O Jogo e a Criança
Algo deve ser feito para que o aluno possa ampliar seus referenciais do mundo e trabalhar, simultaneamente, com todas as linguagens (escrita, sonora, dramática, cinematográfica, corporal, etc.). A derrubada dos muros da escola poderá integrar a educação ao espaço vivificante do mundo e ajudará o aluno a construir sua própria visão do universo. É fundamental que se questione mais sobre educação e, para isso, deve-se estar mais aberto, mais inquieto, mais vivo, mais poroso, mais ligado, refletindo sobre o nosso cotidiano pedagógico e se perguntando sobre o seu futuro.
O jogo, para a criança, é uma espécie de exercício, uma preparação para a vida adulta. Ela começa a desenvolver suas potencialidades brincando, essa é uma forma prazerosa e eficiente. O jogo possibilita a percepção total da criança, em seus aspectos motor, afetivo, social ou moral e, tal como a linguagem, nos revela muito das estruturas mentais sucessivas da criança. O jogo é, além do mais, uma boa maneira de compreender certas atividades do adulto. O jogo adulto carece de seriedade, porque é uma atividade secundária que tem seu objetivo fora de si mesma, uma atividade como a arte, pode encontrar seu fim em si mesma, na expressão da personalidade do artista.
Para a criança, quase toda atividade é jogo e é pelo jogo que ela adivinha e antecipa as condutas superiores. A criança é um ser que brinca/joga, e nada mais. Não se pode imaginar a infância sem seus risos e brincadeiras. Suponhamos que, de repente, nossas crianças parem de brincar, que os pátios de nossas escolas fiquem silenciosos, que não sejamos mais distraídos pelos gritos ou choros que vêm do jardim ou do pátio, que não tivéssemos mais perto de nós este mundo infantil que faz a nossa alegria e o nosso tormento, mas um mundo triste de pigmeus desajeitados e silenciosos, sem inteligência e sem alma. Pigmeus que poderiam crescer, mas que conservariam por toda a sua existência a mentalidade de pigmeus, de seres primitivos. Pois é pelo jogo, pelo brinquedo que crescem a alma e a inteligência. É pela tranquilidade, pelo silêncio – pelos quais os pais às vezes se alegram erroneamente – que se anunciam frequentemente no bebê as graves deficiências mentais. Uma criança que não sabe brincar, uma miniatura de velho, será um adulto que não saberá pensar. O jogo desperta o interesse da criança que procura aprender, pois ela vai participar na elaboração e torna-se mais emocionante, e é nesse ponto que o professor pode adaptar a sua matéria e torná-la mais interessante. A característica do jogo é ser livre, escolhido à vontade pelo capricho ou pelo interesse. O jogo é a mais importante das atividades da infância. O jogo é para a criança o que o trabalho é para o adulto. Para educar a criança, precisamos absolutamente compreender o que o jogo representa na sua vida, para que pode servir-lhe, que forças a impelem ao jogo mesmo quando está doente. Se não se compreender claramente tudo isso, é impossível compreender a própria criança. Ao utilizar um jogo, o educador deve ter definido os objetivos a serem alcançados, tais como a assimilação do conteúdo, o tipo de jogo mais adequado para abordar um determinado tema em uma determinada faixa etária para que não haja desinteresse e nem um sentimento de culpa, por parte da criança, por não ter conseguido efetuá-lo.
Os jogos geralmente tendem a algum tipo de necessidade social, inter-relação, respeito a regras, competição, cooperação, emoção, autocontrole, autoestima, valorização e respeito com o próximo, capacidade de realizar e transpor obstáculos. Com o uso do jogo é possível introduzir na criança a noção de limite, usando regras. Com o uso de regras a criança aprende a respeitar e a ser respeitada, pois é preciso que tenham uma orientação de até onde podem ir, o que podem ou não fazer, o que é bom ou ruim, pois muitas crianças não desenvolvem o hábito de respeitar e obedecer certas regras pelos pais serem bastante permissivos, tornando a criança insociável com seus colegas e com os adultos, pois só fazem o que querem e na hora que querem. Com o jogo é possível o desenvolvimento da autonomia, fundamental para a maturidade emocional e o equilíbrio entre o psíquico e o mental.
O desenvolvimento da infância na atualidade está em um processo acelerado de mudanças, as potencialidades estão precoces. As crianças de hoje são mais espertas e inteligentes do que as de décadas atrás, por causa das mudanças de padrões sociais, do desenvolvimento da tecnologia e dos estímulos. O desenvolvimento infantil precisa acontecer de forma equilibrada, pois uma área pode ser muito precoce e, por isso, estimulada e, outras, podem ficar em atraso. A infância é a aprendizagem necessária à idade adulta. Estudar na infância somente o crescimento, o desenvolvimento das funções, sem considerar o brinquedo, seria negligenciar esse impulso irresistível pelo qual a criança modela sua própria estátua. Não se pode dizer de uma criança “que ela cresce” apenas, seria preciso dizer “que ela se torna grande” pelo jogo. Pelo jogo ela desenvolve as possibilidades que emergem de sua estrutura particular, concretiza as potencialidades virtuais que afloram sucessivamente à superfície de seu ser, assimila-as e as desenvolve, une-as e as combina, coordena seu ser e lhe dá vigor. A infância tem por objetivo o treinamento, pelo jogo, das funções tanto psicológicas quanto psíquicas. O jogo é, assim, o centro da infância, e não se pode analisá-la sem atribuir-lhe um papel de pré-exercício, tem o papel de exercitar as funções.
Os trabalhos de Jean Piaget contribuíram bastante para a definição da educação lúdica. Primordialmente com base na psicologia genética, caracterizamos a natureza do jogo em cada fase de desenvolvimento do ser humano.
Fase Sensório-motora (1 – 2 anos)
A criança desenvolve seus sentidos, seus movimentos, seus músculos, sua percepção e seu cérebro. Olhando, pegando, ouvindo, apalpando. Em sua origem sensório-motora, o jogo para ela é pura assimilação do real, do “eu”, e caracteriza as manifestações de seu desenvolvimento físico e cognitivo. Os estímulos, tanto da atividade mental quanto da emocional, são cruciais nesta fase. A criança nesta fase necessita do adulto, dele dependerão seu crescimento e sua relação social.
Fase Simbólica (2 – 4 anos)
É a fase do “faz-de-conta”, imita tudo e todos. O “jogo simbólico” se explica pela assimilação do “eu”. O “jogo simbólico” é o pensamento em sua forma mais pura. Nesta fase ocorrem manifestações psicomotoras que são expressões de puro simbolismo representado na mente. Como, por exemplo, brincar de casinha, motorista, cavalo-de-pau, dançar, etc. É a fase do “egocentrismo”, na qual elas são o centro de tudo e tudo se volta para o seu “eu”.
Fase Intuitiva (4 – 6/7 anos)
É a fase em que, sob a forma de exercícios psicomotores e simbolismo, a criança transforma o real em função das múltiplas necessidades do “eu”. Os jogos passam a ter seriedade absoluta na vida da criança e um sentido funcional e utilitário. É também considerada a fase do “por quê?”. As crianças, nesta fase, aprendem brincando por meio de jogos educativos.
Fase da Operação Concreta (6/8 – 11/12 anos)
É a fase escolar em que a criança incorporará os conhecimentos sistematizados, tomará consciência de seus atos e despertará para um mundo em cooperação com seus semelhantes. Nessa idade a criança começa a pensar inteligentemente, com certa lógica, começa a entender o mundo mais objetivamente e a ter consciência de suas ações, diferindo o certo do errado. Nessa fase os jogos transformam-se em construções adaptadas, exigindo sempre mais o trabalho efetivo e participativo no processo de aprendizagem, que começa a sistematizar o conhecimento existente.
Fase da Operação Abstrata (11/12 anos – adolescência)
Nessa fase os jogos caracterizam-se como atividades adaptativas ao equilíbrio físico, pois realizam o aperfeiçoamento dos músculos tão comuns e apreciados (ginástica, jogos olímpicos, prática esportiva). Os jogos de regras, a prática da discussão, o exercício da expressão corporal e da linguagem, o discernimento de valores, a produção de textos e descobertas científicas, o exercício da liderança democrática possibilitam uma nova visão do mundo, uma nova postura diante da sociedade e uma libertação do senso comum.
Escola Lúdica de Educação Infantil (2 – 6 anos)
A Escola Lúdica de Educação Infantil tem por finalidade promover interação social, desenvolver as habilidades físicas e intelectuais dos alunos e participar de jogos variados de forma ordenada, interiorizando as regras de convívio em grupo. Nessa escola o aluno sente prazer em frequentá-la, em poder aprender coisas novas relativas ao seu mundo, concretas; e estar preservando o respeito ao desenvolvimento da criança e a sua condição de felicidade, poder sorrir, brincar e aproveitar essa melhor fase de sua vida.
Ludoteca:
A primeira experiência de ludoteca no Brasil foi aplicada no “Colégio Moema”, em 1979, que montou uma sala de brinquedos oferecidos pelas crianças e pela escola. A ludoteca é uma sala que contém os mais variados tipos de jogos pedagógicos e, sua finalidade, é estimular o aluno a desenvolver habilidades psicomotoras e intelectuais (instruir brincando).
Escola Lúdica de Ensino Fundamental (7 – 14 anos)
A Escola Lúdica de Ensino Fundamental é uma dicotomia dos padrões convencionais das escolas atuais. Pode-se notar claramente nos dias de hoje, que as crianças e jovens das escolas convencionais gostam de frequentá-las, gostam de estar nelas, devido ao convívio com os amigos, mas não se sentem bem nas salas de aula. A alegria que os contagiava fora da escola é substituída pelo desprazer, pelo desinteresse, pelo “matar aula”. Na escola lúdica há um método único definido, mas há pontos comuns intrinsecamente ligados ao interesse, à motivação e à participação do aluno. Atividades como pesquisa individual, trabalhos em grupo, seminários apresentados pelos alunos, experiências com jogos dirigidos e excursões, são estratégias que podem enriquecer a integração do conhecimento e de atitudes.
A educação lúdica, além de contribuir e influenciar na formação da criança e do adolescente, possibilitando um crescimento sadio, um enriquecimento permanente, integra-se no mais alto espírito de uma prática democrática enquanto investe em uma produção séria do conhecimento, sua prática exige a participação franca, criativa, livre, crítica, promovendo a interação social e tendo em vista o forte compromisso de transformação e modificação do meio.
A escola não é nem o jogo, nem o trabalho real. Não procuremos identificá-la com um nem com outro. O escolar deve ser mais do que o jogo e menos do que o trabalho. É uma ponte lançada do jogo ao trabalho. Nas escolas maternais, será ainda quase um jogo, um jogo educativo. Nas classes mais avançadas, será próximo do trabalho. Mas evitemos conservar, por um uso excessivo, um infantilismo que não tem mais razão de ser. E não nos preocupemos se nossos estudantes não têm ainda a maturidade de jovens aprendizes, é essa a lei da escola. Consolemo-nos pensando que o trabalho real e a vida lhes darão o que lhes falta, e que poderão ser, mais facilmente, graças a seu aparente atraso, bons engenheiros e bons cidadãos. Não esqueçamos a velha alegoria platônica da caverna que põe o conhecimento do real no fim da aventura; nem a lição dos artistas que, pelo simples jogo, nos têm ensinado, através dos tempos, a melhor nos conhecermos e a nos amarmos melhor.
Referências Bibliográficas:
CHATEAU, Jean. ‘O Jogo e a Criança’. São Paulo, 1987. Summus Editorial, 2ª Edição.
JACQUIN, Guy. ‘A Educação pelo Jogo’. São Paulo, 1985. Editora Flamboyant, 2ª Edição.
LOPES, Glória. ‘Jogos na Educação: Criar, Fazer, Jogar’. São Paulo, 1999. Cortez Editora, 2ª Edição Revista.
Autor: Isabele Justino
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