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Resenha do capítulo “Rudolf Steiner 1861-1925” do livro “50 Grandes Educadores – De Confúcio a Dewey”, de Joy A. Palmer | SEO

Descubra mais sobre Rudolf Steiner 1861-1925 e sua influência na educação moderna com a Joy A. Palmer. Leia a resenha do capítulo do livro 50 Grandes Educadores – De Confúcio a Dewey para obter uma visão detalhada de suas contribuições inovadoras!

Resenha do capítulo “Rudolf Steiner 1861-1925” do livro “50 Grandes Educadores – De Confúcio a Dewey”, de Joy A. Palmer | SEO

image0. Introdução

Anderson Paulino, entusiasta da Pedagogia Waldorf, diretor de escola pública na cidade do Rio de Janeiro, chamou-me a atenção em abril de 2008 para o capítulo “Rudolf Steiner 1861-1925” do livro de Joy A. Palmer 50 Grandes Educadores – de Confúcio a Dewey, trad. M. Pinsky, São Paulo: Ed. Contexto, 2005 (pp. 229-235). O original é Fifty Major Thinkers on Education – from Confucius to Dewey, Oxford: Routledge 2003. Há partes desse original (início e fim de cada capítulo) na Internet, em http://www.questia.com/PM.qst?a=o&d=107720493 onde se vê que Joy A. Palmer não é a autora do livro, mas a editora principal, havendo ainda os editores adjuntos Liora Bresler e David E. Cooper. O capítulo sobre Steiner está nas pp. 187-192. As pp. 187, 191 e 192 estão acessíveis a partir da página da Internet referida. Na p. 192 vê-se que esse capítulo é da autoria de Jürgen Oelkers, que será denominado aqui de “autor”; fazendo-se uma busca pela Internet com seu nome descobre-se que ele é professor do Departamento de Pedagogia Geral da Faculdade de Pedagogia da Universidade de Zürich. As referências e notas nas pp. 191 e 192 diferem em grande parte das que aparecem na tradução.

É reconfortante verificar que nesse livro há um reconhecimento da contribuição de Rudolf Steiner para a educação, introduzida por ele em 1919 por meio do que ficou conhecido como Pedagogia Waldorf (PW). Esse reconhecimento não é em absoluto o caso dos meios pedagógicos, em particular os acadêmicos. Gostaria de receber dos leitores a informação de algum curso superior de pedagogia ou de licenciatura que aborde a PW. Ela é tão vasta, tanto em seu edifício conceitual como em sua prática, seus métodos e princípios são tão diferentes, seus resultados tão bons que não deveria ser abordada nem mesmo como parte de alguma disciplina acadêmica sobre diversos tipos de pedagogia, mas como uma disciplina semestral à parte. No entanto, nem o primeiro caso ocorre, talvez com raríssimas exceções, sempre por iniciativa de algum professor que teve algum contato com a PW. Há dezenas, talvez centenas de publicações sobre PW, em uma grande quantidade de línguas. Em português, temos um texto introdutório, produzido no vernáculo pelo saudoso Dr. Rudolf Lanz, que foi um dos introdutores da PW no Brasil, seu mentor e grande divulgador até sua morte em 1998 [LAN 98]. Há também inúmeras traduções de textos e palestras do próprio Steiner sobre a PW, e outros livros de seguidores de sua cosmovisão e educação. Quem se interessa por educação em geral não deve deixar de se inteirar da PW, não só lendo sobre ela (veja, por exemplo, a seção correspondente no site da Sociedade Antroposófica no Brasil, mas obrigatoriamente visitando uma escola Waldorf (ver o diretório latino-americano de escolas Waldorf e o diretório de jardins-de-infância Waldorf no Brasil). Terminando esta resenha, percebi que acabei por fazer uma descrição razoavelmente detalhada de muitas das características diferenciadas da PW.

O capítulo do livro de Palmer certamente contém vários problemas de tradução. Por exemplo, na p. 233 há uma palavra alemã transcrita do original, Geheimwissenschaft, com a seguinte nota de rodapé: “(N.T.) Imagens arcaicas, ou proto-imagens, segundo a psicanálise”. Ora, a tradução literal dessa palavra é “Ciência do oculto”, e não contém absolutamente nada de imagens, muito menos arcaicas. Vou aqui comentar várias frases do autor da maneira como aparecem na tradução, isto é, sem especular sobre como deve ter sido o original. Afinal, é isso que os leitores de língua portuguesa irão encontrar.

Nesta resenha comento trechos com os quais não estou de acordo, e também completo informações sobre PW dadas pelo autor, pensando em um leitor do livro que não tem qualquer conhecimento sobre essa pedagogia. Vou dar vários exemplos usando minha experiência com a Escola Waldorf Rudolf Steiner de São Paulo, pois é a que melhor conheço, já que meus 4 filhos fizeram toda sua escolarização nela, minha esposa foi a médica antroposófica dessa escola durante 28 anos, e eu mesmo dei nela dois anos de aula de matemática, quando ela começou o seu ensino médio. Ainda tive bastante contato com a magnífica escola Waldorf de Engelberg, na cidade de Winterbach, na Alemanha, que foi freqüentada por um ano pelos meus 4 filhos, e onde minha esposa trabalhou. Essas experiências foram completadas com muitas leituras sobre a PW. Assim, este artigo serve também de introdução a muitos aspectos dessa pedagogia para pessoas que não a conhecem em profundidade.

Abreviaturas usadas neste artigo: PW – Pedagogia Waldorf; EW – escola Waldorf; EWs – escolas Waldorf; EWRS – Escola Waldorf Rudolf Steiner de São Paulo.

1. “O profeta capta a revelação, ou seja, o sinal do mundo dos sentimentos” [p. 229, citação de subtítulo].

Essa é uma citação que abre o capítulo, como subtítulo. A referência bibliográfica dela é o livro Teosofia, de Rudolf Steiner [STE 83]. Não consegui encontrar essa citação nesse livro, e nem em uma busca automática na edição em inglês que está na Internet, no Rudolf Steiner Archive [idem] mas, de qualquer modo, ela está totalmente fora de contexto. Steiner pode muito bem ter expresso essa frase, mas de maneira alguma estava se referindo a si próprio, pois jamais denominou-se “profeta”. O enfoque espiritualista de Steiner não é baseado nos sentimentos, e sim nos pensamentos, expressos de maneira conceitual clara, o que justamente os assim chamados “profetas” não conseguiam e não conseguem fazer (ver na Internet a sua palestra de 13/11/1909, A vidência visionária e o conhecimento). O meio de pesquisa usado por Steiner é o pensamento que, treinado pela meditação, é capaz de observar objetiva e conscientemente os mundos espirituais; o meio não é o sentimento, que é subjetivo. No entanto, o mundo dos sentimentos não é ignorado, muito pelo contrário; apenas não é usado como base da cognição. Além disso, essa frase não tem praticamente nada a ver com educação. É estranho que o autor não tenha usado alguma frase de Steiner significativa para a educação, como por exemplo “Nossa maior tarefa é desenvolver indivíduos livres, capazes de, por sua própria iniciativa, dar objetivo e direção às suas vidas.”

2. “Rudolf Steiner foi o fundador do que é hoje o maior império particular e não lucrativo de provedores de educação, sem se levar em conta as escolas de orientação religiosa. As escolas de Rudolf Steiner são os empreendimentos que mais crescem no panorama educacional do mundo ocidental. […] O empreendimento tem sua direção instalada em Dornach, na Suíça, centro de poder da “Sociedade Antroposófica”, que opera no mundo todo.” [p. 229, 1º par].

De fato, há mais de 1.000 escolas Waldorf do mundo inteiro (ver o diretório mundial de EWs) sem contar milhares de jardins-de-infância e muitas escolas e lares para deficientes, que também aplicam os princípios da PW. No entanto, não estou absolutamente de acordo com a palavra “império” (no original, p. 187, “empire”). Cada EW é totalmente livre e independente das outras. Existem associações de EWs, como por exemplo a Federação das Escolas Waldorf no Brasil e a mundial Bund der Freien Waldorfschulen (Federação das Escolas Waldorf), que não tem sua sede na cidade de Dornach, na Suíça, mas em Stuttgart, na Alemanha. No entanto, essas associações apenas promovem eventos, como por exemplo cursos e palestras para professores Waldorf, promovem contato entre as escolas, angariam fundos, etc. Uma das tarefas importantes dessas federações é a certificação de uma escola como aplicando efetivamente a PW, no sentido de orientar o público sobre esse fato. Não há nenhuma, absolutamente nenhuma interferência pedagógica ou organizacional das federações sobre as escolas. Toda EW segue um sistema de auto-gestão dos professores, não havendo um diretor prático. No Brasil, é necessário por lei que cada escola tenha um diretor, mas nas EWs ele é em geral meramente figurativo, servindo para representar a escola em papeladas oficiais, de modo que não há nenhum autoritarismo dentro de cada escola, e muito menos acima delas. Não há, portanto, um “império” de EWs.

As expressões “provedor de educação” e “empreendimento” (no original, education-provider e enterprise) não são adequadas para descrever as EWs, por terem uma conotação muito comercial e empresarial – ainda mais no Brasil, onde há conhecidas empresas de educação, inclusive visando lucro. As EWs não são empresas, são instituições de ensino, dirigidas pelos professores, pais e amigos da pedagogia, que formam sempre uma associação mantenedora sem fins lucrativos (como, aliás, apontado no texto); isto é, as EWs pertencem às comunidades onde estão inseridas – nesse sentido, são escolas realmente públicas (em lugar das escolas verdadeiramente estatais que usam erradamente essa denominação, e onde há imposição estatal de currículos, livros adotados, professores, etc.). O aspecto pedagógico é totalmente estabelecido e orientado pelos professores, sem nenhuma interferência externa – obviamente, os professores devem estar a par das características culturais da região onde está a escola, para adaptar o currículo Waldorf básico universal às condições locais e para satisfazer os anseios dos pais, na medida em que se identificam com os princípios fundamentais da pedagogia.

Finalmente, há nesse trecho claramente um erro de tradução: entre nós, não é empregada a expressão “Escolas de Rudolf Steiner”, e sim “Escolas Waldorf”. Em certos países da Europa a primeira é uma alternativa bastante comum, como por exemplo Rudolf Steiner Schule, em alemão. Um pouco adiante, aparece no texto a denominação “Escolas Steiner”, à qual aplica-se a mesma observação.

3. “A Weltanschauung [visão de mundo] das escolas é chamada de ‘antroposofia’ (sabedoria dos homens) e consiste de um sistema de doutrinas do qual Rudolf Steiner foi o spiritus rector.” [p. 229, 2º par].

“Sabedoria dos homens” poderia ser interpretada como a sabedoria que os seres humanos possuem. Antroposofia significa mais propriamente “Saber (ou ciência) sobre os seres humanos”. O essencial aqui é que a Antroposofia parte sempre do ser humano. Por outro lado, um “sistema de doutrinas” não é uma boa denominação, pois “doutrina” pode significar um conjunto de regras ou preceitos, pregação, etc. Doutrinas não envolvem aplicações práticas, como é o caso da Antroposofia. Curiosamente, o autor usou uma denominação mais adequada, “visão de mundo”, empregando a expressão alemã. Nas palavras do próprio Steiner, “A Antroposofia é um caminho de conhecimento que deseja levar o espiritual da entidade humana para o espiritual do universo. Ela aparece no ser humano como uma necessidade do coração e do sentimento” [ver referência na Internet]

4. “De 1884 a 1890, [Steiner] trabalhou como preceptor numa rica família vienense […].” [p. 229, 2º par.].

De fato, isso é verdade (ver a biografia cronológica de Steiner), mas o mais importante não foi dito: naquela família ele foi preceptor principalmente de um menino hidrocéfalo, que não podia freqüentar escolas. A educação que ele deu a essa criança foi tão efetiva e sanadora que, posteriormente, ele pôde entrar em uma escola regular e acabou por formar-se em medicina. Essa difícil experiência, segundo Steiner, foi decisiva para a formulação de sua proposta pedagógica.

5. “Tanto Goethe como Nietzsche influenciaram sua antiempírica filosofia da integridade espiritual, desenvolvida contra o reducionismo positivista de seu tempo.” (p. 229, 2º par.).

O método científico e a cosmovisão de Goethe tiveram grande influência sobre Steiner, que os estendeu enormemente. Mas não me consta que a filosofia de Nietzsche tenha exercido uma influência marcante sobre a sua própria.

O que será que o autor (ou a tradutora) queria dizer com “antiempírica”? Se for contra o empirismo, de certa maneira ela está correta: Steiner dava importância não só à observação empírica, mas também aos conceitos subjacentes às coisas. De fato, uma das bases de seu método cognitivo é considerar que o pensamento é um órgão de percepção de conceitos, que têm realidade no mundo platônico das idéias. Assim, as percepções sensoriais são sempre parciais, dando uma visão particular dos objetos percebidos; no entanto, para ele o pensamento completa essas percepções, fazendo uma ponte entre elas e a essência não-física dos objetos (ver, por exemplo, seu A Filosofia da Liberdade [STE 00]). Steiner foi o primeiro filósofo a dar uma importância fundamental ao pensamento, e caracterizá-lo de maneira original.

O que será que “integridade espiritual” quer dizer? Se for unidade, há um erro, pois Steiner reconhece no mundo espiritual a existência de vários tipos de seres. Por seu lado, o ser humano é formado de vários membros, seja física como não-fisicamente (Steiner elaborou detalhadamente sobre esse aspecto); no entanto, tudo isso apresenta-se como uma unidade. Nesse sentido, o ser humano é uma “integridade espiritual”. Um reducionismo isola as partes, perdendo-se a visão do todo. Esse princípio, existente já na ciência de Goethe, foi adotado por Steiner, que certamente é anti-reducionista. Por outro lado, pode-se também considerá-lo como contrário ao positivismo, pois este era puramente materialista.

6. “A maior influência no pensamento de Steiner, no entanto, veio de Marie von Sievers […].” [p. 230, 1º par].

Isso não está correto. Marie von Sievers foi uma importante colaboradora de Steiner, tanto no início de sua atividade esotérica pública, como depois como sua esposa e, finalmente, editora de sua obra após sua morte. Mas de modo algum pode-se afirmar que ela foi a maior “influência” em seu pensamento. Isso seria diminuir uma característica essencial de Steiner, qual seja a de ter claramente feito suas próprias pesquisas, ter elaborado sua própria visão de mundo, e tê-la expresso de maneira original, voltada para a compreensão e não para os sentimentos. Além disso, Steiner deu contribuições filosóficas e práticas absolutamente originais, que não remontam a ninguém.

7. “[Marie von Sievers], na época sua gerente pessoal que organizou a Seção Alemã [da Sociedade Teosófica] e também a carreira de Steiner. A virada de Steiner para o misticismo e filosofia ocultista tornou-se pública em 8 de outubro de 1902, quando proferiu sua famosa palestra ‘Monism and Theosophy’ na prefeitura de Berlim.” (p. 230, 1º par.).

Chamar Marie von Sievers de “gerente pessoal” de Steiner é ridículo. Quanto à Sociedade Teosófica, é preciso esclarecer alguns pontos essenciais. De fato, Steiner passou a integrar essa Sociedade no início do séc. XX, acabando por tornar-se Secretário Geral da mesma na Alemanha. No entanto, é absolutamente essencial saber-se que ele não se baseou nas revelações da fundadora desse movimento, Helena Blavatsky, e muito menos nos teósofos posteriores a ela. Lendo-se cuidadosamente uma parte substancial de seus 28 livros e centenas de ciclos de palestras (foram um total de cerca de 6.000) publicadas em mais de 300 volumes, nota-se claramente seu enfoque diferente, muito mais amplo, profundo, bem estruturado e conceitual. Várias de suas obras são puramente filosóficas, o que não foi o caso de Blavatsky. Muitas dirigem-se a aplicações práticas, na educação, medicina, terapias, novas artes (incluindo uma nova arquitetura), agricultura, organização social, etc. Em termos conceituais, ele fez contribuições importantíssimas, absolutamente originais, das quais podem ser citadas a sua descrição do ser cósmico Cristo (que pouco tem de comum com o Cristo como considerado tradicionalmente) e do destino humano (carma). Em particular, foi justamente sua concepção sobre o Cristo que o afastou em 1913 da Sociedade Teosófica; seus dirigentes na época, Annie Besant e Olcott, declararam que o jovem Krishnamurty era uma reencarnação física do Cristo, e Steiner afirmava que não poderia haver uma nova reencarnação física daquela entidade. Mais tarde, o próprio Krishnamurty desligou-se da Teosofia e negou essa versão.

Jamais Steiner teve uma virada para o “misticismo”. Quem usa essa expressão não tem um conhecimento razoável de Antroposofia. O misticismo dirige-se para os sentimentos, a Antroposofia para a compreensão. O que ocorreu com Steiner é que, até o começo do séc. XX, suas obras eram puramente literárias e filosóficas; ele era considerado um jovem gênio intelectual, e nele eram depositadas muitas esperanças pela intelligentsia de língua alemã. Realmente houve uma guinada em sua vida, quando ele resolveu comunicar ao mundo os resultados de suas observações e pesquisas supra-sensoriais, ao que se dedicou até sua morte. Vários intelectuais materialistas obviamente decepcionaram-se com isso, como por exemplo o grande biólogo Ernst Haeckel, que cortou sua intensa correspondência com Steiner.

A palestra citada não é nem um pouco “famosa”. Aliás, é difícil apontar uma palestra específica de Steiner como sendo particularmente “famosa”.

8. “Teosofia é a chave para sua obra posterior, inclusive a teoria da educação.” [p. 230, 2º par.].

Se por “Teosofia” o autor estiver se referindo à Teosofia de Mme. Blavatsky e a Sociedade Teosófica, então a frase não está correta. A obra posterior de Steiner não se baseou na Teosofia, e sim em suas próprias observações e pesquisas dos mundos não-físicos. O mais correto seria chamar de “Antroposofia” pois, como já citei, ela foi expressa de maneira original e muito mais detalhada, com aplicações práticas, o que não era o caso da Teosofia. Por exemplo, Steiner introduziu pela primeira vez atividades artísticas nos congressos da Sociedade Teosófica, em 1907.

Finalmente, seu método pedagógico não é uma teoria, como o autor o chama.

9. “Steiner desenvolveu sua própria “antroposofia” de espiritualidade ocidental, incorporando o misticismo medieval, a filosofia ocultista da natureza de Paracelso, o universalismo neoplatônico de Giordano Bruno e a renovação do cristianismo esotérico de Jakob Böhme. Em 1912 rompeu com a Sociedade Teosófica e desenvolveu seu próprio império, começando com a fundação do Geotheanum em Dornach em 1913.” [p. 230, 2º par.].

De fato a Antroposofia é uma espiritualidade ocidental, pois a do oriente tipicamente não se dirige ao intelecto e à compreensão, além de não ter praticamente nenhuma ligação com o ser cósmico Cristo. Ela não incorpora o misticismo medieval e outras correntes: ela é uma renovação de todo o conhecimento esotérico que houve no passado, e permite que se compreenda os impulsos espirituais desde os primórdios da humanidade, por exemplo a epopéia de Gilgamesch, a Baghavad Gita, os vários livros dos mortos, a Bíblia, os vários mitos egípcios, gregos, celtas, nórdicos, etc., e as posições de filósofos e místicos como Paracelso e Böhme. Em particular, a renovação do cristianismo feita por Steiner é absolutamente original e não pode ser traçada a nenhum autor ou tradição anteriores.

Como eu já disse no item 2, a denominação de “império” é totalmente inadequada. A sede da Sociedade Antroposófica Geral (Allgemeine Anthroposophische Gesellschaft) está em Dornach, na Suíça, no edifício denominado “Goetheanum”; ela é simplesmente o elo de ligação das várias Sociedades Antroposóficas territoriais, como por exemplo a Sociedade Antroposófica no Brasil; no entanto, cada sociedade territorial tem absoluta independência de organizar suas atividades. O máximo que a Sociedade Geral faz é recomendar às sociedades territoriais um estudo básico comum para cada ano, mas os Ramos e grupos de estudos nos vários países podem adotá-lo ou não. A Sociedade Geral promove congressos e cursos no Goetheanum e apóia iniciativas nos vários países.

O primeiro Geotheanum em Dornach foi um prédio construído em madeira de 1913 a 1922, ano em que foi destruído por um incêndio criminoso. Era uma enorme construção de madeira com duas cúpulas, a menor contendo um palco e a maior um auditório, toda projetada por Steiner, em seus mínimos detalhes, uma verdadeira jóia artística. Depois do incêndio Steiner, caracteristicamente, não desanimou, e projetou o segundo Geotheanum, que deveria ser todo em concreto aparente, construído após sua morte, e que é a sede atual da Sociedade Geral.

10. “A fundação da primeira Escola Waldorf foi patrocinada por Emil Molt, proprietário da fábrica de cigarros Waldorf-Astoria, em Stuttgart. As escolas Waldorf logo atraíram pais da classe média em busca de alternativa para as escolas convencionais temáticas.” [p. 230, 2º par.].

A primeira EW foi fundada em 1919 a pedido dos trabalhadores da fábrica de cigarros citada. Eles tinham ouvido palestras de Steiner sobre organização social; ele fez na época um grande movimento de renovação social, pois achava que a 1ª Guerra Mundial tinha mostrado que era necessário haver uma renovação total da organização social, do Estado e da economia, se se desejasse que o conflito não se repetisse. Funcionários daquela fábrica tinham dificuldade de entender as idéias de Steiner, apesar de sentirem que elas deviam ser corretas. Manifestando a ele sua decepção com aquela dificuldade, ouviram dele que o problema deles era educacional; decidiram então pedir-lhe que formasse uma escola diferente, onde seus filhos pudessem receber uma educação mais ampla e profunda. Emil Molt deu todo o apoio, e Steiner fundou na fábrica a primeira escola, na condição de ter total liberdade pedagógica. Foi literalmente uma escola revolucionária (o que continua a ser até hoje); por exemplo, não havia notas e repetições de ano, e o ensino não separava meninos de meninas, como era a tradição ainda naquela época. Pouco depois, a escola separou-se da fábrica. Por essa história, vê-se que a primeira EW (existente até hoje, na Rua Haussmann, em Stuttgart, e chamada carinhosamente de “escola-mãe”) não foi concebida como uma escola para crianças de classe média, e sim para proletários. Em particular, as EW na Alemanha e em vários países da Europa são subvencionadas pelo governo, e servem a todas as populações locais (que, por sinal, poderiam ser consideradas como consistindo uma classe média). Minha filha mais velha dá aulas na escola Waldorf Intercultural, dedicada especialmente a filhos de imigrantes.

11. “A educação era, desse modo, vista como algo que desenvolve um conhecimento espiritual do mundo e permite ao aluno se tornar parte vital da espiritualidade. O meio para isso é a experiência interior e não a observação nem a descrição. A organização social para a disseminação dessa experiência interior é chamada de “sociedade secreta”, meio de indicar a exclusividade do tipo de conhecimento envolvido. Dessa forma, não é de surpreender que Steiner seja chamado o “líder dos pesquisadores esotéricos do século XX.” [p. 230, 3º par.].

A primeira frase pode ser interpretada como a PW almejando que os alunos adquiram um “conhecimento espiritual do mundo”. É preciso ficar bem claro que nenhuma EW ensina Antroposofia, pois considera-se que uma pessoa deve ser já adulta para ter a liberdade de escolher se quer estudá-la e praticá-la ou não. A segunda parte dessa primeira frase tem uma certa dose de verdade: as EW, contrariamente às escolas comuns, não passam uma visão materialista – e portanto unilateral – do mundo. Deve no entanto ficar claro que a ciência é estudada no ensino médio com todo o rigor da ciência clássica. Por exemplo, faz parte do currículo de biologia o estudo da teoria da evolução de Darwin, mas ela é apresentada como teoria, e não como verdade, apontando-se também para os problemas intrínsecos a ela. Por outro lado, considerando-se que crianças pequenas têm uma religiosidade inata, e a imaginação e a fantasia constituem nesse período ferramentas educacionais fundamentais, o criacionismo bíblico é dado nas primeiras classes – novamente, não como uma verdade literal (o que não poderia ser captado conceitualmente pelas crianças), mas como imagem.

A segunda frase necessita reparos. Ela não tem nada a ver com o ensino de crianças e jovens: desenvolvimento interior é algo a ser feito conscientemente por adultos. Provavelmente a referência é ao desenvolvimento de percepção supra-sensorial. De fato, na Antroposofia esse desenvolvimento é feito individualmente de maneira totalmente interior, por meio de práticas meditativas. No entanto, a “observação” e a “descrição” são absolutamente essenciais nesse processo. De fato, nenhuma idéia ou teoria deveria contrariar a observação sadia do mundo exterior e interior de cada pessoa. A lógica e a clareza de pensamento impostos pelo mundo físico devem ser preservados durante todo o desenvolvimento pessoal. Por outro lado, Steiner sempre enfatizou que o caminho do conhecimento e da observação dos mundos espirituais deve passar inicialmente pelo estudo das descrições dos mesmos feito por pessoas – como ele próprio – que tiveram essa experiência.

Por outro lado, essa segunda frase poderia ser interpretada como referindo-se ao desenvolvimento interior dos professores de uma EW. Certamente eles devem basear-se na Antroposofia, e em particular na visão que ela dá sobre o ser humano e seu desenvolvimento até a fase adulta. Por exemplo, essa visão fornece meios para se observar e compreender as várias fases do amadurecimento de uma criança ou jovem, por que ocorrem certos interesses e crises em cada idade, etc. Professores Waldorf que não são engajados na Antroposofia tornam-se meros técnicos de aplicação de práticas pedagógicas, e não é isso que se espera de um tal professor. A propósito, Steiner afirmou que um professor deve ser essencialmente um artista, e não um cientista – lembremos que todo artista necessita também de domínio técnico sobre sua arte. Um professor que é só um técnico tende a tratar seus alunos como máquinas – na melhor das hipóteses, como animais –, e não como seres humanos.

Não há “organização social para a disseminação dessa experiência” (provavelmente a aquisição de conhecimentos superiores), e muito menos qualquer coisa secreta na Antroposofia. Deve haver alguma coisa fora de contexto nessa citação do autor (aqui não é um erro de tradução, pois ela coloca nas referências a palavra original de “sociedade secreta”, Geheimgesellschaft, como constando da autobiografia de Steiner [STE 06]. Não consegui encontrar nela essa palavra (nem fazendo uma busca com “secret society” na versão em inglês na Internet), que é muito estranha, pois a sua autobiografia vai até 1910, portanto 9 anos antes da instituição da PW. De qualquer modo, toda a obra de Steiner está publicada, acessível ao público. Na PW e nas EW não há absolutamente nada de secreto – se houvesse, já se teria tornado público, considerando-se os milhares de professores que por elas passaram, alguns tendo mesmo se tornado dissidentes, como acontece em qualquer lugar. Há inclusive grupos contra a PW – qualquer materialista coerente deveria ser contra ela, pois o seu fundamento é espiritualista.

Quanto ao fato de Steiner ser considerado o “líder dos pesquisadores esotéricos do século XX”, na medida em que se interpreta esse “líder” como aquele que detém o maior conhecimento, a frase está correta. Não houve nenhum outro autor, nem antigo nem moderno, que descreveu com tanta clareza e com tanta abrangência os fenômenos espirituais no ser humano e no universo; não há outro cujas idéias tiveram tantas aplicação práticas na vida diária do ser humano, com grande sucesso.

12. “A Antroposofia de Rudolf Steiner enfatiza a unidade de corpo, mente e alma, não num sentido pessoal e sim no sentido de unidade cósmica. Existem três mundos: o físico, o da alma e o do espírito. O homem é parte de todos os três mundos por meio das sete formas de sua existência total na terra. Ele é “enraizado” no mundo físico com seu corpo físico, etéreo, com alma16 e “floresce” no mundo espiritual com seu ser espiritual, seu espírito de vida e sua existência espiritual.” [pp. 230-231]. A nota de referência 16 é a seguinte: “Em publicações posteriores foi acrescentado o conceito de ‘corpo astral’.”

Não existe na Antroposofia a divisão do ser humano em “corpo, mente e alma”. Curioso como a primeira frase não combina com a segunda; uma das divisões é justamente em corpo, alma e espírito, mas formando uma unidade indivisível do ponto de vista individual (para mais detalhes, ver na Internet meu artigo “Uma introdução antroposófica à constituição humana e, também nela, a íntegra do livro do Dr. Rudolf Lanz Noções Básicas de Antroposofia).

A constituição humana pode ser examinada com mais detalhe, inclusive com sete membros. Curiosamente, o autor só cita seis, e na nota das referências ainda parece confundir “alma” com o que Steiner, seguindo uma velha tradição esotérica, denominou de “corpo astral”. Os três membros superiores da divisão ternária, que constituem o “espírito”, são traduzidos normalmente por “identidade espiritual”, “espírito vital” e “homem-espírito”. Não cabe aqui uma descrição dos membros não físicos do ser humano; vejam-se o artigo e o livro citados.

A nota de referência 16 é deveras curiosa, pois não se tem idéia de qual publicação inicial, anterior às tais posteriores, ela se refere. A denominação ‘corpo astral’ sempre foi usada por Steiner, desde a primeira vez em que se referiu a esse membro supra-sensível da constituição humana.

13. “A ‘antroposofia’ é nada mais do que uma ciência espiritual para o amadurecimento da alma que requer pesquisa no mundo espiritual.” [p. 231, 1º par.].

Essa não é uma boa caracterização da Antroposofia (ver o item 3). Parte do caminho de desenvolvimento de cada ser humano preconizado por ela é o aperfeiçoamento da alma e o fortalecimento do espírito.

14. “A antroposofia era, evidentemente, um projeto de direção oposta ao da cultura científica ocidental, um projeto que inclui doutrinas de destino cósmico e reencarnação.”

A Antroposofia é uma extensão da ciência tradicional. Qualquer fato científico é reconhecido por ela; isso não significa que ela aceite todos os julgamentos baseados na ciência. Por exemplo, durante um dia claro todos vemos o Sol movendo-se no céu. Esse é um fato científico. Se o Sol move-se no espaço sideral e a Terra está fixa, ou ele está fixo e a Terra gira em torno de seu eixo durante o dia, são julgamentos científicos. Fortes evidências, tanto teóricas (a teoria da gravitação de Newton) quanto práticas (o pêndulo de Foucault) obviamente levam à adoção do segundo julgamento. A ciência corrente é puramente materialista. Assim, segundo os julgamentos científicos adotados pela quase totalidade dos neuro-cientistas, o pensamento é gerado pelo cérebro. A Antroposofia parte de um julgamento mais amplo: o cérebro participa da atividade normal do pensar, mas nem sempre gera o pensamento; nesse caso a atividade cerebral, que pode ser detectada com tomografia, PET scanning, etc. é conseqüência da atividade de pensar. Um outro exemplo: o julgamento científico corrente sobre a evolução é o neo-darwinismo; a Antroposofia amplia essa teoria, admitindo que nem todas as mutações e seleções naturais foram casuais.

15. “A educação é parte da Geheimwissenschaft, que não é conhecida publicamente, mas revelada apenas aos que crêem. Essa visão está em oposição a tudo que constitui educação moderna desde o Iluminismo.” [p. 231, 2º par.].

Para a palavra Geheimwissenschaft, veja-se a introdução acima, onde falo sobre possíveis problemas de tradução.

A primeira frase é um absurdo total. Como já citei no item 11, não há absolutamente nada de secreto na Antroposofia, na Sociedade Antroposófica, e muito menos na PW. Além disso, a PW (subentendida pelo autor quando nesse ponto fala de “educação”) é uma aplicação da Antroposofia, que é a cosmovisão espiritualista introduzida por Steiner e expandida pelos seus seguidores. A educação é uma aplicação dessa cosmovisão, não é parte dela. Somente se se considerar a Antroposofia como abrangendo todas suas aplicações, então a PW seria realmente parte dela. A PW está em oposição às correntes educacionais desde o iluminismo na medida em que estas partem de uma visão de mundo materialista. Mas não se pense que todas as práticas da PW são opostas às práticas educacionais comuns: por exemplo, na PW existem classes de alunos, e professores.

Verdadeiros antropósofos não “crêem” na Antroposofia, como diz o autor. Repetidamente, Steiner afirmou que não há mais lugar para crenças no mundo; o enfoque correto é a compreensão e a experiência pessoais. Assim, a maneira correta de se encarar a Antroposofia é, inicialmente, como um conjunto de hipóteses de trabalho e de teorias. O estudioso da mesma deve sempre testar sua coerência e verificar se as hipóteses e teorias são formuladas com clareza e correspondem ao que ele pode observar em si e no mundo exterior. Finalmente, é necessário observar se as aplicações devem significar uma melhoria na vida em geral. Numa segunda fase, tendo desenvolvido por práticas meditativas individuais uma certa capacidade de observar o mundo supra-sensível, ele deve verificar por conta própria o que foi transmitido sobre esse mundo, adquirindo então a confiança de que todo o edifício conceitual deve ser verdadeiro.

16. “Para Steiner e seus seguidores, a base da educação não é nem ensino, nem aprendizagem, mas desenvolvimento. ‘Desenvolvimento’ refere-se não à natureza como Rousseau expressou, nem à mente como Piaget propôs. Steiner falou dos ‘três nascimentos dos homens’, que vêm um atrás do outro numa seqüência de sete anos.” [p. 231, 3º par.].

A base da PW é tanto o ensino quanto a aprendizagem. É por meio deles que a criança e o jovem desenvolvem-se na educação escolar. Uma das características fundamentais da PW é o conhecimento do desenvolvimento sadio da criança e do jovem, que se dá em períodos de sete anos, denominados “setênios”. Como o autor diz, eles de fato correspondem a “nascimentos”, mas são quatro: o primeiro é o nascimento do corpo físico, e os outros o início da manifestação independente de membros supra-sensíveis diferenciados; o segundo nascimento se dá ao redor dos 7 anos, o terceiro ao redor de 14 e o quarto ao redor dos 21 anos. Seguem-se outros, também em períodos de 7 anos, mas que não dizem mais respeito à escolarização. Baseado no conhecimento das características de cada setênio é que se estabelece o método educacional adequado para a idade. Por exemplo, antes dos 7 anos não se ensina a ler, pois essa atividade exige uma abstração muito grande (as nossas letras são símbolos sem significado), e nessa época a criança está dedicada a formar sua base física, desenvolver sua coordenação motora, sua capacidade de falar e de pensar não-intelectualmente. Durante o ensino fundamental, dos 7 aos 14 anos, não se força uma intelectualização precoce: tudo é ensinado artisticamente e partindo-se da vivência do convívio social e dos fenômenos, que não são explicados abstratamente.

Piaget interessou-se apenas por aspectos cognitivos. A PW trata dos aspectos físico, volitivo, emotivo e intelectual, sendo portanto muitíssimo mais abrangente. As conclusões de Piaget sobre as capacidades cognitivas coincidem com o que Steiner já havia dito bem antes a esse respeito. A PW sempre foi construtivista, pois parte das vivências das crianças e jovens, e não de enfoques puramente intelectuais, abstratos.

17. “Os meios de educação durante o primeiro período [setênio], são de imitação e modelagem, durante o segundo período são de sucessão e autoridade, enquanto no terceiro período o caminho para a ‘alma mais elevada dos homens’ está aberto.” [p. 231, 30. par.].

Durante o primeiro setênio (na escola, época da creche e do jardim-de-infância), a PW parte do conhecimento de que o aspecto volitivo é predominante na criança, sendo então usadas como ferramentas educacionais a imitação, a fantasia, o ritmo e a repetição. Durante o segundo setênio, considera-se que o lado emotivo é o que está principalmente se desenvolvendo, e as ferramentas passam a ser a arte, a vivência e a descrição. Nesse período, o senso estético do “belo” é particularmente cultivado e empregado artisticamente em todas as disciplinas; além disso, de fato a autoridade do professor, como exemplo de pessoa íntegra, é fundamental, mas o lema é “autoridade com amor”, e não o exercício da autoridade pelo poder e domínio. No terceiro setênio, libertam-se as forças do pensar abstrato, e o ensino passa a ser também intelectual, com toda a carga científica do ensino tradicional. Apenas apela-se muito para a vivência dos fenômenos antes de se formularem as teorias.

As referências a “modelagem” e a “sucessão” para os primeiro e segundo setênios são incompreensíveis. Se por “alma mais elevada dos homens” o autor refere-se à atividade do pensar, de fato, é a que predomina no terceiro setênio.

18. “O ensino nos primeiros períodos não devem ser feitos de forma ‘abstrata’, mas concreta, com ‘imagens vivas, animadas’, representando a espiritualidade verdadeira para o entendimento da criança. O educador deve ser ‘sensível, afetuoso e imbuído de empatia’. No final, o educador representará o ‘verdadeiro conhecimento da ciência espiritual’ e isso estará no coração de toda a educação verdadeira. Até a maturidade sexual, o ensino relaciona-se com a memória da criança, depois disso à razão. Só é necessário trabalhar com conceitos depois da maturidade sexual. A instrução tem um princípio central, isto é, a memória vem primeiro e só depois a compreensão.” [pp. 232-233].

O que será que o autor quer dizer com “primeiros períodos”? Vou admitir aqui que ela se refere aos 1º e 2º setênios. Nesse caso, há um grande erro: no 1º setênio a PW não recomenda um “ensino” como se entende essa palavra na atividade escolar. Por isso em todas as EWs usa-se a denominação tradicional “jardim-de-infância” (Kindergarten, em inglês e alemão, jardin-de-infantes em espanhol, etc.). Por exemplo, não há em absoluto o ensino de aprender a ler e escrever nesse período. Veja-se o item 17 acima para as ferramentas educacionais recomendadas para essa fase, tanto na escola como no lar. Denomino o mestre ideal do 1º setênio como “professor-mãe”. Recomendo fortemente que os leitores visitem algum jardim-de-infância Waldorf. Observem o ambiente acolhedor, carinhoso, com cantos da sala dedicados a temas específicos (por exemplo, uma “casinha” feita com panos coloridos e simples armações onde eles são estendidos), com os brinquedos de materiais naturais e sem figuras caricatas ou monstruosas, os materiais da natureza (pinhas, pedaços de galhos, etc.), as atividades diárias seguindo sempre um determinado ritmo (hora de ouvir histórias, hora de brincar lá fora na caixa de areia e nos aparelhos de madeira tipo parque infantil, hora de comer o lanche, preparado pelas professoras juntamente com as crianças – prática introduzida no Brasil por minha esposa, que foi médica escolar Waldorf por 28 anos), enfim, quem ver tudo isso e não ficar profundamente tocado, tendo mesmo vontade de voltar a ser criança, não deve ter muita sensibilidade e senso artístico.

No segundo setênio começa o ensino formal, isto é, com classes e professores. De fato, como o autor menciona, há uma recomendação estrita da PW: nesse período não se deve dar um ensino abstrato, intelectualizado. Vou me estender sobre um exemplo, pois praticamente todos nós que estudamos com o ensino tradicional no Brasil sofremos com ele. Como foi que o leitor aprendeu o que é uma “ilha”? Certamente, “Um pedaço de terra cercado de água por todos os lados.” Quantos anos nós tínhamos quando aprendemos essa barbaridade? Talvez uns 8 anos. Ela é uma barbaridade pois é uma definição abstrata, intelectualizada, absolutamente morta. De fato, essa ilha não tem ondas, praias, areia, conchas, rochedos no mar, cheiro, ruído e brisa do mar, plantas e árvores, cobras e lagartos, etc. É uma ilha literalmente morta, sem colorido e sem vida. Em lugar disso, o que o professor podia ter feito? Por exemplo, contado a história de um velejador, que de repente enfrentou um vento muito forte, naufragando, tendo nadado até uma praia. Descansou, conseguiu derrubar uns cocos de um coqueiro, conseguiu abri-los, tomar sua água e comer sua polpa, e depois resolveu ir para casa. Para todos os lados em que ia, passando pelo mato, pelas plantas e bichos, dava no mar. Com essa história, contada longamente, cria-se na mente da criança a imagem de uma ilha viva. Na formação em PW, os professores aprendem a desenhar no quadro-negro lindas figuras com giz colorido, de modo que certamente, sendo um professor Waldorf, ele terá desenhado a ilha mostrando tudo o que o velejador ia encontrando. Depois disso, podem-se fazer ilhas com bacias e barro ou areia, fazendo as crianças recriarem o que o velejador viu na história, produzindo-se assim a vivência de uma ilha. Sendo possível, dever-se-ia visitar uma ilha real. O interessante é que aquela definição (que, como toda definição, não tem arte, não tem vida), está errada: não há água nem no lado de baixo nem no lado de cima…

“Representando a espiritualidade verdadeira para o entendimento da criança”. Talvez o autor queira dizer que o ensino deve apresentar as coisas de modo com que a criança capte intuitivamente a essência das coisas, que não é física, pois é um conceito. Portanto, deve ficar claro que, no ensino fundamental, o “entendimento” não é formal, abstrato. Mas devo repetir que conceitos antroposóficos não são apresentados aos alunos, nem mesmo no ensino médio; no entanto, os professores devem ter consciência deles.

De fato, o que autora descreve sobre o “educador” corresponde à realidade. O amor do professor por seus alunos é fundamental na PW. Ele pode ser muito mais profundo do que se pode imaginar, devido a uma característica fundamental dessa pedagogia: no ensino fundamental, há um “professor de classe”, que idealmente pega a classe na 1ª série e a leva até a 8ª, dando todas as matérias principais, como português, matemática, ciências, história e geografia, isto é, ele deve ser o que denomino um “professor-generalista”. Obviamente, há muitos outros professores, para as aulas de atividades artísticas e artesanato, música, educação física, línguas estrangeiras (a recomendação é ensinar-se durante os 12 anos de escolaridade duas dessas línguas; no mundo todo, uma delas é sempre o inglês, devido à sua atual universalidade). Muitas escolas Waldorf européias ensinam russo, para promover uma integração com o leste europeu.

As aulas de artesanato não são feitas simplesmente para que as crianças aprendam algo dessa área mas, como todo o currículo Waldorf, estão integradas dentro da concepção global de educação, tendo finalidades específicas dentro do amadurecimento (por exemplo, motor) do aluno. Assim, na 1ª série todos os alunos aprendem a fazer tricô, principalmente como uma preparação para a matemática, pois é necessário contar os pontos; como numa conta armada é preciso prestar atenção e não perder nenhum ponto, etc. Aliás, é interessante salientar que todo o artesanato feito por cada aluno produz objetos úteis, desde uma meia de lã feita sem costuras, com 5 agulhas (na 5ª série da EWRS) um pulôver (na 7ª série, na EWRS), tapetes, etc., até um pequeno armário de madeira talhada, peças de adorno em cobre, e assim por diante.

Quando uma pessoa visita o Bazar Natalino de uma EW, onde há sempre uma exposição de trabalhos e cadernos (não há adoção de livros-texto, os alunos fazem seus próprios textos, com toda a dinâmica que isso possibilita), a reação é sempre a seguinte: “Essa escola forma artistas!” Isso não é verdade, os alunos Waldorf têm simplesmente todas as suas habilidades desenvolvidas, sejam ela sociais, artísticas como intelectuais. As outras pedagogias (ou falta delas – quando uma escola simplesmente não segue nenhuma) é que deixam de desenvolver todas as potencialidades latentes nas crianças e jovens. Por exemplo, o ensino musical é tão efetivo que todos alunos do colegial da EWRS formam um coro de cerca de 200 vozes, cantando peças complicadas de maneira tão perfeita que já se apresentou no Carnegie Hall em New York.

Para completar o quadro do tipo de professor em cada setênio, na PW no ensino médio deve-se ter um “professor-especialista”, com uma formação superior específica na sua matéria, isto é, um matemático dando matemática, um físico dando física, um historiador dando história, etc. Nesse período o aluno está buscando compreender conceitualmente o mundo. No ensino médio a figura do professor de classe é substituída pela do “tutor”, que acompanha a classe durante os 4 anos do colegial, fazendo reuniões semanais com toda a classe, a fim de ajudar a resolver problemas entre os alunos e com os professores, planejar atividades, etc. Ele adquire um bom conhecimento de cada aluno, podendo ajudar os professores de matéria quando tiverem dificuldades com um ou outro aluno, ou com a classe como um todo.

O autor menciona o uso da memorização no ensino fundamental. De fato, isso é uma das ferramentas pedagógicas, por exemplo fazendo os alunos efetuarem cálculos de memória. No entanto, há obviamente muitas outras ferramentas educacionais que são usadas, como por exemplo, nas ciências, as vivências dos fenômenos e a descrição precisa dos experimentos. Uma ferramenta fundamental é o ritmo de absorção e produção (análogo à inspiração e expiração): o professor dá alguma matéria, e depois os alunos transcrevem em seus cadernos o conteúdo aprendido, fazendo desenhos artísticos como ilustração.

Não se deixa de usar a “razão” no ensino fundamental, mas ela não é puramente abstrata, e sempre ligada à imaginação ou a vivências. No ensino médio, o ensino passa a contar também com conteúdos puramente intelectuais, dirigidos à “compreensão” formal, como provar teoremas na matemática, estudar as teorias científicas e filosofia, etc. No entanto, as atividades artísticas e artesanais continuam com a mesma intensidade. Ao contrário do ensino tradicional, a PW parte de uma concepção detalhada do desenvolvimento de cada ser humano, e procura adequar o ensino à maturidade emotiva e intelectual própria de cada idade.

19. “As doutrinas de Steiner são absolutas. Afirmava ter resolvido os segredos do homem e por conseguinte os segredos da educação. Esse forte dogmatismo foi o centro dos movimentos reformistas antroposóficos dentro e fora da educação, tais como arquitetura, agricultura, medicina, todos os tipos de arte e reconstrução social. […] A influência sobre educação, no entanto, está restrita a seus seguidores. Steiner não é visto como um filósofo educacional clássico, e mesmo sua ligação com o movimento internacional da ‘nova educação’ é discutível.” [p. 232, 2º par.].

A primeira frase mostra que o autor não se aprofundou nas obras de Steiner e seus seguidores. Se há algo que a Antroposofia e suas aplicações não é, é de serem absolutas. O próprio Steiner disse que sua visão de mundo era adequada à sua época, e que tudo o que ele havia transmitido teria que ser mudado no futuro. A exceção, segundo ele, era sua teoria da cognição, como expressa em seu livro A Filosofia da Liberdade [STE 00]: essa era a única coisa que iria sobrar, intacta, da Antroposofia.

A visão de mundo de Steiner é tão abrangente e profunda, e produz resultados tão excelentes em todas as áreas, que as pessoas que a seguem e a aplicam podem dar a impressão de serem dogmáticas – fora o fato de haver pessoas dogmáticas em qualquer área de conhecimento e de prática, começando pela maioria, senão quase a totalidade, dos cientistas e acadêmicos atuais, quanto ao materialismo (isto é, a visão de que existem apenas processos físicos no ser humano e no universo). Mas dogmatismo está absolutamente, totalmente, contra o espírito de Steiner e da Antroposofia. Como já foi citado no item 15 acima, em vários de seus livros e palestras ele afirmou que não se deveria acreditar em suas palavras, pois não há mais lugar para crenças no mundo moderno: seus leitores e ouvintes deviam tentar compreender suas palavras, e testar continuamente sua coerência e se estavam de acordo com o que se pode observar dentro de cada um e no exterior.

Obviamente, pode haver uma tendência de congelar o que ele transmitiu, tentando-se aplicar literalmente seus exemplos. Ele foi completamente contra essa atitude. Por exemplo, foi por isso que deixou de trabalhar na renovação do que ele denominou de “organismo social”, ao ver seus conceitos e exemplos a respeito de uma nova organização social não servirem como base, mas sim levados literalmente à prática.

Quanto à aceitação geral da PW, tenho uma teoria do porquê isso não se deu, especialmente nos meios acadêmicos (como citei no item Introdução): é o fato de que seu fundamento conceitual, a Antroposofia, não ser materialista, e sim espiritualista. Com raríssimas exceções, os cientistas, acadêmicos e intelectuais são materialistas. E quando não o são, em geral são adeptos de alguma religião instituída, o que também os coloca contra a Antroposofia que, para começar, como citei, não é dogmática e não recomenda uma estrutura hierárquica. Uma outra característica fundamental da Antroposofia é o respeito à liberdade; com isso, ela e a PW foram e são perseguidas por todas as formas de ditadura e autoritarismo (por exemplo, foram proibidas pelo nazismo e pelo comunismo – certamente, fazendo uma boa média…).

Steiner jamais poderia ser considerado “clássico” em coisa alguma, muito menos como filósofo educacional, pois suas idéias em todas as áreas foram fora do comum – justamente por serem espiritualistas, quando a tendência geral era e é o materialismo.

20. “A concepção de Steiner não era claramente orientada para a criança, não defendia a liberdade em educação, e não era uma seguidora da nova psicologia da criança. Steiner e seus seguidores estavam à margem da reforma pedagógica, preocupados com suas próprias atividades numa comunidade fechada.” [p. 232, 3º par.].

Se a PW não for orientada para a criança, então não há nada neste mundo orientado a ela. Justamente a PW parte de uma profunda psicologia, não-convencional, do desenvolvimento da criança e do jovem, e isso faz com que eles estejam no centro de toda a atividade educacional. O professor de classe, abordado no item 18, deve ter uma percepção psicológica de cada aluno, por exemplo quanto ao seu temperamento, e orientar suas aulas tendo cada aluno em mente. Isso é possível pois, como ele segue a sua classe durante muitos anos, vai amadurecendo com ela, e conhecendo profundamente cada aluno. Idealmente, o professor de classe deveria visitar a família de cada aluno uma vez por ano, para completar a imagem que forma do aluno com a de sua própria família.

Se o autor menciona a “liberdade em educação” referindo-se à “educação libertária”, tem toda a razão. A PW não é de modo algum uma educação libertária. Ela parte do princípio que os alunos, em todas as idades, devem ser orientados. Não há disciplinas eletivas, pois considera-se que os alunos não têm maturidade para avaliar em profundidade o que necessitam para sua formação. No entanto, a liberdade é cultivada adequadamente desde o jardim-de-infâcia. Nesse período, por exemplo, na hora de brincar a criança tem liberdade de escolher com o que ou do que quer brincar. Mas na hora do lanche, todas as crianças sentam em roda para comer, e a nenhuma é permitido brincar. No ensino fundamental, por exemplo, cada aluno faz seu caderno de matéria da maneira que quer, decorando-o por sua própria iniciativa; obviamente, o conteúdo deve descrever o que o professor de classe recomenda. O ápice da liberdade passa-se na 12ª série, o último ano do ensino médio: os alunos têm que elaborar um trabalho de conclusão de curso, de livre escolha – mas têm um orientador (não necessariamente o tutor de sua classe) que vai dando as diretrizes do trabalho e o aprova no final. A escola Waldorf de Lugano, na Suíça, que foi freqüentada por um de meus sobrinhos, adota um método muito interessante: na 10ª série há um trabalho anual que deve ser a realização prática de algo (fazer um objeto complexo); na 11ª série o trabalho anual deve ser algo artístico, e na 12ª deve centrar-se sobre uma monografia, isto é, um trabalho intelectual (ele fez um extenso trabalho sobre Nietzsche). No item 18 eu recomendei que os leitores visitassem a exposição pedagógica de um bazar natalino de uma EW brasileira. Pois recomendo que se detenham na exposição da 12ª série, e examinem os trabalhos de conclusão de curso, para verem o (em geral) surpreendente nível dos mesmos, e a variedade de temas abordados, respeitando a liberdade de cada aluno.

No item 1 mencionei uma frase de Steiner, justamente mostrando como o maior ideal da PW é a formação de pessoas livres.

As EWs não são em absoluto comunidades fechadas, como o autor dá a entender. Pode-se ter essa impressão, pois cada escola forma um todo que deve ser o mais coerente possível. Assim, idealmente todos os professores deveriam conhecer a Antroposofia e nela basear a visão que têm de cada aluno, de seu desenvolvimento e do currículo. Infelizmente, é muito raro encontrar uma EW onde isso acontece, e uma tal escola assume uma configuração bastante especial. Os professores de uma mesma classe devem organizar um ensino coerente. Por exemplo, se o professor de história fala da Idade Média, o de artes deveria mostrar como era a arte naquela época; um professor de língua estrangeira não deve abordar algum tópico de gramática sem que ele tenha sido estudado pelo menos no ano anterior na língua pátria. Os pais devem identificar-se com a PW, isto é, estar de acordo que ela representa aquilo que desejam em termos educacionais; para citar um exemplo típico, seria um desastre para uma criança na 1ª série ouvir contos de fadas de sua professora (esses contos formam a base dessa série), e em casa ouvir de um pai que tudo aquilo é bobagem.

Mesmo as atividades de estudo da Antroposofia fora das EWs ocorrem em grupos de estudo que são abertos a qualquer pessoa que tenha interesse e base para integrá-los (ver na Internet a lista de grupos de estudo no Brasil), isto é, nem nela há algo de fechado. Todas as aplicações da Antroposofia são dirigidas para o mundo, e portanto não podem ser fechadas.

21. “Steiner desenvolveu os princípios de ‘organização da sociedade em trinômio’, os quais ficaram famosos e tratavam de uma instância econômica, uma instância de direito e uma instância espiritual. Educação e escolaridade são partes da vida espiritual, ou da ‘geistige Kultur’ que só pode funcionar quando é totalmente livre. Em conseqüência, a escolaridade deveria ser completamente livre também. As Escolas Waldorf, seguindo esse princípio, são empresas não estatais e, nesse sentido, livres. Chamam-se ‘Escolas Livres’ porque operam independentemente do currículo oficial.” [p. 232, 4º par.].

A organização social preconizada por Steiner denomina-se “trimembração do organismo social”. Resolveu-se adotar essa tradução de “Soziale Dreigliederung” por estar mais próxima do original e por considerar que as partes da sociedade não são estanques. Por exemplo, cada pessoa participa, em maior ou menor grau, de todos os membros da sociedade. A imagem de Steiner para isso é, como sempre, o ser humano: nossos braços têm funções e características específicas, mas estão integrados no todo. Os membros da sociedade foram denominados por Steiner de “Vida Econômica”, “Vida Jurídica” e “Vida Espiritual”, e não “instâncias”.

Há muito mal-entendido com relação aos três membros dos organismos sociais (que podem ser um grupo de trabalho, uma comunidade de vida, uma empresa, uma escola, ou mesmo a sociedade como um todo). Vou ser breve. A “vida econômica” tem a ver com satisfação de necessidades, que podem ser físicas, anímicas (da alma) ou espirituais. Na satisfação das necessidades físicas, a sociedade como um todo tem a produção, a distribuição e o consumo de bens. A vida jurídica regula a interação entre os indivíduos, isto é, abarca os acordos, contratos e leis sociais. A vida espiritual tem a ver com a prestação de serviços, ou o exercício de habilidades, abrangendo tudo o que é criação, como por exemplo as atividades científica e artística.

Nesse esquema, uma escola não pertence à vida espiritual, e sim à vida econômica, pois existe para satisfazer necessidades: dos pais, de que seus filhos tenham uma educação escolar; dos alunos, no sentido de adquirirem conhecimentos e o amadurecimento harmônico de que necessitam para sua vida futura. Uma das origens da confusão de se achar que as escolas deveriam pertencer à vida espiritual é o fato de as necessidades que elas satisfazem não serem físicas, e sim anímicas (da alma) e espirituais (no sentido da ajuda para o desabrochar da individualidade). Nesse sentido, não se devem usar medidas, por exemplo de produção, como com bens físicos: o amadurecimento, o conhecimento, as capacidades dos alunos não são mensuráveis. Deve-se notar que, apesar de a escola como um todo dever orientar-se pela característica principal da vida econômica, que é a fraternidade (ou solidariedade), cada professor em frente à sua classe deve atuar como um representante da vida espiritual, pois está prestando um serviço, exercendo suas habilidades. Nesse sentido, ele deve seguir a característica principal da vida espiritual, que é a liberdade. No entanto, ele deve encarar seus alunos como representando membros da vida econômica, pois comparecem como pessoas necessitadas, e portanto deve sentir fraternidade, solidariedade, para com eles. (Para completar, a característica principal da vida jurídica é a igualdade – todos devem ser iguais perante os acordos, os contratos e as leis).

Todas as instituições pertencentes a um determinado membro da vida social devem ser livres, ou melhor, independentes, não devendo haver interferência de um membro no outro, da mesma maneira que, no ser humano, os braços não interferem na cabeça. Assim, as indústrias deveriam seguir o princípio da solidariedade, e não da liberdade como acontece no capitalismo. Isso significa que se deve produzir o que a sociedade necessita, e não para enriquecer o dono da indústria. É nesse sentido que as escolas devem ser livres – idealmente, sem ingerência nenhuma do estado, ou dos meios produtivos, a não ser financiamento. Essa é a situação das EWs na Alemanha, onde são chamadas deFreie Waldorfschulen, “Escolas Waldorf Livres”, daí a denominação citada pelo autor. As EWs não seguem o currículo oficial, não adotam livros-texto recomendados pelas autoridades educacionais do Estado, etc. No Brasil, sempre houve uma tolerância bastante grande dessas autoridades em relação às EWs, pois foi constatado que o resultado das mesmas é excelente (ver, por exemplo, na Internet, o artigo de Wanda Ribeiro e Juan Pablo de J. Pereira contendo um levantamento estatístico feito com formados na EWRS). Os americanos primam por serem pessoas práticas, interessadas em resultados e têm uma enorme liberdade e diversidade na educação; por exemplo, nos EUA não é obrigatório que uma criança vá para a escola, desde que os pais providenciem o ensino correspondente em casa, o que é denominado de home schooling (lá foi desenvolvido o home schooling Waldorf). Nesse sistema, um professor verifica periodicamente se a criança está aprendendo o suficiente, autorizando a continuidade do processo. Esse interesse prático pelos resultados foi, em minha opinião, uma das causas principais da expansão da PW naquele país, onde existem mais de uma centena de EWs, consideradas em geral excelentes. As mais renomadas universidades costumam aceitar formados das EWs pois sabem que eles têm uma formação diferenciada. Estive dando cursos em Adelaide, na Austrália. A universidade dessa cidade inicialmente exigiu dos formados pela linda EW local que fizessem um exame de ingresso; devido ao excelente resultado dos alunos durante o curso superior, permitiram que os professores daquela EW passassem o exame a seus alunos na própria escola. Continuando a observar que os alunos Waldorf invariavelmente saíam-se bem na universidade, acabaram por dispensá-los totalmente do exame de ingresso. Chamo a atenção para os resultados de nossos vestibulares por formados na EWRS, como levantado no artigo citado de Wanda e Juan Pablo.

22. “O princípio formador das escolas é o ‘ritmo’ e não repreensão. Há o ritmo do dia, da semana e do ano. O currículo é montado para um ciclo de sete anos, com formas especiais de ensino tais como instruções da época ou o aprendizado de euritmia. As escolas não são seletivas e não utilizam notas ou graduações. Os alunos não são classificados por graduação, permanecendo juntos como grupo com um professor durante todo o ciclo.”

Não me parece que se deve denominar o uso de ritmos como “princípio formador” da PW. Ele é simplesmente uma das principais ferramentas na educação de crianças e jovens; segundo Steiner, quanto menor uma criança, mais ela necessita de ritmo. Nesse sentido, é muito triste ver pais que não dão praticamente nenhum ritmo aos seus filhos, parte da infeliz permissividade muito comum hoje em dia.

Antigamente os períodos de sete anos marcantes no desenvolvimento infantil e juvenil eram reconhecidos intuitivamente, pois a escolarização começava ao redor dos 7 anos e a entrada no antigo “colégio”, hoje “ensino médio”, dava-se aos 15 anos; havia dois ciclos que foram agrupados no atual “ensino médio”: o “primário, até a 4ª série, e o “ginásio”, com mais 4 séries. Seguindo também um conhecimento intuitivo de que a idade correspondia a um amadurecimento, era proibido que um jovem com menos de 11 anos a serem completados até 30 de junho do ano, entrasse no “ginásio”. Assim era em minha época, de modo que todos os meus colegas de faculdade começaram a mesma, no mês de março de 1959, com no mínimo 18 anos a serem completados até 30/6/59. Naquela época, não havia a possibilidade de se pular séries, como acontece hoje indevidamente com os assim chamados “superdotados”. Estes, obviamente, são muito bons em algumas matérias ou áreas, mas não em todas; eles necessitam é de um equilíbrio especial, dando-se ênfase nessas outras, caso contrário tornam-se jovens desequilibrados e raramente acabam por produzir algo naquilo em que são excepcionalmente dotados. Para completar essa aplicação dos setênios, vale notar que ainda hoje aqui no Brasil, seguindo uma antiga tradição, o fim do 3º setênio, a idade de 21 anos, é a que estabelece a responsabilidade civil, isto é, considera-se que o jovem torna-se responsável por seus atos. Steiner conceituou largamente as características de cada setênio, e o que acontece na passagem de um para outro, o que é usado diretamente na PW quanto ao tipo de ensino e o currículo que é dado.

A escolarização da PW leva 12 anos, como já foi citado, de modo que o currículo não é “montado para um ciclo de sete anos”, como afirma o autor, mas leva em conta todo aquele tempo. Como já citei, há uma distinção entre o ensino fundamental, de 8 anos, caracterizado principalmente pela existência do “professor de classe” e um ensino essencialmente artístico e não intelectualizado, e os 4 anos do ensino médio, apenas com um professor “tutor” da classe, e ensino agora também dirigido ao pensamento abstrato.

O que o autor quer dizer com “instruções de época” deve ser o seguinte. Durante toda a escolarização, as matérias principais (matemática, português, história, geografia, ciências no ensino fundamental, física, química e biologia no médio) são dadas concentradamente, no que Steiner denominou de Epochen, traduzidas por “épocas” (em inglês usa-seblock lesson), consistindo portanto num “ensino em épocas”. Cada época leva de 3 a 4 semanas, tendo 2 horas diariamente. Steiner afirmou que esse método era “econômico”, pois enquanto uma época é dada, o subconsciente do aluno trabalha as épocas precedentes. Quando chega a vez de o professor dar a época de uma certa matéria, ele começa recordando rapidamente o que foi visto na época anterior da mesma matéria, e é um fato que os alunos recordam rapidamente o que foi visto. Em particular, há aulas avulsas semanais de matemática e de português, independentes das épocas, durante toda a escolarização, onde são dados principalmente exercícios.

O autor menciona a euritmia. Trata-se de uma arte introduzida por Steiner, que pode ser considerada uma expressão corporal ou dança especial. Com ela, o corpo do praticante expressa características essenciais dos sons musicais ou falados (letras). No primeiro caso, o euritmista tenta, por exemplo, expressar as características de cada intervalo musical, como o brilho de uma terça maior, o tom introspectivo de uma terça menor, o chamado à ação da 6ª maior (usado antigamente nas trompas de caça), a tensão da 7ª (que quer concluir com a oitava repousante), etc. Além disso, o euritmista faz figuras com o corpo, também representando o que a música pode querer expressar, como por exemplo dois grupos de euritmistas movendo-se independentemente para representar visualmente os movimentos de duas vozes em contraponto. No caso da euritmia que segue a fala, muitas vezes ela imita o movimento realizado pelo aparelho fonador quando pronuncia o fonema em questão. Por exemplo, um A pode ser expresso com os braços abertos, formando um V, como num gesto de admiração do arquetípico “Ah!”; um O com os braços em arco, num gesto de abraço imitando a posição da boca. Poesias são euritmizadas com os artistas movendo-se a fim de fazer figuras que representam o que ele interpreta como o significado das palavras e frases. Para mais detalhes, ver na Internet uma página de euritmia.

Há três tipos de euritmia: a artística, para ser representada em palcos, para o público; a curativa, usada como complemento ao tratamento médico, sempre prescrita por um médico antroposófico para ser ministrada por um terapeuta com formação específica em euritmia curativa; a pedagógica, que é praticada em todas as EWs do mundo que contam com um professor de euritmia. É a esse tipo de euritmia que o autor certamente se refere. Do ponto de vista pedagógico, a euritmia tem a intenção de desenvolver coordenação motora, consciência corporal, sensibilidade para a palavra e para o som musical, etc. No Brasil, é importante mencionar o extraordinário trabalho feito pela euritmista Marília Nogueira, professora da EWRS, que dirige todos os anos um grupo voluntário de alunos da 12ª série dessa escola denominado Terra Brasilis, organizando programas magníficos que têm sido apresentados anualmente aqui e na Europa com enorme sucesso.

A frase seguinte emprega a palavra “seletiva”, cujo significado não consigo atinar. Talvez o parágrafo seguinte do autor traga alguma luz: “Os pais interessados nas Escolas Waldorf pretendem evitar o estresse da escola convencional e especialmente o estresse da seleção muito precoce.” Quem sabe ela refere-se à seleção, ou divisão de turmas especiais, como as de ciências exatas e ciências humanas; no Brasil, isso é um reflexo de pesos ou provas diferentes nos vestibulares para as várias carreiras. De fato, cada EW tem um só currículo para todos os seus alunos. Quer dar-se nessas idades uma formação básica nas áreas social, artística e científica, sem especializações precoces.

Essa mesma frase revela certamente um erro de tradução: o autor deve ter usado, no original, a palavra grade ougrading, que foi traduzida como “graduação” e que deveria ser “nota” que, aliás, já aparece na palavra anterior (quem sabe esta era score, que também é nota). De fato, as EWs não usam notas, pois elas são uma abstração praticamente sem significado. O que significaria uma nota 5 numa prova? O conhecimento de metade das questões ou da metade de cada questão? Além disso, a nota não expressa em absoluto o que é essencial: o esforço e o amadurecimento do aluno, a capacidade de aplicar os novos conhecimentos na vida prática, o relacionamento dos mesmos com o resto do mundo, etc. Uma nota mede não essas características, mas a capacidade de responder a questões de provas ou exercícios, o que necessariamente cobre uma fração da matéria vista; pior do que isso, em geral os professores do ensino tradicional, em todos os níveis, formulam questões sobre detalhes irrelevantes. Sempre insisti com meus colegas da USP para pedirem nas provas aquilo que o aluno deveria lembrar para sempre, isto é, conceitos essenciais, técnicas relevantes, etc. – mas nunca fui ouvido. A nota tenta objetivar o que é quase que totalmente subjetivo; um aluno rotulado com uma nota é, em minha opinião, tratado como uma máquina, e não como um ser humano. Os alunos de EWs recebem um boletim no fim do ano escolar, em que cada professor expressa, em textos descritivos, a sua opinião sobre o aluno, se ele foi esforçado, o que aprendeu na matéria, etc. Infelizmente, entre nós o sistema oficial de ensino exige uma nota; na PW essa é realmente lançada no registro acadêmico do aluno, mas este não toma conhecimento disso até sua formatura.

Não há repetição de ano ou série, pois ela significaria que um aluno iria deixar sua classe e passar a integrar uma com idades inferiores, isto é, com maturidade desigual à sua. Um aluno pode não ter pendor para a matemática, mas tê-lo em outra matéria, ou mesmo em artes ou esportes. De uma lei correta, “toda criança e jovem tem direito a ter uma educação escolar” passou-se a “toda criança ou jovem tem o dever de ter a mesma educação escolar”, no sentido de se exigir um mínimo de conhecimento expresso nas provas. Afinal, o que significa reprovar um aluninho de 8, 9 ou 10 anos? Simplesmente que ele não se comportou como adulto, estudando ou decorando disciplinadamente o que o professor mandou. Na PW existe, no entanto, a possibilidade de um aluno passar para uma classe inferior ou superior se, depois de muitas observações feitas por vários profissionais (todos os professores envolvidos, médico escolar, eventuais terapeutas e os pais) ficar comprovado que ele está aquém ou além da maturidade da classe que freqüenta.

Em relação à falta de notas e à repetição de séries, é preciso salientar um ponto fundamental da PW: essas ausências retiram do professor do ensino tradicional a maior arma usada para impor disciplina e forçar o aluno a estudar. A progressão continuada foi introduzida em nosso país por causa de uma recomendação da UNESCO, que por sua vez foi baseada nas experiências de sucesso da PW. Essa progressão não está errada, o erro foi ela ter sido introduzida à força, repentinamente, sem preparo dos professores, dos pais e dos alunos. Na PW, sem as armas das notas e da reprovação, os professores têm que ser o que Steiner sempre preconizou: artistas da educação, devotando extrema dedicação a seus alunos e tentando interessá-los pela matéria. Um professor que dá aulas como um técnico trata seus alunos como máquinas.

Finalmente, um reparo sobre a última frase acima do autor. Como eu já disse, no ensino fundamental há a figura do “professor de classe”, que dá as matérias principais, mas há outros que dão as outras, como educação física, artes, artesanato e línguas estrangeiras (ver item 18 acima). Já no ensino médio não há professor de classe, mas sim um tutor, que pode nem dar aulas para sua classe tutorada.

23. “A verdadeira eficácia das Escolas Waldorf ainda não foi avaliada porque não existe pesquisa empírica sobre seu sucesso ou fracasso. Os debates a respeito têm sido puramente ideológicos, focalizados nos prós e contras da antroposofia de Steiner, mas sem dados para julgar a prática da escolaridade de maneira justa. A maior parte da filosofia ocultista de Steiner é difícil de aceitar.” [p. 233, 2º par.].

De fato, nunca houve grandes preocupações de professores, pais e ex-alunos, para se provar estatisticamente o sucesso da PW. Ele é tão evidente para quem o conhece e o vivenciou, que dispensa esse tipo de estudo. Já citei no item 21 acima como algumas universidades têm os ex-alunos Waldorf em alta consideração. Na Alemanha, houve a publicação de um livro fazendo uma extensa análise estatística de levantamento feito com cerca de 1.000 ex-alunos Waldorf, mostrando sua opinião sobre o que tinham aprendido, o que tinham achado da escola, sua formação posterior, distribuição no mercado de trabalho, etc. Provavelmente o autor o desconhecia pois a primeira edição foi de 2007 [BAR 07]. Justamente entre nós existe o estudo estatístico de Wanda e Juan Pablo, citado no mesmo item 21. O resultado, apesar de ter focado apenas ex-alunos de uma única escola (a EWRS), foi absolutamente extraordinário, inclusive em termos de vestibulares e cursos superiores.

Não me parece correto focalizar debates sobre a PW usando a Antroposofia de Steiner. Por meio dela pode-se compreender por que certas práticas são feitas nas EWs, e ela permite que os professores Waldorf tornem-se criativos dentro da pedagogia. Mas os debates deveriam focar principalmente o estado dos alunos e os resultados nos ex-alunos. Quanto ao primeiro, deve ser óbvio para qualquer pessoa que uma infância e uma juventude sem traumas de notas baixas e repetições, sem a tensão de cobranças desumanas como as provas, é muito preferível do que o contrário. É óbvio que o desenvolvimento de todas as capacidades dos alunos, e não só as intelectuais como acontece em geral no ensino convencional, é também muito preferível do que o contrário.

Finalmente, a visão de mundo (não é simplesmente uma filosofia) de Steiner, a Antroposofia, é realmente difícil, eu até diria, impossível, de aceitar por quem é materialista – o que engloba muitas pessoas que se dizem religiosas mas cuja maneira de pensar baseia-se em fenômenos puramente físicos ou em abstrações sem fundamento nas realidades física e não-física. É também difícil de ser aceita por quem a julga por breves leituras de trechos das obras antroposóficas, sem uma imersão suficiente para fazer um quadro geral (ver item 25 abaixo).

24. “É de certa forma irônico […] que a maioria das histórias da educação incluam as Escolas Waldorf como parte do movimento educacional reformista” [p. 233, 2º par.].

Não sou especialista em educação, para compreender o que o autor denomina, nesta sua última frase, de “movimento educacional reformista”. Tem-se a impressão de que houve uma única tentativa de reforma na educação. De qualquer modo, é preciso enfatizar que qualquer pessoa que visite uma EW ou leia os textos sobre seus conceitos e práticas, logo percebe que se trata de uma pedagogia quase que totalmente diversa do ensino convencional, de hoje ou de antigamente. Nesse sentido, a PW continua sendo revolucionária, muito mais do que reformista.

25. Conclusão

Lendo esse capítulo do autor, vejo a confirmação de duas coisas. Em primeiro lugar, ele não visitou uma EW já bem estabelecida – isto é, uma escola com o ensino médio já tendo formado alunos há vários anos, o que teria sido extremamente fácil pois na cidade de sua faculdade, Zürich, existe uma EW muito antiga. Aparentemente, ele comportou-se como típico acadêmico: sentou à sua escrivaninha, tomou certos livros dos quais leu algumas frases ou trechos, e pôs-se a elucubrar abstratamente sobre o que leu e a redigir seu capítulo. Em segundo lugar, o capítulo mostra muito bem que é impossível ter uma idéia razoável tanto sobre a Antroposofia como sobre a PW sem um certo aprofundamento, que em minha opinião leva vários anos. Qualquer opinião apressada tende a tocar superficialmente em ambas, levando a conclusões totalmente infundadas.

De qualquer modo, o autor abordou muitos pontos essenciais da PW. Espero que, com meus esclarecimentos, eu tenha completado aquilo que faltou, esclarecido o que não foi aprofundado por desconhecimento do autor e, obviamente, por falta de espaço disponível pelo mesmo.

Referências

[BAR 07] Barz, H e D. Randoll (Eds.) Absolventen von Waldorfschulen: Eine empirische Studie zu Bildung und Lebensgestaltung (Formados em escolas Waldorf: um estudo empírico sobe a formação e condução da vida). Wiesbaden: VS – Verlag für Sozialwissenschaften, 2ª. ed. 2007.

[LAN 98] Lanz, R. A Pedagogia Waldorf – Caminho para um ensino mais humano. São Paulo: Ed. Antroposófica, 6ª. ed. 1998.

[STE 83] Steiner, R. Teosofia – Introdução ao conhecimentos supra-sensível do mundo e do destino humano. GA (edição completa) 9. Trad. D.B. de Brito. São Paulo: Ed. Antroposófica, 1983. Disponível em inglês emhttp://wn.rsarchive.org/Books/GA009/English/GA009_index.html

[STE 00] Steiner, R. A Filosofia da Liberdade – Fundamentos para uma filosofia moderna (GA 4). Trad. M. Veiga. São Paulo: Ed. Antroposófica, 3ª ed. 2000. Disponível em inglês em http://www.rsarchive.org/Books/GA004

[STE 06] Steiner, R. Minha Vida – A narrativa autobiográfica do fundador da Antroposofia (GA 28). Trad. R. Lanz, B. Callegaro, J. Cardoso. São Paulo: Ed. Antroposófica, 2006. Disponível em inglês emhttp://wn.rsarchive.org/Books/GA028/TSoML/GA028_index.html

Agradecimento: agradeço a Sonia A.L. Setzer por sugestões durante a confecção deste artigo, bem como a revisão do mesmo, e a Rogério Y. Santos por apontar alguns erros de digitação.

UMA RESENHA DO CAPÍTULO “RUDOLF STEINER 1861-1925” DO LIVRO

50 GRANDES EDUCADORES – DE CONFÚCIO A DEWEY, DE JOY A. PALMER

Valdemar W. Setzer

www.ime.usp.br/~vwsetzer

 

http://www.sab.org.br/pedag-wal/artigos/resenha-50-gr-educs.htm


Pedagogia ao Pé da Letra
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