Theodor Wiesengrund Adorno (1901-1969), filósofo, sociólogo e musicólogo. Nasceu na Alemanha na cidade de Frankfurt, onde se destacou como membro da famosa Escola de Frankfurt. Devido à perseguição aos judeus, viveu exilado por alguns anos.
Suas ideias tomam a própria sociedade como objeto e consideram a produção cultural em sintonia com a ordem social em vigor.
Criou o conceito de “indústria cultural” para designar a exploração sistemática e programada dos bens culturais com finalidade de lucro e de enganação.
Seus escritos contêm fundamentos da dialética de Hegel e uma profunda conotação sociológica.
A resenha, ora apresentada, vincula a educação como instrumento de formação de pessoas que podem cometer atrocidades a serviço de um sistema xenofóbico.
Auschwitz foi um conjunto de quatro campos de concentração (1941-1944), construídos pelos nazistas para extermínio de judeus, na cidade polonesa de Oswiecim.
Nas quatro câmaras de gás e fornos de incineração, chegaram a ocorrer 200 incinerações por dia.
Em Auschwitz, eram realizadas experiências genéticas macabras utilizando os prisioneiros judeus como cobaias. Calcula-se que três a quatro milhões de prisioneiros foram assassinados nessas instalações, onde hoje funciona um “museu” do Holocausto!
Theodor W. Adorno não quer que isso caia no esquecimento e muito menos que o fato volte a acontecer.
A Segunda Guerra Mundial deixou marcas e danos irreparáveis na condição humana e não apenas naqueles que sofreram os horrores e as barbáries como vítimas diretas ou indiretas.
O fato mais assustador é que a própria sociedade propiciou homens capazes de cometer tais atrocidades e permitiu que uma verdadeira “indústria de extermínio” de pessoas se instalasse e funcionasse plenamente.
Auschwitz foi um episódio tão abominável e inconcebível que jamais poderá ser apagado ou esquecido nas páginas negras dos livros da história.
É doloroso ter consciência de que tudo o que lá foi erguido e praticado contou com a intenção e a inteligência humana. Era o ser humano versus o ser humano, justificado por uma cruel intolerância à diversidade racial e cultural.
Como entender uma atitude planejada, racionalmente, se a razão não condiz com tal circunstância?
Nem mesmo na mais primitiva espécie animal, dita “irracional”, algo semelhante foi registrado.
Daí, a preocupação do pensador Theodor W. Adorno se justifica e até hoje nos atormenta: Como evitar que Auschwitz venha a se repetir?
Alguns educadores se negam a retroceder ao dantesco episódio, pois a simples referência a ele já nos causa indignação e vergonha. Então, que se faça a sua subestimação ou negação?
Porém, Adorno diz que não sepultá-lo e questioná-lo é uma maneira de evitar sua repetição.
O mundo contemporâneo, agora “globalizado”, onde predomina a ideologia capitalista, está correndo sérios riscos. Vale que retomemos essa discussão!
Atualmente, o indivíduo está sujeito ao imediatismo, ao consumismo e ao individualismo desenfreado. Como preparar a pessoa para esses descaminhos? O que a educação pode fazer pela pessoa? O que se deve cultivar como valores? Que sementes devem ser plantadas para que a pessoa seja mais humana e não desumana?
Tudo isso preocupava Adorno. A possibilidade de que nova carnificina como a de Auschwitz encontrasse terreno fértil para se reinstalar era o temor do filósofo. Onde teria ocorrido tamanha falha na formação daqueles homens que se prestaram a tanta crueldade? Na sociedade? Na família? Na escola? Nesse conjunto social?
A contemporaneidade trouxe novos paradigmas educacionais. A escola se atrelou a um tecnicismo para atender a um sistema de formação para o trabalho e para a preparação para um sistema produtivo carente de mão-de-obra eficiente.
Seres, novamente, “coisificados”, desprovidos de sua humanidade, vêm se reproduzindo e repassando esse mesmo tratamento ao seu semelhante. Isso também é violência, pois a violência não está apenas na agressão física (essa é uma das suas manifestações), mas também na forma indiferente de perceber o outro e a si próprio.
E o ambiente físico escolar? As escolas se assemelham a prisões. Prédios mal planejados, danificados, grades por toda parte, frieza de concreto, salas abafadas e lotadas de “coisas” (ou seriam “pessoas”?). Será que esse ambiente propicia o despertar da sensibilidade e da criatividade para uma aprendizagem transformadora?
Repensar a escola é urgente. Adorno nunca foi tão atual. Retomar esse questionamento é fundamental para evitar “minis-Auschwitzes” nacionais.
Adorno sugere os esportes, jogos lúdicos, sem o propósito competitivo, mas do convívio solidário e de equipe, onde as forças são somadas para o cumprimento de uma meta comum.
Outra vertente que desperta a sensibilidade e inibe a brutalidade é o ambiente das artes em geral (a música, a pintura, a poesia, o teatro, o artesanato…). Essas formas de expressões culturais, quando despertadas, elevam e sintonizam o humano à sua essência interior.
Repensar a escola é humanizá-la. Voltá-la para o caminho da cooperação, do diálogo, do entendimento, do apoio a posturas sensatas e conciliatórias. Através das relações interpessoais, que mexem com a emoção e geram laços afetivos, se consegue uma ação transformadora e humanizante.
Se for necessário, que se ensine a “ser” e a se “conhecer”, ao invés de ensinar pacotes de conteúdos e conhecimentos, hermeticamente contidos em “programas” pré-fabricados.
Uma sociedade educacional é aquela que cria vínculos, que valoriza as diferenças e resgata as identidades perdidas. A escola humanizada é solidária, é espaço de socialização, de convivência harmônica e de preservação da vida plena para que Auschwitz nunca mais se repita.
Vale lembrar que, já na Antiguidade Clássica, os sábios Sócrates e Platão concordavam que o objetivo máximo da Educação era despertar o corpo e a alma para a beleza, a virtude, o amor, a verdade, o bem…
O texto de Adorno é um alerta para a sociedade e para os educadores. É preciso refletir sobre o tipo de ser humano que nosso sistema social está gerando e formando.
Somente a reflexão crítica e filosófica pode impedir que as pessoas cheguem a ponto de repetir atrocidades, que sejam devotas e se submetam a ideologias de intolerância de qualquer ordem.
Repensar a realidade educacional, questionar as políticas educacionais embutidas de ideologias impostas como corretas e intocáveis é tarefa do educador consciente.
Quando a realidade educacional e cultural se torna endurecida e inflexível, fica em total descompasso com a sensibilidade de ser “humano”.
Questionando os papéis e as condições da família, da escola, da mídia, do sistema, da política governamental, poderemos chegar às respostas para os fracassos educacionais.
De tudo isso, o mais importante é a tomada de consciência de que cada acontecimento de barbárie não se resume apenas ao ato de sua consumação, mas envolve outras questões que criaram a possibilidade para que ele viesse a acontecer!
Autor: Salete Micchelini
Dica de Leitura: Livro As Costureiras de Auschwitz
Para uma compreensão mais profunda sobre a educação e suas implicações sociais, você pode conferir o artigo sobre Educação e Filosofia, que discute a relação entre esses dois campos do conhecimento.
Além disso, a reflexão sobre a Filosofia Social e Política pode enriquecer sua visão sobre como a educação pode moldar a sociedade.
Por fim, a análise do Mito da Caverna de Platão pode oferecer insights valiosos sobre a formação do pensamento crítico.
Se você busca formas de estimular a criatividade e a sensibilidade, considere explorar atividades artísticas e artesanais que podem ser um excelente recurso educativo.
A educação moderna deve considerar todos esses fatores que foram narrados no texto de Theodor a fim de que ela própria se reinvente passo a pasdo numa busca constante em compreender o seu verdadeiro papel que é o de formar o cidadão para a vida.
Parabéns para a belíssima resenha, ajudou bastante a compreender o texto.