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Guia completo de como elaborar uma resenha crítica

Saiba como escrever uma resenha crítica profissional destacando elementos importantes como argumentos, detalhes, técnicas e conclusão. Aprenda todos os passos necessários e aperfeiçoe suas habilidades de redação!

Guia completo de como elaborar uma resenha crítica

1.1. CONCEITO E FINALIDADE

Resenha crítica é uma descrição minuciosa que compreende certo número de fatos: é a apresentação do conteúdo de uma obra. Consiste na leitura, no resumo, na crítica e na formulação de um conceito de valor do livro feitos pelo resenhista.

A resenha, em geral, é elaborada por um cientista que, além do conhecimento sobre o assunto, tem capacidade de juízo crítico. Também pode ser realizada por estudantes; nesse caso, como um exercício de compreensão e crítica.

A finalidade de uma resenha é informar o leitor, de maneira objetiva e cortês, sobre o assunto tratado no livro, evidenciando a contribuição do autor: novas abordagens, novos conhecimentos, novas teorias. A resenha visa, portanto, a apresentar uma síntese das ideias fundamentais da obra.

O resenhista deve resumir o assunto e apontar as falhas e os erros de informação encontrados, sem entrar em muitos pormenores e, ao mesmo tempo, tecer elogios aos méritos da obra, desde que os sinceros e ponderados.

Entretanto, mesmo que o resenhista tenha competência na matéria, isso não lhe dá o direito de fazer juízo de valor ou deturpar o pensamento do autor.

O resenhista não deve “tentar dizer que poderia ter produzido obra melhor, não deve procurar ressaltar suas próprias qualidades às custas de quem escreveu o livro comentado; e não há lugar, numa resenha científica, para perguntas retóricas ou para sarcasmos” (Barrass, 1979: 139).

1.2. REQUISITOS BÁSICOS

Para a elaboração de uma resenha crítica são necessários alguns requisitos básicos; Salvador (1979:139) aponta:

  • conhecimento completo da obra;
  • competência na matéria;
  • capacidade de juízo de valor;
  • independência de juízo;
  • correção e urbanidade;
  • fidelidade ao pensamento do autor.

1.3. IMPORTÂNCIA DA RESENHA

Ante a explosão da literatura técnica e científica e a exiguidade de tempo do trabalho intelectual, sem condições de ler tudo o que aparece sobre o campo de seu interesse, o recurso é voltar-se para a resenha. A resenha crítica foi uma das formas encontradas para solucionar esse problema que afligia os cientistas de modo geral.

No campo da comunicação técnica e científica, a resenha é de grande utilidade porque facilita o trabalho do profissional ao trazer um breve comentário sobre a obra e uma avaliação da mesma. A informação dada ajuda na decisão da leitura ou não do livro.

A resenha, segundo Barrass (1979:139), deve responder a uma série de questões. Entre elas figuram:

  • assunto, características, abordagens;
  • conhecimentos anteriores, direcionamento;
  • acessível, interessante, agradável;
  • útil, comparável;
  • disposição correta, ilustrações adequadas.

1.4. ESTRUTURA DA RESENHA

1. Referência Bibliográfica

Autor (es)

Título (subtítulo)

Imprensa (local da edição, editora, data)

Número de páginas

Ilustrações (tabelas, gráficos, fotos, etc.)

2. Credenciais do Autor

Informações gerais sobre o autor

Autoridade no campo científico

Quem fez o estudo?

Quando? Por quê? Onde?

3. Conhecimento

Resumo detalhado das ideias principais

De que trata a obra? O que diz?

Possui alguma característica especial?

Como foi abordado o assunto?

Exige conhecimentos prévios para entendê-lo?

4. Conclusão do Autor

O autor faz conclusões? (ou não?)

Onde foram colocadas? (final do livro ou dos capítulos?)

Quais foram?

5. Quadro de Referências do Autor

Modelo teórico

Que teoria serviu de embasamento?

Qual o método utilizado

6. Apreciação

a) Julgamento da obra:

Como se situa o autor em relação:

  • às escolas ou correntes científicas, filosóficas, culturais?
  • às circunstâncias culturais, sociais, econômicas, históricas etc.?

b) Mérito da obra:

Qual a contribuição dada?

Ideias verdadeiras, originais, criativas?

Conhecimentos novos, amplos, abordagem diferente?

c) Estilo:

Conciso, objetivo, simples?

Claro, preciso, coerente?

Linguagem correta?

Ou o contrário?

d) Forma:

Lógica, sistematizada?

Há originalidade e equilíbrio na disposição das partes?

e) Indicação da Obra:

A quem é dirigida: grande público, especialistas, estudantes?

1.5. MODELO DE RESENHA

Seguindo a estrutura que se espera de uma resenha crítica, o Prof. Antonio Rubbo Muller, diretor da Escola Pós-Graduada de Ciências Sociais, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, instituição complementar da Universidade de São Paulo, criou um modelo simplificado que apresenta todas as partes necessárias para a perfeita compreensão do texto resenhado. Divide-se em nove itens, assim relacionados:

I) OBRA

a) Autoria (autor ou autores)

b) Título (incluindo subtítulo, se houver)

c) Comunidade onde foi publicada

d) Firma publicadora

e) Ano de publicação

f) Edição (a partir da segunda)

g) Número de páginas ou de volumes

h) Ilustrações (tabelas, gráficos, desenhos etc.)

i) Formato (em cm)

j) Preço

II) CREDENCIAIS DA AUTORIA

a) nacionalidade

b) formação universitária ou especializada

c) títulos

d) cargos ou exercícios

e) outras obras;

III) CONCLUSÕES DA AUTORIA

a) quer separadas no final da obra, quer apresentadas no final dos capítulos, devem ser sintetizadas as principais conclusões a que o autor da obra resenhada chegou em seu trabalho

b) caso não se apresentem separadas do corpo da obra, o resenhista, analisando o trabalho, deve indicar os principais resultados obtidos pelo autor.

IV) DIGESTO

a) resumo das principais ideias expressas pelo autor

b) descrição sintetizada do conteúdo dos capítulos ou partes em que se divide a obra

V) METODOLOGIA DA AUTORIA

a) método de abordagem (indutivo, dedutivo, hipotético-dedutivo, dialético)

b) método de procedimento (histórico, comparativo, monográfico, estatístico, tipológico, funcionalista, estruturalista, etnográfico etc.)

c) modalidade empregada (geral, específica, intensiva, extensiva, técnica, não técnica, descritiva, analítica etc.)

d) técnicas utilizadas (observação, entrevista, formulários, questionários, escolas de atitudes e de opinião etc.)

VI) QUADRO DE REFERÊNCIA DA AUTORIA

a) corrente de pensamento em que filia (evolucionismo, materialismo histórico, historicismo, funcionalismo etc.)

b) modelo teórico (teoria da ação social, teoria sistêmica, teoria da dinâmica cultural etc.)

VII) QUADRO DE REFERÊNCIA DO RESENHISTA

O resenhista pode aceitar e utilizar, na análise da obra, o quadro de referência empregado pelo autor ou, ao contrário, pela sua formação científica, possuir outro. É necessária a explicitação do quadro de referência do resenhista, pois o mesmo terá influência decisiva tanto na seleção dos tópicos e partes que considera mais importantes para a análise quanto na elaboração da crítica que se segue.

VIII) CRÍTICA DO RESENHISTA

a) julgamento da obra do ponto de vista metodológico:

  • coerência entre a posição central e a explicação, discussão e demonstração
  • adequado emprego de métodos e técnicas específicas

b) mérito da obra:

  • originalidade
  • contribuição para o desenvolvimento da ciência, quer por apresentar novas ideias e/ou resultados, quer por utilizar abordagem diferente

c) estilo empregado

IX) INDICAÇÕES DO RESENHISTA

a) a quem é dirigida (especialistas, estudantes, leitores em geral)

b) fornece subsídios para o estudo de que disciplina(s)?

c) pode ser adotado em que tipo de curso?

1.6. EXEMPLO DE RESENHA

I) OBRA

PEREIRA, João Baptista Borges. Cor, profissão e mobilidade: o negro e o rádio de São Paulo, São Paulo: Pioneira, EDUSP, 1967.285.p.il. 21 cm x 13,6 cm. Cr$ 1.585,00.

II) CREDENCIAIS DA AUTORIA

João Baptista Borges Pereira é brasileiro. Graduou-se em Ciências Sociais pela USP. Obteve o grau de mestre na Escola Pós-Graduada de Ciências Sociais, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo; doutorou-se pela Faculdade de Ciências e Letras da Universidade de São Paulo; é livre-docente pela mesma faculdade.

Exerceu o magistério em todos os níveis de ensino, tendo sido diretor em ginásios no interior do Estado de São Paulo. Durante quatro anos foi responsável pela cadeira de Antropologia e Etnografia Geral da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Prudente e, posteriormente, foi assistente da cadeira de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, sendo atualmente titular de Antropologia e chefe do Departamento de Ciências Sociais.

Publicou as seguintes obras: Italianos no Mundo Rural Paulista e A Escola Secundária numa Sociedade em Mudança.

III) CONCLUSÕES DA AUTORIA

O meio radiofônico representa uma área de excepcional aproveitamento profissional do negro e do mulato, embora existam algumas resistências, manifestas ou não, à ampliação das atividades desses elementos humanos nesse meio e no campo ocupacional adjacente. Esse aproveitamento é excepcional sobretudo no que se refere às possibilidades de acesso do homem de cor a inéditas e variadas oportunidades existentes em nossa sociedade para os que se dedicam à profissão de radialista.

No todo da sociedade brasileira, o negro enfrenta dois estágios de barreiras à sua ascensão: o primeiro representado por fatores sociais e educacionais, resultantes do fato de pertencer o negro, geralmente, às camadas sociais mais baixas da população; o segundo estágio, que se refere ao problema racial propriamente dito, atinge apenas aqueles indivíduos que obtiveram condições profissionais de competir em áreas mais destacadas da atividade profissional, e que são uma minoria.

O primeiro passo na marcha-ascensional da carreira do radialista negro refere-se ao fator econômico. Ao obter uma remuneração melhor, ele procura adquirir bens de consumo e símbolos de “status”, tais como: uma moradia melhor do que a que possuía anteriormente, eletrodomésticos, roupas, etc. Num segundo momento vem a preocupação com a instrução dos filhos, pois ele acredita que o problema do negro na sociedade brasileira seja, sobretudo, um problema de falta de instrução. Vem a seguir o lazer, em especial as viagens de férias. A poupança não foi detectada como um fator marcante nas aspirações e práticas do grupo estudado.

Estas conquistas são resultados que o homem de cor obteria com outras profissões, caso lhe fosse possível alcançar nelas o nível de rendimento econômico.

Como resultados diretos de sua atividade de radialista, o negro obtém popularidade e destaque, bem como a possibilidade de viajar, algumas vezes até para o exterior.

Por outro lado, se no plano profissional ele recebe dos colegas um tratamento de igualdade e cordialidade, esse relacionamento não se estende para fora do ambiente profissional.

A profissão de radialista é alvo de estereótipos negativos quanto à moralidade. Desta maneira, o negro radialista é duplamente atingido pelos estereótipos: por ser negro e por ser radialista.

Finalizando, verifica-se que, nos primeiros estágios de sua carreira, o negro radialista vive a euforia dos bens materiais obtidos, e somente num estágio posterior ele descobre que essa ascensão econômica não corresponde a uma equivalente ascensão social.

V) DIGESTO

Depois da Primeira Grande Guerra Mundial inicia-se no Brasil o processo de industrialização. E ao Brasil rural, cuja sociedade se divide em estamentos, contrapõe-se um Brasil urbano, cuja sociedade é de classes.

Além do crescimento natural, as populações aumentam também em resultados das migrações internas, que começam a existir e, sobretudo, devido à migração estrangeira modificam o panorama étnico brasileiro. Modifica-se a pirâmide social, e as Revoluções de 22, 24 e 30 atestam tal fato. O operariado aumenta em proporção superior à da população, a publicidade começa a entrar em cena como estimuladora do consumo.

Como consequência dessas mudanças, a estrutura ocupacional se amplia e diversifica, abrindo novas oportunidades de trabalho remunerado e fazendo surgir novas profissões. Cor, nacionalidade, posição de família, fortuna e grau de escolaridade passam a ser fatores de posicionamento dos indivíduos nos novos grupos sociais.

É dentro desse quadro de efervescência que surge e se desenvolve a radiofusão.

O rádio surgiu no Brasil como uma proposta educacional. Posteriormente, a realidade de seus altos custos obrigaram que se recorresse à publicidade como fonte de receita. Por outro lado, o desenvolvimento industrial fazia necessária a procura de novas mídias, e o rádio oferecia-se como adequado para tal.

Três grupos, externos ao rádio mas a ele ligados, exercem influência sobre seus rumos: os anunciantes, os publicitários e o público. O anunciante pode tentar influir no padrão da emissora, pois é de seu interesse que a emissora obtenha boa audiência. O publicitário atua como intermediário entre a emissora e o anunciante. O público atua de várias maneiras, de acordo com seu grau de interesse e participação. A maioria só influi na programação numericamente, detectada através de pesquisas de audiência. Uma pequena parcela participa através de cartas e telefonemas e outra, ainda menor, comparece aos auditórios. Por fim, existem os calouros e fãs-clubes.

O rádio, como estrutura empresarial, divide-se em três setores: administrativo, técnico e programático, sendo que, nesse último, a hierarquia não segue os padrões formais, inexistindo a correspondência entre cargo e poder. Também é nesse setor que aparecem oportunidades profissionais para aqueles que não têm escolaridade nem formação técnica.

O Censo de 1950 acusava 37,5% da população brasileira como sendo de cor, 11,2% no Estado de São Paulo e 10,2% da população no município de São Paulo. Para os indivíduos de cor, a integração no sistema sócio-econômico é difícil, sendo as posições de maior destaque e melhor remuneração obtidas mais facilmente pelos brancos. Contudo, no setor programático do rádio, em especial como cantor popular, o negro encontra possibilidade de participação e ascensão.

Também a frequência a programas de calouros é importante. Alguns indivíduos a veem como possibilidade de entrar para o meio radiofônico como profissionais, embora, na realidade, a porcentagem de aproveitamento desses elementos seja inexpressiva. Outros, mesmo conscientes dessa impossibilidade, apresentam-se como calouros para obter uma compensação da sua realidade cotidiana, que lhe é oferecida pelo contato com pessoas famosas e por uma notoriedade momentânea quando se apresenta no programa e é visto e aplaudido.

Entre as dificuldades que o negro encontra para penetrar no rádio, poucos entrevistados se referem à cor como fator de influência. Atribuem essa dificuldade à falta de instrução, falta de “padrinho” e falta de talento. Tanto entre profissionais como entre os calouros, o tema cor é um tabu, existindo pouca consciência dos problemas raciais. Os negros que obtêm sucesso servem como mitos e incentivos aos que buscam.

A partir da década de 20 surge no meio musical brasileiro uma procura das raízes nacionais em contraposição aos valores europeus. Nesse contexto, a música negra obtém aceitação e destaque. A expansão do rádio colaborou para a difusão da música urbana, permitindo maior destaque para música de origem negra divulgada através do rádio. A revalorização da música e de todo o complexo cultural a ela ligado trouxe consigo a valorização do elemento humano identificado com ela: o negro.

V) METODOLOGIA DA AUTORIA

O autor utiliza o método indutivo, recorrendo aos procedimentos analíticos e interpretativos fornecidos pela Sociologia e Antropologia Cultural. Estruturalismo e funcionalismo foram adotados como um ponto de vista metodológico predominante, tendo recorrido a outras formas de exame dos problemas quando necessário. A modalidade é específica, intensiva, técnica e analítica. Para a coleta de dados foram utilizadas as seguintes técnicas: entrevistas formais e informais, história de vida, observação participante e, como recurso secundário, questionários.

VI) QUADRO DE REFERÊNCIA DA AUTORIA

O autor adota, neste trabalho, a teoria estrutural-funcionalista e se filia à escola sociológica de São Paulo (Octávio Ianni, Florestan Fernandes) da mesma forma que sofre a influência da linha inglesa da Antropologia Social (Radcliff-Brown).

VII) QUADRO DE REFERÊNCIA DO RESENHISTA

O resenhista utiliza como quadro de referência a Sociologia Analítica, especificamente os conceitos desenvolvidos por Pitirim A. Sorokin.

VIII) CRÍTICA DO RESENHISTA

Trata-se de obra de cuidadoso rigor metodológico, que explora e conclui sobre os problemas que se propõe a estudar, sem desvios ou distorções. Utiliza várias técnicas de coleta de dados, obtendo assim maior riqueza de informações.

É uma obra original e valiosa porque aborda um dos tabus da sociedade brasileira: o preconceito racial e a situação do negro.

Apresentados num estilo simples e claro, os resultados e a análise destes permitem, inclusive, extrapolações para outros campos de atividade que não o rádio, logicamente se respeitadas as peculiaridades de cada atividade.

IX) INDICAÇÕES DO RESENHISTA

Esta obra apresenta especial interesse para estudantes e pesquisadores de Sociologia, Antropologia, Etnografia e Comunicação Social. Pode ser utilizada tanto a nível de graduação como de pós-graduação, pois apresenta linguagem simples, sendo também útil como modelo, do ponto de vista metodológico.

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