Resenha do Livro: Psicologia da Educação, Análise Crítica
Uma análise crítica das principais ideias e conceitos da Psicologia da Educação, explorando como essa área pode ajudar a entender o comportamento, a motivação e as emoções relacionadas ao ensino.
Subsídios para a Compreensão das Representações do Indivíduo na Sociedade Capitalista
Digesto:
Compreensão do indivíduo-sociedade, movimento real das relações sociais capitalistas de produção e a sua gênese.
As relações sociais de produção estabelecidas nos diversos momentos da nossa história tinham, no início, a função precípua de satisfazer as necessidades básicas da coletividade. Com o desenvolvimento das forças produtivas e a evolução de diferentes modos de produção, essas relações se complexificaram e adquiriram a configuração de relações sociais de produção entre capital e trabalho no modo de produção capitalista.
Para suprir suas necessidades de subsistência, os homens permaneciam vinculados às famílias e às tribos. Essa reunião dos indivíduos em grupos, tribos e clãs foi a maneira originária encontrada pelos homens para transformarem a natureza e constituírem sua vida social. A coletividade tribal é uma forma natural de organização em sociedade.
No modo de produção asiático, verifica-se a existência de uma entidade acima das famílias e dos aldeões, como uma espécie de déspota que se apropria da produção de excedente, recebendo impostos e organizando obras públicas através da exploração do trabalho do homem. E se fortalece devido aos elos sociais e religiosos que uniam as aldeias à sede do poder central.
Em Roma, havia uma organização social baseada na propriedade comunal e propriedade privada, cuja estratificação se compunha de patrícios, plebeus e escravos. Enquanto os escravos e plebeus trabalhavam na esfera da produção das condições materiais da existência, os patrícios detinham a maior parte dos bens materiais e não-materiais da sociedade.
No início, os plebeus viviam em condições de existência mais elevadas do que as dos escravos, mas, com a evolução da forma de propriedade privada pelo aumento da população estrangeira originada do resultado das guerras e das conquistas de novas regiões, um grande contingente de trabalhadores plebeus tornou-se escravo.
O romano era um cidadão, fazia parte de um conjunto, mas nunca isolado. O significado da relação indivíduo e sociedade se encontra, portanto, no modo próprio daquela sociedade de produzir sua vida material e social de acordo com o desenvolvimento das suas forças produtivas.
Enquanto em Roma o indivíduo se definia como cidadão, na comunidade germânica se definiam com a forma da relação dos proprietários privados entre si, por força de alguns objetivos comuns. A sociedade é somente um acontecimento esporádico onde ocorre união entre indivíduos, apenas a reunião em ocasiões especiais. O camponês germânico não é cidadão do Estado, mas somente membro da comunidade auto-suficiente, que produz como proprietário das condições naturais do seu trabalho.
Da mesma maneira como o ponto de concentração da forma germânica de propriedade não é a cidade, a produção feudal também se desenvolve tendo como ponto de partida a fixação no campo. A relação indivíduo-sociedade nessa forma de propriedade rural se configurou em relações antagônicas entre os senhores feudais proprietários dos meios de produção e os servos que estavam a eles submetidos como elementos da propriedade da terra, simples acessórios. Os servos viviam sob a tutela dos nobres, que eram os proprietários do seu trabalho e daquilo que produziam.
O movimento real do indivíduo na sociedade, que se configura através da relação entre trabalho e capital, pode ser desvendado a partir da compreensão dos mecanismos de produção e reprodução do capital.
A reunião de vários trabalhadores em um mesmo local de trabalho permitiu o aumento da produtividade e concentração do capital. Sua função específica passou a ser a produção de mais-valia (sobrevalor) para o capital. O trabalhador vende a sua força de trabalho em troca do salário que lhe paga o capitalista. Dá-se uma relação de troca que, no entanto, não é uma troca de equivalentes.
A mecanização do processo de produção capitalista total tende a se generalizar na grande indústria, e o trabalhador passa a ser concretamente um simples apêndice da máquina. A direção e o conhecimento dos mecanismos de produção são estabelecidos pelo capital sem a participação do trabalhador.
Neste caso, portanto, sem o conhecimento dos mecanismos de produção, desprovido dos meios de produção e de subsistência e, por isso mesmo, impedido de usufruir dos bens que produz, o trabalhador é obrigado a viver em condições subumanas. Aquilo que no início ocorria como a expropriação da propriedade da terra e das condições inorgânicas de produção se torna agora a expropriação completa do trabalhador dos meios de produção da sociedade, da direção, do conhecimento e construção de sua vida material e social.
A noção de “indivíduo livre” aparece, portanto, com o desenvolvimento da sociedade industrial e do comércio e com a acumulação de capital pela burguesia. A individualidade emerge, desse modo, como premissa fundamental do pensamento liberal a partir dos séculos XV e XVI.
Com o desenvolvimento do capitalismo, o pensamento liberal paulatinamente se formalizou, adotando ideias exigidas pela noção de progresso social, acomodando-se então às necessidades de sociedade de classes antagônicas, onde existem, objetivamente, diferenças sociais entre os indivíduos que não podem mais permanecer encobertas.
Síntese
Somente a partir do surgimento da sociedade capitalista, que se fundamenta nas relações sociais de produção, cuja finalidade é a valorização do capital e a pauperização do trabalhador, é que lhe aparecem as ideias de valorização do indivíduo autônomo e livre em lugar de consideração dos homens como cidadãos, servos, senhores, escravos ou qualquer outra categoria para denominar os seres humanos, sociais e históricos.
As formas de representar com a natureza e entre si é que geram, em cada momento histórico, as diferentes concepções de indivíduo e sociedade. A explicitação das bases materiais da relação indivíduo-sociedade no modo de produção capitalista fornece os subsídios históricos e metodológicos para a compreensão das diversas representações sobre o indivíduo e sociedade como resultantes do processo histórico de separação dos indivíduos em proprietários e não-proprietários dos meios de produção da sua vida material e social.
Conclusão
Apesar da determinação da esfera material em relação à sociedade como um todo não ser de uma forma mecânica, é a separação concreta do trabalhador dos meios de produção que origina o surgimento de diversas representações acerca do sujeito, do objeto e da natureza do homem, nas ciências humanas em geral e na psicologia em particular. Essas representações, na verdade, são uma forma modificada de apresentar o movimento objetivo real do indivíduo na sociedade.
Conclusão da Resenha
Esta situação é reforçada pela ideologia dominante que, se de um lado afirma a igualdade dos homens, de outro lado diz que é o esforço, a dedicação e a tenacidade que fazem de uns mais bem-sucedidos que outros; e nosso trabalhador continua na sua luta isolada à procura de uma vida melhor, certo de que, competindo, demonstrará que é um indivíduo melhor que os outros, sem perceber que o mesmo ocorre com seus companheiros. Em uma menor escala, a nossa sociedade, capitalista, industrializada e complexa, promove esta dissociação do homem do produto de sua atividade, gerando a moral de que o objeto, o instrumento, não é bom nem mau: tudo depende do que as pessoas farão com ele, como se estes não trouxessem em si a atividade e o subjetivo de homens concretizados no produto. Hoje o homem continua transformando o mundo que o cerca, mas não cabe a ele decidir sobre esta transformação… É a contradição fundamental gerada pelo capitalismo, que, no nível individual, se manifesta através da alienação.
Referência da autora:
Marx & Engels, Marx, Giddens, Napoleoni, Marx, in Lanni, Marx, in Napoleoni, Hallowell.
Representações de Relação Indivíduo-Sociedade nas Ciências Humanas e na Psicologia
Digesto:
A concepção de que o trabalho é o elemento mediador na relação homem-natureza e nas relações sociais de produção permite a articulação entre as representações acerca da relação indivíduo-sociedade que se elaboram ao nível da psicologia, com sua base material objetiva na sociedade das classes antagônicas.
O conhecimento científico é determinado historicamente e carrega em si a possibilidade de sua utilização segundo interesses específicos de uma classe, no bojo dos movimentos políticos e ideológicos.
A própria divisão da ciência em campos específicos denota a sua tendência em tratar os valores, a política e a sociedade como fatos estanques, cujas leis podem ser captadas a partir das relações que se estabelecem entre suas causas e efeitos. A influência positivista nas ciências humanas passa a se constituir uma das características não só da sociologia, da economia ou da política, mas também da antropologia, psicologia e demais campos do conhecimento. Augusto Comte, como criador e defensor do positivismo, elaborou uma classificação das ciências em abstratas e concretas, segundo o ponto de vista da inevitabilidade e certeza da observação e experimentação para tratar os fenômenos.
O idealismo e o materialismo mecanicista, as duas grandes vertentes da filosofia que permeiam a psicologia durante todo seu desenvolvimento histórico, contêm como seus fundamentos epistemológicos a noção do sujeito e do objeto de forma estática e a-histórica.
O idealismo estabelece a separação entre o sujeito e o objeto, considerando o psíquico como sendo a manifestação da esfera interior do homem. O mecanicista prioriza, na relação cognitiva, o objeto, concebendo os eventos psicológicos como diretamente causados pelos determinantes exteriores.
Na teoria mecanicista do reflexo, o conhecimento é entendido como um ato único e isolado e as produções mentais consideradas como cópias, reproduções idênticas ou imagens fiéis dos fenômenos externos e objetivos. O sujeito é um ser passivo, receptivo e contemplativo. O objeto o constitui e molda-o segundo suas características.
Nas condições capitalistas, portanto, ocorre a separação real do sujeito e do objeto através da submissão do trabalhador aos mecanismos da produção. O trabalho, pelo fato de ser determinado historicamente, pode constituir-se como afirmação ou negação do homem. Nesse modo de produção específico prevalece a segunda opção.
A psicologia, com as tentativas de explicação dos processos psicológicos, ora privilegiando o sujeito do conhecimento, ora o objeto, se abstém de encontrar o movimento contraditório real entre o pensamento e a realidade, o teórico e o prático. E, finalmente, de captar o ideal, enquanto representação do movimento real que ocorre a nível objetivo e subjetivo contraditoriamente.
Na perspectiva objetivista, a abstração se dá pelo lado da sociedade. O indivíduo é produto de um “meio ambiente” natural, abstrato e independente das condições históricas que o produziram.
Na visão subjetivista, a abstração se efetua pela via do indivíduo, que é entendido como sendo dotado de uma essência universal, anterior às condições ambientais ou históricas que poderiam lhe delimitar. A atuação do homem na sociedade seria determinada apenas pela sua vontade, intenções inatas e significado pessoal.
O paralelismo cartesiano contribuiu fortemente para o desenvolvimento da psicologia como ciência experimental. Foi a partir da consideração da materialidade dos processos psíquicos que o indivíduo e suas funções mentais tornam-se o objeto de experimentação e observação na psicologia científica. Desde Weber, Fechner e Helmholtz, até as diversas orientações atuais da psicologia experimental, os mecanismos fisiológicos básicos dos comportamentos humanos são rigorosamente observados, comprovados e garantidos como a forma mais exata de estudar o psiquismo humano.
A psicologia adquiriu o status de ciência do comportamento humano com base no modelo das ciências naturais e desenvolveu, consideravelmente, a área de investigação dos mecanismos fisiológicos dos animais e do homem.
A revelação da oposição entre a orientação experimental objetivista e uma orientação especulativa subjetivista é fundamental para o conhecimento da forte tendência empirista na psicologia em geral, a qual se vem desenvolvendo desde o século passado e permanecendo até os dias de hoje. No entanto, juntamente com todo o aparato empirista, prossegue a psicologia de fundo subjetivista e de cunho acentuadamente filosófico, que visa muito mais a interpretação do fenômeno do que a sua experimentação.
Síntese da autora
O movimento real indivíduo-sociedade é representado abstratamente tanto pelas psicologias subjetivas que se enquadram no modelo de conhecimento idealista-ativista, quanto pelas psicologias objetivistas, que conservam a noção de objeto do modelo mecanicista da teoria do conhecimento. Desta forma, a dimensão real da relação indivíduo-sociedade não é captada nem nas orientações subjetivistas nem nas objetivistas. No primeiro caso, o indivíduo passa a ser uma instância fechada em sua própria subjetividade, sem ser determinado pela esfera exterior. Na orientação objetivista, o indivíduo se encontra condicionado pelas determinações externas, sem, contudo, poder responder ativamente às imposições sociais.
Conclusão da autora
As orientações subjetivistas e objetivistas continuam vigentes na psicologia atual, mantendo-se, logicamente, em psicologia educacional, os pressupostos epistemológicos e filosóficos que representam a natureza do homem de maneira dicotomizada.
A psicologia não conseguiu ainda superar as dicotomias que representam a situação real do indivíduo na sociedade capitalista, onde o homem, como objetividade, está separado da sua subjetividade. No entanto, a crítica a essa dicotomia aponta na direção da captação do homem como um ser concreto e histórico.
Referência da autora:
Gorz, Ribeiro Jr., Lefebvre, Kopnin, Napoleoni, Leontiev, Kosik, Merani, Japiassu, Smirnov.
Representações da Relação Indivíduo-Sociedade na Psicologia Educacional
Digesto:
A psicologia educacional é considerada como um dos ramos da psicologia aplicada que se ocupa, especificamente, das questões educacionais, diretamente voltadas para a aprendizagem, desenvolvimento e ensino.
A psicologia educacional reproduz as concepções subjetivistas e objetivistas dos fenômenos humanos através das representações dicotomizadas da relação indivíduo-sociedade, em desenvolvimento e em aprendizagem. As controvérsias sobre a natureza do homem orientam os trabalhos também nesses dois ramos da psicologia.
A aprendizagem tem sido definida de diferentes formas por cada uma das diversas teorias existentes. Numa das tentativas de sistematizá-las, encontramos as seguintes concepções:
- Um processo de associação entre uma situação estimuladora e a resposta, como se verifica na teoria conexionista da aprendizagem;
- O ajustamento de adaptação do indivíduo ao ambiente, conforme a teoria funcionalista;
- Um processo de reforço do comportamento, segundo a teoria baseada em um sistema dedutivo hipotético, formulado por Hull;
- Um condicionamento de reações, realizado por diversas formas, tal como se verifica, por exemplo, no condicionamento contínuo de Guthrie ou no condicionamento operante de Skinner;
- Um processo perceptivo, em que se dá uma mudança na estrutura cognitiva de acordo com as proposições das teorias gestaltistas.
As posturas metodológicas objetivas e subjetivas explicam os processos de aprendizagem e de desenvolvimento segundo os fundamentos epistemológicos dicotomizados que os iluminam, sem a sua vinculação com as condições históricas que os engendram.
Representações em Psicologia da Aprendizagem
O desvendamento dos mecanismos pelos quais se dá a aprendizagem é uma tentativa que vem sendo feita desde os antigos filósofos, que em seus manuscritos mencionavam os processos que, no entender deles, o homem utilizava para conhecer e aprender. Sócrates falava de uma aprendizagem que provém do conhecimento interior. Platão distinguia o mundo das ideias do mundo físico e elaborou uma doutrina segundo a qual o aluno aprende pelas lembranças das ideias anteriores, isto é, evocando “reminiscências”. Aristóteles, partindo de outro ponto de vista, preferiu colocar como a fonte de todo o conhecimento e aprendizagem tudo aquilo que é produto da experiência, ou seja, “nada existe no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos”.
Descartes retoma a tradição dicotomizadora da natureza humana, canalizando, através do paralelismo psicofísico, para as duas versões empirista e nativista na psicologia, através da influência de Locke e Leibniz.
Locke afirmava não existir nenhuma ideia na mente que não fosse produto da experiência sensorial. As ideias seriam elementos mentais simples que se associam, formando ideias complexas que refletem mecanicamente as coisas do mundo exterior. A aprendizagem, para ele, é a percepção que ocorre através dos sentidos, um produto da experiência.
Leibniz, contemporaneamente a Locke, observou que os elementos simples e indivisíveis de todos os seres são as “mônadas”, uma espécie de construto interior que se encontra vedado às influências advindas do exterior. Comportamento e aprendizagem dependeriam dessas disposições e tendências interiores.
Na abordagem comportamental, que é derivada do empirismo de Locke, estão categorizadas todas as teorias que definem a aprendizagem como uma mudança nos comportamentos observáveis do indivíduo.
As teorias de condicionamento assumem a posição de que o homem é um ser passivo e neutro, e a aprendizagem uma modificação no comportamento observável do indivíduo.
Pavlov, ao estudar a fisiologia dos animais, diz que a aprendizagem se daria através da associação de um reflexo do organismo a um estímulo neutro que, pela repetição, evocaria a mesma resposta do organismo e exerceria uma função de sinalização.
Thorndike estabeleceu uma relação entre acontecimentos físicos e mentais. Aprendizagem, para ele, seria um processo de associação e seleção de resposta a estímulos específicos, principalmente pelos efeitos agradáveis ou desagradáveis que poderiam daí advir.
Watson propôs uma psicologia voltada principalmente para o comportamento que envolve os eventos físicos. Sua posição era ambientalista e partidária do que tradicionalmente se denomina condicionamento clássico. Exerceu forte influência na psicologia científica, que passou posteriormente a ser quase somente uma ciência do comportamento.
A teoria da aprendizagem mais largamente utilizada, que tem como fonte de inspiração a orientação comportamentalista, foi elaborada por Skinner.
Comportamento respondente e comportamento operante são o resultado de dois processos de condicionamento que ocorrem de forma diferente. O primeiro é basicamente o condicionamento clássico de estímulo-resposta. O condicionamento operante, ao invés de ser eliciado, é um comportamento emitido pelo organismo que gera consequências no seu meio exterior, desencadeando um processo crescente de respostas a estímulos anteriores – novos estímulos, outras respostas, outros estímulos, e assim por diante.
Estímulos reforçadores são os que se seguem imediatamente a uma resposta e aumentam a probabilidade de que ela ocorra novamente. Um estímulo que, ao ser apresentado, fortalece o comportamento que a ele se segue é denominado reforço positivo. Reforço negativo significa estímulo que, ao ser retirado, possibilita a ocorrência da resposta emitida. A modelagem do comportamento é uma forma de modificação de comportamento que se dá através de aproximações sucessivas dos estímulos, mediante as contingências de reforço dirigidas às respostas que mais se aproximam da desejada e que levam ao padrão de comportamento esperado.
Um dos mais proeminentes psicólogos humanistas que ofereceu contribuições para a esfera da educação foi Carl Rogers. A sua colocação da pessoa como centro, e a confiança na sua capacidade para superar as circunstâncias adversas que prejudiquem sua auto-realização, constitui a premissa básica que permeia todo o seu trabalho. A convicção dele na tendência inerente ao ser humano para buscar seu crescimento leva à suposição de que o indivíduo mesmo tem o poder de promover seu desenvolvimento interior, através da percepção e organização das experiências que lhes são mais positivas. A noção de self é o que permite a compreensão do valor das vivências humanas.
A psicologia da gestalt, desenvolvida inicialmente na Alemanha por Wertheimer e depois, por Kohler e Kofka, nos Estados Unidos, ambos se opondo ferozmente à orientação comportamentalista na psicologia.
A aprendizagem, para a gestalt, é um processo de percepção e aquisição de novos insights, um dos conceitos centrais dessa abordagem. Insight significa uma “tensão para” algum objeto ou a captação das relações do todo percebido. Wertheimer não aceitava a concepção indutiva, que parte dos elementos para as estruturas e das partes para o todo. O todo é muito mais do que a organização de seus elementos ou partes, há certas relações que dão à percepção uma certa ordem.
Representações em Psicologia do Desenvolvimento
A criança é considerada por diversos autores como sendo ativa, passiva ou neutra em relação ao meio em que vive. Na área de desenvolvimento humano, a consideração da criança como objeto de estudo com aspectos acentuadamente diferentes do adulto só veio a acontecer basicamente a partir dos últimos três séculos, quando também se desenvolveriam as forças produtivas do capitalismo moderno.
Dentre os filósofos que elaboraram vários pressupostos acerca da natureza da criança e de sua educação na sociedade, Locke e Rousseau são os que mais contribuíram para o estudo da infância.
Rousseau partia da concepção da criança como sendo de natureza boa e ativa, cabendo, portanto, à sociedade permitir o desabrochar de todas as suas potencialidades. O desenvolvimento da criança até a sua constituição como adulto, portanto, seria natural e espontâneo.
Locke, por outro lado, considerava a criança como de índole má e de natureza passiva, sendo necessário exercer sobre ela, infinitamente, uma forma de treinamento que a habilitasse a viver em sociedade. O desenvolvimento da criança deveria ser dirigido por uma educação que disciplinasse e controlasse os desejos e necessidades infantis.
Hall interessava-se por aquilo que ele designava como o “conteúdo das mentes” infantis e acreditava que a “natureza está certa e que as formas incômodas do comportamento desaparecerão sem esforços disciplinares à medida que a criança se deslocar para níveis mais elevados de maturação”.
Gesell foi discípulo de Hall e elaborou uma teoria genética que sugeria a tradição inatista. O inatismo de Gesell se referia principalmente ao desenvolvimento biológico e de habilidades da criança. No que se refere ao desenvolvimento emocional e do comportamento, havia a participação de fatores ambientais. Utilizava-se do método de observação dos comportamentos, tentando inferir, através deles, as suas causas.
Atualmente, a psicologia do desenvolvimento se encontra com um cabedal de conhecimentos acerca do desenvolvimento dos processos cognitivos, afetivos, sociais, linguísticos, etc., oriundos de teorias que observam, descrevem e explicam a complexificação dos comportamentos humanos, assim como dos resultados de pesquisas experimentais isoladas.
Alguns consideram que a determinação básica seria originada pelos fatores internos, oriundos das bases genéticas e biológicas da espécie do indivíduo.
Outros consideram que os estímulos provenientes do meio físico e social conseguem configurar paulatinamente as diferentes formas do comportamento humano durante o processo do seu desenvolvimento.
A psicologia genética de Jean Piaget e as concepções de psicanálise sobre o desenvolvimento afetivo-sexual são as duas abordagens mais importantes em desenvolvimento cognitivo e emocional. Piaget considera o desenvolvimento cognitivo como sendo um processo de adaptação e assimilação do indivíduo ao meio, a partir de uma base interna que se constitui como estruturas mentais existentes no recém-nascido. São estas estruturas sensoriais e neurológicas iniciais que permitem, através do contato com o meio, a formação das estruturas mais complexas do pensamento.
A educação, na concepção de Freud, deveria encontrar o ponto de equilíbrio entre a repressão dos instintos constitucionais rebeldes e a liberdade para atuar em sociedade de forma satisfatória. A criança é vista como diferente do adulto e está sujeita às influências da cultura.
Watson e os demais teóricos de análise do comportamento também exerceram influência na psicologia do desenvolvimento, sugerindo que a estimulação exterior gera a resposta do interior e que somente a partir da fixação dos comportamentos adquiridos através desse processo é que se modela o desenvolvimento da infância até a idade adulta. Parece ser mais uma tentativa de conciliação entre os fatores internos e externos que influenciam o comportamento humano.
Verifica-se que a psicologia do desenvolvimento humano, difundida atualmente, não chega a tocar no substrato fundamental de desenvolvimento do psiquismo humano. As leis sócio-históricas são consideradas como uma das “variáveis” que influenciam o psiquismo da criança. A consideração do indivíduo como ser histórico permite a afirmação de que são essas leis os fatores determinantes do conteúdo do processo de desenvolvimento humano, apesar de não serem os únicos presentes no processo de desenvolvimento individual.
Abordagem Histórico-Crítica da Psicologia Educacional
A questão central de uma abordagem histórica e crítica em psicologia é que o indivíduo é um ser histórico e que, portanto, a unidade indivíduo-sociedade deve constituir-se o seu objeto real de estudo e não as abstrações desprovidas de sua base concreta tanto no âmbito da psicologia geral quanto nas suas diversas ramificações. No que se refere à psicologia educacional, principalmente, essa é uma questão que precisa ser levada em conta, porque nessa esfera, a separação entre sujeito e objeto continua sendo a maneira pela qual vem sendo tratado o seu objeto de estudo. A relação indivíduo-sociedade na psicologia educacional é representada de forma subjetivista, objetivista ou, então, através da noção de um processo de interação recíproca entre o homem com suas potencialidades e o ambiente físico e social.
Devemos questionar a validade da psicologia educacional que, numa sociedade de classes antagônicas, não trata do desenvolvimento do psiquismo infantil considerando sua situação na sociedade. Sem mencionar e redimensionar as concepções de desenvolvimento e aprendizagem humana da “apropriação” dos produtos do próprio trabalho, é provável que essa psicologia sirva muito mais para dissimular a desigualdade social, proveniente dos fatores econômicos, do que para sanar algumas das dificuldades que as crianças de classe trabalhadora enfrentam nas escolas.
Brinquedos educativos podem ser uma excelente ferramenta para auxiliar no desenvolvimento das crianças.
Psicologia Infantil: Processos Interacionais e Construção de Conhecimento e Subjetividade é um tema que complementa a discussão sobre o desenvolvimento infantil.
Autor: Andara Macedo