada
Um homem casou-se com uma excelente mulher, dona-de-casa arranjadeira e honrada, mas muito gulosa. Para disfarçar seu apetite, fingia-se sem vontade de alimentar-se sempre que o marido a convidava nas refeições. Apesar desse regime, engordava cada vez mais e o esposo admirava como alguém poderia viver com tão pouca comida. Uma manhã, resolveu certificar-se se a mulher comia em sua ausência. Disse que ia para o trabalho e escondeu-se em um lugar onde podia acompanhar os passos da esposa.
No almoço, viu-a fazer umas tapiocas de goma, bem grossas, molhadas no leite de coco, e comê-las todas, deliciada. Na merenda, mastigou um sem número de alfenins finos, branquinhos e gostosos. Na hora do jantar, matou um capão, ensopado em molho espesso, saboreando-o. À ceia, devorou um prato de macaxeiras, enxutinhas, acompanhando-as com manteiga.
Ao anoitecer, o marido apareceu, fingindo-se fatigado. Chovera o dia inteiro e o homem estava como se tivesse passado, como realmente passara, o dia à sombra. A mulher perguntou:
– Homem, como é que trabalhando na chuva você não se molhou?
O marido respondeu:
– Se a chuva fosse grossa como as tapiocas que você almoçou, eu teria vindo ensopado como o capão que você jantou. Mas como era fina como os alfenins que você merendou, eu fiquei enxuto como as macaxeiras que você ceou.
A mulher compreendeu que fora descoberta em seu disfarce e não mais escondeu o seu apetite ao marido.
Observamos que no título- A gulosa disfarçada – a seleção lexical para caracterizar a personagem como aquele que age pelo excesso e pelo dissimulado, já que gulosa e disfarçada. Sabe-se que a gula é considerada um dos grandes pecados do homem, pois o alimento, além de ser considerado sagrado, sua ingestão deve ser apenas o suficiente para saciar a fome regular; por outro lado, deve, também, ser dividido, tal como o repartir o pão, do preceito bíblico. Ser disfarçada rompe com regras sociais de todos os tempos, pois significa que há algo que não possa ser mostrado aos outros; isto é, um segredo, uma crença, uma mentira, um distúrbio de caráter. Do mesmo modo, qualquer que seja a falta disfarçada mostra que a personagem rompe com as normas daquela sociedade, cuja representação se dá na figura do marido, de quem deve esconder seu distúrbio, seu pecado e de quem espera a reprovação e o castigo.
Procurando atenuar tais características na mulher, observamos que ela é apresentada como sendo excelente mulher, dona-de-casa arranjadeira e honrada. Ou seja, as qualidades apresentadas são aquelas que indiciam o ideal de conduta feminina para aquela sociedade, sendo ela excelente como mulher, com os cuidados da casa, dando-lhe ordem e mantendo a honra. São três os adjetivos para reforçar tal ideal, significando compreender que essas são qualidades pelas quais as moças devem primar. Em contraposição, um único adjetivo – guloso – precedido de um intensificador – muito – e antecedido por um marcador argumentativo – mas – provoca a tensão na narrativa e transfere a atenção do ouvinte para o pólo negativo das condutas desta personagem. Este pólo será o ponto de referência para que, no conto, sejam construídos os argumentos que evidenciam o comportamento repreensivo da mulher, fato que traz ameaça ao papel do homem naquela estrutura social.
Na sequência da narrativa, apresenta-se a desconfiança do marido sobre a conduta da esposa, razão que o leva a mentir-lhe sobre ir ao trabalho, esconder-se e vigiá-la como objetivo de surpreendê-la em sua falta. Esse procedimento do marido faz-nos perceber o papel do homem que se vê no direito, senão na obrigação, de vigiar a mulher a fim de que possa corrigir-lhe a falta. Essa passagem atesta-nos que, realmente, por tais crenças, o homem tem o dever de vigiar os atos da esposa e, mais ainda, o poder de praticar ações de controle sobre ela. Note-se que nada de negativo é enunciado sobre a conduta do marido que mentiu, faltou ao trabalho, vigiou os passos da esposa, e quando retorna a casa ao final do dia fingiu-se fatigado. Todos esses procedimentos remetem-se a marcos de cognições sociais que corroboram as atitudes do marido, que são acatadas pela sociedade, expressos por um discurso, em cujo enunciado, nada há que aponte para o seu inverso.
No decorrer da narrativa, as qualidades primeiras, pelas quais a mulher fora apresentada, não mais são mencionadas; pelo contrário, a sequência narrativa traz todos os atos da mulher que reforçam o ser gulosa. Em todas as refeições, ela se farta com as mais preciosas iguarias, sempre em quantidades tão exageradas que não seria normal a qualquer ser humano, muito menos a uma mulher: viu-a fazer umas tapiocas de goma, bem grossas, molhadas no leite de coco, e comê-las todas, deliciada. Na merenda, mastigou um sem número de alfenins finos, branquinhos e gostosos. Na hora do jantar, matou um capão, ensopado em molho espesso, saboreando-o. À ceia, devorou um prato de macaxeiras, enxutinhas, acompanhando-as com manteiga.
Ao final da narrativa, após o marido revelar a descoberta do segredo da esposa e seus disfarces, a mulher é apresentada como aquela que compreende ter sido descoberta em seu disfarce e não mais escondeu seu apetite ao marido. O modo como esse enunciado finaliza a narrativa permite compreender que o papel do marido está moldado pela autoridade que lhe é atribuída pelas coerções coletivas, que o institucionalizam como aquele que tem o poder de, em nome das regras e dos valores dessa sociedade, sancionar, controlar o comportamento da esposa.
Autor: Rodrigo Dias Alves
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