Saúde e Doença Mental
Explore a complexidade da saúde mental, suas manifestações e tratamentos. Aprenda sobre a importância do suporte psicológico e as diferentes abordagens para lidar com doenças mentais.
INTRODUÇÃO
Neste trabalho, relata-se a abordagem sobre doenças mentais em crianças, adolescentes e adultos, e a contribuição da psicanálise, além de uma breve história da loucura ao longo do tempo.
A pesquisa abrangeu todos os tipos de literatura disponíveis, possibilitando um aprofundamento maior no assunto.
O indivíduo possui diversas características que se mostram aparentes, mas, devido à falta de conhecimento ou ignorância, não são interligadas como uma doença mental, por apresentarem um quadro patológico diferente do esperado para a caracterização da doença. Apenas quando há uma manifestação com um alto grau é que as pessoas percebem o quanto o ente próximo estava doente e precisando de um tratamento adequado.
Neste trabalho, está sendo dada uma ênfase maior nas neuroses e um de seus tratamentos de choque, não se aprofundando em outros tipos de tratamento existentes e aplicados pelos profissionais da psicologia.
SAÚDE OU DOENÇA MENTAL
Em alguns momentos da vida, uma pessoa pode viver situações difíceis em que nada dá certo ou ocorre a perda de um bem, levando-a a perder o controle sobre si mesma, a enlouquecer e não perceber a necessidade de pedir ajuda ou resolver sozinha tal situação. Porém, nem todas as situações de sofrimento requerem ajuda psicoterápica.
A pessoa busca a superação desse sofrimento, o restabelecimento de sua organização pessoal e de seu equilíbrio, retornando à sua rotina diária, fazendo as coisas de forma natural, sem insônias, crises de choro, fobias, etc. É necessário ter muito cuidado para não patologizar o sofrimento, pois essas situações são vividas em alguns momentos da nossa vida, em que necessitamos do apoio da família, dos amigos e do trabalho para a superação dessas dificuldades. Apesar de que, algumas vezes, precisamos do apoio de um profissional para nos dar suporte e facilitar a compreensão dos conteúdos internos que causam o transtorno, de forma a reorganizá-lo.
Neste modo de relatar e compreender o sofrimento psíquico, fica claro que o critério de avaliação é o próprio indivíduo e seu mal-estar psicológico, isto é, ele em relação a si próprio e à sua estrutura psicológica, e não o critério de adaptação ou desadaptação social. Embora o sofrimento psicológico possa levar à desadaptação social, e esta possa determinar uma ordem de distúrbios psíquicos, nem sempre pode-se estabelecer uma relação de causas e efeitos. Alguns indivíduos que sofrem e estão perfeitamente adaptados continuam a responder a todas as expectativas sociais e a cumprir com todas as suas responsabilidades, enquanto outros podem ser desadaptados, excêntricos, diferentes e não estarem sem nenhum mal-estar ou sofrimento no momento.
Abordar a questão da doença mental significa considerá-la como produto das interações das condições de vida social com a trajetória específica do indivíduo e sua estrutura psíquica. As condições externas podem ser determinantes ou desencadeadoras da doença mental ou propiciadoras e promotoras da saúde mental, isto é, da possibilidade de realização pessoal do indivíduo em todos os aspectos de sua capacidade.
Os sintomas de fobia, desarticulação lógica, conversas com o imaginário, excesso de euforia e depressão quase simultânea, etc., podem ser agrupados de diferentes formas, sendo identificados em quadros clínicos que recebem um nome, por exemplo: neurose, anorexia, distúrbio obsessivo-compulsivo, psicose, síndrome do pânico, psicastenia, etc. Para mais informações sobre sintomas e tratamentos, veja este artigo sobre Enxaqueca Abdominal.
Muitas alternativas para tratar a dor psíquica foram experimentadas ao longo da história.
Quem melhor contribuiu com o conceito de doença mental a partir da constituição histórica, baseada em documentos encontrados em arquivos de prisão, hospitais e hospícios, foi o francês Michel Foucault (1926-1984), que, através de sua contribuição, proporcionou uma melhor compreensão.
Seu trabalho começou pelo Renascimento (século XVI), período em que o louco vivia “solto, errante, expulso das cidades, entregue aos peregrinos e navegantes”. O louco era tido como “tendo um saber esotérico sobre os homens e o mundo, um saber cósmico que revela verdades secretas”, e a loucura significava “ignorância, ilusão, desregramento de conduta, desvio moral, pois o louco toma o erro como verdade, a mentira como realidade”, passando a ser visto como oposição à razão, esta entendida como instância da verdade e moralidade.
Na Idade Média e no Renascimento, raramente os loucos eram internados em hospitais, mas, nos casos em que isso acontecia, eram tratados de forma convencional como os outros doentes e recebiam o mesmo tratamento, como sangrias, purgações, ventosas e banhos.
Na Época Clássica (séculos XVII e XVIII), os critérios utilizados para o diagnóstico ainda não eram médicos, mas sim a percepção das instituições como a igreja, a justiça e a família. Os critérios eram referentes às transgressões da lei e da moralidade, apesar da busca pela construção do conhecimento médico em relação à loucura, pois a medicina da época era baseada na história natural e seu método classificatório não conseguia abranger a complexidade de manifestações da loucura.
Em 1656, em Paris, na França, foi criada a primeira instituição assistencial, o Hospital Geral, que internava uma população heterogênea, agrupada em quatro grupos distintos: os devassos (doentes venéreos), os feiticeiros (profanadores), os libertinos e os loucos, que, apesar de não serem considerados doentes, integravam um conjunto composto por todos os segregados da sociedade, cujo critério de exclusão era baseado na inadequação do indivíduo à vida social.
Na segunda metade do século XVIII, iniciaram-se as reflexões médicas e filosóficas que situavam a loucura como algo que ocorria no interior do próprio homem, como perda da natureza própria do homem, alienação.
Segundo proposta de Foucault, a Modernidade ficaria compreendida no final do século XVIII com o início do século XIX, com a criação da primeira instituição exclusiva para loucos, o asilo, pois achavam injusto a convivência do mesmo com os demais presos, cujos métodos terapêuticos eram a religião, o medo, a culpa, o trabalho, a vigilância e o julgamento. A ação da psiquiatria era moral e social, voltada para a normatização do louco, que era concebido como capaz de se recuperar.
Inicia-se a medicalização. A cura da doença mental ocorreria a partir de uma liberdade vigiada e no isolamento, que foi fundamental para o surgimento da psiquiatria.
A psiquiatria clássica considera os sintomas um distúrbio orgânico, ou seja, a doença mental é igual a doença cerebral e sua origem é endógena, dentro do organismo, referente a alguma lesão de natureza anatômica ou distúrbio fisiológico cerebral. Na química da loucura, algum distúrbio ou anomalia da estrutura ou funcionamento cerebral leva a distúrbios do comportamento, da afetividade, do pensamento, etc. O sintoma apoia-se e tem origem no orgânico, por isso existem mapas cerebrais que localizam em cada área cerebral funções sensoriais, motoras, afetivas e de intelecção.
Os quadros patológicos são descritos conforme seus distúrbios apresentados, como por exemplo: a psicastenia é caracterizada por esgotamento nervoso, com traços de fadiga mental, impotência diante do esforço, inserção difícil no real, cefaleias, distúrbios gastrointestinais, inquietude e tristeza. A doença mental orgânica é tratada com medicamentos e produtos químicos, além de poderem ser usados os eletrochoques, os choques insulínicos e o internamento psiquiátrico para uma administração controlada e intensiva de medicamentos.
A discussão da normalidade e da patologia passa necessariamente pela contribuição de Freud para a questão. A psicanálise define que a distinção entre o normal e o anormal é uma questão de grau e não de natureza, pois, em ambos existem as mesmas estruturas de personalidade e de conteúdos, que, dependendo da ativação, são responsáveis pelos distúrbios no indivíduo, ou seja, as estruturas neuróticas e psicóticas.
Freud tomou a terminologia da psiquiatria clássica do século XIX e definiu os quadros clínicos assim:
Neurose – “os sintomas (distúrbios do comportamento, das ideias ou dos sentimentos) são a expressão simbólica de um conflito psíquico que tem suas raízes na história infantil do indivíduo”, ou seja, todas as formas de manifestação da neurose têm sua origem na vida infantil, mesmo quando se manifestam mais tarde, desencadeadas por vivências, situações conflitivas, etc.
Neurose obsessiva – o indivíduo possui comportamentos compulsivos.
Neurose fóbica ou histeria de angústia – em que o sintoma central é a fobia, o medo.
Neurose histérica ou histeria de conversão – o conflito psíquico simboliza-se nos sintomas corporais de modo ocasional, isto é, como crises.
Neurose traumática – cujos sintomas aparecem após um choque emotivo do indivíduo, ligado a uma experiência em que ele correu risco de vida.
Psicose – é o termo usado até meados do século XIX para se referir de modo geral à doença mental. Para a Psicanálise, refere-se a uma perturbação intensa do indivíduo em relação com a realidade. Na psicose, acontece uma ruptura entre o ego e a realidade, ficando o ego sob o domínio do id, isto é, dos impulsos. Posteriormente, na evolução da doença, o ego reconstrói a realidade de acordo com os desejos do id.
As psicoses se dividem em:
Paranóia – é uma psicose que se caracteriza por um delírio mais ou menos sistematizado, articulado sobre um ou vários temas. Não existe deterioração da capacidade intelectual. Aqui se incluem os delírios de perseguição e de grandeza.
Esquizofrenia – caracteriza-se por afastamento da realidade – o indivíduo entra num processo de centramento em si mesmo, no seu mundo interior, ficando, progressivamente, entregue às próprias fantasias. Manifesta incoerência ou desagregação do pensamento, das ações e da afetividade. Os delírios são acentuados e mal sistematizados. A característica fundamental da esquizofrenia é ser um quadro progressivo, que leva a uma deterioração intelectual e afetiva.
Mania e melancolia ou psicose maníaco-depressiva – caracteriza-se pela oscilação entre o estado de extrema euforia (mania) e estados depressivos (melancolia). Na depressão, o indivíduo pode negar-se ao contato com o outro, não se preocupar com cuidados pessoais (higiene, apresentação pessoal) e pode mesmo, em casos graves, buscar o suicídio.
NEUROSES
“Um dos efeitos do medo é perturbar os sentidos e fazer com que as coisas não pareçam o que são.” Miguel de Cervantes.
O medo patológico se diferencia do normal por não ter causa objetiva ou base na realidade e provocar uma aflição desmedida. Do ponto de vista das correntes psicanalistas europeias, em que a abordagem privilegia a história social, ela é apenas a expressão de uma angústia mais profunda, não sendo considerada uma doença em si; já nos Estados Unidos, predomina a visão cientificista, onde tentam delimitar as áreas do cérebro responsáveis pelo medo, ministrando drogas com tratamentos derivados da psicologia comportamental, inclusive com grande ressonância entre os médicos brasileiros.
O pavor pode apresentar-se como fobia específica (pavor de animais, de escuridão, de água etc.), fobia social (da qual o horror de falar em público é o exemplo mais popular) e sob a forma de ataques de pânico – em que o paciente passa a ser acometido de uma hora para outra de sintomas físicos terríveis, sem que saiba identificar exatamente o que o ameaça. Há pessoas que desenvolvem medos doentios, sem nunca ter passado por experiências traumáticas diretamente relacionadas a eles. Os seguidores de Freud enfatizam que o desequilíbrio na química do cérebro não é causa de doença, mas consequência.
O medo patológico, em suas diferentes formas e intensidades, afeta 18% dos habitantes de Brasília, 11% dos de São Paulo e 9% dos moradores de Porto Alegre.
As fobias e transtornos de pânico estão relacionados, em boa parte das vezes, a quadros de ansiedade, angústia e depressão, verdadeiros flagelos da modernidade. Esses distúrbios afetam duas vezes mais as mulheres do que os homens. Em suas manifestações mais agudas, elas são altamente limitantes e quase sempre expõem a vexames de toda ordem, como por exemplo, uma pessoa pode se recusar a morar ou a trabalhar em andar alto devido ao medo de elevador, o que se torna um grande problema devido à verticalização urbana; ou então segurar a mão de uma pessoa desconhecida no avião, ou às vezes uma crise de choro ou enjoo mesmo antes da aeronave decolar; suar frio pela necessidade de dirigir um carro, principalmente nos dias de hoje em que o transporte coletivo não atende às nossas necessidades. A fobia social grave, por seu turno, transforma o cotidiano em um pesadelo. Quem sofre do distúrbio é incapaz de conversar com o chefe, trocar opiniões com os colegas de trabalho ou expor suas ideias numa reunião. Muitos fóbicos sociais também não conseguem comer em público.
O ataque ocorre sem aviso prévio, em situações comuns como no trabalho, numa festa, na escola, no carro, etc., e a pessoa começa a tremer, é tomada pela tontura, a pressão arterial dispara, o coração bate descompassado, sendo que os sintomas são parecidos com os de um infarto, adquirindo os contornos de uma morte iminente.
Depois da primeira crise e da batelada de exames efetuados, sem a constatação de qualquer problema, as crises continuam, e um dos piores aspectos do pânico é o “medo de ter medo”, pois a pessoa fica apavorada com a ideia da volta dos sintomas e passa a fugir dos ambientes em que ocorreram os ataques, como se tal atitude pudesse evitá-los, e às vezes radicalizam trancafiando-se em casa. Nas crises, podem ocorrer pensamentos confusos e a pessoa achar que está ficando louca, também não conseguem engolir, ter a sensação de afogamento na banheira na hora do banho.
As drogas existentes hoje não curam por completo as fobias, apenas controlam a intensidade dos sintomas, sendo mais eficazes quando estão associadas a terapias.
TRATAMENTOS PSICOLÓGICOS DE CHOQUE
TIPO INDICAÇÃO COMO FUNCIONA
TERAPIA COMPORTAMENTAL FOBIAS EM GERAL – A técnica básica consiste em expor gradualmente o paciente à situação que lhe causa medo, a fim de que possa superá-lo.
TERAPIA COGNITIVA FOBIA SOCIAL – O paciente é levado a analisar racionalmente seus medos, comparando os dados da realidade com suas ideias pessimistas. O paciente é estimulado a enfrentar as situações que lhe dão angústia, de forma semelhante ao que acontece na terapia comportamental.
TERAPIA INTEROCEPTIVA TRANSTORNOS DE PÂNICO – Estimula-se o paciente a deflagrar em si mesmo os sintomas físicos do pânico, como vertigens, tonturas, falta de ar, taquicardia. O propósito é ensinar uma técnica de respiração abdominal que ajuda a controlar essas sensações ruins. Para provocar uma tontura, o paciente pode ser colocado numa cadeira giratória, que é movimentada com rapidez. Quando atinge um estado semelhante ao que experimenta nos ataques de pânico, ele deve começar a respirar pelo nariz, de forma lenta e profunda, a fim de que o ar chegue ao abdome. Em seguida, deve expirar vagarosamente pela boca. A técnica não cura, mas pode atenuar em até 50% a incidência dos sintomas do pânico. Além disso, ao perceber que durante uma crise ele possui algum controle sobre seu corpo, o paciente adquire mais confiança e acaba por temer menos as situações que detonam o ataque.
CONCLUSÃO
Trata-se efetivamente de um estudo complexo e que, para os leigos, não existe distinção entre a neurose e a psicose, sendo que todos os tipos de doenças mentais, o povo de modo geral, associa como uma psicose e, dependendo do grau de instrução e de ignorância, pode achar que esses tipos de doenças sejam inexistentes, apenas “frescura” de quem as tem. O trabalho teve como finalidade mostrar esses vários tipos de doença mental e um de seus tratamentos de choque e o quanto essa doença afeta uma parte considerável da população de Brasília, onde estão concentrados a grande maioria dos órgãos públicos federais e sofrem todo tipo de pressão psicológica, tendo como um de seus efeitos a apresentação de doenças mentais.
Apenas quando o povo tem consciência da gravidade do problema é que encaminha o seu doente para tratamento, mudando seus hábitos e sua cultura na forma de ver o problema.
Apesar de muitas críticas sobre o papel fundamental do psicólogo na busca da solução da problemática das doenças mentais, o profissional é visto de modo deturpado pela sociedade, principalmente como praticante do charlatanismo ou um repressor, que não mede esforços para chegar ao seu objetivo final, mas que aos poucos está tomando uma nova feição, devido às várias reportagens sobre a doença e a sua busca da solução pelos profissionais da psicologia.
BIBLIOGRAFIA:
REVISTA VEJA EDIÇÃO 1688, ANO 34, Nº7 DE 21/02/2001, p.104-111.
SAÚDE OU DOENÇA MENTAL
INTRODUÇÃO
Neste trabalho, relata-se a abordagem sobre doenças mentais e a contribuição da psicanálise, e uma breve história da loucura ao longo do tempo.
A pesquisa abrangeu todos os tipos de literatura disponíveis, possibilitando um aprofundamento maior no assunto.
O indivíduo possui diversas características que se mostram aparentes, mas, devido à falta de conhecimento ou ignorância, não são interligadas como uma doença mental, por apresentarem um quadro patológico diferente do esperado para a caracterização da doença, pois, apenas quando há uma manifestação com um alto grau que as pessoas percebem o quanto o ente próximo estava doente e precisando de um tratamento adequado.
Neste trabalho, está sendo dada uma ênfase maior nas neuroses e um de seus tratamentos de choque, não se aprofundando em outros tipos de tratamento existentes e aplicados pelos profissionais da psicologia.
SAÚDE OU DOENÇA MENTAL
Em alguns momentos da vida, uma pessoa pode viver momentos e situações difíceis em que nada dá certo ou ocorre a perda de um bem, que vai perder o controle sobre si mesma, que vai enlouquecer e não percebe a necessidade de pedir ajuda e/ou resolver sozinho tal situação, porém nem todas as situações de sofrimento que requerem ajuda psicoterápica.
A pessoa busca a superação desse sofrimento, o restabelecimento de sua organização pessoal e de seu equilíbrio, retornando à sua rotina diária, fazendo as coisas de forma natural, em que não tinha insônias, crises de choro, fobias, etc. É necessário ter muito cuidado para não patologizar o sofrimento, pois essas situações são vividas em alguns momentos da nossa vida, em que necessitamos do apoio da família, dos amigos e do trabalho para a superação dessas dificuldades, apesar de que, algumas vezes, precisamos do apoio de um profissional para nos dar suporte e facilitar a compreensão dos conteúdos internos que causam o transtorno, de forma a reorganizá-lo.
Neste modo de relatar e compreender o sofrimento psíquico, fica claro que o critério de avaliação é o próprio indivíduo e seu mal-estar psicológico, isto é, ele em relação a si próprio e à sua estrutura psicológica, e não o critério de adaptação ou desadaptação social, embora o sofrimento psicológico possa levar à desadaptação social e esta possa determinar uma ordem de distúrbios psíquicos, porém nem sempre pode-se estabelecer uma relação de causas e efeitos, de maneira que, alguns indivíduos que sofrem e estão perfeitamente adaptados continuam a responder a todas as expectativas sociais e cumprir com todas as suas responsabilidades, e ao mesmo tempo, pode-se encontrar um outro indivíduo desadaptado, excêntrico, diferente e que não esteja sem nenhum mal-estar ou sofrimento no momento.
Abordar a questão da doença mental significa considerá-la como produto das interações das condições de vida social com a trajetória específica do indivíduo e sua estrutura psíquica. As condições externas podem ser determinantes ou desencadeadoras da doença mental ou propiciadoras e promotoras da saúde mental, isto é, da possibilidade de realização pessoal do indivíduo em todos os aspectos de sua capacidade.
Os sintomas de fobia, desarticulação lógica, conversas com o imaginário, excesso de euforia e depressão quase simultânea, etc. podem ser agrupados de diferentes formas, sendo identificados em quadros clínicos que recebem um nome, por exemplo: neurose, anorexia, distúrbio obsessivo-compulsivo, psicose, síndrome do pânico, psicastenia, etc. Para mais informações sobre distúrbios e suas manifestações, veja este artigo sobre Migrânea na Infância e Adolescência.
Muitas alternativas para tratar a dor psíquica foram experimentadas ao longo da história.
Quem melhor contribuiu com o conceito de doença mental a partir da constituição histórica, baseada em documentos encontrados em arquivos de prisão, hospitais e hospícios, foi o francês Michel Foucault (1926-1984), que através da sua contribuição proporcionou uma melhor compreensão.
Seu trabalho começou pelo Renascimento (século XVI), período em que o louco vivia “solto, errante, expulso das cidades, entregue aos peregrinos e navegantes”. O louco era tido como “tendo um saber esotérico sobre os homens e o mundo, um saber cósmico que revela verdades secretas”, e a loucura significava “ignorância, ilusão, desregramento de conduta, desvio moral, pois o louco toma o erro como verdade, a mentira como realidade”, passando a ser visto como oposição à razão, esta entendida como instância da verdade e moralidade.
Na Idade Média e no Renascimento raramente os loucos eram internados em hospitais, mas nos casos acontecidos eram tratados de forma convencional como os outros doentes e recebiam o mesmo tratamento como: sangrias, purgações, ventosas e banhos.
Na Época Clássica (séculos XVII e XVIII), os critérios utilizados para o diagnóstico ainda não eram médicos e sim à percepção das instituições como a igreja, a justiça e a família e os critérios eram referentes às transgressões da lei e da moralidade, apesar da busca da construção do conhecimento médico em relação à loucura, pois a medicina da época era baseada na história natural e seu método classificatório que não conseguia abranger a complexidade de manifestações da loucura.
Em 1656, em Paris na França, foi criada a primeira instituição assistencial, o Hospital Geral, que internava uma população heterogênea, agrupada em quatro grupos distintos: os devassos (doentes venéreos), os feiticeiros (profanadores), os libertinos e os loucos, que apesar de não ser considerado como doente integrava um conjunto compostos por todos os segregados da sociedade, cujo critério de exclusão era baseado na inadequação do indivíduo à vida social.
Na segunda metade do século XVIII iniciaram-se as reflexões médicas e filosóficas que situavam a loucura como algo que ocorria no interior do próprio homem, como perda da natureza própria do homem, alienação.
Segundo proposta de Foucault a Modernidade ficaria compreendida no final do século XVIII com o início do século XIX, com a criação da primeira instituição exclusiva para loucos, o asilo, pois achavam injusto a convivência do mesmo com os demais presos, cujos métodos terapêuticos eram a religião, o medo, a culpa, o trabalho, a vigilância, o julgamento. A ação da psiquiatria era moral e social, voltada para a normatização do louco, que era concebido como capaz de se recuperar.
Inicia-se a medicalização. A cura da doença mental ocorreria a partir de uma liberdade vigiada e no isolamento, que foi fundamental para o surgimento da psiquiatria.
A psiquiatria clássica considera os sintomas um distúrbio orgânico, ou seja, a doença mental é igual a doença cerebral e sua origem é endógena, dentro do organismo, referente a alguma lesão de natureza anatômica ou distúrbio fisiológico cerebral, na química da loucura, de forma que algum distúrbio ou anomalia da estrutura ou funcionamento cerebral leva a distúrbios do comportamento, da afetividade, do pensamento, etc. O sintoma apoia-se e tem origem no orgânico, por isso existem mapas cerebrais que localizam em cada área cerebral funções sensoriais, motoras, afetivas, de intelecção.
Os quadros patológicos são descritos conforme seus distúrbios apresentados como exemplo: a psicastenia é caracterizada por esgotamento nervoso, com traços de fadiga mental, impotência diante do esforço, inserção difícil no real, cefaléias, distúrbios gastrointestinais, inquietude, tristeza. A doença mental orgânica é tratada com medicamentos e produtos químicos, além de poderem ser usados os eletrochoques, os choques insulínicos e o internamento psiquiátrico para uma administração controlada e intensiva de medicamentos.
A discussão da normalidade e da patologia passa necessariamente pela contribuição de Freud para a questão. A psicanálise define que a distinção entre o normal e o anormal é uma questão de grau e não de natureza, pois, em ambos existem as mesmas estruturas de personalidade e de conteúdos, que a depender da ativação, são responsáveis pelos distúrbios no indivíduo, ou seja, as estruturas neuróticas e psicóticas.
Freud tomou a terminologia da psiquiatria clássica do século XIX e definiu os quadros clínicos assim:
Neurose – “os sintomas (distúrbios do comportamento, das idéias ou dos sentimentos) são a expressão simbólica de um conflito psíquico que tem suas raízes na história infantil do indivíduo”, ou seja, todas as formas de manifestação da neurose têm sua origem na vida infantil, mesmo quando se manifestam mais tarde, desencadeadas por vivências, situações conflitivas, etc.
Neurose obsessiva – o indivíduo possui comportamentos compulsivos.
Neurose fóbica ou histeria de angústia – em que o sintoma central é a fobia, o medo.
Neurose histérica ou histeria de conversão – o conflito psíquico simboliza-se nos sintomas corporais de modo ocasional, isto é, como crises.
Neurose traumática – cujos sintomas aparecem após um choque emotivo do indivíduo, ligado a uma experiência em que ele correu risco de vida.
Psicose – é o termo usado até meados do século 19 para se referir de modo geral, à doença mental. Para a Psicanálise, refere-se a uma perturbação intensa do indivíduo em relação com a realidade. Na psicose, acontece uma ruptura entre o ego e a realidade, ficando o ego sob o domínio do id, isto é, dos impulsos. Posteriormente, na evolução da doença, o ego reconstrói a realidade de acordo com os desejos do id.
As psicoses se dividem em:
Paranóia – é uma psicose que se caracteriza por um delírio mais ou menos sistematizado, articulado sobre um ou vários temas. Não existe deterioração da capacidade intelectual. Aqui se incluem os delírios de perseguição, de grandeza.
Esquizofrenia – caracteriza-se por afastamento da realidade – o indivíduo entra num processo de centramento em si mesmo, no seu mundo interior, ficando, progressivamente, entregue às próprias fantasias. Manifesta incoerência ou desagregação do pensamento, das ações e da afetividade. Os delírios são acentuados e mal sistematizados. A característica fundamental da esquizofrenia é ser um quadro progressivo, que leva a uma deterioração intelectual e afetiva.
Mania e melancolia ou psicose maníaco-depressiva – caracteriza-se pela oscilação entre o estado de extrema euforia (mania) e estados depressivos (melancolia). Na depressão, o indivíduo pode negar-se ao contato com o outro, não se preocupa com cuidados pessoais (higiene, apresentação pessoal) e pode mesmo, em casos graves, buscar o suicídio.
NEUROSES
“Um dos efeitos do medo é perturbar os sentidos e fazer com que as coisas não pareçam o que são.” Miguel de Cervantes.
O medo patológico se diferencia do normal por não ter causa objetiva ou base na realidade e provocar uma aflição desmedida. Do ponto de vista das correntes psicanalistas européias, em que a abordagem privilegia a história social, ela é apenas a expressão de uma angústia mais profunda, não sendo considerada uma doença em si; já nos Estados Unidos predomina a visão cientificista, onde tentam delimitar as áreas do cérebro responsáveis pelo medo, ministrando drogas com tratamentos derivados da psicologia comportamental, inclusive com grande ressonância entre os médicos brasileiros.
O pavor pode apresentar-se como fobia específica (pavor de animais, de escuridão, de água etc.), fobia social (da qual o horror de falar em público é o exemplo mais popular) e sob a forma de ataques de pânico – em que o paciente passa a ser acometido de uma hora para outra de sintomas físicos terríveis, sem que saiba identificar exatamente o que a ameaça. Há pessoas que desenvolvem medos doentios, sem nunca ter passado por experiências traumáticas diretamente relacionadas a eles. Os seguidores de Freud enfatizam que o desequilíbrio na química do cérebro não é causa de doença, mas consequência.
O medo patológico, em suas diferentes formas e intensidade, afeta 18% dos habitantes de Brasília, 11% dos de São Paulo e 9% dos moradores de Porto Alegre.
As fobias e transtornos de pânico estão relacionados em boa parte das vezes a quadros de ansiedade, angústia e depressão, verdadeiros flagelos da modernidade. Esses distúrbios afetam duas vezes mais as mulheres do que os homens. Em suas manifestações mais agudas, elas são altamente limitantes e quase sempre expõem a vexames de toda ordem como exemplo uma pessoa pode se recusar a morar ou a trabalhar em andar alto devido ao medo de elevador, o que se torna um grande problema devido à verticalização urbana; ou então segurar a mão de uma pessoa desconhecida no avião ou às vezes uma crise de choro ou enjoo mesmo antes da aeronave decolar; suar frio pela necessidade de dirigir um carro, principalmente nos dias de hoje em que o transporte coletivo não atende às nossas necessidades. A fobia social grave, por seu turno, transforma o cotidiano em um pesadelo. Quem sofre do distúrbio é incapaz de conversar com o chefe, trocar opiniões com os colegas de trabalho ou expor suas ideias numa reunião. Muitos fóbicos sociais também não conseguem comer em público.
O ataque ocorre sem aviso prévio, em situações comuns como no trabalho, numa festa, na escola, no carro, etc., e a pessoa começa a tremer, é tomada pela tontura, a pressão arterial dispara, o coração bate descompassado, sendo que os sintomas são parecidos com os de um infarto, adquirindo os contornos de uma morte iminente.
Depois da primeira crise e da batelada de exames efetuados, sem a constatação de qualquer problema, as crises continuam, e um dos piores aspectos do pânico é o “medo de ter medo”, pois a pessoa fica apavorada com a ideia da volta dos sintomas e passa a fugir dos ambientes em que ocorreram os ataques, como se tal atitude pudesse evitá-los, e às vezes radicalizam trancafiando-se em casa. Nas crises podem ocorrer pensamentos confusos e a pessoa achar que está ficando louca, também não conseguem engolir, ter a sensação de afogamento na banheira na hora do banho.
As drogas existentes hoje não curam por completo as fobias, apenas controlam a intensidade dos sintomas, sendo mais eficazes quando estão associadas com terapias.
TRATAMENTO PSICOLÓGICOS DE CHOQUE
TIPO INDICAÇÃO COMO FUNCIONA
TERAPIA COMPORTAMENTAL FOBIAS EM GERAL – A técnica básica consiste em expor gradualmente o paciente a situação que lhe causa medo, a fim de que possa superá-lo.
TERAPIA COGNITIVA FOBIA SOCIAL – O paciente é levado a analisar racionalmente seus medos, comparando os dados da realidade com suas ideias pessimistas. O paciente é estimulado a enfrentar as situações que lhe dão angústias, de forma semelhante ao que acontece na terapia comportamental.
TERAPIA INTEROCEPTIVA TRANSTORNOS DE PÂNICO – Estimula-se o paciente a deflagrar em si mesmo os sintomas físicos do pânico, como vertigens, tonturas, falta de ar, taquicardia. O propósito é ensinar uma técnica de respiração abdominal que ajuda a controlar essas sensações ruins. Para provocar uma tontura, o paciente pode ser colocado numa cadeira giratória, que é movimentada com rapidez. Quando atinge um estado semelhante ao que experimenta nos ataques de pânico, ele deve começar a respirar pelo nariz, de forma lenta e profunda, a fim de que o ar chegue ao abdome. Em seguida, deve expirar vagarosamente pela boca. A técnica não cura, mas pode atenuar em até 50% a incidência dos sintomas do pânico. Além disso, ao perceber que durante uma crise ele possui algum controle sobre seu corpo, o paciente adquire mais confiança e acaba por temer menos as situações que detonam o ataque.
CONCLUSÃO
Trata-se efetivamente de um estudo complexo e que para os leigos não existe distinção entre a neurose e a psicose, sendo que, todos os tipos de doenças mentais, o povo de modo geral, associa como uma psicose e a depender do grau de instrução e de ignorância pode achar que esses tipos de doenças sejam inexistentes, apenas, “frescura” de quem a tem. O trabalho teve como finalidade mostrar esses vários tipos da doença mental e um de seus tratamentos de choque e o quanto essa doença afeta uma parte considerável da população de Brasília, onde estão concentrados a grande maioria dos órgãos públicos federal e sofrem todo tipo de pressão psicológica, tendo como um de seus efeitos a apresentação de doenças mentais.
Apenas quando o povo tem consciência da gravidade do problema é que encaminha o seu doente para tratamento, mudando seus hábitos e sua cultura na forma de ver o problema.
Apesar de muitas críticas sobre o papel fundamental do psicólogo na busca da solução da problemática das doenças mentais, o profissional é visto de modo deturpado pela sociedade, principalmente como praticante do charlatanismo ou um repressor, que não mede esforços para chegar ao seu objetivo final, mas que aos poucos está tomando uma nova feição, devido às várias reportagens sobre a doença e a sua busca da solução pelos profissionais da psicologia.
BIBLIOGRAFIA:
REVISTA VEJA EDIÇÃO 1688, ANO 34, Nº7 DE 21/02/2001, p.104-111.
Autor: Valdir S. Conceição