A Psicose
Nos períodos de crises mais intensas, podem ocorrer (variando de caso a caso) alucinações ou delírios, desorganização psíquica que inclua pensamento desorganizado e/ou paranóide, acentuada inquietude psicomotora, sensações de angústia intensa e opressão, e insônia severa.
Tal quadro é frequentemente acompanhado por uma falta de “crítica” ou de “insight”, que se traduz numa incapacidade de reconhecer o caráter estranho ou bizarro do comportamento.
Desta forma, surgem também, nos momentos de crise, dificuldades de interação social e em cumprir normalmente as atividades de vida diária.
Uma grande variedade de estressores do sistema nervoso, tanto orgânicos como funcionais, pode causar uma reação de sintomatologia semelhante, porém não igual, à estrutura psicótica. Muitos indivíduos têm experiências fora do comum ou mesmo relacionadas com uma distorção da realidade em alguma altura da sua vida sem necessariamente sofrerem grandes consequências para a sua vida. Como tal, alguns autores afirmam que não se pode separar a psicose da consciência normal, mas deve-se encará-la como parte de um continuum de consciência.
Para o psicodiagnóstico, são feitas observações clínicas que incluem a anamnese, a história de vida do sujeito, seu quadro psicológico e de doenças. A depender do caso, pode-se levar meses para um diagnóstico correto.
O diagnóstico é feito com base na psicopatologia clínica e teórica. Dois guias de classificação diagnóstica internacionais podem ser usados como referência, principalmente epidemiológica: o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (o atual é o DSM-IV) e a CID-10, a Classificação Internacional de Doenças.
Na CID-10, adotada no Brasil como classificação de referência, as psicoses se encontram classificadas nas siglas F.20 a F.29; F.30, F.31, F.32.2 e F.32.3.
Sobre as principais características clínicas das psicoses, pode-se afirmar:
– São psicologicamente incompreensíveis (segundo Jaspers)
– Apresentam vivências bizarras, como delírios, alucinações, alterações da consciência do eu.
– Não existem alterações primárias na esfera cognitiva. Memória e nível de consciência não estão prejudicados; se isso acontece, é devido a outras alterações clínicas (delirium), bem como devido a substâncias psicoativas.
Na psicanálise, a psicose causou dificuldades teóricas para Freud, mas não para Lacan. O primeiro demonstrou-se hesitante em enquadrá-la teoricamente, concentrando-se na neurose, enquanto Lacan, tomando-a constantemente em suas conferências, associou-a à foraclusão (ou forclusão) do nome-do-pai.
As definições de psicose em geral descrevem as classes de eventos que configuram sua natureza ou essência, apontando-lhe as causas e variações. Assim, haverá importantes distinções quanto ao conceito; caso venha a ser formulado no campo das Ciências da Saúde, terão diferentes conotações das formuladas no campo Religioso, Poético ou das Ciências Humanas.
Michel Foucault, em seu texto A História da Loucura, aponta que a loucura (posteriormente chamada de psicose) poderia ser entendida como uma aberração da conduta em relação aos padrões ou valores dominantes numa certa sociedade; neste sentido, entender a psicose é também buscar entender quais os padrões dominantes e quais as reações do grupo social a tais condutas estranhas e aos seus agentes.
No Japão, em uma área pouco religiosa, aproximadamente 7% a 11% dos delírios tinham conteúdo religioso, geralmente associado com perseguição e culpa. Já nos Estados Unidos, esse índice foi de 25% a 40%, sendo comum também em transtorno bipolar. Na Europa, a prevalência foi de 21%, sendo de 24% na Inglaterra. Na Índia, dos 31 visitantes de um templo conhecido como tendo poderes curativos sobre doenças mentais, 23 foram identificados com esquizofrenia paranóide e 6 com transtorno delirante. No Brasil, os índices estão entre 15% e 33%. Os delírios religiosos costumavam ser mais incapacitantes, mais frequentes, mais graves, mais bizarros e necessitavam de mais medicamentos.
Pacientes que relataram estar curados através de religião tiveram maior frequência de recaída que os outros pacientes. Pacientes que passaram por exorcismo ou feitiçaria retornaram com quatro vezes mais frequência.
Pierre (2001) defende que, para que as crenças ou as experiências religiosas sejam patológicas, elas precisam causar prejuízos significativos à própria pessoa ou a outros. Se o desempenho social ou funcional não for prejudicado, então a crença ou experiência religiosa não é considerada patológica. É possível até que a religião ajude como coping focalizado na emoção, ou seja, ajudando a lidar com os fatores emocionais de um evento estressante.
Para entender melhor as dificuldades emocionais que podem surgir, é importante conhecer a importância da educação emocional na infância, que pode ajudar a prevenir problemas futuros.
Além disso, a psicose pode ser tratada com diferentes abordagens, e a contribuição da psicologia para a educação é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento.
Por fim, é essencial que os profissionais de saúde mental estejam atentos às diferentes manifestações de transtornos de personalidade que podem coexistir com a psicose, garantindo um tratamento mais eficaz.
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