Resenha do Livro: O Monge e o Executivo
Uma análise crítica do livro 'O Monge e o Executivo', de James C. Hunter, que explora a essência da liderança e como valores e atitudes podem impactar a vida profissional e pessoal.
Resenha do Livro – O Monge e o Executivo
1 APRESENTAÇÃO
Este trabalho tem por finalidade apresentar o conteúdo e fazer uma apreciação crítica do livro “O Monge e o Executivo: uma história sobre a essência da liderança”, escrito por James C. Hunter.
Trata-se de uma narrativa que conta a história de John Daily, um notável homem de negócios que percebe a sua decadência como chefe, marido e pai. Na busca pelo resgate de seu status quo, decide participar de um retiro sobre liderança em um mosteiro beneditino, sob o domínio do frade Leonard Hoffman, um influente empresário americano que abdicou de sua posição anterior em detrimento da conquista de novos ideais.
Inicialmente, John Daily e os outros cinco alunos que também enfrentam problemas de liderança demonstram uma certa dose de rigidez e ceticismo à filosofia apresentada pelo frade, mas depois chegam à conclusão de que a sua experiência é algo que não se pode desprezar. Uma das características notadas em Hoffman no mundo dos negócios foi a sua capacidade de analisar e reverter empresas em crise, transformando-as em experiências de grande êxito.
Para o monge, liderança não é sinônimo de poder, mas sim de autoridade, conquistada com amor, empenho e sacrifício. A história traz implícita a importância da humanização nas relações no mundo dos negócios e como isso pode ser fundamental. Para uma análise mais aprofundada sobre a humanização nas relações, veja Resenha Crítica: Livro Inclusão.
A problemática remete ao conceito estereotipado da liderança. Há um paradoxo latente entre o racionalismo e o humanismo no mundo dos negócios. A tese central é de que o “servir” é uma característica elementar na consecução dos objetivos pensados para um líder de excelência.
O objetivo principal do texto é trazer conceitos fundamentais e viáveis que podem servir como parâmetro para reavaliar nossa capacidade de liderança e, consequentemente, auxiliar na inter-relação com os colaboradores, promovendo um clima de grande satisfação na empresa.
O livro é composto de sete capítulos. Sumariamente, o capítulo um apresenta algumas definições imprescindíveis para o entendimento do que é proposto. O capítulo dois trabalha “O velho paradigma”. O capítulo três se dedica a “O modelo”. O quarto discute “O verbo”. O quinto enfoca “O ambiente”. O sexto trata “A escolha”. Por último, o capítulo sete discute “A recompensa”. O autor trabalha o tema com coerência e concisão nas ideias.
Nota-se que a conclusão mais imediata do tema estudado é que o sucesso da liderança está diretamente ligado ao aspecto espiritual e psicológico do ser humano, sendo estes requisitos indispensáveis na busca sem fim da autoafirmação pessoal e profissional.
2 OBJETIVO
O objetivo mais aparente deste livro consiste em demonstrar que valores e atitudes são ações contíguas no desenvolvimento da liderança. Para tanto, o autor traz conceitos e definições que visam estimular a autocrítica dos leitores, dentro de uma visão humanística no âmbito dos negócios. Especificamente, o autor busca:
- Enfatizar a importância do trabalho em equipe como estandarte para alcançar o sucesso;
- Salientar valores éticos e morais como prerrogativas para o sucesso profissional;
- Refletir sobre a arte de liderar;
- Propor modelos ideais de reconstrução de práticas estilizadas e conservadoras no mundo dos negócios.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O autor lança mão de recursos que ilustram e sintetizam o pensamento com uma bela narrativa e muito envolvimento. O conteúdo é disposto em 142 páginas, distribuídas em sete capítulos, onde se trabalha a filosofia proponente. O texto enquadra-se na tipologia de narrativas, com suas nuances pertinentes.
Alguns trechos são trabalhados em forma de parábola e metáforas, no intuito de fazer analogias compreensíveis e acessíveis à diversidade do público-alvo (acadêmicos, empresários, profissionais liberais e aos vários segmentos da sociedade civil interessados no comportamento ideal de um líder de excelência).
Tacitamente, o autor propõe um paradoxo baseado em duas realidades completamente diferentes: a de um executivo e a de um monge. Baseado nisso, busca instigar o leitor a refletir sobre atitudes aparentemente simplistas no ambiente organizacional, mas que, se potencializadas, podem surtir efeitos extraordinários.
4 CONTEÚDO
O autor coloca a discussão apresentando conceitos fundamentais para a compreensão da dicotomia entre liderança, poder e autoridade. Em linhas gerais, a liderança tem uma conotação carismática, traduzindo-se na “habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir os objetivos identificados como sendo para o bem comum” (HUNTER, 2004, p. 25). O conceito de liderança prescinde o individualismo. A concentração de esforços em tarefas tem causado anomalias nos resultados das empresas, por dar margem à baixa produtividade e a crises de relacionamento.
Por outro lado, o poder correlaciona-se com austeridade. O autor define poder como sendo “a faculdade de forçar ou coagir alguém a fazer sua vontade, por causa de sua posição ou força, mesmo que a pessoa preferisse não o fazer” (HUNTER, 2004, p. 26). A autoridade, por sua vez, implica a “habilidade de levar as pessoas a fazer de boa vontade o que você quer por causa de sua influência pessoal” (HUNTER, 2004, p. 26).
Em consonância com os resultados de uma pesquisa realizada junto a várias organizações, o autor exprime que a práxis da dignidade, respeito mútuo e empatia sobrepõe aos aspectos financeiros, que por muito tempo compunham o objetivo precípuo das empresas. Atualmente, esses aspectos são vistos como imprescindíveis na dinâmica salutar das empresas.
A mudança de paradigmas motiva a transformação social e das empresas. Um paradigma expressa padrões psicológicos, modelos ou mapas que orientam os objetivos que traçamos para nossas vidas. A mudança de paradigma é o motor da inovação. Quando nossa filosofia é desafiada, somos levados a refletir sobre o status conquistado e a buscar alternativas para lidar com o novo de maneira mais eficiente e eficaz. No entanto, muitas mudanças podem revolucionar o modo de ser e agir das pessoas, gerando perturbações indesejáveis. Possivelmente, essa complexidade é que suscita o comodismo.
O conservadorismo está relacionado a:
- Preconceitos, estereotipias, convenções sociais, que estão relacionados a crenças e velhas maneiras de enxergar o mundo;
- Hierarquização e subordinação aos paradigmas predefinidos pelas elites (chefes);
- Inércia, que limita as pessoas apenas a dar ordens.
Em oposição a esse comportamento estereotipado, emerge o “Novo modelo”, que contempla aspectos meramente subjetivos, a partir de uma visão multidimensional de interpretar as percepções e potencializá-las. Nesse horizonte, a liderança ultrapassa a fronteira do comando e alcança a noção de “servir”. A consolidação da liderança depende da conjugação de cinco elementos: i) influência; ii) autoridade; iii) serviço e sacrifício; iv) amor, e; v) vontade.
A questão é encontrar um significado plausível para a palavra amor e estabelecer uma aproximação deste conceito com o de liderança. A discussão engendrada leva à conclusão de que o amor é a essência da liderança. O “Amor Ágape” traz consigo: paciência, bondade, humildade, respeito, generosidade, perdão, honestidade e compromisso, que são atributos desejáveis no perfil de um grande líder.
Ademais, um líder deve ser um entusiasta, ético, priorizando condutas idôneas para permanecer firme nos seus propósitos. Caso insista em preservar um comportamento contrário às expectativas que o cercam, certamente será posto à margem do sistema.
O comportamento de um líder tende a influenciar fortemente a conduta de seus seguidores e colaboradores. Mas, sabe-se que administrar o comportamento dos seres humanos é extremamente complexo. O comportamento do ser humano reflete as suas expectativas acerca de algo. Sinteticamente, o comportamento nada mais é que uma escolha.
Um dos atributos intrínsecos ao ser humano é justamente a habilidade de escolher, porque envolve racionalidade. Amiúde, as circunstâncias impedem que as pessoas e os fatos se procedam da maneira que esperamos. Assim, os aspectos subjetivos tornam-se fundamentais para dirimir conflitos e potencializar ações.
O ponto de partida para o alcance da autoridade e liderança começa com a vontade. As vontades são escolhas que fazemos para alinharmos nossas ações às intenções. Inevitavelmente, a consecução dos resultados predefinidos depende de ações compartilhadas.
A experiência tem demonstrado que o egocentrismo limita a conquista do novo. O líder que se propõe a agir com autoridade e influência se defronta com muitas escolhas e sacrifícios. Em contrapartida, as recompensas são gratificantes, na medida em que elevam a autoestima, contribuindo para a reciprocidade de sentimentos e percepções coletivas.
5 CONSIDERAÇÕES PESSOAIS
A globalização vem impondo mudanças de atitudes em todos os segmentos da sociedade. No mundo dos negócios, esse impacto é maior. As empresas têm que se adaptar às constantes mudanças no cenário mundial, para não se tornarem obsoletas. Não obstante isso, os líderes vêm se defrontando com uma multiplicidade de desafios inéditos na história da humanidade.
Os modelos estereotipados de gestão não estão em consonância com a realidade que impera. Atualmente, as relações de negócio e trabalho são marcadas pela flexibilidade e pelo pragmatismo na tomada de decisões. Nesse sentido, o conhecimento é proeminente na definição de um líder.
Entretanto, o debate em torno da figura do líder que retrate com veemência o paradigma imposto por esta realidade sistêmica é mais complexo, na medida em que exige a conjugação de fatores espirituais, psicológicos e comportamentais. Muitas empresas preteriram o termo gerente pelo de líder de equipe, coordenador do processo, facilitador e outros afins.
Anteriormente, um gerente era aquela pessoa designada a conseguir resultados através de outras pessoas. Pelas suas peculiaridades, este conceito não é representativo da condição de um líder de excelência. A lógica de frisar as diferenças entre chefe e subordinados está defasada. A experiência tem demonstrado que é mais factível conceber o gerente como aquele que imprime resultados com outras pessoas. Assim, torna-se evidente o espírito de equipe e, concomitantemente, o resgate de valores éticos e morais, suprimidos pelo capitalismo.
Hunter (2004) foi muito feliz ao abordar um tema singular como este no paradigma da globalização. À primeira vista, esta concepção humanística parece contrariar os objetivos externalizados pelas organizações em sua plenitude. O individualismo é uma característica marcante do capitalismo, mas muitos líderes têm buscado novos horizontes justamente pelo fato de se sentirem ameaçados pelos concorrentes ou por outros fatores correlatos.
Um ponto que chamou a atenção é que o autor deixa implícito o fato de que o conhecimento não é estanque. A troca de experiências conseguida em um trabalho de equipe é extremamente importante para o acúmulo de conhecimento, sendo este, portanto, o principal ativo das empresas na era da globalização.
O estudo também serve para desmistificar o conceito de chefe e de líder, equivocadamente tratados como sinônimos no ambiente empresarial. O chefe administra coisas, ao passo que o líder trabalha fundamentalmente com pessoas. O rompimento com o status anterior de gestão passa pelo entendimento dessa dicotomia. É mister que as empresas estilizem modelos de gestão baseados na colaboração mútua, como salvaguarda para a sua consolidação no mercado.
É importante salientar que não existe um modelo definitivo, nem tampouco ideal de um líder. Na verdade, cada qual personifica seus objetivos e é influenciado pelas motivações socioculturais no ambiente organizacional. Mas, o livro deixa claro que a base da liderança é autoridade e não poder, como muitos defendem.
Essa ideologia é extremamente válida para instigar a reavaliação de comportamentos retrógrados no mundo dos negócios. Muitas teorias estão ultrapassadas, porque o mercado vem evoluindo gradativamente, exigindo atitudes pragmáticas em tempo real. Uma parcela dos postulados da teoria tradicional não condiz com as tendências atuais. Algumas inferências insurgem como parte integrante de um processo complexo e contínuo. Nesse contexto, assume-se a subjetividade como o núcleo das novas disposições sistêmicas.
Os aspectos subjetivos trazidos para o centro da discussão não implicam necessariamente uma relação de causalidade quando da revitalização e consecução do sucesso profissional. Mas, o dimensionamento destes é de fundamental importância para a construção de padrões de qualidade nas relações interpessoais, tanto no convívio social quanto no contexto empresarial.
E para finalizar, seja a pessoa um executivo ou um estudante, deve procurar com muita força buscar interna e externamente uma autoajuda, principalmente naqueles que confiamos e temos realmente como símbolo de sabedoria, assim como fez John Daily.
6 GLOSSÁRIO
JINGLE – Pequeno anúncio musicado
CARRILHÃO – Conjunto de sinos (primitivamente quatro) com que se tocam peças de músicas. Relógio de parede que dá hora por música.
PRAGMÁTICA – Conjunto de fórmulas para as cerimônias da corte ou da igreja
PERSONIFICAÇÃO – Simbolizar, exprimir
CATÁRTICO – Relativo a catarse. Méd. a substância que promove evacuação intestinal
CAMPANÁRIO – Parte aberta onde ficam os sinos
Fonte:
HUNTER, J. C. O Monge e o Executivo: uma história sobre a essência da liderança. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
Autor: Maria das Graças Dias da Silveira