Quaresma
A Quaresma é um período litúrgico de conversão e preparação para a Páscoa, marcado por reflexões, penitências e boas ações. Descubra mais sobre suas tradições e significados.
Quaresma
O que é da terra, é da terra, e fala da terra.
Evangelho de S. João 3, 31
O que é a Quaresma?
A Quaresma é o tempo litúrgico de conversão, que a Igreja marca para nos preparar para a grande festa da Páscoa. É tempo para nos arrependermos de nossos pecados e mudarmos algo em nós para sermos melhores e viver mais próximos de Cristo.
A Quaresma dura 40 dias; começa na quarta-feira de Cinzas e termina na quinta-feira Santa, com a Missa vespertina. Ao longo deste tempo, sobretudo na liturgia do domingo, os fiéis fazem um esforço para recuperar o ritmo e estilo de verdadeiros Cristãos, que devem viver como filhos de Deus. Para saber mais sobre a importância da conversão, veja este artigo.
O primeiro dos atos deste tempo é a bênção e a imposição das cinzas, feitas de ramos de oliveira ou de outras árvores, benzidos no Domingo de Ramos do ano anterior. Em todas as igrejas, realizam-se estas cerimônias, no decorrer da celebração da Eucaristia.
Ao colocar as cinzas nas cabeças, é dito: arrependei-vos e acreditai no Evangelho. O arrependimento significa que na nossa vida entraram muitos atos de morte, que estão transformados em cinza e que a nossa alma coberta com essa cinza não pode praticar obras de bondade e de caridade. O que a Igreja quer dizer com este gesto simples da imposição das cinzas é que nós somos cinza que caiu, mas somos também cinza que vai ressuscitar. A Páscoa, sendo o símbolo da fé Cristã, fala principalmente de ressurreição.
Significado e Práticas da Quaresma
A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência. É um tempo de reflexão, de penitência, de conversão espiritual; tempo de preparação para o mistério pascal.
A Igreja convida a todos os fiéis a viver a Quaresma como um caminho a Jesus Cristo, escutando a Palavra de Deus, orando, compartilhando com o próximo e praticando boas obras. Convida a viver uma série de atitudes cristãs que ajudam os fiéis a se parecerem mais com Jesus Cristo, já que por ação do pecado, se afastam de Deus.
Por isso, a Quaresma é o tempo do perdão e da reconciliação fraterna. Cada dia, os fiéis devem tirar dos corações o ódio, o rancor, a inveja, os zelos que se opõem ao amor a Deus e aos irmãos. Na Quaresma, se aprende a conhecer e apreciar a Cruz de Jesus. Com isto, os fiéis aprendem a tomar sua cruz com alegria para alcançar a glória da ressurreição.
40 Dias de Reflexão
A duração da Quaresma está baseada no símbolo do número quarenta na Bíblia. Nesta, fala-se dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos quatrocentos anos que durou a estada dos judeus no Egito.
Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material, seguido de zeros, significa o tempo de nossa vida na terra, seguido de provações e dificuldades.
A prática da Quaresma data desde o século IV, quando se dá a tendência a constituí-la em tempo de penitência e de renovação para toda a Igreja, com a prática do jejum e da abstinência. Conservada com bastante vigor, ao menos em um princípio, nas Igrejas do Oriente, a prática penitencial da Quaresma tem sido cada vez mais abrandada no Ocidente, mas deve-se observar um espírito penitencial e de conversão.
Domingo de Ramos
Entre cantos de júbilo, com palmas e ramos de Oliveira, uma multidão – segundo narra o evangelho – aclamou Jesus.
A comunidade cristã vive essa celebração, fazendo recordar dessa forma a vitória de Jesus e proclamando-o Rei, porque, ao ressuscitar triunfalmente da morte, foi constituído para sempre Senhor da vida e da história.
Depois da procissão de ramos, é proclamada solenemente a paixão do Senhor para que os fiéis se deixem tomar pelo espírito da Semana Santa e para compreendermos como Jesus alcançou o triunfo mediante o sofrimento e a morte.
A cor vermelha usada nos paramentos e ornamentos é para expressar o amor.
O Jejum e a Abstinência
O jejum consiste em fazer uma só refeição forte ao dia. A abstinência consiste em não comer carne. A quarta-feira de Cinzas e a sexta-feira Santa são dias de abstinência e jejum. A abstinência é obrigatória a partir dos 14 anos e o jejum dos 18 aos 59 anos de idade.
O jejum (na pronúncia popular) brasileiro é o jejum da Igreja Católica, mas africanos e ameríndios têm seus dias preceituais na espécie.
Jejuavam os católicos o traspasso, desde o meio-dia da Quinta-feira de endoenças, até o romper da aleluia.
Usual é a abstinência durante os 40 dias da Quaresma, com o obrigatório jejum da Sexta-feira da Paixão. Outrora, o jejum era o objeto de promessas.
Camões alude a essa tradição, vivíssima no século XVI e ainda corrente:
“Rezando as mães, irmãos, damas (esposas). Prometendo jejuns e romarias” Lusíadas 4, 26
Crime de lesadivindade era quebrar o jejum pascoal. A consoada, refeição noturna e final, era variada e farta, pela novidade das iguarias e o estado natural dos participantes.
Pedir o jejum
Na Quinta-feira Santa (ou Maior) ou na manhã da Sexta-feira da Paixão, era costume, como ainda se verifica em muitas cidades, vilas e povoações brasileiras, pedir-se o jejum, alimentos para a consoada.
Os ricos permutavam bandejas esplêndidas, e os pobres esmolavam de porta em porta: “Esmola para o jejum de hoje”, costumavam pedir jejum em versos, décimas ou sextilhas, infalivelmente atendidos. Esses versos seriam uma modalidade daqueles que apareciam nos papéis finamente recortados, solicitando o “Pão por Deus”, em Santa Catarina.
Quinta-feira Santa
Na manhã da Quinta-feira, na Catedral, há uma missa, chamada Missa do Crisma. Nesta missa, com a participação de todos os sacerdotes e delegações das paróquias diocesanas, o bispo consagra os “Santos Óleos”, que serão utilizados nas paróquias para a administração dos sacramentos.
As vestes brancas e ornamentos traduzem a festa da Ceia Pascal.
A liturgia relembra a última ceia de Jesus. Antes da ceia, o messias lavando os pés de seus doze apóstolos, repartindo pão e o vinho. A missa do lava-pés que acontece na Quinta-feira Santa à noite relembra este acontecimento.
Sexta-feira da Paixão
É o dia do julgamento, da condenação, do martírio, morte e sepultamento de Jesus. O Messias percorre a Via Sacra (Via Dolorosa) carregando sua cruz até o Gólgota, onde é crucificado. Depois de morto, seu corpo é descido da cruz e sepultado. Segundo a tradição cristã, a morte de Jesus é qualificada como Paixão, metaforicamente um ato de amor e de entrega. O silêncio, o jejum (abstinência de carne) e a oração marcam este dia.
Tradição quebrada
Crenças da Sexta-feira Santa
Quando se fala em Semana Santa, a primeira coisa que vem à cabeça são os ovos de chocolate e o famoso coelhinho da Páscoa. A Sexta-feira Santa cheira bacalhoada e outras delícias servidas no almejado almoço do feriadão. A fartura à mesa, a cervejinha antes da refeição e as festas na madrugada tão comuns hoje em dia, quem diria, eram inteiramente abominadas há alguns anos.
Na Sexta-feira Santa, ninguém podia pentear o cabelo, varrer a casa, escutar música, ver televisão e até tomar banho, pelo menos até o meio-dia. O dia era de penitência total. Nada de beijos, risadas estridentes ou correria dentro de casa. Falar só se fosse em voz baixa, evitando qualquer comentário maldoso sobre a vida dos vizinhos.
Excessos estavam fora do vocabulário das famílias. Em respeito à morte de Jesus Cristo, a palavra de ordem era de resignação.
Dona Maria Michelina Fonseca Abrunhoza, 57 anos, avó da nossa colega de sala Fernanda, nos contou que na Sexta-feira Santa “Não podia nem sair na porta de casa”. Tudo era proibido e pecaminoso. Quem dançasse, por exemplo, criava uma longa cauda. Gritos causariam dor de cabeça em Jesus, palavrões eram certeza de boca torta no outro dia.
Os católicos já foram mais rigorosos, hoje os tempos mudaram, e as coisas são bem diferentes, o feriado é só mais uma oportunidade para as pessoas viajarem e curtirem cada um à sua maneira, antes tudo fazia mal ou era pecado, agora as pessoas veem esta tão importante data como um dia normal.
Encomendação das Almas
Até meados do século XIX, nas sextas-feiras da Quaresma ou durante novembro (mês das almas), saíam procissões noturnas em sufrágio das almas do purgatório.
Muitas não eram dirigidas pelos sacerdotes. Entre onze horas e meia-noite, os homens, vestindo cogulas brancas, que lhes encobriam inteiramente as feições, levando lanternas, iniciavam o desfile, que era guiado por uma grande cruz. Cantavam rogatórias, ladainhas, rezando rosários, e detinham-se ao pé dos cruzeiros, para maiores orações, em voz alta. Certas procissões conduziam instrumentos de música, e as orações eram cantadas.
Revestiam-se do maior mistério, e era expressamente proibido alguém ver a encomendação das almas, não fazendo parte do préstito. Todas as residências nas ruas atravessadas deveriam estar hermeticamente fechadas e de luzes apagadas. Qualquer janela que se entreabrisse era alvejada por uma saraivada de pedras furiosas. A encomendação das almas deixava, pelo seu aparato sinistro e sigiloso, a maior impressão no espírito do povo.
Afirmava-se que o curioso, que conseguisse olhar a procissão, veria apenas um rebanho de ovelhas brancas, conduzido por um frade sem cabeça. Algumas encomendações permitiam a flagelação penitencial, e muitos devotos feriam-se cruelmente, durante a noite, necessitando tratamento de muitos dias. Ainda alguns velhos moradores de Natal relataram que tinham ouvido, tremendo de medo, as “lamentações” assombrosas da encomendação, que vieram até depois do “ano do cólera”, 1856, assustando a todos com o sinistro batido das matracas e gemidos dos flagelantes.
Noite de Penitência
As “Procissões de Penitência”, atravessando as ruas escuras ao som de matracas e cânticos fúnebres, não desapareceram no Brasil, constantes em épocas de epidemias, catástrofes, etc., incluindo a flagelação.
Na cidade de Pilão Arcado, margem esquerda do rio São Francisco, na Bahia, na noite de Sexta-feira da Paixão, os penitentes, exclusivamente homens, reúnem-se no cemitério e vêm até o adro da matriz, disciplinando-se, entoando rogatórias fúnebres, cabeças envoltas em panos brancos, precedidos de cruz de madeira.
Todas as residências no trajeto conservam-se fechadas para evitar a identificação profanadora dos piedosos participantes, cumprem as sete estações, detendo-se para orar e flagelar-se. Recolhem-se pela madrugada.
Paixão de Cristo
Nova Jerusalém – Pernambuco
O pequeno vilarejo de Fazenda Nova, município de Brejo da Madre de Deus, agreste de Pernambuco, tornou-se internacionalmente conhecido depois que, em 1951, um grupo de amigos e parentes comemorou a Páscoa de uma forma original, encenando o “Drama do Calvário”. Os atores, na maioria agricultores humildes, não poderiam imaginar o sucesso em que se transformaria, com o passar do tempo, sua paixão de Cristo. Tanto cresceu o espetáculo que, em 1968, foi inaugurada a cidade-teatro de Nova Jerusalém.
A iniciativa original partiu do patriarca Epaminondas Mendonça, depois de ter lido em uma revista como os alemães da cidade de Oberammergau encenavam a Paixão de Cristo. Já a ideia de construir uma réplica da cidade de Jerusalém partiu de Plínio Pacheco, que chegou a Fazenda Nova em 1956 e levou 12 anos para concretizar seu projeto.
Emoção. Esta é a melhor palavra para definir o megaespetáculo da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, encenado todos os anos no maior teatro ao ar livre do mundo.
Os números da Paixão são tão grandiosos e expressivos quanto o próprio espetáculo. A cidade-teatro em Fazenda Nova, palco da grandiosa encenação, espalha-se num terreno de 70 mil metros quadrados, equivalentes a um terço da Jerusalém original. A cidade é cercada por uma muralha de pedra com sete portas e setenta torres de sete metros, além da qual a paisagem natural, semelhante à árida Judéia, empresta mais realismo ao cenário. No seu interior, os atores e figurantes são seguidos de perto por cerca de oito mil espectadores, que percorrem os arruados e os nove palcos-platéia.
Com 100 mil m², nove palcos monumentais e a participação de 500 atores e figurantes, o espetáculo conta ainda com os mais modernos recursos tecnológicos de som, luz e efeitos especiais. A presença de artistas conhecidos nacionalmente é sempre uma atração à parte para o sucesso da Paixão.
O grande fascínio do espetáculo da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém não está apenas na grandiosidade das construções, na atmosfera cristã que ali se respira e na beleza da história de Jesus. Está também na participação ativa do público, diante da mobilidade das cenas. Entre um ato e outro, uma multidão movida pela fé caminha entre os cenários, transportando-se por algumas horas à época de Cristo, revivendo sua saga e renovando os sentimentos cristãos. Do Sermão à Ressurreição, olhos atentos acompanham com paixão o resultado do trabalho de 40 anos, que transformou um sonho no maior teatro ao ar livre do mundo.
Encenada durante duas horas e meia, a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém é uma experiência única, a sua grande oportunidade de vivenciar a mais emocionante história da humanidade.
História da Farra do Boi
Enseada dos Ganchos – Ganchos é parte do município de Governador Celso Ramos. O nome curioso deve-se à formação geográfica da região. Colonizada por açorianos na segunda metade do século XVIII, a enseada ainda mantém algumas tradições trazidas pelos imigrantes. A mais conhecida delas é a Farra do Boi.
Os antigos moradores contam que essa história surgiu no tempo em que, depois de uma farta pescaria, podia-se, finalmente, comprar carne, com o dinheiro dos meses de trabalho no mar. Então, nos barcos e nos bares, os homens começavam a fazer “vaquinhas” para a compra do animal. Depois, iam de casa em casa perguntando quem queria participar e ficar com uma parte da carne.
Quem participa da festa até hoje faz questão de dizer que os animais não são maltratados. Poucas vezes, garantem, alguns grupos de moradores menos ajuizados cometeram excessos.
Na Enseada dos Ganchos, soltam-se bois a partir de dezembro até a Semana Santa. Na época de Páscoa, contam os moradores, os bois vão sendo soltos ao longo dos dias e recolhidos quando já estão cansados. Só morrem os do domingo, no último dia da festa. O número de animais é impressionante. No ano de 2001, passou de cem.
Farra do Boi
Selvageria ou Cultura Popular?
Um dos rituais mais selvagens envolvendo crueldade contra animais é a Farra do Boi. Todos os anos, centenas de bois são torturados e mortos em mais de trinta comunidades de Santa Catarina. Em outros estados, a prática é duramente criticada.
A Farra do Boi ocorre com mais frequência na época da Páscoa, culminando na Sexta-feira Santa. Mas algumas comunidades celebram casamentos, aniversários, jogos de futebol e outras ocasiões especiais. Proeminentes empresários, criadores de gado, cidadãos, donos de restaurantes, donos de hotéis e políticos são os que doam os bois para a “festa”.
Antes do evento, o boi é confinado sem alimento disponível por vários dias. Para aumentar o desespero do animal, comida e água são colocados num local onde o boi possa ver, mas não possa alcançar. A Farra começa quando o boi é conduzido de seu estábulo e despenca de um caminhão no meio da rua, sendo perseguido pelos “farristas”, que carregam pedaços de pau, facas, lanças de bambu, cordas, chicotes e pedras. Homens, mulheres e crianças perseguem o boi que, no desespero de fugir, às vezes corre em direção ao mar, afogando-se.
Depois de Dias, o Alívio da Morte
A World Society for Protection of Animals afirma que os gados são torturados de diversas maneiras: animais banhados em gasolina e depois incendiados, pimenta jogada em seus olhos que, geralmente, são arrancados. Os farristas quebram os cornos e patas do animal e cortam seus rabos. Os bois podem ser esfaqueados e espancados, mas há um certo “cuidado” para que o animal permaneça vivo até o final da brincadeira. Essa tortura pode continuar por três dias ou mais. Finalmente, o boi é morto e a carne é dividida entre os farristas.
Crença
Alguns dizem que é um ritual simbólico, uma encenação da Paixão de Cristo, onde o boi representaria Judas. Outros acreditam que o animal representa Satanás e, torturando o Diabo, as pessoas estariam se livrando dos pecados.
Mas hoje em dia, a Farra do Boi não tem nenhuma conotação religiosa. Para as pessoas que moram na área litorânea, onde a barbárie acontece, a Farra do Boi é apenas uma oportunidade para se fazer uma festa e de se ganhar algum dinheiro extra, pois alguns moradores aproveitam para vender bebidas e petiscos para os farristas.
Sábado de Aleluia
As primeiras comunidades cristãs honravam a sepultura de Jesus, passando o Sábado Santo no descanso e na espera, na oração silenciosa e num rigoroso jejum. Nenhum alimento deveria ser ingerido, a fim de não quebrar o jejum que antecedia a comunhão na noite de Páscoa. Hoje, o jejum não é tão rigoroso, nem o silêncio tão absoluto, mas é um dia de serena e alegre espera.
Na tarde deste dia, inicia-se a Vigília Pascal, em comemoração à noite da ressurreição. O sepulcro onde estava Jesus aparece aberto na manhã de Domingo. Seu corpo e os lenços sagrados estavam desaparecidos. A liturgia começa fora das igrejas. Acende-se o Círio Pascal e o altar dos templos é novamente decorado com flores. Lê-se o Evangelho, canta-se o hino de Aleluia e a Páscoa é proclamada.
Malhação do Judas
São bonecos de palha ou de pano, rasgados e queimados no Sábado de Aleluia. Tradição popularíssima na península Ibérica, radicou-se em toda a América Latina desde os primeiros séculos da Colonização Européia.
No Rio de Janeiro oitocentista, os Judas tinham fogo no ventre e apareciam conjugados com demônios, ardendo todos numa apoteose policor, extremamente aplaudida pelo povo e registrada por Debret (Viagem Pitoresca e História do Brasil, II, 196-197).
Banidos da cidade, os Judas continuam nos arrebaldes pendurados por galhos de árvores ou postes da iluminação pública, assaltados aos gritos, logo depois que os sinos anunciam Aleluia litúrgica, depois de Ite missa est. Todos os costumistas descreveram a queima dos Judas ou sua dilaceração punidora. Certamente, o Judas queimado é uma personalização das forças do mal e continuará vestígio dos cultos agrários, espalhados pelo mundo. Frazer e Mannhardt registraram uso quase universal de festa de alegria, nas proximidades do equinócio de verão, princípios ou fins das colheitas, para obter os melhores resultados no trabalhos do campo.
Queimava-se um manequim representando o deus da vegetação. Pela magia simpática, o fogo é o sol e o processo se destinava a garantir as árvores e as plantações e o calor. E a luz indispensáveis submetendo a figura ao poder das chamas com vários nomes, Homem da Quaresma, Jacques da Quaresma, Judas de Palha, Homem de Palha, etc. O sacrifício do mal apóstolo é uma convergência de tradições vivas no trabalho agrícola. Testamento do Judas.
Domingo de Páscoa
Durante todo o dia, são celebradas missas que proclamam a vitória de Cristo sobre a morte. As famílias se reúnem para festejar o renascimento do filho amado de Deus, trocar presentes e comer tudo aquilo que não puderam comer nos dias anteriores, acaba-se o tempo de silêncio e o jejum de carne vermelha.
Páscoa
A origem da comemoração da Páscoa veio a partir da última ceia de Jesus com os seus apóstolos. Esta celebração começa na Quarta-feira de Cinzas e termina no domingo de Páscoa, é a chamada Semana Santa. Esta data foi fixada durante o Concílio de Nicea, em 325 d.C, como sendo “o primeiro domingo após a primeira Lua Cheia que ocorre após ou no equinócio na primavera boreal, adotado como sendo 21 de março”.
A Páscoa é a principal festa dos judeus, a celebração do êxodo e a libertação do povo de Israel da escravidão do Egito. A Páscoa é chamada também de “Festa do Pão Azimo”, que quer dizer “sem fermento”. Para os cristãos, a Páscoa é a festa mais importante do ano, ocasião na qual se celebra a ressurreição de Jesus Cristo, crucificado para libertar os homens do pecado original. Durante a Semana Santa, acontecem procissões e novenas que representam os momentos mais dolorosos da vida de Cristo. Os rituais representam o processo, a crucificação, a morte e a Ressurreição de Cristo.
Os Ovos da Páscoa
Para muitas civilizações, o mundo havia nascido de um ovo. Na Índia, por exemplo, acredita-se que uma gansa de nome Hamsa chocou o ovo cósmico na superfície de águas primordiais e, assim, o ovo deu origem ao céu e à terra – simbolicamente o céu é a clara e a terra a gema.
O mito do ovo cósmico aparece também nas tradições chinesas. Antes do surgimento do mundo, um ovo semelhante ao de galinha se abriu e, de seus elementos pesados, surgiu a terra (Yin) e, de sua parte leve e pura, nasceu o céu (Yan).
Na tradição cristã, o ovo aparece como uma renovação periódica da natureza. Em muitos países europeus, ainda hoje há a crença de que comer ovos no Domingo de Páscoa traz saúde e sorte durante todo o resto do ano. E mais: um ovo posto na Sexta-Feira Santa afasta as doenças.
Muitos costumes ligados ao período pascal vêm da celebração da Páscoa Judaica, onde o sacrifício do cordeiro era um prognóstico do sacrifício de Cristo na Cruz.
O costume de presentear ovos iniciou na Antiguidade, quando egípcios e persas costumavam tingir ovos com as cores primaveris e os davam a seus amigos. Os persas acreditavam que a Terra saíra de um ovo gigante.
Os cristãos primitivos da Mesopotâmia foram os primeiros a usar ovos coloridos na Páscoa para representar a alegria da ressurreição e o reconhecimento do sacrifício. Na Grã-Bretanha, costumava-se escrever mensagens nos ovos para homenagear amigos.
A crença de que o coelho é que traz os ovos de Páscoa pode ter sido originada na Alemanha. Uma lenda conta que uma mulher pobre coloriu alguns ovos e os escondeu em um ninho para dá-los a seus filhos como presente de Páscoa. Quando as crianças descobriram o ninho, um grande coelho passou correndo. Espalhou-se então a história de que o coelho trouxera os ovos.
No Antigo Egito, o coelho simbolizava o nascimento e a nova vida. Alguns povos da Antiguidade o consideravam símbolo da Lua, por ser a Lua que determina a data da Páscoa, que deve sempre cair no 1º domingo após a primeira lua cheia depois de 21 de março. Não pode ocorrer antes de 27 de março, nem depois de 25 de abril.
Esta é a história da Páscoa, hoje uma data símbolo de trocas, de alegria e do reconhecimento do sacrifício, em todos os países do mundo, em todas as religiões. Esta mesma história nos ensina: só o sacrifício de algo é capaz de nos trazer um novo momento de vida. Aprender a trocar experiências; abrir mão de privilégios; acreditar em mudanças e crescimentos, é descobrir o segredo da esperança, do recomeço e da nova vida. Conseguir reconhecer a força do sacrifício é aprender o caminho do crescimento pessoal. É, mais que tudo, aprender a lição do sacrifício.
Símbolos da Páscoa
Alguns deles.
O Fogo: No Sábado Santo, a celebração é iniciada com a bênção do fogo, chamado de “fogo novo”. Na liturgia, Cristo é esse fogo que veio limpar o mundo do pecado, da desesperança, do ódio, pregando e instaurando o Reino de Deus (Mt 3,11; Mt 13,40; Lc 12,49; Hb 12,29). São as marcas da chama da luz e da esperança.
O Círio Pascal: O Círio Pascal é aquela grande vela decorada, sendo a cruz o desenho central. Aqui novamente o fogo é o elemento principal. Cristo é a luz que ilumina a vida do cristão para que ele não caia nas trevas da desesperança, da vida sem sentido, do egoísmo e da maldade (Jo 8,12; Rm 2,19; Lc 8,16). O círio, simbolizando Cristo ressuscitado, nos apresenta como uma grande coluna de fogo para guiar e iluminar a humanidade (Ex 13,21).
A Água: Na celebração do Sábado, véspera da Páscoa, acontece a bênção da água que será utilizada nos batismos durante o ano. Para o cristianismo: Cristo é a verdadeira Água (Jo 4,9-15); a Água da vida que livra para sempre o homem do egoísmo e da maldade. O batismo é a resposta do ser humano à proposta de Deus. Por isso, após a bênção da água, se realiza a renovação das promessas batismais (Rm 6,1-11).
O Cordeiro: O cordeiro é o símbolo mais antigo da Páscoa. No Novo Testamento, Cristo é o Cordeiro de Deus sacrificado uma vez por todas em prol da salvação de toda a humanidade. É a nova Aliança de Deus realizada por seu Filho, agora não só com um povo, mas com todos os povos.
Óleos Santos: Na quinta-feira santa, é celebrada nas catedrais a Missa do Crisma, onde os óleos, usados no batismo, crisma e unção dos enfermos, são abençoados. Para os cristãos, os óleos simbolizam o Espírito Santo, aquele que dá força e energia para viver o evangelho de Jesus Cristo.
Pão e Vinho: O pão e o vinho, sobretudo na antiguidade, foram a comida e bebida mais comuns em muitos povos. Cristo, ao instituir a eucaristia, se serviu dos alimentos mais comuns para simbolizar sua presença constante entre e nas pessoas de boa vontade. Assim, o pão e o vinho simbolizam essa aliança eterna do Criador com a sua criatura e sua presença no meio de nós.
As vestes brancas: As vestes de Cristo na transfiguração (Mt 17,2) se tornaram resplandecentes de brancura. O branco simboliza a pureza, a paz e, ao mesmo tempo, a plenitude. Em Cristo não há mais espaço para o pecado. Ele assumiu todos os pecados dos homens. Nele foi restabelecida a unidade primitiva da criação, isto é, a aliança entre Deus e o homem. Em Cristo, a humanidade foi divinizada.
ANEXOS
Autor: Katia Aguiar Coutinho
Outros Autores: Kari Mota, Márcia Oshiro Keiko, Maria Fernanda Bono e Miriam Zanella Moy