Resenha Crítica
RATHS, Louis E. Arnold M. Rothstein, Artur Jonas. Ensinar a pensar – teoria e aplicação. São Paulo, EPU, 1977.
Seria possível a construção de uma teoria que permita ao aluno adquirir habilidades que o tornem capaz de permanecer em processo de aprendizagem, ainda quando já não mais esteja em sala de aula? É justamente isso que pretendeu Louis Raths, com a publicação do trabalho em referência. Seguindo a linha de estudiosos da psicogênese do conhecimento como Piaget, Carl Rogers e outros, Raths constrói sua teoria fundamentada na sua militância docente e na troca de experiências auferidas em congressos, conferências e grupos de estudos em que participou.
Na organização de seu discurso, Raths valoriza a qualidade que mais precisamente distingue o homem do resto dos animais – o pensamento. E nesse particular, estabelece o alcance de sua teoria, na medida em que mudanças na forma de pensar trazem consigo reflexos sociais significativos.
Tomando por objeto a realidade americana em fins da década de sessenta do século XX, analisa o modelo pedagógico então vigente, fazendo diagnóstico e enumerando as prováveis causas que dificultavam a “acentuação” do pensamento dentro do processo de aprendizagem.
Segundo Raths, a escola não oferece conteúdos direcionados para despertar o pensamento. “Os manuais existentes são consideravelmente deficientes quanto à atenção que dão ao pensamento” (p. 16). Segue enfatizando a falta de liberdade do professor para propor atividades complementares, posto que tem que permanecer enquadrado nos rigores dos programas oficiais e discorre sobre a clássica formação deficiente dos profissionais de educação. Outra causa anotada pelo autor é o surgimento de testes escolares que deslocavam o foco da avaliação para o desenvolvimento da capacidade mnemônica, ou seja, a aprendizagem seria resultante do acúmulo de informações, valorizando a memória em detrimento do raciocínio; e, por fim, atribui ao clima de pós-guerra um certo desprezo pelos processos intelectuais.
Diante de tal constatação e baseado nas novidades elaboradas pela psicologia do desenvolvimento, Raths orienta sua teoria para atingir o manancial de recursos disponíveis em nosso cérebro que são ativados através das solicitações subjacentes ao ato de pensar. Desse modo, a tarefa que se impõe ao professor é a apresentação de experiências desafiadoras a fim de despertar atitudes de reflexão ante situações-problema.
Assim, atividades de comparação desenvolveriam no aluno a capacidade de estabelecer relações; as de resumo, facilitariam a seleção. De igual modo, a observação favorece a percepção, identificação e sensibilidade. A classificação, por exemplo, desenvolve a capacidade de associação e a atividade de interpretação possibilita a construção de significados. Além dessas, Raths propõe uma série de tarefas orientadas para ativar as potencialidades mentais.
Sugere ainda que a gradação da acentuação do pensamento nos vários níveis de ensino proporcionará a formação de “estudantes capazes de ver mais de um caminho para realizarem suas ações. Teremos estudantes capazes de procurar alternativas e discutir suposições. Teremos estudantes capazes de valorizar as dúvidas. Estarão mais abertos e talvez mais prontos para a mudança em várias áreas. Provavelmente terão uma visão mais experimental da vida e, em vez de resistir aos problemas, serão capazes de gostar deles” (p. 50).
O vocábulo “acentuação” tem, com efeito, em Raths significados difusos, porém correlatos: ora o termo é utilizado para referir-se ao amadurecimento do pensar, ao aumento da intensidade desse pensar e, ainda, pode designar a especialização das atividades mentais em razão dos múltiplos estímulos recebidos pelo cérebro humano.
Cabe registrar ainda que Raths não define o conceito de pensamento por considerá-lo demasiado abrangente, embora estabeleça o campo de significação do termo.
É inegável a contribuição de Raths para a pedagogia e para a vida social, além de reafirmar a valorização do pensamento humano.
Marcos Antonio dos Reis Filho
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Na reunião pedagogica ele hoje fizemos leitura e teflexao da primeira parte do livro.