RESUMO
O estudo proposto refere-se à análise dos Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil (RCNEI) na proposta expressa pela LDB 9394/96 no sentido de dinamizar o processo educativo na perspectiva infantil presente na sociedade brasileira. Objetivou-se analisar de modo reflexivo crítico as propostas expressas no RCNEI no âmbito da pré-escola, comparando com as afirmações de autores como Ayoub (2001) e Kishimoto (2001). Para a realização do artigo, utilizou-se a pesquisa bibliográfica. Conclui-se que há uma similaridade entre a proposta apresentada pelos autores da Educação Física no âmbito da educação infantil com a apresentada pelos Referenciais Curriculares Nacionais. Sendo assim, este documento é de extrema importância como norteador das aulas de Educação Física na educação infantil.
PALAVRAS-CHAVE: Criança, Jogo, Educação infantil, Lazer, Professor.
ABSTRACT
The proposed study refers to the analysis of Referential national early childhood education Curriculum (RCNEI) in the proposal expressed by the LDB-9394/96 in order to streamline the educational process in child perspective in Brazilian society. Porpose analyze critical reflective mode expressed in RCNEI proposals within the framework of preschool, comparing with affirmations of authors as Ayoub (2001) and Kishimoto (2001). For the creation of the article, the bibliographic search were used. It is concluded that there is a similarity between the proposal submitted by the authors of physical education child education with presented by National Curriculum Benchmarks. Therefore, this document is of extreme importance as guiding of Physical education classes in pre-primary education.
KEYWORDS: Child, Game, Childhood, Education, Leisure, Teacher.
1. INTRODUÇÃO
O crescimento da educação infantil no Brasil e no mundo vem ocorrendo de forma demasiadamente. Por outro lado, a sociedade está com mais consciência da importância da primeira infância, de zero a seis anos, fazendo assim aumentar a demanda por uma instituição educacional. Com os fatos de crescimento da sociedade, os órgãos governamentais para atendimento à criança de zero a seis anos tiveram que ser reconhecidos na Constituição Federal de 1988. Com esses reconhecimentos, toda educação infantil e creches passaram a ser legais do ponto de vista e dever do Estado e um direito da criança.
O Projeto Parâmetros em Ação tem como propósito apoiar e incentivar o desenvolvimento profissional de professores e especialistas em educação, de forma articulada com a implementação dos Parâmetros de Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. O projeto está organizado em três módulos de estudo compostos por atividades diferenciadas que procuram levar à reflexão sobre as experiências que vêm sendo desenvolvidas nas escolas e acrescentar elementos que possam aprimorá-las.
Sabemos que a Educação Infantil deixou de ser considerada como dispensável e passou a assumir seu lugar de importância na educação básica, modificando o velho paradigma de que a criança nessa modalidade de ensino só vai à escola para “brincar”. No que se refere à legislação vigente, é fato que a Educação Infantil é a primeira etapa da educação formal e, por representar a base da educação – onde se desenvolvem os principais valores que acompanharão o indivíduo por toda a vida – tem seus princípios e finalidades muito bem definidos e voltados ao desenvolvimento integral da criança.
Para que os professores soubessem lidar com as transformações que a criança passa, o governo federal publicou, em 1998, os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (RCNEI) destinados à educação infantil e que favorecem uma compreensão para professores e demais profissionais que atuam nesta modalidade de ensino. O objetivo desse material era subsidiar as instituições de modo a promover a qualidade de vida e o exercício da cidadania para as crianças de zero a seis anos, contudo, com a ampliação do ensino fundamental para nove anos, a educação infantil atende as crianças até cinco anos.
Paralelamente e após essa publicação, vários autores escreveram sobre a educação infantil. Nesse sentido, questiona-se qual a relação entre o RCNEI e as publicações da educação infantil enquanto metodologia de ensino. O estudo em exposição permite fazer uma análise do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, discutindo se as diretrizes nele estabelecidas vão ao encontro do que afirmam os autores que definem o ensino da Educação Física na educação infantil.
Objetiva-se analisar de modo reflexivo crítico as propostas expressas no RCNEI no âmbito da pré-escola, comparando com as afirmações de autores como Ayoub (2001) e Kishimoto (2001). Para a realização do artigo, utilizou-se a pesquisa bibliográfica.
2. COTIDIANO DA EDUCAÇÃO INFANTIL SEGUNDO OS REFERENCIAIS CURRICULARES NACIONAIS DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Podemos afirmar que o referencial reúne vários elementos de uma proposta bem consistente e aberta que não apenas respeita a pluralidade e diversidade dessa clientela, como também favorece a socialização dos saberes que a criança já possui, assim como a construção de novos, decorrentes da interação com o meio educacional e com os outros que fazem parte desse meio.
O referencial pode ser definido como um documento norteador da educação infantil brasileira, mas ainda assim não é garantia de oferecer todas as respostas aos problemas e desafios que essa modalidade apresenta, até porque cada instituição possui suas especificidades e contextos diferenciados. Como exemplo disso, podemos destacar que uma creche inserida em uma determinada comunidade não apresenta as mesmas necessidades que outra, da mesma forma como uma pré-escola localizada em bairro carente da periferia de uma grande cidade não possui os mesmos desafios que uma pré-escola que atende crianças de classe média. Desta forma, é fundamental que as instituições de ensino adequem o referencial às suas próprias demandas.
Em geral, a Educação Física enquanto disciplina destina-se, fundamentalmente nessa etapa de modalidade de ensino, ao desenvolvimento psicomotor da criança. Não se trata apenas do desenvolvimento físico, mas do desenvolvimento cognitivo, emocional e de habilidades e competências que permeiam o processo de aprendizagem através das funções mentais e corporais.
A criança é, naturalmente, um indivíduo dotado de capacidades e que precisa se desenvolver em um ambiente favorável, estável, acolhedor e construtivo. Em muitos casos, a sua vivência familiar não oferece esses elementos e é por isso que é dever das instituições que atendem esse público, oportunizá-las as melhores condições possíveis.
É na educação infantil que a criança vai se tornando independente, autônoma, descobrindo que possui potencialidades e, com isso, vai experimentando novas possibilidades, tomando consciência de seu corpo, do espaço que ele ocupa e de que seus movimentos resultam de suas vontades e que essas se alteram e se ampliam. Além da dimensão afetiva e relacional do cuidado, o professor da educação infantil, inclusive o que atua na educação física, necessita compreender a singularidade que cada aluno representa, especialmente àquelas que necessitam de Atendimento Educacional Especializado (AEE).
A ludicidade presente na educação infantil como ferramenta de trabalho do professor, ou seja, onde os jogos e brincadeiras representam as principais estratégias de aprendizagem, estão presentes no referencial com destaque. O ato de brincar possui uma dimensão muito importante para a criança nessa fase, sendo por meio dela que ocorre a mais pura e eficiente aprendizagem. Ao brincar, a criança interage com o mundo, desenvolve-se física e emocionalmente, desenvolvendo sua criatividade e imaginação.
Quando o professor propõe uma brincadeira, a criança articula uma série de conexões físicas e cognitivas para realizá-la. Da mesma forma, ao brincar, ela experimenta várias sensações e sentimentos diferentes. A criança é puro movimento e mesmo aquelas que possuem algumas limitações físicas (AEE) gostam e precisam participar de atividades físicas.
Na verdade, a brincadeira é a principal linguagem infantil, pois é por meio dela que a criança reproduz as suas vivências (imitação) dentro e fora da escola. Pode reproduzir os comportamentos de adultos (pai, mãe, professora, coleguinha, herói ou pessoa fictícia, etc.). Assim, o professor de educação física assume uma postura ainda mais enfática nessa modalidade de ensino, pois a essência de seu trabalho é o movimento. A criança precisa ser estimulada, sentir e reconhecer que seu corpo é uma extensão de seu querer, de sua mente e de seu próprio desejo.
Quando brincam, as crianças transformam seus conhecimentos prévios em conceitos gerais e isso permite que compreendam a diferença entre realidade e fantasia, ressignificando a sua própria vida. Em se tratando de creches, a função estimuladora é ainda mais necessária porque as crianças de zero a três anos estão desenvolvendo a consciência de seu próprio corpo. Nessa fase, o cuidado de professores e monitores é ainda maior, pois a criança não realiza sozinha a maioria das atividades para suprir suas necessidades – não come ou vai ao banheiro sozinha, não diferencia e/ou reconhece perigos, etc. – devendo ser mais vigiada e protegida.
As brincadeiras e jogos são sempre os mais interessantes e os que melhor atendem as necessidades de movimento e interação infantil, além, é claro, de constituírem excelentes estratégias para que o professor de educação física avalie o seu desempenho e as necessidades que podem ser desenvolvidas. De acordo com os princípios descritos no RCNEI, é possível perceber que a Educação Física tem um papel muito importante porque oferece à criança a possibilidade de vivenciar experiências através do movimento, inclusive na descoberta de novos, reelaborando seus próprios conceitos de espaço, limites, orientação, enfim, situações em que pode desenvolver e compreender sua linguagem corporal. A partir dessa linguagem, a criança desenvolve suas capacidades intelectuais, expressa sentimentos, sensações e consolida aprendizagens importantes.
Diante desse contexto educacional, o professor de Educação Física assume a posição de responsável pela intervenção e mediação do aprender em relação aos objetos que manipula, dos movimentos que realiza ao correr, pular, subir, saltar, descer, obedecer a um comando ou regra de um jogo ou brincadeira, construindo conhecimentos a partir das ferramentas de que dispõe e das relações que estabelece para realizar uma determinada tarefa.
Desde muito cedo, o estímulo físico é fundamental para o desenvolvimento humano e é partindo desse princípio que a Educação Física se relaciona intimamente ao ato de aprender nessa modalidade de ensino. Nas instituições que atendem essa clientela, é imprescindível que haja uma proposta de Educação Física, recreação e desporto que permita que a criança seja um sujeito ativo capaz de aprender com o grupo, produzindo valores, linguagens, sinais, símbolos e conhecimentos de acordo com a sua cultura, interagindo de forma sistematizada em um ambiente propício para tal.
Em suma, é preciso que haja uma proposta de trabalho que permita à criança o acesso a um conjunto de atividades que favoreçam o seu desenvolvimento amplo a partir de suas vivências. Ter conhecimento do que é estável e o que é circunstancial na vida de uma pessoa, conhecer suas características e potencialidades e reconhecer seus limites são muito importantes para o desenvolvimento da identidade e para a conquista de sua independência. A possibilidade das crianças de terem confiança em si próprias e o fato de sentirem-se acolhidas, ouvidas, cuidadas e amadas, proporciona uma estabilidade para a formação pessoal e social da criança. O ato de ter que tomar decisões ainda muito cedo para suas idades, escolhendo e assumindo pequenas responsabilidades favorece a valorização pessoal em si própria, é essencial para que as crianças se sintam confiantes e felizes.
O despertar da criação da própria identidade e autonomia estão intimamente relacionados com os processos de socialização. Nas interações sociais se dá a ampliação dos laços afetivos que as crianças podem estabelecer com as outras crianças e com os adultos, contribuindo para que o reconhecimento do outro e a constatação das diferenças entre as pessoas sejam valorizadas e aproveitadas para o enriquecimento de si próprias.
Com isso, as instituições de educação infantil que se constituem, por excelência, em espaços de socialização, propiciam a interatividade entre adultos e crianças de várias origens socioculturais, de diferentes religiões, etnias, costumes, hábitos e valores, fazendo dessa diversidade um campo privilegiado da experiência educativa.
As atividades educativas podem criar condições necessárias para as crianças conhecerem, descobrirem novos sentimentos, valores, ideias, práticas habituais e papéis sociais, contribuindo, assim, com a inserção das crianças nas relações éticas e morais que permeiam a sociedade na qual estão inseridas.
O gesto de movimentar torna-se um importante instrumento dimensional no desenvolvimento e da cultura humana.
Desde o momento que uma criança nasce, verificamos a busca constante no sentido de locomoção, adquirindo cada vez maior controle sobre seu próprio corpo, tomando posse cada vez mais das possibilidades de interação com o mundo. Ao engatinhar, caminhar, manusear objetos, correr, saltar, brincar sozinha ou em grupo, com objetos ou brinquedos, a criança adquire conhecimento através das experiências realizadas no seu dia a dia, mediante a maneira de utilizar seu corpo e seu movimento. Com locomoção, a criança expressa sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. O efeito do movimento humano é mais do que simples deslocamento do corpo no espaço: constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo.
O processo de andar, correr, arremessar, saltar resulta das interações sociais e da relação dos homens com o meio; são movimentos cujos significados têm sido construídos em função das diferentes necessidades, interesses e possibilidades corporais humanas presentes nas diferentes culturas em diversas épocas da história. O gesto de provocar os movimentos incorpora-se aos comportamentos dos homens, constituindo-se assim numa cultura corporal. Dessa forma, diferentes manifestações dessa linguagem foram surgindo, como a dança, o jogo, as brincadeiras, as práticas esportivas etc., nas quais se faz uso de diferentes gestos, posturas e expressões corporais com intencionalidade.
Ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos, as crianças também se apropriam do repertório da cultura corporal na qual estão inseridas.
Desta forma, as instituições de educação infantil devem favorecer um ambiente físico e social onde as crianças se sintam protegidas e acolhidas, e ao mesmo tempo seguras para se arriscar e vencer desafios. Quanto mais rico e desafiador for esse ambiente, mais ele lhes possibilitará a ampliação de conhecimentos acerca de si mesmas, dos outros e do meio em que vivem.
As atividades com movimento contemplam a multiplicidade de funções e manifestações do ato motor, propiciando um amplo desenvolvimento de aspectos específicos da motricidade das crianças, abrangendo uma reflexão acerca das posturas corporais implicadas nas atividades cotidianas, bem como atividades voltadas para a ampliação da cultura corporal de cada criança.
2.1 – Orientações do volume I
O Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil é composto por três volumes. O volume I reflete sobre creches e pré-escolas do Brasil, fundamentando a concepção de crianças de educação, de instituições e do professor. Por meio destas concepções, este documento define os objetivos gerais da educação infantil, assim podendo orientar a organização de documentos de trabalho.
A concepção de criança vem mudando com o decorrer dos anos, em cada sociedade não é possível encontrar de forma homogênea a concepção de criança devido à diversidade de classe social em que as mesmas estão envolvidas. Boa parte das crianças pequenas enfrenta abuso e exploração vindos de parte dos adultos, já outras têm uma superproteção de seus familiares no seu desenvolvimento, constatando assim a diversidade de crianças.
Os debates nacionais e internacionais vêm trazendo a necessidade de maneira integrada a função de educar e cuidar. A instituição de ensino deve tornar acessível à criança elementos que enriquecem seu crescimento na sociedade, cumprindo o papel de socialização no desenvolvimento da identidade da criança.
“Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades interpessoais de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos amplos da realidade social e cultural”. (BRASIL, 1998, p. 23)
O cuidar no contexto educativo requer vários campos da área profissional, podendo assim ajudar o outro a se desenvolver como ser humano. O ato de cuidar valoriza as capacidades de desenvolver e ajudar. A atitude de cuidados envolve crianças e valores diferentes, porém com a mesma necessidade básica de um ser humano como alimentar, proteger, etc. Além das necessidades orgânicas, as necessidades objetivas são base para o desenvolvimento da criança.
Em cada faixa etária, a criança expressa uma necessidade onde a intervenção do adulto com várias formas de comunicação para interpretar sua carência. Com a intervenção do adulto é possível detectar a qualidade de cuidado que a criança está recebendo. O objetivo do cuidado é obter os princípios de promoção da saúde. Antes de tudo, é necessário ser solidário e confiante nas suas atitudes, construindo um vínculo entre quem vai ser cuidado e quem vai cuidar.
O professor precisa dar atenção à criança, pois ela está em um crescimento contínuo identificando suas necessidades, favorecendo uma relação afetiva levando em conta o que a criança pensa, sente, ela e sobre o mundo aos poucos irá se tornar autônoma e mais dependente. O ato de brincar é a capacidade de criar, para isso ocorrer é indispensável que a instituição de ensino ofereça riquezas de experiências voltadas para brincadeiras.
A brincadeira é uma linguagem infantil, ocorrendo uma imaginação que tem vínculo com a linguagem simbólica. A ação no plano de imaginação tem que haver diferença entre brincadeira e a realidade. Para que a brincadeira aconteça, a criança se apropria de um objeto que é real que por meio deste acontece uma articulação entre a imitação da realidade e a imaginação.
No ato de brincar, os gestos, os sinais, os papéis assumem ações vividas no cotidiano como objetos substitutos. Para a brincadeira acontecer, a criança tem que ter certa dependência para escolher os objetos, companheiros, papéis, favorecendo o desenvolvimento da autoestima e contribuindo para o seu autoconhecimento. Na brincadeira, o professor observa o processo de desenvolvimento da criança em grupo e mesmo no seu individual, detectando a capacidade afetiva, intelectual de cada criança.
Com a intervenção do professor, é possível tornar a brincadeira mais enriquecida. Com material ou espaço favorável para que se desenvolvam as competências imaginárias, é preciso que o professor tenha consciência e deixe a criança se apropriar de temas, objetos e papéis que permitem sua dependência. Tendo ciência disso, o professor tem que saber que jogos didáticos não são brincadeiras livremente, pois têm regras a serem seguidas.
A organização de situações de aprendizagem que têm a intervenção do professor permite que a criança vivencie diversos conhecimentos, a intervenção é necessária para a criança ampliar suas capacidades de apropriação de conceitos, através de perguntas e respostas. Por isso, é preciso e necessário que o professor conheça cada criança com sua diversidade, o professor é um mediador entre a criança e os objetos de conhecimento.
Para que cada aprendizagem ocorra com sucesso, o professor tem que considerar a organização do trabalho, crianças da mesma idade, e idades diferentes, a individualidade e a diversidade, grau de desafio, etc. Com situações de conversa, o professor tem situações diversas de troca entre crianças, propiciando um ambiente acolhedor e de confiança para que aconteça uma aprendizagem de promoção. Acontece interação quando a criança tem oportunidade de sozinha apropriar de suas descobertas e pensamentos ou com crianças e adultos. Este momento pode ser com crianças de mesmo nível ou com nível diferenciado que irá garantir uma aprendizagem significativa.
O professor deve planejar várias experiências para oferecer às crianças individualização considerando as capacidades afetivas, emocionais, sociais, cognitivas das crianças no conhecimento diferente que elas possuem. Considerando as diferenças que as crianças possuem implica na aprendizagem que respeite seus ritmos individuais, considerando que pessoas singulares têm características próprias. Respeitando e valorizando sua singularidade para o enriquecimento dos fatos pessoais e culturais.
O trabalho com crianças exige um professor polivalente, isto é, trabalhar com conteúdos de diversas naturezas, com o cuidado básico essencial até específicos de diversas áreas. Com isso, os profissionais têm que ter uma formação ampla sobre sua prática, buscando debates com seus pares, familiares. Havendo assim uma avaliação, reflexão, registro sobre sua prática com as crianças.
Para a implantação de propostas curriculares de qualidade depende de ações planejadas e compartilhadas com seus pares.
2.2 – Orientações do volume II
O volume II tem relação com a experiência Formação Pessoal e Social, por isso, o eixo de trabalho favorece os processos de construção da Identidade e Autonomia da criança. A criança é um ser em desenvolvimento e, portanto, deve ser respeitada como alguém que está se constituindo, se formando continuamente. Neste processo, ela passa por várias fases de desenvolvimento que devem ser conhecidas pelo professor para que a criança seja compreendida e respeitada. Ela, como todo ser humano, é um sujeito social e histórico, faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade com uma determinada cultura e história. A criança é profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, no entanto, também deixa a sua marca nesse meio. Desta forma, a criança tem, na família biológica ou não, um ponto de referência fundamental, apesar da multiplicidade de interações sociais que estabelece com outras instituições sociais.
Como e quando o professor deve intervir nas brincadeiras de faz-de-conta é, aparentemente, contraditório com o caráter imaginativo e de linguagem independente que o brincar compreende. Porém, há alguns meios a que o professor pode recorrer para promover e enriquecer as condições oferecidas para as crianças brincarem que podem ser observadas.
Para que o faz-de-conta torne-se, de fato, uma prática cotidiana entre as crianças, é preciso que se organize na sala um espaço para essa atividade, separado por uma cortina, biombo ou outro recurso qualquer, no qual as crianças poderão se esconder, fantasiar-se, brincar, sozinhas ou em grupos, de casinha, construir uma nave espacial ou um trem etc. Podendo deixar à disposição das crianças panos coloridos, grandes e pequenos, grossos e finos, opacos e transparentes; cordas; caixas de papelão para que as crianças modifiquem e atualizem suas brincadeiras em função das necessidades de cada enredo.
Ainda com relação ao faz-de-conta, o professor poderá organizar situações nas quais as crianças conversem sobre suas brincadeiras, lembrem-se dos papéis assumidos por si e pelos colegas, dos materiais e brinquedos usados, assim como do enredo e da sequência de ações. Nesses momentos, lembrar-se sobre o que, com quem e com o que brincaram poderá ajudar as crianças a organizarem seu pensamento e emoções, criando condições para o enriquecimento do brincar. Nessas situações, podem-se explicitar, também, as dificuldades que cada criança tem com relação a brincar, caso desejem, e a necessidade que têm da ajuda do adulto.
Ao organizar um ambiente e adotar atitudes e procedimentos de cuidado com a segurança, conforto e proteção da criança na instituição, os professores oferecem oportunidades para que ela desenvolva atitudes e aprenda procedimentos que valorizem seu bem-estar. Tanto a creche quanto a pré-escola precisam considerar os cuidados com a ventilação, insolação, segurança, conforto, estética e higiene do ambiente, objetos, utensílios e brinquedos.
Em torno dos dois anos, caso tenha tido oportunidade de experimentar, a criança já poderá alimentar-se sozinha, determinar seu próprio ritmo e a quantidade de alimentos que ingere. Ela poderá necessitar de ajuda e incentivo do adulto para que experimente novos alimentos ou para servir-se.
No planejamento, é recomendável que os professores ofereçam uma variedade de alimentos e cuidem para que a criança experimente de tudo, especialmente os cardápios balanceados, de cuidados com o preparo e oferta de lanches ou outras refeições, de projetos pedagógicos que envolvam o conhecimento sobre os alimentos, de preparações culinárias cotidianas ou que façam parte de festividades, permitindo que elas aprendam sobre a função social da alimentação e as práticas culturais.
Todas as atividades permanentes do grupo contribuem, de forma direta ou indireta, para a construção da identidade e o desenvolvimento da autonomia, uma vez que são competências que perpassam todas as vivências das crianças. Algumas delas, como a roda de conversas e o faz-de-conta, porém, constituem-se em situações privilegiadas para a explicitação das características pessoais, para a expressão dos sentimentos, emoções, conhecimentos, dúvidas e hipóteses, quando as crianças conversam entre si e assumem diferentes personagens nas brincadeiras.
Uma parte significativa da autoestima advém do êxito conseguido diante de diferentes tipos de desafios. Nesse sentido, a obtenção de êxito, por parte das crianças na realização de algumas ações é um ponto que merece atenção. Para que se possa garantir que as crianças tenham êxito em suas ações, é preciso conhecer as possibilidades de cada uma e delinear um planejamento que inclua ações ao mesmo tempo desafiadoras e possíveis de serem realizadas por elas. Dessa forma, propiciar situações em que as crianças possam fazer algumas coisas sozinhas, ou com pouca ajuda, deixá-las descobrir formas de resolver os problemas colocados, elogiar suas conquistas, explicitando a elas a avaliação de como seu crescimento tem trazido novas competências são algumas ações que auxiliam nessa tarefa.
A construção da identidade e a conquista da autonomia pelas crianças são processos que demandam tempo e respeito às suas características individuais. Nessa medida, algumas atividades propostas de forma sequenciada podem ajudá-las nesse processo. Considerando-se que são muitas as possibilidades de trabalho que envolve este eixo, pois estão associadas às diversas características pessoais, culturais e sociais dos grupos de crianças, pensarem nas sequências de atividades implica planejar experiências que se organizam em etapas diferenciadas e com graus de dificuldades diversos.
No que se refere à avaliação formativa, deve-se ter em conta que não se trata de avaliar a criança, mas sim as situações de aprendizagem que foram oferecidas. Isso significa dizer que a expectativa em relação à aprendizagem da criança deve estar sempre vinculada às oportunidades e experiências que foram oferecidas a ela. Assim, pode-se esperar, por exemplo, que a criança identifique seus colegas pelo nome apenas se foi dada a ela oportunidade para que pudesse conhecer o nome de todos e pudesse perceber que isso, além de ser algo importante e valorizado, tem uma função real.
Na questão que envolve a formação da identidade e ao desenvolvimento progressivo da independência e autonomia, são apontadas aqui aprendizagens prioritárias para crianças até os três anos de idade: reconhecer o próprio nome, o nome de algumas crianças de seu grupo e dos adultos responsáveis por ele e valorizar algumas de suas conquistas pessoais.
A prática pedagógica dos professores na Educação Infantil é extremamente importante. Os professores devem estar preparados para exercer sua função, de modo que suas práticas sejam dinâmicas e abertas, evitando atividades enfadonhas, mecânicas ou repetitivas. Além disso, é fundamental verificar se esta prática docente está sendo de interesse do seu grupo, pois de nada adiantaria o professor estar adiante de seu tempo, com cursos inovadores, mas fora da realidade, não contribuindo com as reais necessidades dos alunos.
2.3 – Orientações do volume III
O volume III se refere ao conhecimento de mundo. Onde no mesmo encontram-se seis documentos referentes ao eixo de trabalho orientado para a construção das diferentes linguagens e para relação que estabelecem com os objetos de conhecimento: Movimento, música, artes visuais, linguagem oral e escrita, natureza e sociedade e matemática.
A história da Educação Infantil é marcada por aspectos diversos ligados à fase da infância da criança, investigados no sentido de compreender as influências que revelam os fatores psicossociais no desenvolvimento do aprendizado no mundo infantil, que incidem diretamente na elaboração da personalidade da criança.
A reflexão do professor sobre o processo de aprendizagem não se dá somente no momento final do trabalho, é tarefa permanente do professor. A prática de observar as crianças indica caminhos para selecionar conteúdos e propor desafios. O registro é o acervo de conhecimentos do professor que lhe possibilita avaliar as crianças propondo novos encaminhamentos. Com as atividades praticadas, elas poderão conhecer e aprender a valorizar sua cultura.
A aprendizagem da linguagem oral e escrita é um dos elementos importantes para as crianças ampliarem suas possibilidades de inserção e de participação nas diversas práticas sociais. O trabalho com a linguagem se constitui um dos eixos básicos na educação infantil, dada sua importância para a formação do sujeito, para a interação com as outras pessoas, na orientação das ações das crianças, na construção de muitos conhecimentos e no desenvolvimento do pensamento. Nessa perspectiva, a linguagem é considerada apenas como um conjunto de palavras para nomeação de objetos, pessoas e ações.
Em muitas situações, também, o adulto costuma imitar a maneira de falar das crianças, acreditando que assim se estabelece uma maior aproximação com elas, utilizando o que se supõe seja a mesma “língua”, havendo um uso excessivo de diminutivos e/ou uma tentativa de infantilizar o mundo real para as crianças.
O trabalho com a linguagem oral, nas instituições de educação infantil, tem se restringido a algumas atividades, entre elas as rodas de conversa.
Apesar de serem organizadas com a intenção de desenvolver a conversa, se caracterizam, em geral, por um monólogo com o professor, no qual as crianças são chamadas a responder em coro a uma única pergunta dirigida a todos, ou cada um por sua vez, em uma ação totalmente centrada no adulto.
Entende-se que para aprender a escrever a criança terá de lidar com dois processos de aprendizagem paralelos: o da natureza do sistema de escrita da língua – o que a escrita representa e como – e o das características da linguagem que se usa para escrever. A aprendizagem da linguagem escrita está intrinsecamente associada ao contato com textos diversos, para que as crianças possam construir sua capacidade de ler, e às práticas de escrita, para que possam desenvolver a capacidade de escrever autonomamente.
A avaliação é um importante instrumento para que o professor possa obter dados sobre o processo de aprendizagem de cada criança. A mesma deve ser de forma sistemática e contínua ao longo de todo o processo de aprendizagem. Sendo que as situações de avaliação devem ser em atividades contextualizadas para que se possa observar a evolução das crianças. A observação é o principal instrumento para que o professor possa avaliar o processo de construção da linguagem pelas crianças. São experiências prioritárias para as crianças de zero a três anos a utilização da linguagem oral para se expressar e a exploração de materiais. O professor pode também observar se a criança reconhece e utiliza gestos, expressões fisionômicas e palavras para comunicar-se e expressar-se; se constitui um repertório de palavras, frases e expressões verbais para fazer perguntas e pedidos; se é capaz de escutar histórias e relatos com atenção e provar etc.
As instituições e profissionais de educação infantil deverão organizar sua prática de forma a promover as seguintes capacidades nas crianças: Participar de variadas situações de comunicação oral, para interagir e expressar desejos, necessidades e sentimentos por meio da linguagem oral, contando suas vivências; Interessar-se pela leitura de histórias; Familiarizar-se aos poucos com a escrita por meio da participação em situações nas quais ela se faz necessária e do contato cotidiano com livros, revistas, histórias em quadrinhos etc.
Para a fase de crianças entre quatro e seis anos, os objetivos estabelecidos para a faixa etária de zero a três anos deverão ser aprofundados e ampliados, promovendo-se, ainda, as seguintes capacidades nas crianças: Ampliar gradativamente suas possibilidades de comunicação e expressão, interessando-se por conhecer vários gêneros orais e escritos e participando de diversas situações de intercâmbio social nas quais possa contar suas vivências, ouvir as de outras pessoas, elaborar e responder perguntas; Familiarizar-se com a escrita por meio do manuseio de livros, revistas e outros portadores de texto e da vivência de diversas situações nas quais seu uso se faça necessário; Escutar textos lidos, apreciando a leitura feita pelo professor; Interessar-se por escrever palavras e textos ainda que não de forma convencional; Reconhecer seu nome escrito, sabendo identificá-lo nas diversas situações do cotidiano; Escolher os livros para ler e apreciar.
Dada a grande diversidade de temas que este eixo oferece, é preciso estruturar o trabalho de forma a escolher os assuntos mais relevantes para as crianças e o seu grupo social. As crianças devem, desde pequenas, ser instigadas a observar fenômenos, relatar acontecimentos, formular hipóteses, prever resultados para experimentos, conhecer diferentes contextos históricos e sociais, tentar localizá-los no espaço e no tempo. Podem também trocar ideias e informações, debatê-las, confrontá-las, distingui-las e representá-las, aprendendo, aos poucos, como se produz um conhecimento novo ou por que as ideias mudam ou permanecem.
3. INTERVENÇÕES DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Os objetivos da Educação Infantil são:
- De zero a três anos, participação em atividades que envolvam histórias, brincadeiras, jogos e canções que digam respeito às tradições culturais em geral; Exploração de diferentes objetos e suas propriedades; estabelecer contato com pequenos animais, com plantas e com objetos diversos, manifestando curiosidade e interesse. Conhecimento do próprio corpo por meio do uso e da exploração de suas habilidades;
- De 4 a 6 anos, interessar-se e demonstrar curiosidade pelo mundo social e natural, formulando perguntas, imaginando soluções, manifestando opiniões próprias e confrontando ideias; Estabelecer algumas relações entre o modo de vida característico de seu grupo social e de outros grupos; Estabelecer relações entre o meio ambiente e as formas de vida que ali se estabelecem;
- O professor deve desenvolver atividades variadas relacionadas a festas, brincadeiras, músicas e danças da tradição cultural da comunidade.
A Educação Física Escolar necessita de ações claras e objetivas para construir novos significados. Ela precisa ocupar os seus papéis pedagógicos, formativos, educacionais, desportivos, preventivos da saúde e que mobilizem os alunos à participação e conhecimento dos mesmos nas suas atividades propostas. Nota-se que nos cursos de formação de professores tradicionalmente os professores não são preparados para trabalharem com o público de zero a seis anos, em sua formação fica restrita somente a um conjunto de atividades corporais, como jogo e brincadeiras, não se dando a devida importância ao profissionalismo que a educação infantil merece.
Ao falar do professor especialista em Educação Física pode-se pensar em uma dicotomia muito antiga, no que diz respeito a corpo e mente. Sendo a profissional de Educação Física responsável pelo corpo e o profissional pelo intelecto, dando assim superioridade a este último, em detrimento do corpo, uma vez que culturalmente o corpo deve servir sendo homem sempre razão. Nesse contexto, a aula de Educação Física é aula dona do corpo das atividades corporais, logo as crianças ficam aguçadas diante da possibilidade de libertarem-se das cadeiras para poderem brincar.
Porém, para que haja educação de qualidade nesse espaço é necessário que o professor não configure seu espaço como “preenchimento de tempo” ou como uma forma de compensação das necessidades de movimento impostas pelo ensino disciplinador do corpo. Não deixando de salientar a especificidade da Educação Física que é a cultura corporal, no entanto, o papel desta é assumir a sua especificidade, mas não se tornando única e exclusivamente dona da expressão corporal das crianças, com isso se tornando ponto de partida para uma interação com outras áreas do conhecimento.
“A construção do conhecimento sem discriminação nas diversas modalidades esportivas deve ser uma constante em nossa vida profissional, e a busca de centros de educação infantil nos quais o educador e o cuidar estejam sempre presentes nas relações com a criança, onde as crianças sejam vistas no tempo presente, como seres humanos em formação, e não como futuros alunos no mercado de trabalho, centros de educação infantil e fundamental onde as possam descobrir o outro, descobrir o mundo e suas múltiplas linguagens por meio de brincar”. (AYOUB, 2001 p. 57)
No que diz respeito à especialização de professores na educação infantil, podemos perceber que é possível existir uma fragmentação de tarefas, mas não do conhecimento. Em decorrência disto, se pode pensar numa possibilidade de existência nas pré-escolas e creches, de profissionais que trabalhem de forma conjunta, como também fazendo parte desse processo os pais e a comunidade. Essa forma de trabalho possibilita um rico desenvolvimento para as crianças, em que nessa ação conjunta, de parceria, se incumbiriam esses profissionais do cuidado e da educação das crianças. Sendo assim, os termos “generalista” e “especialista” dariam lugar a professores (as) da educação infantil, que ao compartilhar os seus saberes pudessem construir projetos educativos para as crianças.
Ao pensar na criança da educação infantil como ponto de partida no processo educacional, a expressão corporal é a linguagem fundamental a ser trabalhada com as crianças.
“Criança é quase sinônimo de movimento; movimentando-se ela se descobre, descobre o outro, descobre o mundo à sua volta e suas múltiplas linguagens. Criança é sinônimo de brincar; brincando ela se descobre, descobre o outro, descobre o mundo à sua volta e suas múltiplas linguagens”. (AYOUB, 2001 p.57)
É no espaço da Educação Física que permite que a criança brinque com a linguagem corporal, conheça as diferentes manifestações culturais através de jogos, brincadeiras, dança, ginásticas, como também em atividades circenses. Sendo assim, aprendendo e se alfabetizando. É nesse processo que o professor realiza o papel como mediador intencional do conhecimento, por isso se torna imprescindível que o professor ofereça às crianças, atividades direcionadas, sendo comum na educação infantil, profissionais que deixem as crianças apenas brincarem por brincar, com a função de “diverti-las”, e não como construção direcionada do saber.
As crianças exploram o imaginário como um elemento intrínseco à sua vida, as brincadeiras, jogos povoam este espaço enriquecendo suas vivências com os outros e o mundo que a circula. As brincadeiras e jogos infantis têm as suas características e evolução, vão desenvolvendo-se de acordo com a fase do desenvolvimento inserida a criança ao explorar o espaço e descobri-lo ao jogar com regras no período pré-operatório já realiza brincadeiras sociais.
A brincadeira povoa o universo infantil desde os tempos mais remotos da História. Através dela, a criança apropria-se da sua imagem, seu espaço, seu meio sócio-cultural, realizando inter e intra-realizações. Segundo o Referencial Curricular para a educação infantil, o brincar é um precioso momento de construção pessoal e social, é permeado pelo eixo de trabalho movimento, onde a criança movimenta-se construindo sua moralidade, afetividade perante as situações desafiadas e significativas presentes no brincar e inerentes à produção social do conhecimento.
Mediante aos inúmeros estudos sobre o desenvolvimento humano, e por consequência, dos processos de ensino e aprendizagem passaram por evoluções significativas ao longo dos anos, onde foram desenvolvidas teorias para tentar entender um pouco mais sobre como esse processo se consolida na vida dos sujeitos. Para isso, presenciamos estudos e teorias decorrentes destes que enfocaram o desenvolvimento humano a partir de diferentes aspectos, tais como: o afetivo, maturacional/motor, cognitivo e social.
E com aquisição de conhecimento das noções de desenvolvimento, atreladas a determinados aspectos trouxeram grandes contribuições para o que sabemos hoje em termos de desenvolvimento humano, como um processo que se realiza durante todo o ciclo vital dos sujeitos. Tratando-se desse aspecto, e considerando sua relevância para entendermos um pouco melhor as necessidades que as crianças têm nesse período de vida.
A escola infantil é, portanto, conforme nossa compreensão, um lugar de descobertas e de ampliação das experiências individuais, culturais, sociais e educativas, através da inserção da criança em ambientes distintos dos da família. Um espaço e um tempo em que seja integrado o desenvolvimento da criança, seu mundo de vida, sua subjetividade, com os contextos sociais e culturais que a envolvem através das inúmeras experiências que ela deve ter a oportunidade e estímulo de vivenciar nesse espaço de sua formação.
Compreendemos, então, que a Educação Física tem um papel fundamental na Educação Infantil, pela possibilidade de proporcionar às crianças uma diversidade de experiências através de situações nas quais elas possam criar, inventar, descobrir movimentos novos, reelaborarem conceitos e ideias sobre o movimento e suas ações. Além disso, é um espaço para que, através de situações de experiências – com o corpo, com materiais e de interação social – as crianças descubram os próprios limites, enfrentem desafios, conheçam e valorizem o próprio corpo, relacionem-se com outras pessoas, percebam a origem do movimento, expressem sentimentos, utilizando a linguagem corporal, localizem-se no espaço, entre outras situações voltadas ao desenvolvimento de suas capacidades intelectuais e afetivas, numa atuação consciente e crítica. Dessa forma, essa área do conhecimento poderá contribuir para a efetivação de um programa de Educação Infantil, comprometido com os processos de desenvolvimento da criança e com a formação de sujeitos emancipados.
Para isso, entendo que o ensino não pode ser concebido como uma mera aplicação de normas, técnicas e receitas pré-estabelecidas, mas como um espaço de vivências compartilhadas, de busca de significados, de produção de conhecimento e de experimentação na ação. Contudo, deve estar pautado em um agir comunicativo, racional e crítico, que se oriente pelo desenvolvimento de uma capacidade questionadora e argumentativa consciente perante a realidade.
Partindo dessa perspectiva, a intervenção da Educação Física na Educação Infantil deve estar fundamentada na importância do movimentar-se humano e nas contribuições que as experiências com a cultura do movimento podem trazer nesse período de vida da criança e em todo o seu processo de formação.
Kishimoto (2001) afirma que o jogo é o elemento fundamental para a aprendizagem na Educação Infantil. Ao se tratar da palavra jogo, podemos citar vários tipos de jogos; como por exemplo, jogo de cartas, jogo de xadrez, dominó, futebol, quebra-cabeça são jogos que contêm objetos diferentes, mas que têm o mesmo objetivo: o prazer de cada participante participar da jogada, predominando assim o ato de lazer. Quando se fala em jogo profissional, os participantes têm como objetivo uma competição e saindo de um fato prazeroso, pois a jogada pode ser contra a sua vontade, mas tem que ser realizada para atingir seu objetivo que é ganhar a competição.
Quando a criança se apropria de um objeto para brincar, temos que levar em conta a sua cultura, dependendo da cultura o ato de brincar com um arco e flecha deixa de ser uma simples brincadeira e passa a ser um ato de sobrevivência de cultura indígena. Por motivos de complexidade, fica difícil ter uma definição de jogo.
Aumentando ainda a complexidade, encontramos no meio da educação jogo, materiais lúdicos e brinquedos. O jogo tem três níveis de diferenciação. Primeiramente, depende da linguagem social de cada contexto, considerando que todo grupo social pensa, fala e compreende da mesma forma a língua como forma de instrumento dessa sociedade. Por esse motivo, que dependendo da cultura da sociedade, os jogos têm um significado diferente. O sistema de regras é através deste sistema que podemos dar sequência a um jogo, mesmo que este seja de forma lúdica, porque é através das regras que se desenvolve o jogo.
O jogo enquanto objeto, ao se apropriar de um objeto para participar de um jogo, não quer dizer que esse objeto não possa ser um objeto de forma improvisada, pode acontecer normalmente um jogo de dama com o tabuleiro de papelão e as peças de plástico. O brinquedo tem uma ligação íntima com a criança, o mesmo desenvolve a estimulação de expressão de imagens e traz para sua brincadeira aspectos da realidade, bem diferente do jogo de xadrez, dama que exige uma habilidade de regras do próprio jogo. Ele coloca a criança de reprodução presente no cotidiano, podendo afirmar que o brinquedo se torna um substituto de objetos reais para que a criança possa manipular.
Os brinquedos podem ser criados no imaginário existente nos desenhos e seriados televisivos, expressando personagens em forma de bonecos. A faixa etária de uma criança brincar usando seu imaginário é de zero a três anos, quando está na faixa etária de cinco a seis anos já tem a capacidade de integrar elementos da realidade. Na infância, pode ter projetos de mudanças e transformações sociais, pois na infância a criança é portadora de inocências morais de sua natureza. O brinquedo é sempre um estimulante do imaginário da criança, fazendo a mesma penetrar em ações lúdicas com brincadeiras e brinquedos, tendo ligação direta com as crianças.
Quando nos tratamos de jogo, podemos afirmar que nem sempre está acontecendo um prazer, porque o jogo tem características que levam a criança a um objetivo do jogo. O jogo em caráter “não sério”, não quer dizer que a criança não está levando a brincadeira a sério, porque é característica da criança pouca seriedade, mas penetrada, e na companhia de risos.
Entende-se que a criança não visa o resultado final do jogo, é uma ação voluntária da criança quando brinca, não se preocupa em conhecimentos nem mesmo com desenvolver habilidades, o que importa mesmo é o fato de brincar. Vale a pena destacar que tem que deixar a criança escolher o jogo por espontaneidade, se não deixa de ser um jogo e passa a ser trabalho.
Na educação infantil existem várias modalidades de brincadeira. Os brinquedos educativos vêm ganhando força neste século, podendo ser entendidos como uma forma prazerosa para desenvolver, ensinar e aprender. Para que o brinquedo tenha sua função lúdica e educativa, é preciso propiciar situações prazerosas e ensinar quaisquer conhecimentos que dê noção do mundo.
Quando o professor dá oportunidade à criança com quebra-cabeça que seu objetivo é aprender as cores, a criança só está realmente aprendendo se ela estiver brincando com esse objetivo, porque se ela partir para a construção de cidades ou qualquer outra brincadeira, ela não está com o mesmo objetivo do professor, observando assim que nem sempre o objetivo do professor com o aluno será o mesmo. A brincadeira tradicional infantil nada mais é que expressão oral e que é herança de povos de períodos históricos, tendo uma filiação com o folclore.
As brincadeiras tradicionais infantis, por serem um elemento folclórico, se destacam pela característica de anonimato. São brincadeiras que vêm passando de geração a geração, suas estruturas foram recebendo novos conteúdos, mas nunca perdendo a sua perpetuação. A brincadeira de faz de conta ou também conhecida por simbólica tem o surgimento na vida da criança em torno dos 2 a 3 anos, quando começa a expressar papéis presentes no contexto social com representação da linguagem. O imaginário é referente a experiências adquiridas em contextos anteriores. Essas experiências são provenientes de grupos em que a criança está diretamente ligada.
Com brincadeiras de construção, estimula-se a criatividade da criança, destruindo, construindo, expressando seu imaginário, fazendo com que tenha uma relação estreita com a brincadeira de faz de conta. É preciso dar à criança um espaço para que seja trabalhada a construção do mundo real. Infelizmente, na maioria das vezes, as crianças recebem regras das escolas, que devem ser cumpridas para se tornar um bom adulto.
O ponto alto do jogo simbólico, entre os dois e quatro anos, pode acontecer de forma individual ou com vários participantes, se tornando um jogo simbólico coletivo. As experiências demonstradas nas brincadeiras e a experiência do dia a dia da criança, se uma criança vive na favela, suas brincadeiras com certeza são brincadeiras violentas voltadas diretamente para lutas.
Os professores da educação infantil discutem com seus pares para melhora das vivências comunicativas de seus alunos, comunicação interpessoal começando por professores-aluno/aluno-professor, com pessoas de sua família, escola etc. Essa comunicação cotidiana está diretamente ligada com os meios de comunicação de massa. É responsabilidade dos professores prepararem aulas criativas envolvendo materiais de meios de comunicação, de modo especial à televisão, pois é o meio de comunicação que a criança da pré-escola tem mais acesso.
4. CONCLUSÃO
A Educação infantil representada nas propostas contidas nos RCNEI é descrita como importante caminho no sentido de sistematizar ações voltadas ao aprendizado qualitativo e do desenvolvimento dos potenciais da criança de acordo com as perspectivas que se estabelecem socialmente. No intuito de, desde a infância, formar o futuro cidadão, as perspectivas que despontam nos RCNEI abordam amplamente a educação como um processo articulado às vivências socioculturais que a criança manifesta e de acordo com a realidade que vive. Pensamos que a consistência teórica revelada nos RCNEI mostra o quanto sua utilização como dimensão orientadora da prática pedagógica do professor merece ser considerada, visto que anteriormente as propostas se efetivavam desarticuladas de uma dimensão mais concreta, assim a fundamentação teórica descrita permite dar melhor consistência nas ações dos professores no cotidiano.
É preciso conceber que a busca da Educação Infantil de qualidade na sociedade brasileira é possível no momento em que as propostas começam a ser apresentadas, e certamente que os RCNEI não se revelam como um documento pronto e acabado que deve orientar permanentemente a prática pedagógica dos professores, mas entende-se que por meio dele é possível adaptar o ensino voltado ao atendimento das necessidades reais da criança na sociedade brasileira, respeitando seu contexto e as fases que ela se encontra.
Conclui-se que há uma similaridade entre a proposta apresentada pelos autores da Educação Física no âmbito da educação infantil com a apresentada pelos Referenciais Curriculares Nacionais. Sendo assim, este documento é de extrema importância como norteador das aulas de Educação Física na educação infantil.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AYOUB, Eliana. Reflexões Sobre a Educação Física na Educação Infantil. 2001. Disponível em: citrus.uspnet.usp.br/eef/uploads/arquivo/v15%20supl4%20artigo6.pdf. Acesso em: 10 set. 2010.
BRASIL. Educação, Ministério e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental; Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil Brasília: MEC/SEF, 1998. v. 1.
BRASIL. Educação, Ministério e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental; Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. v. 2.
BRASIL. Educação, Ministério e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental; Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. v. 3.
KISHIMOTO, M. Tizuko; Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
Autor: Fernanda Louvem Fernandes
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