Resenha do livro de Philippe Ariès “História Social da Infância e da Família”
1 As Idades da Vida
Assim que uma criança nasce, passado um tempo, já começa a falar suas primeiras palavras, aprende a dizer seu nome, nome de seus pais e a sua idade. Mas no século XVI ou XVII, as exigências de identidade civil ainda não eram tão impostas desse modo. Achamos normal uma criança responder a sua idade corretamente quando questionada.
A idade do homem fazia parte de um sistema de descrição e explicação física que voltava aos filósofos jônicos do século VI a.C dos escritos do Império Bizantino e que ainda sugeria os primeiros livros impressos de vulgarização científica no século XVI.
As idades da vida se tornaram também uma das formas comuns de conceber a biologia humana, ligada às correspondências secretas internaturais. Essa noção pertencia ao Império Bizantino, no século VI.
A velhice sofria uma evolução inversa. Na sociedade antiga, a velhice começava cedo, os velhos de Molière, nem eram tão velhos assim e nos pareciam bem mais jovens do que como eram classificados. A velhice dava-se pela perda de cabelo e uso de barba, como por exemplo, o ancião no concerto de Ticiano, que é também uma representação das idades da vida. Na França antiga, a velhice não era respeitada, era considerada como a idade dos livros, do recolhimento, da devoção e da caduquice, nos séculos XVI-XVII a imagem do homem integral era a de um homem jovem, não era propriamente um rapaz na época, mas hoje já poderia ser considerado assim. Hoje, a velhice desapareceu, pelo menos do francês falado, onde velho tinha um significado pejorativo. A evolução aconteceu em duas etapas: havia o ancião respeitado, aquele ancestral de cabelos de prata, o Nestor que transmitia sábios conselhos, o patriarca de importantes experiências: o ancião de Greuze, Restif de la Bretonne e todo o século XIX. A segunda etapa foi o desaparecimento do ancião, ele foi trocado por “homem de certa idade” e “senhores bem conservados”.
Na Idade Média as crianças eram vestidas indiferentemente de idade, nada na roupa medieval a separava do adulto, era o período do traje longo. No século XVII a criança de boa família passou a não ser mais vestida como os adultos, mais precisamente o menino, pois as meninas do momento em que deixavam os cueiros eram vestidas como mulherzinhas, mas comportava um ornamento singular, duas fitas largas presas ao vestido atrás dos dois ombros. E no século XVI ainda vestiam-se assim as meninas. Nessa ocasião as capas e túnicas muitas vezes tinham mangas que podiam se vestir ou deixá-las pendentes.
Para entender de forma mais clara como eram as brincadeiras no início do século XVII são utilizadas informações presentes no diário do médico Heroard sobre o Delfim da França, o futuro Luís XIII. Com um ano e cinco meses o menino toca violino e canta ao mesmo tempo, lembrando que este instrumento não era nobre, também brincava com cavalo de pau, o catavento e o pião. A dança e o canto tinham uma grande importância naquela época e ainda com a mesma idade o menino já jogava malha, isso equivaleria hoje a uma criança praticando golfe. Cerca de cinco meses depois ele começa a aprender a falar, sendo que se ensinava a pronunciar as sílabas separadamente antes de dizer a palavra. Com dois anos e sete meses recebe uma “pequena carruagem cheia de bonecas”, era normal que meninos e meninas partilhassem deste brinquedo; até mesmo os adultos, principalmente mulheres, onde era objeto de satisfação, isso também acontecia com os brinquedos em miniatura que eram monopólio das crianças, não diferente do que é hoje, quando as crianças, e até mesmo adulto em suas coleções possuem objetos como carrinhos, caminhõezinhos, bibelôs. O teatro de marionetes foi uma manifestação da arte popular, era voltado aos adultos, inclusive Guignol era uma personagem do teatro popular, que hoje se tornou o nome do teatro de marionetes reservado às crianças. Na noite de Natal, com três anos e já falando corretamente, o Delfim ganhou uma bola e algumas quinquilharias italianas, como uma pomba mecânica e eram brinquedos destinados tanto a ele quanto à Rainha. Já com quatro a cinco anos já praticava arco, jogava xadrez, jogos de raquetes, rimas, ofícios, mímicas e inúmeros outros de salão. Luís XIII dançava balé e até mesmo danças de meninos de quinze anos. Com sete anos inicia-se o processo de abandono aos brinquedos e começa a aprender a montar a cavalo, a atirar e a caçar, joga jogos de azar e assistia a brigas. No século XVIII figuravam-se festas e ritos, o balanço também surgiu nesse momento. Por volta de 1600, as brincadeiras apareciam apenas na primeira infância, a criança jogava os mesmos jogos e participava das mesmas atividades dos adultos. No fim do século XV, os jogos foram mais voltados à cavalaria, caça e cabra-cega. Na questão das brincadeiras dá-se a entender que os adultos não se preocupavam tanto com o trabalho como hoje é valorizado, a principal importância eram os jogos e os divertimentos. Havia festas sazonais e tradicionais, como a dos Reis, onde a criança tinha um papel ativo na celebração, que no primeiro momento ficava embaixo da mesa e indicava para a quem seriam as fatias do bolo, após carregavam uma vela, preta ou colorida, e no último momento saiam pela vizinhança cantando e tocando, ou seja, se havia o hábito de confiar às crianças uma função especial no cerimonial que acompanhava as reuniões familiares e sociais. Existiam outras festas como a Santos-Inocentes, Terça-feira gorda, onde se faziam brigas de galo e brincadeiras de bola, Carnaval, nesta festividade podiam surrar os judeus e as prostitutas, a não ser que pagassem um tipo de fiança, tamanha barbárie vista nos dias de hoje.5 Do Despudor à Inocência
Século XVI início XVII: A infância era ignorada.
As crianças eram tratadas com liberdades grosseiras e brincadeiras indecentes. Não havia sentimento de respeito e nem se acreditava na inocência delas.
Nos dias de hoje isso nos choca, diferente daquela época, onde era perfeitamente natural.
A pedofilia fazia parte dos costumes daquele período, brincadeiras sexuais entre crianças e adultos.
Elas ouviam e viam tudo que se passava no mundo dos adultos. Acreditavam que se as crianças fossem muito pequenas, esses gestos não teriam consequências, pois se neutralizariam, e se fossem maiores esses jogos não seriam feitos com segundas intenções, pois eram apenas brincadeiras.
O uso da mesma cama era hábito comum em todas as camadas sociais, a liberdade de linguagem também era natural naquela época.
Surge na França e na Inglaterra, entre Católicos e Protestantes no fim do século XVI, uma preocupação sobre o respeito da infância. Certos educadores começaram a se preocupar com as linguagens utilizadas em livros; preocupação também com o pudor e cuidados com a castidade.
A grande mudança nos costumes se daria durante o século XVI. Um grande movimento moral refletia com uma vasta literatura pedagógica.
A criança adquire dentro da família importância e torna-se brinquedinho do adulto. Começa a se falar sobre a sua fragilidade, comparando-as com os anjos.
A concepção moral da infância associava a fraqueza com a inocência, pois refletia a pureza divina da criança.
A educação é vista como a obrigação humana mais importante, e começam a multiplicar os colégios, pequenas escolas, casas particulares, desenvolvendo uma disciplina rigorosa, moralidade e mudanças de hábitos.
Essa doutrina desenvolveu alguns princípios:
1°. Não deixar as crianças sozinhas, com uma vigilância contínua.
(As crianças ricas eram confiadas a preceptor).
2ª Evitar mimar, habituá-las cedo à seriedade.
3° Recato, e preocupação com a decência.
Ensinar a ler bons livros, evitar canções populares, comédias, espetáculos, contato com os criados.
4° Evitar tratamentos íntimos, substituir o “Tu” pelo “Vós”.
O sentido da inocência infantil resultou em atitude moral, desenvolvendo o caráter e a razão.
Uma devoção particular passou então a ser dirigida à infância sagrada. O menino Jesus passa a ser representado sozinho (longe da sagrada família).
Há também uma valorização dos trechos do evangelho, onde Jesus está com as criancinhas. Uma nova devoção do anjo da guarda se estabeleceu.
Neste período os pequenos Santos, e as crianças santas, são valorizadas para outras crianças, como modelo a ser seguido.
A 1° comunhão iria se tornar progressivamente a grande festa religiosa da infância. Só seria admitido quem estivesse preparado, tendo um comportamento sério.
Portanto, na sociedade medieval, o sentimento da infância não existia.2º A Vida Escolástica
Observando a história da educação no período da Idade Média podemos notar o progresso do sentimento da infância: como a escola e o colégio que se tornaram no início dos tempos modernos um meio de isolar as crianças justamente no período de formação moral e intelectual e, desse modo, separá-las da sociedade dos adultos, finalmente, visto que – na Idade Média – as diferentes idades eram misturadas e lançadas, aliás, a um ambiente inadequado para a aprendizagem.1 Jovens e Velhos Escolares da Idade Média
Na escola medieval misturavam-se todas as idades – meninos e homens, de seis a 20 anos ou mais – postos a um mesmo local, ensinados por um mesmo mestre. Essa indiferença pela idade era passada despercebida na medida em que era natural um adulto desejoso de aprender misturar-se a um auditório infantil, já que o que estava em vigor era a matéria ensinada e não a preocupação com a idade (fundamental no século XIX). Aliás, a escola medieval não dispunha de um lugar “próprio” para o ensino, fazendo-se satisfeitos dispondo de uma esquina de uma rua. Muitas vezes as aulas eram dadas no claustro, dentro ou na porta de uma igreja. Em geral, o mestre alugava uma sala, forrava o chão com palha para os alunos – velhos e jovens – sentarem-se. Realmente não havia distinção entre a criança e o adulto fazendo, desse modo, com que as pessoas passassem sem transição de uma fase a outra; “assim que ingressava na escola, a criança entrava imediatamente no mundo adulto”.
Fora da escola o mestre não conseguia controlar a vida quotidiana de seus alunos, abandonando-os a si mesmo (ausência de internato). Alguns moravam na própria casa do mestre ou na casa de um padre, mas na maioria das vezes moravam no habitante local, vários em cada quarto, misturando-se novamente as idades, ou seja, os velhos se misturavam com os jovens nas moradias, longe de serem separados por idade, portanto.
Philippe Ariès deixa um questionamento sobre a negligência das idades: “Mas como poderia alguém sentir a mistura das idades quando se era tão indiferente à própria ideia de idade?”. Indubitavelmente esse é um traço peculiar da antiga sociedade, ou melhor, de origem medieval – senão persistente, enraizado na vida – para o paradigma de que a sociedade de hoje é um reflexo da anterior (ou do princípio).
2 Uma Instituição Nova: O Colégio
No século XIII, os colégios eram asilos para estudantes pobres (os bolsistas); não se ensinava nos colégios. A partir do século XV o colégio tornou-se instituto de ensino em que uma população numerosa foi submetida a uma hierarquia autoritária e de ensino das artes que serviu de modelo para as grandes instituições do século XV ao XVII. O estabelecimento definitivo de uma regra de disciplina completou a evolução: de simples sala de aula, ao colégio moderno, instituição não apenas de ensino, mas de vigilância e enquadramento da juventude.
Essa evolução mostrou-se sensível ao sentimento das idades. No princípio os menores (os pequenos alunos de gramática foram os primeiros a ser distinguidos estendendo-se até os maiores, alunos de lógica e de física). Porém, essa separação não os atingia como crianças, e sim como estudantes, ou seja, o estudante não era distinguido do adulto, uma vez que fora da escola ele tivesse a obrigação de exercer funções de adulto e, sobretudo, o regime não era realmente infantil/juvenil. (Novamente não se conhecia a natureza nem modelo de tal regime). Nesse regime, desejava-se proteger os estudantes das tentações da vida leiga, proteger sua moralidade. Então, os educadores inspiravam-se no espírito das fundações monásticas do século XIII. Graças ao modo de vida particular “a juventude escolar foi separada do resto da sociedade”.
Mais tarde, o colégio mostrou alterações. No início era um meio de garantir a um jovem clérigo uma vida honesta. A seguir, tornou-se a condição imprescindível de uma boa educação, mesmo leiga. Os mestres tinham a responsabilidade moral tanto de formar como de instruir o estudante e por essa razão convinha impor às crianças uma disciplina rígida, tradicional dos colégios, entretanto mais autoritária e mais hierárquica. Portanto o colégio era o instrumento para a educação da infância e da juventude em geral.
O colégio, século XV e XVI ampliou-se, abriu-se a um número crescente de leigos, nobres, burgueses e também a famílias mais populares. Tornou-se, logo, uma instituição essencial da sociedade: o colégio com um corpo docente separado, com uma disciplina rigorosa, com classes numerosas; constituía um grupo de idade maciço, alunos de oito-nove anos até mais de 15, submetidos a uma lei diferente da que governava os adultos.
3 Origens das Classes Escolares
Desde o início do século XV, começou-se a dividir a população escolar em grupos de mesma capacidade que eram colocados sob a direção de um mesmo mestre. Mais tarde, passou-se a designar um professor especial para cada um desses grupos (na Inglaterra essa formação persistiu até o século XIX). Porém, as classes e professores eram mantidos em um lugar comum. Isso só mudou a partir de uma iniciativa de origem flamenga e parisiense, gerando assim a estrutura moderna de classe escolar. Essa estrutura acentuava a necessidade de adaptar o ensino do mestre ao nível do aluno, o que se opunha tanto aos métodos medievais de simultaneidade ou de repetição, como à pedagogia humanista que não distinguia a criança do homem e confundia a instrução escolar com a cultura. Finalmente indicava – essa distinção das classes – uma conscientização das diferentes fases da vida (infância ou juventude) e do sentimento de que no interior dessas fases existiam várias categorias. Todavia, em princípio, a preocupação de separação das idades só foi reconhecida e afirmada bem mais tarde. Na realidade, prestava-se sempre mais atenção ao grau do que à idade. Portanto, existia uma relação despercebida, por hábito, entre a estruturação das classes e as idades, quase que como uma coincidência.
4 As Idades dos Alunos
Do meio para o final do século XVII e século XVIII a política escolar passou a eliminar as crianças muito pequenas, o que contrapunha os hábitos escolares medievais os quais misturavam as idades, sendo a precocidade de certas infâncias algo aceitável. “A repugnância pela precocidade marca a primeira brecha aberta na indiferença das idades dos jovens”, implicando em um sentimento novo que distinguia uma primeira infância de uma infância propriamente escolástica. Isto é, as crianças de 10 anos eram mantidas fora do colégio. Dessa maneira conseguia separar uma primeira infância (até os 9-10 anos) de uma infância escolar (depois dessa idade). Dizia-se como justificativo do retardamento – retardamento porque até o meio do século XVII aos sete anos a criança já podia entrar na escola – que os pequeninos eram frágeis, “imbecis”, ou incapazes.
Embora a primeira infância fosse isolada a mistura das idades ainda persistiu até o fim do século XVIII. Ainda no início do século XIX, separavam-se os maiores de 20 anos, mas não era estranha a presença no colégio de adolescentes atrasados. De fato, ainda não se sentia a necessidade de separar a segunda infância da adolescência. Entretanto no fim desse século, graças à burguesia que espalhou o ensino superior/universidade, deu-se a separação. Portanto, pode-se afirmar que, no início do século XIX, com a regularização do ciclo anual das promoções, o hábito de impor a todos os alunos série completa de classes e as necessidades de uma pedagogia nova fez-se a relação, cada vez mais, entre a idade e a classe escolar.
5 Os Progressos da Disciplina
Antes do século XV, o estudante não estava submetido a uma autoridade disciplinar extracorporativa, a uma hierarquia escolar, mas tampouco estava entregue a si mesmo; ou residia perto de uma escola com sua família, ou, na maioria das vezes, morava com outra família à qual havia sido confinado a um contrato de aprendizagem que previa a frequência a uma escola. Aliás, ele pertencia a uma sociedade ou a um bando de companheiros: tinha que entrar para associações, corporações, confrarias ou o estudante seguia um mais velho e em troca era surrado e explorado. O fato é que uma camaradagem às vezes brutal porém real regulava sua vida cotidiana, muito mais do que a escola e seu mestre, e, porque essa camaradagem era reconhecida pelo senso comum, tinha um valor moral.
Porém a partir do fim da Idade Média, o sistema de camaradagem se deteriora gradativamente, então a juventude escolar seria organizada com base em novos princípios de comando e de hierarquia autoritária, surgem ideias novas da infância e de sua educação: para o Cardeal d’Estouteville, as crianças não podiam ser abandonadas sem perigo a uma liberdade sem limites hierárquicos… os educadores eram responsáveis pelas almas dos alunos perante Deus; seus deveres não consistiam apenas em transmitir, como mais velhos diante de companheiros mais jovens, os elementos de um conhecimento. Eles deviam também formar os espíritos, inculcar virtudes, educar tanto quanto instruir. Duas ideias surgem ao mesmo tempo: a noção da fraqueza da infância e o sentimento da responsabilidade moral dos mestres. Portanto, o sistema disciplinar teria que fugir das raízes da antiga escola medieval, onde o mestre não se interessava pelo comportamento de seus alunos fora da sala de aula. Para definir esse novo sistema, três características: a vigilância constante, a delação erigida em princípios de governo e em instituição, e a aplicação ampla de castigos corporais.
A disciplina humilhante – o chicote e a espionagem – difere-se do modo de associação corporativa de antes, que era o mesmo para todas as idades: jovens e adultos. Entretanto, mesmo com essa substituição de modelo, o castigo corporal não é particular da infância, já que se generalizou ao mesmo tempo em que a concepção autoritária, hierarquizada da sociedade, em suma absolutista. Contudo restou uma diferença entre a disciplina das crianças e dos adultos: fidalgos escapavam do castigo corporal e o modo da aplicação da disciplina contribuía para distinguir as condições sociais. A análise de Ariès também revela que o adolescente, dentro do mundo escolar, era afastado do adulto e confundido com a criança, ou seja, não havia muita distinção entre a infância e a adolescência; jovens de até 20 anos, às vezes até mais também tinham que ser submetidos à humilhação do castigo corporal e a uma disciplina idêntica à dos menores, estendendo-se a todas condições sociais. Logo, o sentimento da particularidade da infância, de sua diferença com relação ao mundo dos adultos, começou pelo sentimento de sua fraqueza, que a rebaixava a um nível mais inferior.
No século XVIII era preciso humilhar a infância para distingui-la e melhorá-la, entretanto foi surgindo um sentimento de repugnância, reprovação e então o caráter servil do castigo corporal não era mais reconhecido como adaptado à fraqueza. Surgiu a ideia de que a infância não era uma idade servil e não merecia ser metodicamente humilhada. Triunfa, no século XIX, uma nova concepção da educação, uma nova orientação do sentimento da infância, que não mais se ligava ao sentimento de sua fraqueza e não mais reconhecia a necessidade de sua humilhação. Tratava-se agora do despertar na criança a responsabilidade do adulto, o sentido de sua dignidade. A criança era menos oposta ao adulto do que preparada para a vida adulta.
6 As “Pequenas Escolas”
No século XVII as crianças foram separadas das mais velhas (de 5-7 a 10-11 anos), tanto nas pequenas escolas como nas classes inferiores dos colégios. E, no século XVIII, os ricos foram separados dos pobres, tendo dois tipos de ensinos: uma para o povo, e o outro para as camadas burguesas e aristocráticas. A relação entre esses dois fenômenos é que eles foram a manifestação de uma tendência geral ao enclausuramento, que levava a distinguir o que estava confundindo, e a separar o que estava apenas distinguido. Isso resultou nas sociedades igualitárias modernas que substituíam as promiscuidades das antigas hierarquias.
7 A Rudeza da Infância Escolar
Foi necessária a pressão dos educadores para separar o escolar do adulto boêmio (ambos herdeiros de um tempo em que a elegância de atitude e de linguagem era reservada ao adulto cortês), já que, nos séculos XVI e XVII, os contemporâneos situavam os escolares no mesmo mundo picaresco dos soldados, criados e mendigos. Uma nova noção moral deveria distinguir a criança escolar, e separá-la: a noção da criança bem educada (século XVII). A criança bem educada seria preservada das rudezas e da imoralidade, que se tornariam traços específicos das camadas populares e dos moleques. Na França a criança bem educada seria o pequeno-burguês; na Inglaterra, gentleman – tipo social desconhecido antes do século XIX.
Os hábitos das classes do século XIX foram impostos às crianças, primeiramente como conceitos sem os viveram concretamente. Esses hábitos no princípio foram hábitos infantis, os hábitos das crianças bem educadas, antes de se tornarem os hábitos da elite desse século e, pouco a pouco, do homem moderno, qualquer que seja sua condição social. A antiga turbulência medieval hoje é a marca dos meleques, dos desordeiros, últimos herdeiros dos antigos vagabundos, dos mendigos, dos “fora-da-lei”, dos escolares do século XVI e início do século XVII.
top demaiiis, muito obrigada, ajudou muito aqui.
Muito bom! obrigada pelo resumo.
Olá, Favor verificar o nome do livro. O correto é “História Social da criança e da família”. Grata!