NETO, Alfredo Veiga [ et al.], SCHMIDT, Sarai (org). A educação em tempos de globalização. Rio de Janeiro: DP&A, 2001, 144p.
Saraí Schmidt, licenciada em Comunicação Social, habilitação Jornalismo, pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Concluiu em 1999 no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS, na Linha de Pesquisa Estudos Culturais, a pesquisa de mestrado a “A EDUCAÇÃO NAS LENTES DO JORNAL”. Atualmente, é professora do curso de Comunicação Social do Centro Universitário Feevale e responsável pelo núcleo de Jornalismo da Agência Experimental de Comunicação da mesma instituição.
“A educação em tempos de globalização” é o título do livro organizado pela jornalista Saraí Schmidt (mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre Currículo, Cultura e Sociedade). Lançado pela DP&A Editora, reúne temas como política cultural, auto-estima e poder, regulação social e disciplina, preconceito racial, currículo, repetência, sexualidade, gênero, corpo, cinema, novas tecnologias, magistério, alfabetismo, mídia, oralidade, literatura, meio ambiente… todos publicados no suplemento “NH na Escola”. A primeira coletânea tem vinte e sete artigos: “Política cultural na escola – que fazer na segunda-feira?” de Marisa Vorraber Costa, “As faces da relação entre preconceito racial e educação: muito além dos jardins” de Regina Marques Parente, “Pluralismo X norma ideal” de Carlos Skliar, “Sou repetente. E agora?” de Marisa Vorraber Costa, “Inclusão ou exclusão?” de Saraí Schmidt, que é um artigo no qual a organizadora entrevista dois pesquisadores sobre o tema citado, porém com dois enfoques diferentes, “Pedagogia e auto-ajuda: o que sua auto-estima tem a ver com o poder?” de Tomaz Tadeu da Silva, “Regulação Social e disciplina” de Alfredo Veiga-Neto, “Alguns dilemas deste final de século: educar e/ou cuidar?” de Marisa Isabel Bujes, “Uma agenda para debate sobre mídia e educação” de Rosa Maria Bueno Fischer, “Sem preconceitos: por uma gramática audiovisual” de Sérgio Capparelli, “De olho na mídia” de Saraí Schmidt, “Relações de gênero na mídia” de Ruth Sabat, “Capricho com o corpo: constituindo e regulando saberes na escola” de Maria Henriqueta Kruse, “E o corpo ainda é pouco…” de Luis Henrique Sacchi dos Santos, “Educação – um histórico desse espaço” de Angela Tereza Sperb, “Não resta dúvida, a escola vive em outro tempo e espaço” de Elí Henn Fabris, “No ensino fundamental, um espaço para filosofia” de Ernest Sarlet, “O aluno como empresário de si” de Madalena Klein, “Novas tecnologias: que mundo produzimos?” de Luis Henrique Sommer, “O analfabetismo como metáfora” de Norma Regina Marzola, “Oralidade: merece ser um saber escolar?” de Rosa Maria Hessel Silveira, “Da inexistência de um discurso unitário para falar da natureza” de Maria Lúcia Wortmann, “Uma grande certeza: quantas incertezas temos” de Attico Chassot, “No contexto histórico, algumas discussões sobre comunidade e meio ambiente” de Maria Cecília Braun, “Desencontros e esquecimentos” de Lúcio Kreutz, “Educação rural: nos silêncios do currículo” de Gelsa Knijnik.
Estes artigos abordam os diversos usos do jornal impresso em educação, sua importância e contribuição para todos os graus de ensino. A informação na educação escolar: o uso de jornais na sala de aula – análise do projeto NH na Escola e um estudo de caso onde destacamos e analisamos este projeto que está inserido no projeto educação pela Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul. Este projeto tem os alunos e professores do primeiro e terceiro graus das redes: particular, municipal e estadual de ensino, que utilizam o jornal como instrumento didático, o seu público alvo.
Na apresentação, a organizadora assinala que “aliados às promessas de igualdade da globalização, uma discussão sobre as relações entre mídia e educação parece configurar-se como um tema importante para todos”. Informa que o livro expressa “um possível e produtivo” debate entre a mídia jornalística, a universidade, a escola fundamental e os leitores”. Acrescenta ainda que a coletânea é a “materialização do encontro da universidade com a escola básica, redimensionando a noção do saber acadêmico como algo que possa ultrapassar as paredes da universidade e ocupar também as páginas de um jornal”.
Uma nova interpretação da realidade engloba velhas e novas ideias. Nas sociedades complexas, a organização da informação é vital para se lidar com dados e conhecimentos abundantes e de grande poder como recurso. Pode estar aqui o papel da Universidade para reunir, organizar, divulgar e multiplicar conhecimento em sua tríplice função de ensino, pesquisa e extensão.
A Universidade pode se relacionar pela comunicação com a comunidade em que está inserida. Deve ajudar a construir e sedimentar uma identidade institucional mais voltada para a prestação de serviços em uma sociedade com características em mudança em um mundo globalizado e interligado pelos meios de comunicação.
O valor de um objeto não é seu valor intrínseco, mas é o valor que lhe é atribuído. A sobrevivência de bens culturais, além de depender de seu valor intrínseco, depende também da importância que se lhe atribui, de sua utilidade para aquele a quem se destina, bem como de seu valor para o desenvolvimento da sociedade.
Há um novo modo de vida que está mudando as paisagens culturais de classe, emprego, gênero, sexualidade, família, etnia, raça e nacionalidade. Mudanças contínuas, rápidas e abrangentes podem levar a uma forma altamente reflexiva de vida onde as práticas sociais são reforçadas ou modificadas à luz das informações e das experiências.
Estamos envolvidos com um estudo de jornais, lidando com um aparato da mídia que pratica uma certa pedagogia. Praticando esta pedagogia, a mídia está educando as pessoas segundo as concepções e ideias que o seu corpo jornalístico e a sua política editorial tomam como verdadeiras, certas e adequadas. Assim, os artefatos da cultura, como a televisão ou os jornais, praticam pedagogias, nos ensinam coisas, nos contam histórias, nos dizem como as coisas são, como as coisas não são, como as coisas devem ser. Qual concepção de educação a mídia está produzindo, como opera nesta direção e como as fotografias estão implicadas neste processo?
Aprendendo as lições da mídia e mostrando como as fotografias operam para fabricar aquilo que os jornais ensinam sobre a educação. Observamos nos jornais uma confluência de concepções que vêm sendo abordadas pela grande imprensa brasileira. As documentações jornalísticas, utilizando intensamente fotografias, estão mostrando os altos índices de crianças sem escola e apresentando a marginalização destas crianças como consequência da falta de oportunidades que “somente” o estudo poderia oferecer. Os jornais inundam suas páginas com fotos de escolas em estado de precariedade, o que exigiria que o governo se ocupasse cada vez mais em investir seus sempre escassos recursos na área da educação. Ao mesmo tempo, grandes organizações divulgam campanhas, oferecendo saídas mágicas pelo caminho da educação, como alternativa central e inquestionável para os problemas sociais do país. Uma das expectativas fortalecidas e disseminadas pela mídia é que a partir de um “bom” e eficiente projeto de educação encontraremos o caminho para a conquista de uma sociedade mais desenvolvida.
Cotidianamente, os jornais apresentam uma série de reportagens sobre diferentes experiências “pedagógicas” que vislumbram o desenvolvimento pela preparação dos estudantes para os novos desafios da sociedade. Quando analisamos os jornais como uma sala de aula, talvez possamos compreender a mídia como construtora e disseminadora de um currículo cultural que nos conforma, nos subjetiva, nos interpela. Este currículo diz o que é certo e o que é errado quando somos seduzidos pelas imagens coloridas divulgadas em anúncios publicitários, prescrevendo a “verdadeira” maneira de ser mulher e de ser homem; quando vemos publicadas nos jornais fotografias de crianças “pobres” da rede pública utilizando um computador e ratificando a ideia da tecnologia da informática como caminho para a salvação da escola; quando uma pessoa sendo alfabetizada aos 90 anos de idade nos emociona e nos faz pensar acerca da importância do nosso esforço individual na busca de nossas conquistas.
Talvez possamos pensar que ao olharmos os jornais, estamos todos os dias vivenciando um currículo que nos ensina coisas sobre o mundo e sobre nós mesmos, o lugar que ocupamos ou aquele que deveríamos desejar ocupar ou, ainda, o lugar que deve ser ocupado por uns e outros neste mundo. Quando discute-se o currículo como campo da política cultural, na educação para o governo, seguindo o pensamento de Foucault, podemos identificar dois complexos tecnológicos: tecnologias de dominação, que pretendem conhecer o indivíduo para governá-los (controle externo), e as tecnologias do eu, nas quais a prática do autoconhecimento habilita a governar-se (autocontrole). Quando uma narrativa do currículo fala sobre algo ou alguém, ela também dispõe sobre esse objeto e sobre a sua disposição adequada: ela nomeia, enquadra, regula, coordena.
Crítica
A contribuição deste trabalho está no exercício de tentar desenvolver uma pedagogia crítica, na busca de um olhar ativo para a mídia que nos invade. Mas não no sentido de desenvolver técnicas de leitura estética para analisar as imagens que são publicadas no jornal. É preciso estar atento para a complexa rede de relações e representações que as fotografias publicadas na mídia carregam. A partir daí, talvez seja possível iniciar os contornos de uma discussão sobre como estas imagens produzidas pela mídia operam na produção de representações sobre educação e na constituição de nossas identidades como estudantes, professores e professoras.
Fala-se muito em trabalhar a realidade dos alunos, porém, o que se vê nas salas de aula é um projeto puramente teórico, longe do contexto da criança, transportando-a para um mundo desconhecido e descaracterizando-a de seu mundo real. Deixando lacunas em seu aprendizado, enfatizando a cultura urbana, esquecendo seu mundo rural.
Portanto, o que se precisa na educação é de pessoas conscientes, capazes de trabalhar no cotidiano escolar não só com parâmetros fornecidos pelas secretarias, mas que juntem teoria e prática e, assim, formem sujeitos críticos, reflexivos, capazes de lutar para a construção de uma democracia que reconheça seus direitos, valores, respeitando a realidade de cada um.
“Se vivemos em um mundo visual, no qual somos bombardeados por ícones novos a cada dia, se as diferentes culturas impõem, umas às outras, verdadeiras guerras visuais, se as guerras verdadeiras passam a ter o visual de meras brincadeiras, como olhar somente para as palavras?”
(Achutti, 1997)
A importância da educação e dos direitos humanos é um tema que se entrelaça com as discussões apresentadas neste livro, refletindo sobre a necessidade de uma educação inclusiva e crítica.
A leitura e sua importância também são abordadas, ressaltando como a prática da leitura pode transformar a educação em tempos de globalização.
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